Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 44
Strega




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Sexta, 25 de janeiro.

Já fazia quase um mês. Um mês de procura, um mês que ele ia e vinha daquela maldita ilha, e nada.

Saíra de casa logo após o Natal, mas a notícia de que o melhor amigo de sua irmã faria uma viagem no mínimo diferente do de sempre viera no começo de dezembro - e seguir aqueles dois nem de longe fora difícil. Já achar a casa, ou sua irmã, ou o loiro que Guilherme estava prestes a assassinar, era outra história. Sabia que não seria fácil, mas que diabos os dois faziam que ficavam sem sair da maldita casa por já um mês?

Com certeza era melhor não pensar - ou acabaria quebrando mais um copo. Queria acreditar que ouvira errado a última frase que saiu dos lábios daquele sonserino - com o filho quase nascendo. Não focaria naquele detalhe - focaria em achar sua bendita irmã.

Talvez fosse mais sábio de sua parte ficar um tempo hospedado em algum lugar, ao invés de ficar aparatando e desaparatando cada dia num local e horário diferente - mas o dinheiro andava tão curto com seus pais, Fleur e o filho que já tomava forma. Tinha dó de gastar tão desnecessariamente seu salário, apesar de ter se tornado uma necessidade para ele achar Ginevra.

Para ele e para sua mãe: Molly estava surtando. Graças a Merlin pelos seus contatos grifinórios que lhe passaram tal informação sobre o filho de trouxas.

Ficaria apenas por uma semana, decidiu ao aparatar numa ruela escura, sempre deserta e já tão conhecida - era de longe que escutava as vozes de um bando de trouxas, nenhum deles à vista, graças a Merlin.

"Buon compleanno, Arianne!"

"Tanti auguri!"

Um aniversário, por mais que não reconhecesse as palavras ditas, o ritmo era igual até mesmo no mundo bruxo - e provavelmente em todos os cantos do mundo. Era triste as comemorações estarem rareando cada vez mais no seu, pensou com certa melancolia. Sacudiu a cabeça, não precisava daquilo agora, precisava achar sua irmã, e precisava de um café. Naquela pequena cidade, agradecia pelos menus onde apenas precisava apontar para pedir.

E rumando para uma cafeteria foi que sua sorte finalmente se fez presente. Um dos rostos que tanto procurava, um que era inconfundível: não importava o quão maior estivesse aquele cabelo, nem mesmo a barba para fazer ou as roupas tão trouxas, os fios platinados e a cara pontuda denunciavam o bruxo que tanto procurara aquelas últimas semanas.

Merlin, ele iria matá-lo.

"Malfoy!" Seu sangue ferveu na hora em que viu os fios loiros, e foi automático se jogar contra o bruxo, o prensando com toda a raiva até aquele momento contida contra a parede de tijolos. Filho de uma puta que fugira com sua única irmã! "Malfoy, onde ela está?"

A surpresa naqueles olhos claros não poderia ser mais visível, a mão no pescoço pálido provavelmente o impedindo de falar qualquer coisa ao mesmo tempo em que deixava o rosto branco mais vermelho. Achava que as olheiras fossem genéticas naquela maldita família, sua irritação apenas aumentando ao ver os olhos claros livre delas, diferente das dele, maior a cada noite. Aqueles meses de treino para arrancar informações de comensais capturados lhe seria tão útil agora - e com aquele pensamento, seguiu um soco que levou o sonserino ao chão, o ruivo indo para cima dele no próximo segundo.

Nunca quis tanto bater em alguém - e outro soco veio, o sangue que escorria do agora lábio aberto manchando sua mão, o trouxa saído de dentro da cafeteria completamente ignorado.

"Ma che succede?"

"Onde está Ginevra, seu filho da puta?" Quase foi para cima de quem o agora segurava, mas seus olhos nunca saíram - e nem poderiam sair - de Malfoy, já de pé, cuspindo vermelho no chão de pedra.

"Gian, è tutto a posto!" Que merda ele estava falando para o homem que o soltava? "Calma, Weasley! Por Me-, por Deus, ela está bem, você acha que deixaria alguma coisa acontecer com a bruxa?" Uma mão forte voltou para seu braço até vir a próxima frase. "Questo è il fratello di mia moglie, Gian, è tutto a posto ok?" Tivesse se virado, teria visto o olhar desconfiado do homem mais velho.

"Me mostre onde ela está." falou ao ouvir uma porta se fechando, os dois enfim sozinhos na pequena rua.

"Aqui não, Weasley. Vamos tomar a merda de um café." Mas a vontade da bebida havia passado por completo.

"Eu não quero a merda de um café, onde está minha irmã, Malfoy?"

Ainda espumava de raiva enquanto observava o loiro limpando o sangue com a manga do casaco, os dois levando as mãos as têmporas ao mesmo tempo - que Merlin não deixasse sua maldita enxaqueca tomar conta de seu foco agora.

"Meu nome é Onnorato aqui, Weasley." Que se foda qual era o nome do maldito bruxo! Só não voltava a soca-lo para não chamar ainda mais atenção desnecessária - sabe-se lá quem poderia aparecer agora para separa-los.

"Onde está minha irmã?"

"Está em casa." Quase riu: Ginevra estava era muito longe de casa, e ele sabia daquilo. "Está bem, muito melhor do que da última vez que a viu, te garanto. Está lá porque quer."

Respirou fundo, tentando dissipar a raiva ainda tão tácita. Porque quer. Lá no fundo sempre soube que sua irmã só tinha fugido com o maldito sonserino por esta ter sido sua escolha - como se fosse possível tirar alguma das ideias da cabeça de Ginevra, por mais absurdas que fossem. Mas não, aquilo não diminuía em nada seu desespero, sua vontade de acha-la, sua necessidade de vê-la bem.

E pela primeira vez, deixou-se acreditar no que ouvira naquela tarde. Foi com o sonserino porque queria. Fugiu porque não queria ficar sem o pai da criança que estava para nascer - puta que pariu.

"Eu confiei em você, moleque." Ele seria tio, já tinha quase aceitado o fato daquela informação ser verdadeira. Ele seria tio, e o filho seria da sua irmã que nem mesmo era maior de idade ainda. "Mais de uma vez." E para completar, o filho era do maldito Malfoy - naquele instante, amaldiçoava o fato de Harry ter sido tão ignorante quanto aos sentimentos da irmã enquanto estes ainda existiam.

Ginevra amava agora o sonserino.

E o filho era do sonserino.

E todos estavam atrás desse moleque.

Mais uma vez, puta que pariu.

"Weasley, que diabos você está fazendo aqui?" A voz saía nervosa, o bruxo recolhendo do chão algumas sacolas cheias de comida, que Guilherme só percebera da existência agora.

"Nossa mãe está pirando." confessou um dos motivos, enfim conseguindo olhar o bruxo sem querer derruba-lo outra vez. Ginevra estava grávida, e Malfoy estava com ela, a protegendo de tudo, a deixando a salvo, a escondendo - porque ela definitivamente era também um alvo de comensais na guerra.

Ela estava bem, precisava acreditar naquilo. Diferente de seu irmão caçula, que não tinha notícias fazia meses.

"Ronald também sumiu."

"Fiquei sabendo."

"Faz dias que eu estou indo e vindo nessa merda de ilha."

"Faz meses, pra gente." Pra gente.

Para vocês três? Mas conteve-se para não perguntar.

"Eu quero vê-la. Não é negociável, Onnorato."

...

Estava a cuidar da horta que havia começado no mês anterior quando sentiu um chute mais intenso - deuses, o menino estava ficando forte. Sentou-se entre as mudas de cenoura, que apesar do frio pareciam estar vingando. Uma das vantagens de não se ter neve, pensou enquanto massageava a barriga coberta pelo moletom.

Faltava pouco agora - e sim, lá no fundo, por mais que não admitisse nunca em voz alta, estava aterrorizada em colocar aquela criança no meio do caos que estava o seu mundo. Ali, dentro dela, o bebê estaria tão mais seguro, era tão mais fácil protege-lo, ao menos assim acreditava. As esperanças do fim da guerra chegar antes do filho já tinham se ido, assim como sua disposição - estava tão cansada naqueles últimos dias.

"Você gosta dele, né Strega?" falou quando a gata surgiu, se roçando naquela enorme protuberância - já mal via seus pés, até mesmo deitada. "Eu sei que vai ser um menino, só fico contrariando porque ele fica lindo irritado." confessou o que sempre pensava ao falar sobre o quanto teriam uma menina - precisava pensar em outro nome, pois definitivamente não sairia uma Carina lá de dentro. "Afinal, foi por essa cara irritada que me apaixonei."

Não tivesse tão frio, teria aproveitado o sol tímido que iluminava o dia, agora já não mais por detrás das nuvens, e deitado no meio das plantas. Engraçado um jardim livre de gnomos de jardim, com apenas algumas ervas daninhas vez ou outra para serem arrancadas. Levantou-se com esforço, apoiando-se na pá que carregava consigo, e estava prestes a colocar mais algumas sementes em um dos pequenos buracos quando escutou o barulho de um carro.

Tão esperava que Draco tivesse trazido as framboesas que estava louca para comer.

E a boca abriu para receber o namorado, mas voz alguma saiu quando seu olhar foi para a entrada da casa. Seu coração acelerou no mesmo instante em que seus olhos começaram a embaçar - e ali estava ela novamente, no pico de seus hormônios, não conseguindo mais uma vez conter as lágrimas, cobrindo a boca na tentativa de esconder um soluço que mesmo assim saiu.

Oh Merlin.

"Gin?" Queria correr até aqueles cabelos ruivos que tanto sentira falta, e pela primeira vez, amaldiçoou seu estado roliço.

"Gui!" Graças aos deuses quem correu foi ele, e tão logo estava perto o suficiente, Ginevra enrolou seus braços em volta do pescoço do irmão mais velho, apertando-o com toda sua força num abraço, quase esmagando o pequeno entre eles. "Gui, não é um sonho?" disse quando enfim se separaram, falhando em notar os olhos gigantes do irmão na sua barriga, tão grande quanto. "Merlin, você está mesmo aqui!"

"Eu tão vou matar esse moleque." Lembrou do pequeno detalhe só naquele momento, mas não, ele não olhava para o sobrinho com raiva, ou decepção, ou qualquer sentimento ruim que ela esperara e sonhara durante todos os meses de distância. Louvado seja o Deus que atendeu suas preces diárias, pois os olhos sorriam que nem os lábios.

"Você definitivamente não vai matar o pai do seu sobrinho." Deu um tapa brincalhão no braço do ruivo, não deixando de olha-lo nem mesmo quando as mãos grandes e ásperas do irmão secavam seu rosto.

"Você tem noção de como estávamos preocupados? Do quanto mamãe está surtando, do quanto eu passei meses e meses-"

"Senti tanto sua falta." falou a frase que estava entalada na sua garganta e no seu coração.

E como mágica - e nem sabia mais o que era aquilo após tantos meses sem - sentia-se pronta. Ok, ela conseguiria fazer aquilo, conseguiria ter seu filho em qualquer que fosse o mundo - desde que tivesse sua maldita família ao seu lado. Precisava tanto negociar aquilo com o sonserino.

"Eu também, baixinha."

...

"Só para você saber, é melhor falar para Fleur que poções podem não funcionar na família." escutou Ginevra falando da cozinha, logo após saindo com um pote de framboesas - a comida que tanto tinha lhe infernizado para trazer e motivo de ter achado o bruxo sentado na poltrona ao seu lado -, colocando-as sobre a mesa de centro e sentando-se junto a ele, ainda vestindo no rosto um sorriso que não via há tempos - quase aliviada.

Assim como ele também não tinha há algum tempo manchas roxas no rosto - que a ruiva tratou de checar tão logo o irmão tivera entrado na casa. Mas ela estava tão absurdamente feliz desde que vira aquela cabeça ruiva, que sinceramente nem deu-se ao trabalho de irritar-se com o corte no lábio, ou com o que deixaria ainda outra cicatriz no canto superior da sobrancelha direita. Praticamente na sua maldita testa.

Pensando bem, talvez estivesse um pouco irritado.

"Nós sabemos."

Ao menos a ruiva conseguira o que enfim tanto queria: a aprovação de ao menos uma pessoa de sua família. Não que, tivesse ele dito nada em todo o caminho até a casa, o ruivo fosse reagir daquela maneira. Contou sobre a gravidez com o carro ainda desligado - a última coisa que precisava era um bruxo descontrolado causando um acidente. Surpreendentemente, o Weasley sabia, não tão surpreendente, sua felicidade para com isso não era das maiores. Contou sobre o quanto tentava fazer a vida da ruiva um inferno menor, que tudo estava bem com o menino que vinha, como Ginevra estava mal de saudades da família - e o jeito que aceitava a distância, para não coloca-los ainda mais em perigo, caso fosse descoberto o paradeiro dos agora três. Não soube ao certo quais de suas palavras o fizeram enfim aceitar o fato e tratar a bruxa do jeito nada severo que esperava que fosse tratar - talvez nem Guilherme soubesse.

Ao menos o maldito ruivo não parecia mais querer assassina-lo.

"Eu vou ser tia?" Tinha uma cicatriz na maldita testa tão como o bruxo que tanto o irritava, mas tinha o sorriso que amava de volta - conseguia viver com aquilo.

"Talvez." Se conteve para não revirar os olhos: aquela família realmente tinha um problema de fertilidade - de muita fertilidade. Teria medo de tocar naqueles fios vermelhos após o filho nascesse - já tinha medo de tocar agora, após em uma das visitas médicas descobrir que em raros casos, uma mulher pode engravidar já grávida. Por enquanto, um era mais do que o suficiente.

Engraçado como ele hoje em dia se esquecia que estava com uma Weasley: claro que, tudo dando certo até o final daquela maldita guerra, a ruiva o suportando por pelo menos mais alguns anos, sua família acabaria sendo muito maior do que era agora.

"Você ouviu isso? Eu vou ser tia!" A bruxa grávida de oito meses virou-se outra vez para ele, os olhos castanhos procurando seus claros para ter certeza de que a informação fora absorvida - como se conseguisse não escutar quando Ginevra praticamente gritava em seus ouvidos. "Ah, sono così felice!"

E outra vez, a ruiva se mostrando tão ridiculamente boa no que ele a ensinara naqueles meses lhe arrancou de sua rabugice.

"Disse que está contente pela notícia." traduziu para o bruxo mais velho que olhava a irmã com uma mistura de surpresa e confusão, Draco não resistindo mais a vontade de colocar um braço ao redor da cintura de sua bruxa. "Ela é uma ótima aluna." Até sentia um esboço de um sorriso nos lábios.

"Tenho um bom professor."

A chaleira apitando foi o que tirou o sonserino da sala, a água quente pronta para passar o café. Da pia da cozinha, enquanto derramava a água sobre o pó preto, observava a ruiva conversando empolgada com o irmão, as mãos pequenas acariciando a barriga de já oito meses. Os olhos foram de um vermelho para outro, pela primeira vez se preocupando com o fato de ter sido achado.

Não que Guilherme não fosse um bom rastreador: graças a ele, a Ordem capturara pelo menos cinco comensais - o que foi de grande ajuda para colocar diversos planos em prática. Mas existiam ainda melhores do outro lado, ainda a solta. E se um achara, seria apenas uma questão de tempo.

Mas não, eles nem mesmo precisariam sair dali por um tempo, graças a quantidade ridícula de comida que tinham estocada - fora a horta. O próximo ultra-som - deuses, quanta tecnologia trouxa sobre seu filho - era apenas no meio de fevereiro, então tinha algum tempo para pensar se continuavam ou não ali. E claro que sairia sozinho na próxima ida à cidade. Se é que seu medo não se tornasse realidade até lá - e a ruiva sempre conseguia insistir até tira-lo do sério.

Não se preocuparia com aquilo naquela tarde, não estragaria um dos únicos momentos de paz da ruiva. Não hoje.

"Então, percebi que é o jeito que ele me faz sentir que me prende tanto. Eu não me sinto apenas segura com Draco, mas feliz de verdade." Estava quase dando o primeiro passo para sair da cozinha quando escutou a ruiva falando - será que achava que ele não a ouvia? "Ele me faz rir - muitas vezes do jeito sonserino dele, claro -, e agora eu sei que ele vai estar ao meu lado quando eu chorar, também. Ele esteve do meu lado desde outubro, Gui, e quando diz que sempre vai estar, eu consigo acreditar. Isso é tão raro."

Ainda se sentia ridículo quando se pegava sorrindo pelas coisas que escutava dela - e ali estava ele, se sentindo ridículo novamente. Sem dúvida, até o ruivo ir embora, não valia a pena falar nada que acabasse com aquela felicidade. E com este pensamento, voltou para a sala com duas canecas, uma sendo entregue para o bruxo antes de voltar para o lado da sua, que parecia ter parado de passar os canais da televisão.

"Edward mãos de tesoura?" Ao menos era o título exibido na tela, ao lado de um trouxa deveras exótico. Tinha que admitir - para si apenas, claro - que eles até que eram criativos.

"Não a deixe assistir isso." Foi a frase que o vez voltar sua atenção para o Weasley mais velho. E pela primeira vez - e assustadoramente, esperava que aquelas vezes se repetissem muito no futuro - parou no meio de uma briga daqueles dois irmãos.

"Fique quieto!" Ginevra dizia, tentando interromper a história do mais velho.

"O filme a deixa triste." Engraçado como o ruivo tinha coragem de contrariar a grávida, e até mesmo devolver a almofada que fora arremessada em sua cara.

"Não deixa não!"

"Então você passava as noites chorando na minha cama depois de ver isso por que, baixinha?"

"Eu ficava chateada com o final, mas já superei."

"É o que ela sempre diz," Mais uma almofada. "Como uma viciada pedindo mais droga!"

"Eu não sou uma viciada, você que é!" E a próxima ele pegou antes que fosse arremessada, lhe rendendo um olhar nem um pouco contente da grávida ao seu lado. Surpreendentemente, foi a primeira vez que sentiu-se realmente como um pai.

"Ninguém é um viciado nessa casa!" disse sério, colocando a almofada ao seu lado e arrancando uma risada dos outros dois.

"Vai se acostumando. A família costuma ser grande e barulhenta." Grande e barulhenta: o oposto de tudo que sempre tivera na mansão que crescera. A vida seria muito diferente a partir do nascimento do filho - não teria mais como afasta-la dos vermelhos. A preocupação de minutos atrás voltou ao olha-la tão mais relaxada ao lado do irmão: talvez não tivesse nem mesmo agora mais forma de mantê-la ali.

"Como estão todos?" O que faria se a bruxa quisesse voltar com Guilherme?

"Vivos." Não era como se ele pudesse obrigar a fica-la, assim como Ginevra ir sozinha nunca passou perto de ser uma opção. "Mamãe está preocupada. Papai também." Maldição, sentia a cabeça começar a doer só de considerar a possibilidade. "Ainda tem seis homens para matá-lo, já que falhei nessa tarefa." Só escutou mesmo as palavras ditas pelo ruivo quando uma almofada lhe acertou em cheio o rosto.

"Não abuse da sorte, Weasley." falou, colocando atrás de si a última que poderia acerta-lo.

E foi então que os olhos chocolates foram para os dele, as pequenas mãos brincando de um jeito nervoso com a borda do casaco, e Draco simplesmente sabia a frase que viria a seguir - mas mesmo assim sentiu o coração descompensar ao escuta-la.

"Você acha que devemos voltar?" Ginevra claramente esperava uma resposta, e a última coisa que o sonserino queria era contar a verdade sobre o que achava. Pois a resposta era sim, achava que deviam sair dali, não se sentia mais seguro na droga daquela ilha. Só que não se sentiria seguro tampouco no esconderijo do irmão, afinal, quantas pessoas tinham a localização daquela maldita casa?

Mas a resposta nunca veio dele, e para hora, foi a melhor possível.

"Por mais que eu queira te levar de volta, tenho que admitir que agora você já deve tomar suas próprias decisões." o bruxo disse, procurando algo dentro de seu casaco. "E aqui parece seguro, Gin." Quando finalmente achou, entregou o pequeno objeto para sua ruiva, e ele não precisou falar nada antes de Draco deduzir o que era aquilo. "Mas aqui está uma passagem de ida. Eu realmente espero que não precisem, mas caso queiram nos achar, basta ler o rótulo e a abrir o pote, ok?"

...

Quarta, 13 de fevereiro.

Não conseguiu mais adiar uma ida a cidade naquela tarde - a vida seria tão mais fácil se pudesse conjurar um sorvete de framboesa naquele dia. O que aquela bruxa tinha com a fruta que tanto queria comer toda hora?

Após muita insistência, e até mesmo uma pequena briga, conseguiu livrar-se da teimosia vermelha e seguia sozinho rumo ao vilarejo da ilha. Nem com todos os charmes e bicos do mundo levaria a jovem junto de si, sem antes verificar se realmente eram a única presença mágica do lugar.

Sorvete naquela temperatura, como a bruxa andava sentindo tanto calor com aquele clima, era um mistério para ele. Mesmo assim, não foi muito difícil encontrar alguém que vendesse o produto tão requisitado, e em minutos após sair do carro, voltava a esse com o gelado dentro de uma sacola, o deixando no bando do passageiro enquanto dava a partida.

Queria que a comida resolvesse todos os seus problemas, mas Ginevra, infelizmente, não o infernizava apenas pelo sorvete. Não, longe disso, as últimas discussões passaram longe de qualquer coisa que tivesse framboesa, e estava com um medo visceral de voltar para a casa e não haver mais ruiva alguma, a chave de portal tendo ficado no lugar de sempre, junto com a varinha da bruxa. E ela sabia, e ela tinha a chave - e o maior de seus desejos naqueles dias era ver a maldita família de vermelhos.

Foi com aquele pensamento que acelerou mais o carro na estrada de terra, e foi aquilo que provavelmente furou seu pneu antes da maldita ponte. E ele nunca havia trocado a porra de um pneu na sua vida - e sinceramente, não fazia ideia de como começar. Poderia resolver tudo aquilo com um toque de sua varinha, pensou enquanto olhava para o dano feito. Ou poderia muito bem voltar a pé para a casa, daria quanto tempo de caminhada agora, vinte minutos? Seria ótimo para esfriar a cabeça, com certeza.

E foi com aquele pensamento que pegou a sacola e rumou a pé para a ponte. E foi no momento em que ele colocava o primeiro pé nesta, entrando em sua gigante propriedade, que algo segurou seu braço. E assim, de repente, colocara um comensal para dentro da área que até aquele segundo era considerada tão segura.

Avery. Mas que merda.

"Quanto tempo, Draco." Via o bruxo moreno sacar a varinha, e sabia o que viria em seguida. E simplesmente não podia aparatar ali dentro - não conseguia concluir se era bom ou péssimo aquele detalhe. "Crucio!"

No segundo que a maldição o tocou percebeu o quanto se esquecera da dor naqueles últimos meses, e estava tomando todas as suas forças permanecer quieto - porque não podia fazer barulho algum. Porque se fizesse algum maldito barulho, era bem capaz - pela sua recém-retornada sorte - que a ruiva escutasse e viesse correndo. E a última coisa que precisava era ela ali - ele tão precisava permanecer consciente quando aquilo acabassem.

Mas a dor parecia cortar sua alma, e respirar era uma tarefa quase impossível - o que fazia seu coração acelerar como nunca antes. O medo que antes tinha se tornara esperança para que aquela possibilidade tivesse acontecido, pois a melhor alternativa seria não ter aquela bruxa ali - mas a fumaça que via sair de uma chaminé distante dizia que não era o caso.

A dor lacerante sumiu no instante que sentiu que iria quebrar. Caiu no chão no mesmo segundo, as mãos raspando no chão de madeira da ponte, os olhos tentando recuperar o foco perdido.

"Mas o Lord vai ficar tão contente com esse presente." Quantos minutos haviam passado? Quantos segundos demorariam para aquilo começar outra vez? "Finalmente um Weasley fez uma coisa que preste." Escutou a risada rouca do bruxo, e sabia o que viria a seguir.

Tão bom que ele sempre saia com sua varinha.

"Estupefaça!" Aliviou-se ao ver que sua mira continuava perfeita, mesmo com meses sem prática.

E então, estava correndo.

...

A ruiva estava com fome - já passava do meio dia, afinal - enquanto abria a massa com o rolo de macarrão. Aquilo a relaxava, a força que usava na hora de passar o rolo pela massa semidura a deixava mais calma, o foco que tinha naquele monte de farinha e ovos tirava sua atenção das outras coisas que estavam acabando com sua paciência. Ali estava ela, fazendo uma macarronada à alho e ódio.

Ginevra odiava brigar com ele. Não se referia as pequenas brigas - não, já estava acostumada a passar seus dias discordando das pequenas coisas - mas sim as realmente importantes, que nunca começavam com algo pequeno. Ao menos não era pequeno para ele, o tópico.

Mas era tão difícil ter aquela chave na gaveta e aquela outra pendurada em seu pescoço, e seguir normalmente com a vida. Tão diariamente perturbador saber que poderia ver sua mãe quando quisesse, mas simplesmente não podia. Nem ao menos queria o maldito sorvete de framboesa, só precisava por todos os deuses ficar um pouco sozinha naquela casa.

Olhou para sua horta, Strega estava brincando com uma borboleta amarela quando, do nada, o rabo foi duro para cima e a gata virou-se para a entrada da casa.

Então escutou a voz da qual tinha se livrado naquela última hora.

E definitivamente não era o melhor dos tons que Draco usava.

"Ginevra!" Escutou a porta se abrir e ao correr para a sala, já via o loiro abrir nervoso a gaveta onde guardavam os itens mágicos. "Graças a Merlin." o viu murmurar ao pegar a varinha dela e a chave de portal, finalmente virando-se em sua direção. "Gin, precisamos ir."

E por um segundo ela ficou ali, parada, sem ter a menor reação. Precisavam ir. Era o motivo da briga. Era a vontade da bruxa nos últimos dias. E era o que ela menos queria fazer agora.

"O que houve-"

"Agora, Ginevra!" Draco disse enquanto esvaziava sem o menor cuidado o armário de poções dentro de um saco, apenas notando a distância que a bruxa tomava dele ao virar-se novamente e vê-la sumindo pela porta da cozinha. "O que você está fazendo? Ginevra, agora, precisamos ir agora!"

Ela poderia estar em choque - ao menos em um estado de quase choque - mas definitivamente não deixaria uma das coisas que aprendera a amar ali abandonada, apenas porque sabe-se lá porque os três precisavam sair dali agora. Os quatro sairiam de lá, e foi com aquela decisão que a jovem abriu a porta detrás da casa.

Era o nervosismo que a fazia conseguir andar assim rápido outra vez?

"Strega!" Que ao menos daquela vez a gata a obedeça.

"Ginevra, não temos tempo!"

"Strega, vem cá!" Obedeça. "Rápido!" Por que diabos a gata andava como se eles tivessem todo o tempo do mundo?

"Bruxa, ela vai ficar bem!" A frase veio junto com uma mão que segurou com força seu braço - porque ele a conhecia, e com certeza sabia que ela tentaria se soltar.

"Não!" Por que ele não a deixava pegar a gata? Porque ele estava abrindo o maldito pote, não! "Draco-"

Seu coração já acelerava mais e um nó se formava em sua garganta quando o loiro, com um movimento muito mais rápido do que ela conseguiria em seu estado, pegou a felina e a colocou entre os dois, vestindo no rosto uma expressão tão irritada que Gina sabia que no momento em que pisassem no chalé das conchas, haveria uma briga.

Mas no momento em que sentiu a areia nos pés, Draco a soltando, Strega pulando ao seu lado tão feliz quanto o loiro, algo aconteceu.

"Nunca mais faça isso." A voz saiu séria, e sabia que se o olhasse, o veria passar as mãos pelos cabelos platinados, uma mania que ela tanto gostava. Mas não conseguia olha-lo, não agora. Não conseguia fazer nada que não fosse segurar seu ventre enquanto se abaixava - e não era nem mesmo dor que sentia após aquela pontada. "Quando eu disser agora, é agora Ginevra, e foda-se a gata!" O vento estava frio, e ela sentia algo molhado em suas roupas - e Merlin, como aquilo lhe fazia tremer com aquela temperatura. Sentia-se gelada pela primeira vez em meses. "Tinha um comensal na porra do jardim!"

E foi então que veio uma pontada realmente dolorida, que a fizera enfim ficar de joelhos na areia - mas foi embora tão rapidamente quanto surgiu. Então ela entendeu - mas não, ainda faltavam duas semanas! Não era possível ser agora, justo agora, justo quando estavam no meio da merda de uma praia!

"Ginevra Molly Weasley!" escutava de longe a voz tão familiar, que tanto desejou ouvir por tanto tempo, mas as lágrimas que surgiam em seus olhos não eram de saudade - Merlin, aquilo que era uma contração? "Você tão está de castigo até o fim da vida!" Oh, deuses!

"Gin?" ouviu seu nome após puxar o ar de uma maneira desesperada, abaixando a cabeça, as mãos agarrando a areia como se assim pudesse dissipar sua dor. Não estava adiantando. "Gin, o que houve?"

Foi engraçada a expressão que surgiu no rosto do sonserino com as próximas palavras, a pele parecendo ficar ainda mais pálida.

"Eu acho que minha bolsa estourou."


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Notas finais do capítulo

E aí gente, demorei? Rs, demorei mesmo dessa vez, tá foda! Espero que tenham gostado, e quem puder, tira um tempinho pra me deixar um comentário ;)



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