Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 49
Fogo II




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Tudo tinha se tornado um inferno muito rápido. Em um minuto estavam tentando casar, no outro via Colin mal escapar de um raio vermelho. Por que tudo com aquele sonserino tinha que ser tão irritantemente difícil? Tão absurdamente impossível?

E Draco sabia, tinha certeza que ele sabia. Ali parada, com uma varinha de ponta quente em seu pescoço, Ginevra finalmente entendera o porquê da surpresa nos olhos cinzas aparecer somente segundos depois da primeira azaração. O plano A tinha sido aparatar para longe dali - porque tanto ele quanto todos de sua família imaginavam que aquilo iria acontecer. E ela, tão maravilhada com seu pequeno e tão feliz com o retorno de seu loiro tinha falhado em ver o óbvio: mas era tão claro que queriam copiar o casamento de meses atrás.

Não bastasse seu casamento ser praticamente uma farsa, descobrira agora ainda mais uma falha sua: não reconhecer a letra do irmão. Nunca que Guilherme teria uma letra tão legível - muitas vezes Gina mal conseguia entender seu nome nos cartões de aniversário que ele mandava. E se ela soubesse segundos mais cedo daquilo, nunca teria entrado na casa - e assim também falhara o plano B.

Não parecia haver um C na mente do sonserino.

"Ela vem."

Viu a cunhada inconsciente no chão, Merlin, ela estava bem? O bebê estavam bem? Havia batido a cabeça ao ser solta por aquela maldita comensal e não fizera mais nenhum movimento desde então. Mas respirava, conseguia ver de onde estava que o peito de Fleur subia e descia, e não parecia haver sangue algum escorrendo de sua cabeça, o que lhe dava um mínimo de tranquilidade. E por todos os deuses, ela precisava daquela tranquilidade agora.

Ginevra respirou fundo e seus olhos foram dos vermelhos de Draco para os chorosos de seu filho. Seus próprios estavam úmidos também, úmidos e já doloridos das lágrimas que caíram por Percy, por Lupin, e por todos os outros que vira de relance cair. Pessoas morrem na guerra, afinal - e talvez ela fosse ser a próxima.

Poderia ser a próxima, desde que Leo estivesse seguro. Draco iria querer matá-la pelas palavras seguintes.

"Deixe Leo fora disso e eu vou com vocês." falou com uma coragem que nem sabia que tinha, encarando os olhos insanos da bruxa mais velha.

"Como se-"

"Eu vou com vocês, eu não resisto, eu ajudo se preciso, mas deixe meu filho fora disso." E por um momento, Bellatrix pareceu normal, quase humana, quando seus olhos mostraram sinceridade e um entendimento que talvez houvesse apenas entre mulheres. "Me prometa."

Um aceno positivo foi o que bastou para novamente o caos reinar.

"Não!" Os olhos cinzas mostravam-se incrédulos, o loiro só parando de se aproximar ao ver a varinha deixar o pescoço de Ginevra e ir para o filho. "Gin-" Tão não podia olhar naqueles olhos agora.

"Me deixe ir, Draco." falou, implorando silenciosamente para o sonserino não resolver fazer alguma besteira. Não havia um plano C na mente do sonserino, mas por Merlin, havia um na mente da grifinória. E ele muito tinha que dar certo. "Segura ele." Aquela última esperança precisava dar certo. "Segura o seu filho!" a voz mais alta serviu apenas para os gritos de Leo intensificarem.

"Se não colaborar Malfoy, morrerão os três." escutou o comensal atrás dela falar.

Sentiu algo quebrar dentro do peito quando passou o filho para os braços do marido e encontrou olhos tão desesperados quanto os de Leo. Que os deuses não o deixassem fazer nenhuma besteira antes dela sair daquele chalé.

"A varinha, ruiva." Por um momento seu coração parou: era óbvio que tirariam sua varinha. "Agora!" Mas ao passar o pedaço de madeira par Bellatrix, lembrou-se que em minutos era tudo que aquilo seria: apenas um pedaço de madeira. E quanto mais madeira, melhor.

Claro que o loiro não a deixaria sair tão facilmente. Claro que, como sempre, ele só tornaria sua vida ainda mais difícil.

"Eu colaboro. Eu saio e colaboro e mato quem quiserem, mas deixem minha família em paz." Ah Draco, cale a boca!

"Tal pai, tal filho." Bellatrix debochou, gesticulando para Avery recuar para a porta, arrastando Ginevra com ele. "Negativo."

Na sua mente, apenas um mantra: fique parado. Fique aí com Leo, parado. Fique parado Draco, fique parado. Torne as coisas mais fáceis, fique parado.

Claro que ele não ficaria parado. No momento em que o viu colocar Leo ao lado de Fleur e correr para Bellatrix, foi automático as palavras saírem de sua boca.

"Draco, não!" E por mais que o sonserino fosse um bom lutador, uma simples adaga não se mostrou muito eficiente contra a magia da comensal, que o jogou no chão no segundo seguinte, fincando a lâmina em sua mão esquerda.

Ginevra fechou os olhos ao escutar o grito de dor do sonserino, respirando fundo mais uma vez - merda, ela destruiria aquela casa.

"Quem você acha que é?" Dando certo, o loiro tão deveria uma casa nova para sua família. "Acha mesmo que é alguma coisa sem a sua varinha, seu bruxo de merda?"

Abrindo outra vez as pálpebras, viu a bruxa levantar a varinha, graças a Merlin no mesmo lugar em que antes estava. Os três se encontravam praticamente na porta, os outros três, quase na passagem que dava para a cozinha.

"Traidor!"

Se aquele telhado caísse, Draco conseguiria pegar o filho e puxar Fleur para o próximo comodo. Aquele bruxo maldito só precisava afrouxar um pouco aquela varinha.

"Quem diria, meu próprio sobrinho virando um vergonhoso amante de sangue-ruins."

Apenas um pouco.

"Crucio!"

Foi no instante em que a magia bateu em Draco que Avary abaixou sua guarda, uma risada escapando de seus lábios: o que uma bruxa sem varinha tão menor que ele poderia fazer, afinal? Foi naquele instante que Ginevra viu o momento perfeito para por em prática o plano que precisava dar certo, e após uma prece silenciosa, sentiu seu corpo começar a mudar.

A bruxa se transformara algumas vezes desde que conseguira aquela tarde na floresta proibida, todas elas com um sucesso muito maior do que esperava. Na décima, era algo praticamente natural para ela, mas já fazia quase um ano desde a última vez que seu corpo ficava pelo menos vinte vezes maior que o normal - fato que a fez calcular errado o tempo que levaria para derrubar aqueles dois bruxos. Também houve um erro de cálculo espacial, descobriu ao levantar a cabeça, já com a comensal presa entre os dentes, e destruir o telhado - pelos deuses, ela era grande!

Tão deveria ter se transformado antes.

Às vezes não sabemos nossa própria força. Pode ser difícil dizer quanto peso você pode suportar com segurança, ou quanto vai esmagá-lo. Ginevra mesmo achava que seria muito difícil a hora que precisasse interromper a vida de alguém caso um dia estivesse no meio da guerra. Mas no instante em que viu o marido - porque foda-se a cerimônia, ele era sim seu marido - e filho tendo suas vidas ameaçadas, sabia que poderia ir para o inferno, mas tiraria a vida de qualquer um que pudesse feri-los. E foi pensando que cada um consegue arcar com um fardo tão grande quanto acredita poder que desceu a cabeça de volta para o chão, Bellatrix praticamente esmagando Avery, ambos sentindo segundos depois toda a intensidade de sua ira.

Após o grito que nem mesmo Ginevra sabia que poderia sair de si, tudo queimava. Não olhou uma segunda vez para as cinzas que restavam na sua frente antes de virar-se com muito mais de cuidado que antes e achar os três que precisava tirar dali. A asa enorme foi para cima do pequeno grupo ao mesmo tempo em que o teto começava a desabar, Fleur já consciente sendo ajudada por Draco a sair por um buraco aberto em uma das paredes - com certeza aberto pelo seu rabo. Sentiu algumas brasas caírem em si e sabia que ao voltar a sua forma normal haveriam algumas queimaduras, mas o incômodo não se comparava ao alívio vendo pai e filho fora da casa em chamas, a cunhada já nos braços de um Guilherme tão desesperado quanto o seu par minutos atrás.

Aqueles malditos olhos cinzas ainda a fitavam desacreditados, mesmo após ela voltar a sua forma normal. Realmente seu braço esquerdo ardia, mas aquela era a menor de suas preocupações enquanto apertava o filho contra o peito, seus olhos castanhos achando os de Draco antes de ser tão esmagada quanto Leo num abraço. E mesmo no meio de todo aquele caos, a proximidade lhe fazia sentir o cheiro tão amado de grama e seu coração enfim conseguia diminuir o ritmo.

"Sua bruxa mentirosa." foram as palavras que escutou serem sussurradas no pé de seu ouvido esquerdo enquanto as mãos trêmulas do sonserino pareciam a segurar cada vez mais forte. "Você me disse que ainda não tinha se transformado!"

"O elemento surpresa é sempre a melhor parte de ser um animago não registrado - palavras de Zabini." respondeu, voltando a encontrar seus olhos de tempestade. "Eu disse que faria o mesmo por você, não disse?" continuou, o lembrando daquela conversa há tantos meses atrás, quando sua barriga nem mesmo começara ainda a mostrar. "Eu falava a verdade."

Viu Draco sacudir a cabeça, um sorriso que poucas vezes tomava conta de seus lábios se mostrando enquanto ambos voltavam a atenção para o choro do filho, que pouco a pouco começava a acalmar.

"Explicado como você tinha pó de escama de dragão vermelho quando muitas vezes nem eu conseguia." o loiro disse, antes de rasgar um pedaço da capa que Ginevra ainda usava e amarrar ao redor da mão ferida. Como ele sempre conseguia se machucar tanto? "Vai sarar bruxa, não se preocupe com isso." ele se antecipou, notando que ela estava prestes a surtar com os ferimentos. "Como está seu braço?"

"Eu vou viver."

E finalmente Leo acalmou-se o suficiente para a bruxa se preocupar novamente com seus arredores, surpreendendo-se ao não ver mais nenhum raio ser lançado, a casa pegando fogo sendo a única coisa que visualmente a lembrava de estarem no meio de um campo de batalha. De longe, conseguia escutar pessoas gritando, mas não eram exatamente gritos que se ouviam no meio de duelos: não, muitos pareciam ser de felicidade, enquanto alguns pareciam checar quem ainda estava entre eles.

"Se não for nosso lado comemorando, eu me transformo novamente e saímos voando daqui até um lugar seguro para aparatar, certo?" disse antes de sentir milhares de pontadas no braço, notando no segundo seguinte o mesmo pó amarelo passado no ferimento do ombro do sonserino.

"Ouvindo esses barulhos, qual lado você acha que ganhou?" Draco falou, e pela talvez primeira vez na vida, ela viu as feições sempre tão tensas do bruxo finalmente relaxarem. "Está sumindo." olhou para o antebraço esquerdo, onde a cobra na caveira já não passava de um borrão cinza, e se aquilo não era certeza o suficiente-

"Nós estamos salvos?" teve quase medo de verbalizar aquilo, mas todo seu receio foi embora ao olhar para a cara pontuda que tanto aprendera a amar e ver pela primeira vez um sorriso despreocupado.

"Nós estamos livres, Gin."

...

Já havia passado quase um mês desde o final de seu inferno. Vinte e sete dias para ser mais exato, pois Draco agora era aquele tipo de pessoa: ele contava os dias de sua tão sonhada, e antes sempre tão distante, paz. Por mais que dissesse o contrário para a bruxa que embalava o filho na cadeira de balanço ao lado da cama, por mais que a provocasse dizendo que com uma mulher daquelas ele nunca teria um pingo de sossego, tudo que vivera naquelas últimas seiscentas e cinquenta e uma horas era o contrário do que falava.

Sua paz estava em ver Leo adormecer nos braços sardentos. Sua paz era tê-la nos seus todas as noites. Sua paz era acordar com o choro do filho toda madrugada, era poder sair por uma rua bruxa sem precisar se preocupar em ser morto - ou pior. A paz estava até mesmo em ouvir sua sogra - que falava alto demais - chama-los para a janta enquanto escutava os gêmeos reclamarem sobre dividirem uma casa com um Malfoy.

Ao menos os dois não colocavam mais suas criações em tudo que ele comia.

"Precisamos sair d'A Toca." Sua paz era tanta, que aquela frase vinha de Ginevra.

"Sua mãe ajuda muito com Leo." admitiu, vendo a bruxa colocar o filho já adormecido no berço e deitar-se ao seu lado na cama. "Você não saberia todos os truques que sabe morando longe de Molly Weasley - por mais que me doa admitir isso." Não doía.

Não doía pelo tanto que a mulher mais velha o acolheu como um filho, agora que não haviam mais seus pais - aquilo sim ainda doía. Doía não conseguir mais voltar para dentro daquela mansão onde passara sua infância, Zabini lhe fazendo o favor - como sempre fazia tantos - de pegar uma ou outra coisa que lhe era de valor sentimental.

A propriedade estava fechada para investigação, mas a única coisa que se dera ao trabalho de saber era sobre os corpos dos pais: nunca encontrados. Ambos desaparecidos para toda a sociedade bruxa, Draco parecendo ser o único a saber de toda a verdade, esta nem mesmo sendo compartilhada com a ruiva que já se aconchegava em seu peito. Ele tinha sido absolvido de todas as acusações, visto sua participação positiva no lado vencedor. Dedo de Potter, sem a menor dúvida, e seu testemunho que com certeza tinha sido dado mais pensando em Ginevra do que no sonserino.

Não reclamaria do cicatriz, não daquela vez.

"Mas se você faz tanta questão de sair, estive pensando em um lugar para ficarmos." falou, uma mão achando os cabelos de fogo. "Na verdade, a casa vai levar mais alguns meses para ser construída, mas se quiser, podemos ficar em outro lugar até ela ficar pronta."

"Draco-" e se divertiu ao ver a surpresa naqueles olhos castanhos, mas uma batida na porta interrompeu aquele momento.

"Draco, querido, tem uma visita para você."

...

Vinte e sete dias em Azkabam. Não imaginava que aquela prisão fosse tão infernal quanto todos diziam: era pior.

Ali sentado na mesa junto com todos os ruivos da casa, tentava não olhar para seu reflexo, provavelmente mostrando seu pior estado desde sempre. Irritantemente, os olhares que recebia serviam de espelho: uma mistura de desconforto e pena o irritava mais a cada segundo, e não via a hora de Molly descer com o moleque para se livrar de mais aquele fardo.

Vinte e sete dias guardando aquelas memórias como se sua vida dependesse daquilo: ele, afinal, devia muito aos dois.

Quando enfim um par de olhos o encarou com raiva, percebeu que o afilhado chegara na pequena sala de jantar.

"Meninos." E bastou uma palavra de Molly para todos saírem pela porta. "Se precisar de algo querido, estaremos aqui ao lado." As palavras foram para o último Malfoy com vida, e o aceno cordial de cabeça para a bruxa ruiva o fez sentir um mínimo de felicidade: o moleque não estava tão fodido quanto achou que poderia estar, afinal.

Havia um hipogrifo naquele cômodo e o antigo professor de poções claramente não sabia por onde começar. Pela primeira vez agradeceu pelo afilhado ter aquela falta de pudores para iniciar qualquer tipo de conversa - principalmente as piores como aquela próxima.

"Voltou cedo para nosso mundo. Potter te absolveu também?" A voz era cheia de sarcasmo, mas já estava acostumado com aquilo vindo do loiro, que não lhe deu o direito de resposta. "Uma porra de uma explicação, Severo. Só uma, para isso ter um fim."

Talvez fosse ser mais simples do que passara todos aqueles dias imaginando. O garoto não iria duelar com ele, não iria querer mata-lo - o que deixaria de bom grado -, e pelas últimas palavras, nem ao menos se daria ao trabalho de discutir. Então apenas entregaria a última coisa que realmente precisava fazer em vida, e todas suas malditas missões estariam cumpridas, e ele enfim poderia descansar.

Encarou pela primeira vez os olhos da mesma cor dos de Lúcio - tão idênticos ao pai tanto na cor quanto na expressão - e tirou de dentro da capa um saco com diversos pequenos frascos, os deixando sobre a mesa de madeira.

"Seus pais queriam que isso chegasse em você. São memórias." Viu o garoto respirar fundo, as mãos indo parar nos bolsos da calça enquanto os olhos iam para aquela última coisa de seu último casal de amigos. "O que Bellatrix te mostrou foi o que aconteceu, Draco." e Severo não precisava ver o brilho que a ponta da varinha emitia dentro do bolso para saber o que o bruxo tanto apertava. "Ela só não mostrou todos os fatos - eles também estão aí dentro."

"Me fale você." As palavras vieram depois de quase um minuto de silêncio. "Eu não quero ver a memória do fim dos meus pais, então me fale você, Severo." Havia pensado em dezenas de jeitos, talvez centenas, de como começar aquela explicação. Na prática, era muito mais difícil falar aquilo para o garoto. "Foi uma ordem direta dele, não foi?"

Havia sido tão mais complexo do que aquilo.

"Voldemort sabia que tinha sido Lúcio quem libertou vocês e não, aquele bruxo não estava nada contente com o ocorrido. E foi a mais fiel serva desse grande filho de uma mãe que achou os dois prontos para desaparatar no gazebo - da janela onde estava via que faltava tão, mas tão pouco." começou, revivendo mentalmente o caos que fora aquela terça-feira. "Lúcio, no entanto, era muito bom com acordos - você provavelmente herdou esse dom dele, eu sei bem -, e de repente sua tia se viu presa em um voto perpétuo. Bellatrix não podia fazer mal para ninguém de sua família sem sofrer as consequências do voto." Quando parava para lembrar, Severo ainda conseguia escutar a voz daquela bruxa insana ecoando pela mansão.

"Mas você podia." Não deu nenhuma resposta - porque sim, ele podia e sim, era o que tinha feito no final.

Escutou um resmungo fino vindo do outro cômodo, e por um momento pensou em continuar com a ideia original: sumir com aquela última memória, contar a história na versão que omitia aquele maldito final e seguir para sua antiga casa para viver sua vida reclusa - pois era o mais seguro a ser feito. Aquele bruxo com certeza havia amadurecido naqueles últimos anos, não tinha duvida e secretamente nutria um certo orgulho pelo garoto, que era o mais próximo de um filho que teria naquela vida. Mas o quanto valia aquela verdade? Quantos desconfortos aquela última informação não poderia causar a ele?

"E ela não podia nos matar, certo? Então em todos aqueles minutos que eu pedi para todos os deuses não levarem o meu filho e a minha mulher-"

"A ruiva não fazia parte de sua família." A maldita memória estava, afinal, dentro daquele maldito saco. "Ela não era sua mulher pelas leis mágicas." Nem naquela terça, e por mais incrível que pareça, nem agora.

"Então ela podia matar Ginevra? Naquele maldito chalé, ela podia apenas matar a minha-"

"Não, Bellatrix não podia tocar em nenhum de vocês três, poque seu pai sabia o quanto devia a essa bruxa sardenta!" Não tinha como e nem porquê suavizar aquela parte. "E eu imagino que agora você entenda isso, Draco. Você não faria de tudo para salvar o seu filho, afinal?" Mas não tê-los matado diretamente não suavizava em nada uma das piores e mais recentes culpas que carregava. "Então foi um voto por ela em troca da vida dos dois. A parte mostrada por sua falecida tia conta apenas o final da história: fui eu quem selou o voto. De todo modo, minha parte era apenas trazer as memórias," continuou, levantando-se da cadeira onde permanecera sentado desde a sua chegada. "Lúcio tinha formas peculiares de demonstrar o amor que tinha por você algumas vezes, eu sei. Ainda assim, ele e sua mãe fariam de tudo para manter o filho bem." Mesmo que isso lhes custasse a vida.

Escutou o mesmo choro de antes enquanto ia em direção à porta, dando um último olhar contente para seu afilhado antes de partir. Talvez fosse a última vez que visse pessoalmente o loiro, uma cópia de seu falecido amigo, mas ao menos ele estava em boas mãos. Quem diria, ele dizer aquilo justo de uma Weasley, e justo daquela Weasley.

Já estava na porta quando Draco voltou a falar.

"Severo," Mas Ginevra Molly Weasley realmente mudara aquele sonserino, pois não, aquela provavelmente não seria a última vez que veria o bruxo. "Gostaria de conhecer Leo?"

...

No mês seguinte, mudaram-se para uma casa próxima do Beco Diagonal. Na outra semana, decidiram que não haveria lareira alguma na casa que era levantada na propriedade na qual residiram nos últimos meses, a casa anterior sendo mantida e convertida para uma que abrigaria futuras visitas. Ginevra revirava os olhos cada vez que a mãe mencionava como dois quartos era pouco: ela era jovem, e com certeza acabaria tendo uma bela grande família. Ela era jovem, e lembrava de cada segundo de dor ao gerar Leo, então definitivamente a família pararia de crescer por tempo indeterminado - senão para sempre, o que ainda não tinha coragem de jogar na cara da bruxa mais velha.

A estranheza veio quando, alguns meses depois, descobriu que a casa principal tinha, na verdade, quatro quartos além do deles.

"Você sabe que não teremos mais três filhos, não sabe?" jogou a frase no meio do jantar que era para ser um romântico entre os dois, os pais de primeira viagem se atrevendo pela primeira vez a abandonar o filho de já oito meses com a avó. Sua resposta foi apenas o silêncio, enquanto Draco levava mais uma garfada de risoto à boca. "Fuinha, eu estou falando sério."

"E eu estou tentando ter um jantar romântico com a minha noiva." foi a resposta que veio, o garfo indo descansar ao lado do prato. "Mas ela não parece estar exatamente colaborando."

"Desculpe." Sua macarronada já não estava mais tão apetitosa.

Um suspiro, e uma mão foi alcançar a sua.

"Não Ginevra, me desculpe você."

Foi no instante em que olhou nos olhos acinzentados que viu terem chegado num novo nível naquele relacionamento: o bruxo não precisava falar nada, ela simplesmente sabia que ele fizera o que tanto estava hesitando fazer naquelas últimas semanas.

Desde a primeira visita de Severo - tão presente na sua casa agora, e tão gostado por Leo - ela sabia o quanto a confirmação da morte dos pais havia mexido com seu rapaz. Desde a primeira visita sabia o que era aquele saco, colocado no fundo do baú em frente a cama de casal e nunca mais mencionado. Desde aquele fim de tarde, tinha certeza do quanto demoraria para ele ter coragem de ver tudo aquilo.

Ginevra não demorou todo aquele tempo para descobrir o que havia ali dentro - como poderia? Não nega ter se sentido mal por bisbilhotar em coisas tão privadas de alguém que nem ainda era seu marido pelas malditas leis mágicas, mas a curiosidade no dia em que o loiro havia partido para checar como andava a construção da futura residência dos dois falou mais alto.

"Hoje é quatorze de outubro." Draco começou, ainda segurando sua mão. "Faz três anos desde a primeira vez que te beijei de verdade, bruxa." Mas por mais que já tivera visto tudo, algo dentro dela esperava que o bruxo compartilhasse com ela todas aquelas memórias no dia em que resolvesse vê-las.

"Três anos."

Queria que dividisse o quanto sempre parecia que tentava agradar o pai, tão frio em relação ao filho comparado com o seu - comparado com Draco em relação à Leo. Que lhe mostrasse o quanto sempre quis um irmão, por mais que fizesse piadas com o tamanho absurdo de sua família. Mas não, o bruxo estava estranho desde aquela manhã, que supostamente passara com Zabini. Tinha certeza de que se olhasse dentro do baú, acharia aquele pacote de memórias remexido.

Ou será que era por isso que ele estava estranho? Porque de algum maldito jeito - maldição, aquela palavra viva nela por causa dele! - Malfoy sabia que ela havia revirado aquilo. Ele poderia estar irritado com ela.

Merlin, ele poderia estar puto.

Eles iam brigar.

Ginevra tão precisava se defender e falar alguma coisa antes do-

"Bruxa," Tarde demais. "Eu ganhei uma aposta." O que?

Piscou uma, duas, três vezes.

"Uma aposta?" Aquilo tão não estava sendo a frase que esperava ouvir. "E é por isso que você está bravo?" perguntou, tentando entender a lógica entre ganhar uma aposta e ficar infeliz com isso. "Não é porque eu mexi nos-" A mão não foi o suficientemente rápido tampar sua boca.

"Ginevra, eu fiquei sabendo no mesmo dia que você tinha visto as memórias de meus pais - e eu mesmo as vi, no mesmo dia que as recebi." Franziu o cenho, o que? "Se tivesse apostado isso com Zabini, com certeza teria perdido: achei que fosse muito mais curiosa, achava que as veria em menos de quinze dias."

"Você as viu!" um aceno positivo com a cabeça. "E agiu como se nada tivesse mudado-"

"Porque nada mudou, Gin. No máximo fiquei um pouco mais feliz por saber que sim, meu pai tinha orgulho do que me tornei."

E então que as palavras de antes voltaram para sua mente, e a ruiva começou a ligar os fatos.

"Você não está bravo comigo."

"Claro que não, da onde você tirou isso bruxa?" Draco respondeu, sacudindo a cabeça.

Da onde ela tinha tirado aquilo? Talvez do jeito como ele se comportara tão estranhamente durante todo aquele dia! O café da manhã não compartilhado, o sumiço no meio da tarde, ter aparatado de volta para casa junto de Molly Weasley, fazer uma reserva num dos melhores restaurantes de Londres e separa-la do filho por uma noite toda pela primeira vez sem nem ao menos sua prévia aprovação. E nem ao menos trocar uma palavra com ela durante todo dia, antes daquele momento!

"Que droga de aposta que você ganhou, afinal?" perguntou, soltando a mão e dando mais uma garfada em seu macarrão, subitamente mais gostoso após tranquilizar-se com os humores do bruxo. Claro que sendo Draco Malfoy o bruxo em questão, os dela tinham chances de ficar ruins como os dele minutos antes.

"Eu não posso falar." Ela mataria aquele loiro. De uma forma lenta e dolorosa.

...

"Quer dizer que você se rendeu aos encantos de Ginevra Weasley?" Blaise o provocava no final daquela noite. "Não se preocupe, eu mesmo estou totalmente rendido pelo filho de trouxas grifinório - maldita raça."

"Não deveria ter feito isso." o sonserino respondeu, já deitado na cama, na boca ainda o gosto doce daquela bruxa.

"Eu aposto que você vai casar com ela."

"Sem mais apostas, Zabini." Engraçado como não engasgou com o pensamento de casar com uma Weasley.

"É sério." E de repente, dava de cara com o par de olhos azuis céu do amigo. "Eu aposto que em três anos você casa com ela."

"E eu aposto que Ginevra Weasley nunca conseguirá finalizar o pedido." selou com um aperto de mão, como fizera com o bruxo moreno há semanas atrás - realmente não aprendia.

"Três anos, Malfoy." Blaise falava, já voltando para sua cama. "Não se atreva a me deixar ganhar."

...

"Que droga de aposta que você ganhou, afinal?"

É claro que Draco se lembrava da aposta - não havia sido necessária a coruja de Zabini antes das sete horas da manhã. A carta debochada trazida pelo animal havia acabado com seu humor, e caçara o amigo durante as primeiras horas do dia.

"Eu não posso falar." confessou, tentando não rir com a cara de brava da futura esposa.

Draco Malfoy quis ganhar aquela aposta por diversas vezes: no começo, quando não aceitava aquele amor, após aceita-lo, por medo do futuro que poderia lhe dar, depois do obliviate, por achar que a vida da ruiva seria muito melhor longe da sua. Mas desde o dia em que a beijara novamente após tantos meses sem os malditos lábios, se empenhara apenas em ser o lado perdedor.

Se empenharia em dobro agora: aquela ruiva casaria com ele, nem que fosse a última coisa que conseguisse em vida.

"Quando for a hora eu vou contar. Eu refiz a aposta, e dessa maldita vez, realmente espero perdê-la."


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Notas finais do capítulo

Oi genteeeee! Olha como eu NÃO DEMOREI DESSA VEZ!

Nem sei o que falar. É o fim, mas ainda falta o epílogo então não é o fim - não to sabendo lidar com o fim. Eu só vou agradecer todo mundo no fim hahaha! Ainda falta um gente essa fic é eterna me julguem, 50 chaps!

Obrigada leitorinhas que me deixaram uma review, e espero que me falem o que acharam da fic até aqui e se ficou alguma dúvida!

Espero vcs no próximo e finalmente último,

um beijão

ANia.



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