Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 45
Leo




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Quarta, 13 de fevereiro.

Doía. Muito mais do que ela poderia imaginar - não era para ser gradual? O médico tinha dito que seria gradual, que começaria com pequenos desconfortos, e não com aquela dor que a fazia ser carregada. Merlin, ela estava sendo carregada, para dentro de uma casa pelo que podia ouvir, os olhos cerrados, mais uma contração lhe arrancando outro grito.

"Fleur!" Era a voz de sua mãe, mas as coisas ainda giravam muito para Ginevra se atrever a abrir os olhos e fitar a mulher que tanto sentira falta. Como estaria o olhar da bruxa mais velha? A reprovando? Surpreso? Decepcionado? Apertou mais os braços que suas mãos seguravam, talvez o suficiente para provocar alguns hematomas - a pele dele era tão branca. Será que a pele do filho seria assim também?

"Mas que-" Sem dúvida era a francesa que falava, conhecia aquele sotaque de olhos fechados. "Malfoy? Gina!"

"Onde tem uma cama?" Outra vez a voz dele - conseguia escutar a preocupação em cada sílaba. E merda, aquilo doía tanto!

"Por aqui, venha!" Os cabelos soltos enroscaram por um momento na maçaneta da porta, e sentiu uma mão os tirarem com todo o cuidado possível naquele momento, e então seus pés tocaram uma superfície macia. "A coloque deitada, vamos." E suas costas seguiram. Abençoado seja o Deus que fez a contração acabar. "Graças a Merlin os meninos não estão em casa."

Cinza foi a primeira coisa que viu quando se atreveu a abrir os olhos novamente. Respirou fundo uma, duas vezes, as coisas giravam bem menos. Definitivamente não esperava uma crise de labirintite por causa do uso da chave de portal. Quanto menos o nascimento de seu filho - se é que fora provocado pela viagem, e não pelo nervosismo que a antecedeu.

Merda, a cara do sonserino não era uma das melhores. Dava pra ver todo o nervosismo sem ele precisar abrir a boca - tinha algo errado?

"Está duas semanas adiantado." ele disse para quem estava ao seu lado, e então finalmente a viu - ah, mãe! E ela também estava estampando a mesma preocupação, colocando um pano molhado em seu rosto. Estava suando, e naquele segundo começou a notar seu cabelo já úmido pelo suor.

"Não tem problema, vai dar tudo certo, ok?" A afirmação foi para ela ou para o bruxo? "Fleur, traga uma bacia e água quente. Malfoy, talvez seja melhor esperar lá fora."

"Não!" se opôs por ele - antes dele. Não, não poderiam tira-lo dali, ela não conseguiria fazer nada sem o sonserino! Segurou a manga do casaco preto, a única intenção sendo faze-lo ficar ao seu lado. "Não, deixa ele aqui mãe-" E começou outra vez. "Aaaahh!"

Sentiu alguém a posicionando melhor na cama e escutou o barulho de água, e outra vez um pano gelado era passado em seu rosto - mas que dor do cacete! Queria usar todas as porras dos xingamentos que aprendera com os homens de sua vida naquele momento, porque aquilo doía sim pra caralho.

"Como você aguentou isso seis vezes?" achou a voz após alguns minutos - e que diabos ela fazia agora? Precisava empurrar? Podia? Não podia? Por que ninguém falava nada? Ou estavam falando, e ela simplesmente ignorava tudo de olhos fechados?

"Depois da primeira tudo fica mais fácil." Ok, precisava escutar sua mãe, pois a bruxa sem dúvida sabia o que estava falando. Abriu mais uma vez os olhos e se forçou a ficar com eles abertos daquela vez, tentando focar ao seu redor. "Respira, filha."

Respirar, ok, ela não estava fazendo aquilo outra vez. Uma, duas, três vezes. Não havia mais ninguém ao seu lado, sua mãe ocupada com alguns panos, seu praticamente marido a lado da bruxa mais velha, parecendo falar alguma coisa.

"Eu sei o que estou fazendo, Draco. Vai ficar tudo bem." Molly o tratava bem - era um bom sinal, certo? Deuses, como conseguia se preocupar com o que sua mãe estava pensando justo agora? "Fique ao lado dela e a deixe destruir sua mão, vá."

Sacudiu a cabeça, não, precisava focar no que precisaria fazer, e se preparar para a próxima contração - porque com certeza seria duas vezes pior do que a última, que já fora duas vezes pior que a penúltima. Só aquele pensamento já fazia seu coração acelerar mais do que deveria.

"Você está tremendo." observou quando o bruxo pegou sua mão. Pelos olhos claros, conseguia ver que ele estava tão assustado quanto ela própria, e mesmo com toda a dor que sentia, um sorriso surgiu nos lábios. "Só você pra me fazer sorrir agora, sonserino." Era quase engraçado o quanto ele estava nervoso, e era ao menos um pouco confortante ver que não estava sendo a única a se sentir desconfortável no meio da situação. "Não está sendo bem como planejamos, né?"

"Se concentre em você, Ginevra." Sorria, até sentir que a agonia começaria outra vez. Ah, merda! Merda, ela não conseguiria aguentar as próximas, tinha certeza disso.

"Gina, você precisa começar a empurrar." Era sua mãe que falava, e por um momento levantou mais a cabeça para enxergar a mulher, que estava entre suas pernas junto da cunhada. "Quando vier a próxima contração, ok?" Merlin, ela estava tentando, ninguém via seus esforços? "Vamos, empurre!"

Estava tentando, porra! Estava tentando com todas as forças, e por mais que a mãe lhe encorajasse, e por mais que estivesse enfim com sua família, e com ele ainda ao seu lado, simplesmente não dava - ah, doía demais!

Não tinha dúvidas, naquele momento, sobre aumentar mais sua família: a criança seria filha única, e pro inferno quem lhe falasse que precisaria dar-lhe um irmão. Deuses, queria tanto parar de sentir aquela dor e poder se render ao seu cansaço - queria tanto dormir.

"Eu não consigo!" enfim gritou, no final de mais uma contração. Seriam segundos para a próxima, sabia, já conseguia sentir a maldita dor a rasgando no meio novamente. "Eu não consigo Draco, eu não-"

"Consegue sim, bruxa." O pano foi de volta para sua testa, a mão branca esbarrando nas lágrimas que não conseguiu segurar - dizia isso porque não era ele sendo partido com aquela dor dilaceradora! "Não pare, continue-"

"Quieto, doninha!"

"Você precisa decidir logo o que eu sou: isso ou um furão." Teria rido daquela piada interna não fosse a pontada voltar tão mais forte.

"É a mesma coisa, bruxo!" disse entre os dentes, fazendo toda a força do mundo para acabar logo com aquilo. Tinha conseguido? Poderia parar agora? "Aaaahhh!" Uma nova contração respondeu sua pergunta, lhe deixando sem palavras e ainda mais ofegante que antes. "Eu não consigo."

"Consegue sim Gin, respira devagar-"

"Eu não consigo!" apertou a mão que segurava com a mesma força que empurrava - estava dizendo que não conseguia, porra! Não conseguia mais fazer força, deuses talvez não fosse nem mesmo conseguir ser uma mãe, aquilo era um erro, definitivamente era um erro, não podia mais, queria voltar no tempo e não fazer nada que lhe causasse toda aquela maldita dor! "Eu não posso, eu não vou conseguir-"

"Você consegue sim bruxa," Tão socaria aquele bruxo que só a contrariava naquele momento. "Sabe por que? Porque você é a pessoa mais corajosa que eu já conheci." Mais uma vez esteve perto da risada: ela, corajosa? Estava chorando em pleno parto e a cada contração pedia mentalmente arrego, como que poderia a jovem ser considerada alguém de coragem?

"É mentira-"

"Não é. Mentira foi quando eu te disse que me apaixonei por você naquele domingo." Ok, ao menos aquilo estava prendendo sua atenção, lhe dando alguns segundos de paz na sua mente que não parava de gritar. "Eu sabia desde a primeira vez que te vi ser tão corajosa, desde aquela noite que te achei nas masmorras e te levei de volta para sua casa. Eu soube desde aquele maldito beijo na frente da Grifinória, bruxa." Idiota. Amava aquele idiota. "Está acabado. Empurre na próxima, ok?"

"Ok." Ok. ok, ela conseguiria aquilo, ela- "Eu odeio você!" Não aguentava mais a maldita dor!

"Eu também te amo." Queria chorar mais: como ele sempre conseguia ser a personificação da calma quando ela precisava? Até a preocupação havia sumido daqueles olhos, que agora só espelhavam as últimas palavras ditas. "Só mais uma vez, strega." Como se o bruxo soubesse o que estava falando. "Só mais uma." Como se só mais um empurrão fosse resolver tudo aquilo, seria eterno, passaria horas naquela tortura - mas mesmo sabendo da mentira, acreditou e tentou usar todo o resto de força que possuía.

E o choro que escutou após alguns segundos mostrou que sim, as últimas palavras ouvidas eram verdadeiras.

Deitou a cabeça no travesseiro, fazendo um esforço sobre-humano para deixar os olhos abertos enquanto observava o bruxo se levantar, soltando a mão que ela não tinha mais forças para segurar no colchão ao seu lado.

"É um menino." era Molly quem anunciava - sim, sabia que seria um menino. Nenhum dos dois nunca teve dúvida. Draco tanto iria lhe falar vezes e mais vezes alguns 'eu não te disse?' - e ela se esforçaria para não mata-lo, prometia mentalmente.

Draco, ele estava segurando o bebê?

O filho.

Nosso filho.

"Você conseguiu, bruxa." escutou-o falar, se aproximando com um pequeno embrulho, o pano branco que envolvia o pequenino sujo de vermelho em já várias partes. "Como sempre." Queria falar para se aproximar mais, mas como se lendo seus pensamentos, no próximo instante, o loiro estava sentando-se ao seu lado, o filho sendo colocado em seu peito.

Ginevra tornou-se mãe quando olhou para os olhos azuis escuros, que ao acharem os dela, aquietaram-se. O pequenino, mesmo ainda tão sujo de sangue, era a coisa mais perfeita que já havia visto - e sim, valia cada segundo daquela dor, cada sofrimento passado até ali, valia tudo.

"Merlin, ele é perfeito."

"Leo." rendeu-se aquela tradição estúpida, o que lhe rendeu um olhar surpreso do sonserino. "Leo é perfeito."

...

Imaginou ter acordado horas depois de fechar os olhos - teve tempo de ver seu filho e o sorriso sincero do sonserino antes de se deixar ser dominada pelo sono. Incrível como sua primeira reação foi procurar por Leo, Draco mesmo sendo colocado em segundo plano naquele primeiro momento.

Mas não havia sinal dele no quarto, e nem no colo de sua mãe - única presente -, que se aproximou assim que notou-a acordada.

"Onde está meu filho?" a frase saiu de sua boca antes mesmo de pensar.

"Draco está com ele na sala, quis que você repousasse um pouco." Se pôs sentada na cama, a taquicardia repentina diminuindo com a informação, e tentou-a controlar assim com seus próximos pensamentos. Na sala com quem? Com toda sua família? Todos os seus irmãos, seu pai - e santo Merlin, ela estava ali, agora, sozinha com sua mãe pela primeira vez em tanto tempo. Como Molly se sentia avó? "Leo está dormindo nos braços deles faz mais de uma hora." Ela não parecia exatamente chateada com o fato, falando o nome do neto com a mesma voz que costumava pronunciar o seu. "Quem diria, ele é praticamente um pai nato." Sorriu com as palavras, e sentiu-se um pouco mais leve ao ver a outra ruiva devolver o gesto com sinceridade.

Um pai nato, então - sim, conseguia imaginar, tamanho o cuidado que o bruxo tivera naqueles últimos meses juntos. Assim como agora também conseguia realmente imaginar tudo que sua mãe passou nos últimos meses: ela estaria surtando, tivesse ficado sem notícias do filho por tanto tempo.

"Me perdoa, mãe." disse, uma mão alcançando a da bruxa ao seu lado - e as próximas palavras aliviaram sua alma.

"Não há nada mais pra perdoar, querida." Era tão bom ouvir aquilo com aquele sorriso que só uma mão conseguia dar. "Eu não nego que fiquei muito, mas muito brava quando descobri que você tinha ido embora com o bruxo. Talvez brava não seja a melhor palavra para descrever os meus sentimentos na hora em que li o bilhete." Uma risada: com certeza brava era uma palavra bem suave para as emoções de Molly Weasley na manhã daquele domingo.

"Eu não queria perde-lo outra vez." confessou, recebendo um olhar confuso. "É uma longa história, mãe. É complicado."

"Engraçado que seu bruxo já me falou essas exatas mesmas palavras." Já? "Ficamos desesperados na hora, é claro, pois tínhamos a informação que os comensais o estavam caçando dia e noite. Então na noite daquele domingo, Gui nos contou que você entrou na lista dos comensais antes mesmo de fugir com o sonserino."

"Porque eles achavam que tendo a mim, eles conseguiriam Harry." viu a bruxa mais velha concordar - ela também sabia daquela parte, então.

"Você foi corajosa em ir com Draco. Ficou com medo de enfrentar isso sem ele ao seu lado?" Molly perguntou, apontando para a barriga já tão menor da ruiva, que assentiu. "Hoje eu tenho certeza que você estava mais protegida ao lado do bruxo do que aqui - fico quase feliz que tenha ido com ele. Assim como, apesar de muito inesperado, fico feliz e posso dizer que a família inteira também ficará - ou eu vou dar um jeito com que fiquem - com nosso novo e pequenino membro. Leo é um lindo nome."

"É o único nome que poderia dar." confessou, ganhando um olhar curioso da mãe. "Você viu de quem seu neto é filho, não viu?" Como dar ao menino, tão igual ao pai, o nome de Victor, que tanto insistiu em todos aqueles meses, sendo menino? Sua teimosia era só para desafiá-lo, e ele sabia.

"Bem, é melhor do que os nomes que seriam sugeridos nessa parte da família." escutou a mãe falar antes de pegar na sua mão. "Só não suma outra vez, ok?"

...

Mais uma vez, em menos de vinte e quatro horas sua vida mudara por completo - realmente não teria mais calma com o furacão ruivo dominando sua existência. Acordou naquela quarta na Itália, com Ginevra grávida e extremamente rabugenta quanto ao fato de estarem lá, e não na casa de sua família, e terminava o mesmo dia rodeado de Weasleys e com o filho nos braços, enquanto a ruiva dormia no quarto ao lado.

Parafraseou a esposa: Leo era realmente perfeito. Não fosse algumas pequenas sardas no rosto - nem sabia que bebês poderiam nascer com sardas - falaria que a criança, que também descansava em silêncio no seu colo, era igual a ele quando nascera. Não que aquilo o tornasse perfeito, longe disso: esperava que o garoto fosse igual a mãe, em todos os aspectos. Claro que nunca admitiria aquilo para a grifinória, ou nunca mais teria qualquer chance de paz - que já eram remotas.

"Ele é tão quieto." escutou a francesa falar, mas seus olhos não conseguia deixar o semblante descansado do filho. Ali, de olhos fechados, realmente poderia se ver no pequeno. De olhos abertos, tudo que enxergava no bebê era Ginevra.

"Espero que o nosso seja assim calmo." o Weasley mais velho disse, chegando mais perto do sobrinho.

Fossem apenas os dois na sala, o clima não estaria tão tenso e Draco provavelmente se atreveria a levantar a cabeça. Talvez até mesmo deixasse o ruivo segurar Leo, não estivesse tanto querendo o filho consigo para evitar o pai da ruiva. Não, Arthur não parecia nem um pouco feliz com a notícia de que fora avô tão antes do esperado, e justo por sua mais nova.

Não que estivesse exatamente com medo do bruxo, mas sabia que não seria sua atitude mais sábia começar uma briga naquele momento - a ruiva o fizera aprender uma coisa ou outra sobre aquela família, afinal.

"Pai, você pode se aproximar, você sabe." Por Merlin, não.

Mais uma vez a sala ficou no mais completo silêncio, quebrado apenas minutos depois com um pequeno resmungo do bebê. Sim, o mais esperto de sua parte seria ficar longe da conversa que poderia iniciar a qualquer instante entre pai e filho, e com isso em mente, sua mão voltou para os fios loiros, tão finos mas ao mesmo tempo tão fartos: o pequeno teria tanto cabelo quanto a mãe, com certeza. Sorte a dele não puxar aquela parte de sua genética.

"Molly sabia disso?"

"Não pai, mas eu sabia. Eu sabia de tudo desde mês passado. Sabia dos dois desde agosto - isso mamãe também sabia."

Novamente o silêncio. Tinha que admitir que esperava uns bons gritos - mas então, todo o barulho talvez fosse exclusivo das mulheres daquele sobrenome.

"E ele ainda está vivo?"

"Exato."

Tensionou ao perceber de canto de olho que Arthur levantava, andando pela primeira vez em sua direção. Ao menos sabia que não seria azarado, afinal era o neto do bruxo que estava em seus braços. Invejou o filho, que conseguia dormir no meio de toda aquela tensão palpável que a sala continha, e se preparou para qualquer ofensa que provavelmente viria - e sabia que merecia.

Mais uma vez, recebeu apenas o silêncio - mas daquela vez fora ele o bruxo a quebra-lo.

"Gostaria de segura-lo?" falou olhando nos olhos do homem, agradecendo ao ver a expressão deste se tornar menos rígida com a oferta.

Sentiu-se ridículo ao hesitar por um momento entregar o pequeno embrulho, quase reclamando ao perder aquele calor. Não pelo fato de que agora, era só o bruxo colocar os filhos no braço da francesa e acabar com ele, mas sim porque simplesmente não queria ficar longe daquele que aprendera a amar em segundos. Lembrou-se de quando recebeu a noticia da gravidez: no meio de seu desespero, perguntou-se algumas vezes se realmente conseguiria espaço para amar outra pessoa que não fosse ela no meio de sua maldita vida. Não estava esperando aquilo, e no fundo não queria aceitar o fato, por todas as implicações que o filho trazia aos dois. Eles seriam tão mais caçados, a bruxa ficaria tão mais indefesa, ambos poderiam ser pegos por aquele descuido.

Não imaginava mais sua vida sem Leo desde o primeiro momento em que o segurara.

"Não se preocupe, não vou deixa-lo cair, garoto." relaxou ao escutar Arthur falar, um pequeno sorriso nos lábios. "É meu primeiro neto, mas não se esqueça de quantos irmãos Gina tem."

Definitivamente não se esqueceria daquilo.

Foram mais alguns minutos antes de outra palavra, dita por Molly, recém saída do quarto em que sua ruiva repousava.

"Tem alguém querendo ver vocês."

...

Era surpreendente como sempre se enganava quanto ao tamanho de seu maldito amor. Há meses atrás, quando o bruxo reagira de uma forma tão diferente da esperada com a notícia de Leo - e por todos os dias que correram, e todos os cuidados que seguiram - achava que seu amor pelo sonserino nunca mais pudesse aumentar. Já mal cabia no seu peito.

Mas realmente tinha um coração de mãe agora: sempre caberia mais amor. E ao vê-lo entrando com o filho dormindo em seus braços, aquele sentimento tão bom aumentou ainda mais.

"Como você está, bruxa?" a voz veio quando o rapaz sentou-se ao seu lado, um sorriso nos lábios enquanto ela estendia os braços com cuidado para pegar o pequenino, sem acorda-lo.

"Cansada." respondeu, colocando Leo no peito, este apenas emitindo um pequeno som antes de voltar ao sono pesado. "Então você ainda vive, furão?" Tinha que confessar que estava ao menos surpresa ao vê-lo ainda intacto.

"Acho que ganhei o direito de viver de seu pai também." Draco confessou, deitando-se ao seu lado, envolvendo-a protetoralmente com um de seus braços. "Não me pergunte como, talvez tenha sido apenas porque sua mãe apareceu - bendita seja Molly Weasley."

"Ele é igual a você." observou com uma risada: não conseguia ver um traço seu no menino, não fosse as sardas quase invisíveis - não mais de dez - na região das bochechas e nariz. Um mini Draco de sarda - e lá estava o amor, crescendo mais um pouco.

"Ele tem os seus olhos." estava pronta para contestar - os olhos dele eram tão azuis quanto os do pai - quando o bruxo continuou. "Fortes e confortáveis ao mesmo tempo." Sorriu novamente com a observação de como ele a via. "Eu disse que ia ser um menino."

"Não comece, bruxo."

Suspirou, tentando empurrar para o lado a nova sensação que surgia. Porque era uma errada, e ela com certeza estaria errada sobre as palavras que surgiam em sua mente. Claro que tal mudança na expressão - por mais sutil que tenha sido - não passaria despercebida.

"O que foi?" Afinal, aquele maldito sonserino a conhecia tão bem.

"Eu estou tendo um daqueles momentos." disse enfim, aconchegando-se mais nos braços que amava, envolvendo mais o filho em seus próprios.

"Que 'momentos'?"

Seria bom falar tal coisa em voz alta? Será que admitir tal coisa não acabaria lhe trazendo azar?

Não que tivesse escolha, agora que já tinha começado.

"Onde tudo é tão perfeito e maravilhoso que você se sente quase triste," a confissão veio com ainda outro suspiro, os olhos achando enfim os cinzas que sempre a confortavam. "Porque nada mais vai poder ser assim bom outra vez."

E conforta-la fora o que fizeram.

"Pare de dizer besteiras, bruxa." Mas apenas até a frase seguinte. "Enquanto eu viver, nada de mal vai acontecer com nenhum de vocês."

Tentou outra vez afastar aquela intuição - não, não intuição. Pois suas intuições tendiam a estarem sempre certas. Mas mesmo os braços que a embalavam não fizeram o sentimento ir embora.

Aquilo tudo estava correndo muito bem.

Bem demais.

...

Sábado, 16 de fevereiro.

Passaram dois dias até que Draco finalmente se sentisse confortável para andar sozinho pelas areias daquela praia. Ali sentado, nas pedras onde as ondas quebravam, via o sol alcançar cada vez mais o pequeno chalé, tão parecido com o que eles dividiram por tanto tempo na Itália. Balançou o pequeno saco verde que tinha nas mãos pelo fio, maldição, o dia dos namorados havia passado e ele simplesmente não falara nada.

Não que houvesse tido alguma chance de falar qualquer coisa naquele dia, quanto mais de passar algum tempo a sós com sua namorada. Incrível como ainda não conhecera os demais irmãos que deveriam querer mata-lo - aparentemente tinha um mínimo de sorte, ainda.

Mas era só pensar que o azar não tomara conta para algo não tão confortável surgir em sua vida e Arthur Weasley aparecer aos pés da enorme pedra em que sentava-se. O bruxo mais velho não precisou falar nada para que Draco descesse até seu lado, o sonserino colocando as mãos no bolso, guardando o pequeno saco enquanto ambos começavam a andar na areia molhada.

Inferno, estavam se afastando, e na sua cabeça tinha certeza que levaria a surra da sua vida - se fosse sua filha, ele sabia agora que daria a surra da vida do rapaz em questão. Foi uma surpresa quando minutos se passaram com os dois andando e nenhum soco ou azaração fez contato com seu corpo: talvez ainda houvesse um resquício de sorte.

"Obrigado por me receber." o loiro quebrou o silêncio quando enfim pararam de andar, imitando o ruivo e deixando-se cair sentado em frente ao mar. "Sei que é somente por ela, mas ainda assim, obrigado." A cara que o dito sogro fazia ao olha-lo teria sido engraçada em outro momento.

"Acho que posso tentar entender porque você ainda está vivo." foi a confissão que veio quando olhos castanhos claros acharam os seus. "Fiquei sabendo que vocês estavam na Itália."

"Ilha de Elba." especificou, a mão esquerda brincando outra vez com o fio do pequeno saco verde que carregava já há algum tempo consigo.

"Já tinha todo um discurso preparado na minha cabeça." Arthur continuou, as próprias mãos se ocupando de uma concha trazida pela água. "Perguntaria quais eram as suas intenções com a minha filha, e com certeza te enfiar ia um veritaserum goela abaixo. Adicionei uma boa surra quando vi minha filha grávida." Então alguma hora houve sim a possibilidade de um Weasley lhe tirar sangue.

"O que te fez mudar de ideia?" se atreveu a perguntar.

"Te ver com meu neto. E depois, te ver com minha filha - acho que nem eu agi de forma tão protetora e cuidadosa alguma vez na vida com minha esposa e as crianças." o bruxo mais velho disse com sinceridade - e outra vez aquela palavra o incomodou: esposa.

Por que diabos estava sendo tão difícil tornar aquilo - tão simples comparado a tudo que passaram - realidade?

"As palavras de Molly também ajudaram. E depois de todas as surras que você já tomou, achei desnecessário mais uma, sem contar que você chutaria meu traseiro num duelo, por mais moleque que seja." o homem completou, deixando-se rir ao final.

"Eu não duelaria com o pai de Ginevra." ele mesmo deixou-se dar um sorriso de canto, achando mais uma vez os olhos castanho claros do sogro. "Se conhece bem sua filha, sabe que haveriam consequências."

"Tão igual a mãe." Arthur disse, voltando a observar o mar. "Você realmente ama minha filha, não ama?"

O sorriso continuou: engraçado como aquela palavra parecia não mais definir seus sentimentos.

"Eu morreria pela sua filha." respondeu com uma sinceridade que espantou ambos. Morrer com certeza não era uma coisa que estava em seus planos, ainda mais agora, mas sendo necessário, não hesitaria em nenhum momento. Já havia chegado perto disso no último encontro com aquele bruxo, meses atrás, no entanto agora, ter de deixar todo aquele vermelho seria duas vezes mais doloroso.

"Então por favor, não morra." ouviu enquanto voltava a tirar do bolso o que carregava já consigo há semanas, afrouxando o cordão que deixava a joia dentro do saco de veludo verde. "Afinal, você ainda tem alguns irmãos para enfrentar."

Lembrou-se de um momento - um de seus primeiros bons momentos juntos - há tanto tempo atrás.

"Eu entendo, Draco. Não quer dizer que eu goste, mas eu entendo que é impossível eu segurar sua mão no meio do corredor, te beijar no meio do Salão Principal, te convidar para um almoço em casa nas férias de verão. Principalmente a última opção, te convidar seria o seu fim. Porque você sabe, eu sou a única garota da família e tenho seis irmãos e um pai superprotetor, e às vezes fico pensando como eles reagiriam se eu aparecesse com um bruxo na frente de todos."

Sim, ele tinha mais cinco, segundo suas contas. Deveria realmente gostar de viver perigosamente, porque não apenas aparecera com a bruxa após quase um ano de ausência, como trouxera junto um novo integrante para a família. De repente, o saco estava no chão.

"O que é isso?"

Arthur - não contando Zabini - fora o primeiro a ver o anel tão seguramente guardado em seu bolso desde o Natal.

"Digo, se algum dia alguém me pedisse em casamento na frente dos sete, eu nem teria como dizer não porque seria amor de verdade."

Sim, ele faria aquilo - talvez por causa desse pequeno detalhe que até hoje não a pedira para tornar tudo aquilo oficial. Draco queria que sua ruiva tivesse certeza, toda a certeza do mundo, que ele queria aquilo com todo seu maldito coração. Mas seria bom certificar-se o quanto poderiam tentar mata-lo antes com o bruxo mais velho: já bastava todo o caos que a bruxa lhe trazia.

"Eu-"

Realmente, não apanhar do pai de sua talvez futura noiva acabou com o resto de sorte que tinha.

"Estupefaça!" Arthur foi para o chão, desacordado, enquanto o sonserino levantava-se com um pulo, a mão indo para o bolso esquerdo onde antes estava tanto o anel quanto sua varinha. Tivesse ficado sentado, teria conseguido se defender: o bolso estava vazio, a varinha agora provavelmente debaixo do ruivo estirado no chão.

Lembrou-se das palavras de dias atrás, e amaldiçoou o sexto sentido feminino, tão ignorado por ele.

"Melhor não se mexer, querido sobrinho." Seria a primeira coisa que ensinaria ao filho: se sua mãe falar que sente que algo pode não correr bem, confie nela. "Fique quieto e venha com sua família." Ensinaria, tivesse ele a sorte de sair daquilo vivo.


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Notas finais do capítulo

Demorei mas cheguei! Gostaram do capítulo?
Obrigada a todos acompanhando, e como sempre, quem quiser deixar um comentário será mto bem respondido ;)



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