Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 50
Epílogo




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"Papai, conta a história da raposa outra vez!"

Às vezes se perguntava como aquele pequeno já conseguia falar tantas palavras com perfeição - e como falava! E como falava muito mais do que muitas vezes gostaria de escutar. Draco suspirou, abandonando o jornal sobre a mesa rústica de madeira que tinham do lado de fora, olhando para o infinito azul à sua frente.

"Qual história da raposa, Leo?"

"Quero uma nova!"

Maldita hora que começara com aqueles contos.

"Havia há muitos anos atrás uma raposa vermelha que gostava de cavar buracos." começou, pensando em que diabos inventaria agora para a maldita raposa fazer - aquela bruxa apenas o metia em problemas e mais problemas, até mesmo indiretamente. "Um dia, ela cavou um buraco muito, mas muito fundo, tão fundo que chegou na caverna de um enorme dragão. E esse dragão tinha uma quantia incontável de ouro ao seu redor, mas para continuar com todo seu tesouro, precisava viver naquela caverna escura e fria. " continuou, observando o filho largar com o que brincava e voltar a atenção somente para ele. "A raposa então perguntou: você não tem curiosidade em ver como é o mundo lá fora, dragão? E o dragão respondeu que se fosse para perder tudo que tinha, preferia passar a vida em seu escuro, pois lhe era confortável."

"Mas o escuro não é confortável, papai." Leo contestou, mais uma vez o surpreendendo com sua firmeza ao falar em seus apenas quatro anos de idade.

"Mas o dragão não conhecia a claridade, leãozinho. E nós não sentimos falta do que não conhecemos." Draco respondeu, pegando o filho e o colocando em seu colo antes de voltar para a história. "A raposa que vivia nos campos verdes conhecia, e sabia o que o dragão estava perdendo. Mas o dragão era teimoso e tinha medo de sair do lugar onde sempre viveu - viver na caverna escura era seu destino, afinal. Mas a raposa era muito, muito mais teimosa, e todos os dias ela guardava algumas horas para visitar o dragão."

"E então a raposa se apaixonou pelo dragão." Ok, talvez suas histórias acabassem sendo previsíveis demais até mesmo para uma criança de quatro anos.

"E o dragão pela raposa." Afinal, todas elas acabavam da forma que a sua estava naquele momento. "E por amar tanto a raposa, o dragão deixou sua caverna e foi viver com o seu amor nos campos de trigo."

"Que nem você largou a casa grande para viver na praia com a mamãe?"

"Isso mesmo." sorriu outra vez, bagunçando os cabelos platinados do filho.

"E eles viveram felizes para sempre?"

"Resumindo bem a história, podemos dizer que sim." respondeu, enfim percebendo que tinha sido observado durante todo aquele tempo. "Por que não vai brincar com a sua avó, leãozinho? Não é sempre que ela está aqui junto de sua prima." E Draco apontou para dois pontos ruivos perdidos na areia, Molly Weasley e a filha de Guilherme e Delacour, que estava passando uma semana longe dos pais.

Segundos depois observava o menino correr em direção à elas, sua bruxa sentando-se onde antes o filho estava.

"Acho que poderíamos aproveitar sua mãe como babá daqui algumas semanas, o que acha?"

"Leo não dá tanto trabalho assim, Draco." Ginevra disse sorrindo, colando os lábios nos dele.

"Leo não dá trabalho nenhum. Mas eu quero que você me dê trabalho, se é que me entende." E a mão da ruiva foi automaticamente para o ombro do ex-sonserino, o socando de forma brincalhona.

"Como seu eu pudesse te dar muito trabalho com essa barriga de sete meses!"

"Você já me deu mais trabalho sem barriga." Mais um beijo, os cabelos tão compridos o envolvendo em um mar de vermelho. "Quando você vai finalmente casar comigo, bruxa? Quando tivermos o terceiro? Do quarto não passa."

"Não vamos chegar no quarto, fuinha."

"Quem disse?"

"Sabia que meu primeiro patrono foi um cavalo?" ela desconversou, colocando alguns fios para trás da orelha. "Então eu conheci você melhor, e de repente meu patrono era um dragão gigantesco. E então eu virei um dragão gigantesco, literalmente - eu sou um dragão gigantesco por sua causa, Malfoy."

"Sua forma animaga é um dragão, Ginevra." o loiro corrigiu, a puxando para mais perto. "Você é a grávida mais perfeita de todo o mundo. Muito longe de qualquer tipo de dragão - ou talvez eu não quisesse casar tanto com você." finalizou, descansando a cabeça no ombro sardento. "Meu primeiro e único patrono foi você."

"Seu primeiro e único patrono foi uma raposa."

"E o que eu disse?" E pela primeira vez, a ruiva pareceu entender porque o marido tanto insistia em contar histórias junto de uma raposa. "Linda, astuta, esperta, e ainda simboliza a fertilidade. E por Salazar, apenas um descuido bastou para Andrômeda aparecer, não existem dúvidas quanto a sua fertilidade, bruxa." Mais um tapa no ombro antes da ruiva aconchegar-se mais no peito do bruxo. "E ainda assim, eu te amo tanto."

Draco não precisava olhar para saber do sorriso que contaminava aquele rosto cheio de sardas.

"E quem disse que vai ser uma menina?"

Una grande casa sulla spiaggia, una bella moglie, un bambino che gioca con il secchiello nella sabbia, um dia seu pai lhe disse que aquele era o segredo para a felicidade.

"Eu sempre sei, bruxa."

Lúcio Malfoy nunca esteve tão certo.

...

Olhou para o filho que lutava contra o sono em seus braços, aqueles olhos pretos a encarando semi-cerrados enquanto o pequenino bocejava. Finalmente a natureza havia lhe dado um pequeno com seus olhos, por mais que seu noivo insistisse que todos os outros três eram a cara da mãe - que mentira.

Noivo.

"Vamos lá, Áries." Seus olhos e os cabelos do pai. "Você está morrendo de sono que eu sei."

Draco estava certo sobre Andrômeda, assim como também acertou que sim, chegariam no quarto. Tinha muita, mas muita vontade de dizer não na frente de todos para ao menos uma coisa a fuinha saltitante ter errado naquela tarde ensolarada de anos atrás.

Mas é claro que Ginevra, nos seus já vinte e oito anos e recém-mãe do quarto filho, não falaria não para seu tão tardio e já tão esperado casamento. Talvez o pai das crianças não viveria mais um ano sem se unir a ela do último jeito que faltava se unir. Colin estava tão, mas tão certo sobre o amor do sonserino, que naqueles dias, era visto até mesmo por toda a sua crescente família: 'o Malfoy faria tudo pela Gina'. E o Malfoy não mais se importava com todos sabendo daquilo.

"E se eu te contar uma história? Você me deixa terminar se eu te contar uma história, pequeno mandão?" E o bebê segurou forte seu dedo indicador, e Ginevra entendeu aquilo como um sim – ao menos, era o que gostaria de acreditar. "Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se, mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria. Assim, por longo tempo eu ali me detive, e um deles observei até um longe declive, no qual, dobrando, desaparecia." Iria funcionar, tinha que funcionar, bebês não gostavam de poemas, gostavam? Não que bebês de cinco meses entendessem alguma das palavras que a bruxa ruiva recitava. "Porém tomei o outro, igualmente viável, e tendo mesmo um atrativo especial, pois mais ramos possuía e talvez mais capim, embora, quanto a isso, o caminhar, no fim, os tivesse marcado por igual." Quando novamente pausou, um mini desespero surgiu em seu peito ao ver aqueles olhos grandes mostrando um bebê completamente acordado. "Não acredito nisso, Áries."

"E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos de folhas que nenhum pisar enegrecera." A voz vinda detrás dela quase a fizera saltar, tão sorrateiro fora aquele loiro - maldito seja. "O primeiro deixei para um outro dia. E, intuindo que um caminho outro caminho gera, duvidei se algum dia eu voltaria." Ele pausou, os braços a envolvendo pela cintura, um beijo em sua bochecha ainda sem qualquer maquiagem. "Surpresa?"

O olhou com uma leve carranca, virando-se para encarar aqueles olhos azuis enquanto lhe entregava o filho. Maldito, não conseguia ficar brava olhando bem naqueles olhos.

"Robert Frost." disse, indo para frente de sua penteadeira e começando a colocar uma base no rosto. "Eu sairia com quem me recitasse Robert Frost." provocou, dando um sorriso torto que sabia que ele veria pelo espelho.

"Você quer dizer enfim casaria, não quer?" Draco merecia algumas provocações de vez em quando, afinal.

"Se você ajudar a acalmar os ânimos de nosso pequeno bruxo para a noiva poder enfim se arrumar, quem sabe." respondeu, passando mais uma camada para tentar esconder as pintas mais insistentes.

"Eu gosto das suas sardas, bruxa. Por Merlin, pare de tentar se livrar delas." seu olhar foi resposta suficiente para o homem, que começava a embalar o filho. "Ele vai se acalmar no colo do pai, não vai?"

"Claro que vai, porque você sempre sabe, não é mesmo?" E foi espalhando o blush nas bochechas que se lembrou que sim, ele havia cometido um erro naquela tarde de verão. "Você errou sobre Andrômeda."

E do espelho também o viu sacudir a cabeça, nos lábios um meio sorriso como o seu há segundos atrás.

"Eu acertei sobre Andrômeda. Eu apenas errei de não ter contado Carina - e deveria ter considerado ter duas naquela barriga gigantesca de sete meses - você já tinha o peso de nove." Maldito seja. "Bruxa."

"Só faça seu filho dormir, ok? Áries gosta de gente tanto quanto você, e se estiver assim acordado, vai chorar a tarde inteira." até tentou parecer irritada, mas o sorriso estampado no rosto denunciava a total felicidade. "E se ele não se acalmar, vamos ter que reconsiderar o que vou dizer na frente de Blaise."

"Vamos Áries, você não pode dar tanto trabalho assim para sua mãe. Se eu terminar de contar a história, você dorme?"

Sacudiu a cabeça, revirando os olhos antes de passar uma sombra clara nas pálpebras - tão devia ter deixado Colin ajuda-la a se maquiar, e não mandado todos irem para a cerimônia. Sim, o amigo estava e provavelmente sempre esteve certo quanto ao amor do ex-sonserino, Mas apesar de todo o vivido pelos dois, de todas as provas, de todos os filhos, ainda existia aquela pontada de insegurança de que quando as coisas fossem enfim ficar sérias, ele poderia desistir.

"E isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro, nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa. A estrada divergiu naquele bosque – e eu segui pela que mais ínvia me pareceu."

Afinal, tudo aquilo começara graças a uma simples aposta. Terminou de passar o rímel nos cílios e então ajeitou mais uma vez o decote do vestido. Engraçada aquela sua eterna pequena desconfiança, ele não dava razão, não dava um mísero motivo, e ainda assim mandara Colin não desgrudar os olhos do bruxo loiro. Isso que Ginevra sabia sobre a maldita aposta com Blaise: um não naquele altar e Draco seria novamente o vencedor.

No fim, foi o futuro marido quem veio pessoalmente se certificar de que a ex-grifinória não escaparia - e ela estava adorando ver o marido querer tanto perder. Olhou para seus dois meninos, Áries de olhos quase fechados no colo do pai.

"E foi o que fez toda a diferença."

Ela casaria com quem lhe recitasse Robert Frost.


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Notas finais do capítulo

Foi o fim mais difícil que já escrevi, confesso. Gente, o que falar? Acabou, finalmente! Muito obrigada a todos que acompanharam, especialmente aos leitores que me deram um pouquinho de seu tempo ainda mandando uma review - fez diferença, viu?

E é isso! Espero não ter ficado nenhuma dúvida, e quem sabe escrevo mais algum DG por aí um dia.

Um beijo grande,

Ania.



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