Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 43
Crescendo


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas cheguei!
Espero que gostem do capítulo!
Pra quem tá perguntando quanto ainda falta pro fim... faltam alguns capítulos! Menos que dez, mais que cinco - por aí!
Me contem o que estão achando! ;*



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Terça, 30 de outubro.

"É tão desapontante." Molly falava, enquanto sacudia a cabeça, lhe dando o olhar mais decepcionado que Ginevra já vira na vida. "Eu tive que falar para meus amigos, para toda a família, que minha única filha - a mais inteligente de sua turma - está grávida e está abandonando a escola. Abandonando a escola!"

"Mãe, eu-"

"E então você foge, e nos trata como se fossemos nada!"

"Eu não tive a intenção, mãe-"

"Nós somos sua família, Ginevra!" Nunca era bom ouvir aquela bruxa gritando - ela nunca conseguia engolir os gritos sem derramar alguma lágrima. Ou muitas, como era o caso de agora.

"Sua mãe ficou de cama por um mês! Soube disso?" E quando seu pai se metia na briga, só piorava - quando fora a última vez que Arthur falara daquele jeito com sua menininha? "Soube, Ginevra?"

"Não." A voz saía tão baixa que nem parecia a sua. Queria tanto abraçar seus pais, mas com certeza a proximidade da filha era a última coisa que ambos queriam.

"Nós não fizemos nada para merecer isso!" Merlin, só queria sumir dali. "Quem fez foi você!" Queria aparatar dali e nunca mais voltar, de tanta vergonha. Por que ele não aparecia? Onde estava Draco? Por que ele prometera outra vez nunca mais ir embora e a deixara outra vez?

"Gin?" Alguém tocava seu ombro, mas ao se virar não havia ninguém. "Abra os olhos, Gin."

E ela estava outra vez no quarto que dividia com seu bruxo. Notou que suava quando as mãos saíram de sua barriga e foram para os cabelos úmidos - e já era quase inverno.

"Gin, foi só um pesadelo. Se acalme, ok?" Olhos cinzas a fitavam preocupados, a mão do bruxo indo para onde antes as suas estavam. "É o mesmo?" assentiu, enxugando o rosto com a manga do pijama.

Os rostos de seus pais ainda eram tão vívidos em sua memória que por um momento quase continuou a chorar como no sonho, mas um movimento em seu ventre a fez pensar na terceira pessoa presente. Virou-se para o bruxo, que parecia observar maravilhado aquele pequeno chute, e a cena graças a Merlin lhe devolvera um pouco da calma que precisava.

"Sinto falta deles, Draco." acabou confessando após alguns minutos com os dois apenas observando a barriga que já mostrava. "Tenho tanto medo que minha mãe não me aceite de volta, que ela-"

"Da última vez que chequei, o sobrenome deles era Weasley, e não Malfoy." o loiro a interrompeu, voltando a deitar enquanto puxava o edredom por cima dos dois. Quis perguntar - como já quis muitas vezes desde agosto - se o rapaz achava que não seria mais bem visto pelos pais, mas achou desnecessário como sempre: a chance de algum Malfoy fora Draco ficar feliz com aquilo era mínima. "Ela nunca vai te rejeitar, bruxa." ele continuou, desligando a luminária de cabeceira, os dois outra vez no escuro. "Muito menos nosso filho."

E ali estava aquela certeza outra vez.

"O que te faz ter tanta certeza que é um menino?" perguntou antes que o bruxo pegasse no sono, já sentindo braços a envolverem pela cintura, aconchegando seu corpo no dele - Draco dormia tão tranquilo, e tão rápido, agora.

"Anos e anos com apenas homens nascendo na minha família - e até mesmo na sua -, talvez? Eu vou amar seja o que for, você sabe." e um sorriso brotou em seus lábios, até vir a continuação. "Desde que entre na sonserina quando fizer onze anos."

Não teria ficado tão irritada, tivesse visto o sorriso do bruxo com quem dividia a cama.

...

Quarta, véspera de Ação de Graças.

O frio parecia finalmente chegar junto com o dia de ação de graças - assim como sua barriga. Andando pela rua de paralelepípedos, apertou um pouco mais o cachecol em volta do pescoço, um vento gelado vindo do mar a fazendo tremer - tivesse o bruxo prestando atenção, já estaria usando seu casaco e cachecol.

Já estavam quase em Dezembro, já eram quase quatro meses longe de sua família, quatro meses vivendo com ele, quatro semanas para o Natal. Lembrou do Natal passado, e de seu pensamento de que este próximo passaria junto de sua mãe, ajudando a preparar a ceia sabe-se lá para quantas pessoas - nunca esteve tão enganada.

Viver com Draco era bom e difícil ao mesmo tempo: bom porque sim, estava junto do bruxo que amava, do pai de seu filho, do rapaz que deu sua liberdade pela vida dela. Difícil porque Draco era Draco, e a paranoia que esperava que fosse diminuir só aumentava com o crescimento de sua barriga. Como hoje: realmente tentava entender o porquê de não poder dirigir sozinha até o povoado para comprar os malditos ingredientes para o jantar - ela era uma motorista mil vezes melhor do que ele, e claro que a informação não ficara somente em seu pensamento.

E era por isso que Draco Malfoy, melhor, Lucio Onnorato, andava na frente dela, e por isso que o detalhe do frio passou despercebido. E perdida em seus pensamentos, a ruiva não percebeu a parada repentina do bruxo, e acabou quase caindo em cima do mesmo.

"Cuidado com meu filho, bruxa." Não se esforçava mais para não revirar os olhos, se soubesse que a fuinha ficaria tão rabugenta, nem teria começado aquela discussão. E o sonserino nem mesmo olhara para ela! Que diabos estava prendendo tanto sua atenção?

Até ela começou a observar com interesse quando olhou para o lado: um 'show de mágica'. Ok, precisava admitir que o dito mágico em questão era bom, mas nem de longe aquilo era magia.

"Abracadabra!" Foi a palavra que pareceu tirar o marido do transe, que sacudia a cabeça e voltava a andar, ela não demorando a chegar ao seu lado - já estava cansada daquele bico, e sim, a discussão acabaria ali, e agora.

"Será que os trouxas lembram de como surgiu essa palavra?" fez sua voz mais casual ao perguntar, assim como deu seu melhor sorriso - e sabia quando ele a olhou que o loiro queria sorrir de volta. Maldito orgulhoso, sorria logo e acabe com aquilo!

"Se eles lembram que nosso Avada Kedavra veio primeiro, e que o Abracadabra começou na luta de 1800 e pouco, quando os trouxas contra-atacaram por um breve período com armas de fogo até elas se tornarem previsíveis?" disse o bruxo que se auto-intitulava ruim em Estudo de Trouxas. "Essa história com certeza está perdida para essa raça." viu o loiro balançando a cabeça, passando reto pela barraca de frutas na qual tinham combinado de parar - porque ela definitivamente precisava de cerejas para a torta daquela noite.

"Lucius!" O chamou pelo nome trouxa - ainda era tão bizarro chama-lo por justo aquele nome - antes de virar-se com um sorriso para o velho senhor que sempre a atendia ali. "Buen giorno, Lucca." o cumprimentou enquanto checava se havia dinheiro suficiente na carteira carregada na bolsa. Deixou-se sorrir ao achar notas suficientes para pagar o que precisasse comprar ali e mais um pouco - que Draco ande até o fim da maldita vila, se quiser.

Hunf.

"Bella ragazza, buen giorno!" Lucca cumprimentou, alegre como sempre. Ok, era agora: falaria aquela língua tão mais complexa que sua de nascença sem a ajuda da doninha. Ela conseguia fazer isso, com certeza. "Come posso aiutarla?"

Abra a boca, não trave, você consegue. Era só pedir uma cereja. Só pedir uma cereja e focar muito nos lábios do senhor quando viesse a resposta - porque aqueles nativos falavam tão irritantemente rápido na maior parte das vezes! Não conseguiam notar que ela não entendia quase uma palavra?

"Signora Virginia?" escutou após alguns segundos sem resposta, e respirou fundo - mãos na barriga, como sempre - antes de soltar uma resposta.

"Avete delle ciliegia?" falou, e mesmo achando ter se atrapalhado na última palavra, o senhor pareceu entende-la perfeitamente, mostrando a cesta mais escondida repleta de cerejas frescas.

"Si signora!" Adorava a empolgação daquele povo - fazia seu nervosismo se dissipar como mágica, fazia seu sorriso surgir até quando não tinha mutos motivos para estar ali nos lábios. "Direttamente dal nostro frutteto."

"Allora me ne dia un chilo." E o senhor começou a encher um saco transparente com as pequenas frutas, o depositando sobre uma balança antiga enquanto Ginevra já retirava da carteira algumas notas roxas.

"Altro?" Fez que não com a cabeça, entregando o dinheiro ao ser informada do preço.

"Basta così, grazie." Pronto! Não tão difícil! Nem precisava do loiro para conseguir falar aquilo - e se segurou para não fazer nenhuma dancinha da vitória, porque sim, se sentia bem pra caramba naquele momento, conseguindo enfim se comunicar na droga daquele vilarejo sem a ajuda do bruxo. Bruxo que estava atrás dela quando se virou, o susto a fazendo colocar uma mão no coração, a outra soltando a sacola pega com habilidade por Draco antes de chegar ao chão.

"Perfecto!" Queria matar aquela doninha sorridente, e ficou tentada a desviar do loiro e seguir reto - ele bem que estava merecendo um tratamento mais frio por toda a birra da parte da manhã. Apenas falara que era melhor motorista! Não era como se ela tivesse feito algo além de gritar. E talvez batera porta do carro. Pensando bem, conseguia lembrar do quanto fora ranzinza naquele café da manhã. "Você se saiu muito melhor do que eu esperava."

Ok, melhor seria aceitar o sorriso - e manter o seu.

"Se soubesse que falar italiano fosse fazer você desemburrar, teria começado desde que desci do carro." confessou com o rosto já afundado no ombro do sonserino. "Você é realmente um bom professor." continuou a falar quando os dois voltaram a seguir o caminho de paralelepípedos. "Já pensou em seguir essa carreira no futuro?" A pergunta saiu sem muito pensar, Ginevra só realizando as palavras ditas após as escutar saindo de sua boca.

Falar naquele futuro andava a deixando chateada. Por mais que Draco falasse que não precisava se preocupar com ele - pelo menos financeiramente falando -, gostaria sim de fazer algo de sua vida, profissionalmente falando.

"Precisaria me formar para dar aulas, bruxa."

A resposta trouxe de novo seu problema à tona: faltavam dois anos para se formar - e tinha falhado na maioria das provas do quinto ano. O próximo arrepio não passou despercebido pelo bruxo, assim como a volta de sua expressão aflita.

"A guerra também precisa acabar para isso." Escutou enquanto era puxada para um abraço, o loiro envolvendo o cachecol que usava ao redor dela. "Mas vamos deixar esses assuntos para outro dia, ainda precisamos de um peru para o jantar de amanhã, certo?" Tentou um sorriso que saiu pela metade.

"Certo." E continuaram até a próxima tenda.

Certo. Pensaria naquilo no tempo certo.

Por enquanto, estava bom.

...

Segunda, véspera de Natal, 24 de dezembro.

"É a única tradição que gostaria de manter."

"É uma tradição estúpida." respondeu, já um pouco irritada por Draco estar tão irredutível.

Observou o bruxo colocar mais um pedaço de lenha na lareira, ela se acomodando melhor no sofá, os pés já um pouco inchados indo parar em cima da mesinha de centro. Repousou as mãos sobre a barriga já tão grande, sorrindo ao sentir o filho se mexer junto com ela - estava no sétimo mês, e a gravidez já a cansava mais do que no final de novembro.

"Não quero um nome qualquer para meu filho, bruxa." Fechou os olhos - como mesmo aguentara o sonserino até hoje sem querer matá-lo, mesmo? "Já basta toda a exaltação quanto a trouxas que esse menino vai ter." Porque naqueles últimos dias, voar no pescoço da doninha se tornava uma possibilidade cada vez mais atrativa.

"Ara, Canopus, Pollux? Você realmente acha bonito esses nomes?" Talvez fossem os beijos - que apesar de seu tamanho e de todo seu humor instável, nunca rarearam. "E você nem sabe se é um menino." Os lábios finos acharam os seus quando o rapaz sentou-se no espaço ao seu lado, as mãos que acariciavam seu corpo - tão redondo - provocando arrepios que a faziam ter disposição apesar de todo o cansaço. Um toque a fez ter disposição até demais, e involuntariamente soltou um gemido, reclamando quando o loiro se afastou.

"Eu sei que é um menino." ele anunciou com um sorriso que só aumentava sua vontade de jogá-lo deitado no sofá - quem sabe mais tarde, após o jantar, o fizesse. "E nunca sugeri nenhum desses nomes." Draco a corrigiu, achando o controle remoto e colocando num canal qualquer, não tendo intenção alguma em olhar para a TV, mas sim em continuar a discussão. "Scorpius."

O que?!

"Negativo."

"Aries."

"Nunca." recebeu um olhar aborrecido.

"Bruxa."

"Se for menina." Talvez as pequenas discussões também mantivessem sua vontade de deixa-lo vivo - ainda eram tantas que Ginevra precisava ganhar, afinal.

"Você é insuportável." Os olhos cinzas foram para a TV, o cenho franzindo em reprovação com o filme que passava.

"Segundo as leis trouxas, você casou com essa insuportável." o lembrou, se animando ao ver um de seus filmes de Natal favoritos passando: Contos d Natal dos Muppets. É, era um filme que não era para qualquer um, precisava admitir - mas uma hora e meia de fantasia não iria matar o sonserino, com certeza. "Quero poder gritar o nome do meu filho com fúria, e não me atrapalhando na hora de falar Betelgeuse."

"Meu nome vem dessa tradição e não vejo você reclamando na hora de gritá-lo." A frase dita com um sorriso nada inocente rendeu um tapa brincalhão no ombro do rapaz.

"Carina é uma possibilidade." disse, lembrando-se de um nome que considerava normal para uma criança - e que fosse de uma constelação estúpida, como mandava a tradição daquela família de sangue-puros estúpidos. "E fique feliz com isso." Parou para pensar na sua própria, e em todos os nomes normais que sua matriarca poderia sugerir, caso estivesse ao seu lado. "Minha mãe com certeza insistiria em algum nome tão agradável quanto os seus. Como Gertrude."

E o sorriso desaparecera dos lábios, assim como o sentimento de saudade crescia dentro do peito mais um pouquinho. Agora, cada dia mais entendia o que sua mãe deveria estar passando, e pensar naquilo a destruía mais um pouco por dentro. Sentiu outra vez o bebê chutar, como se querendo tirar a mãe daquele ciclo de pensamentos ruins.

"O que tem de errado com Gertrude?" Draco perguntou, ele tentando o mesmo que o filho. Sim, era por essas pequenas coisas que amava tanto aquela cobra - e deixou-se sorrir novamente, tentando fazer o gesto alcançar seus olhos quando voltou-se para o marido.

"Fico feliz que eles estejam bem." falou, tentando se mostrar igual.

Sim, as notícias eram de que tudo corria bem para a família Weasley - pelo menos aparentemente, segundo Snape. No entanto, sabia que as palavras do professor poderiam apenas significar que todos estavam vivos. Tentava se enganar falando que no momento, aquilo também era o suficiente.

"Draco, você não pensa neles?" voltou a falar após alguns minutos, falhando em tentar se distrair com o filme.

"Neles quem?"

Ponderou por um momento continuar ou não com aquela conversa, decidindo por sim no mesmo segundo que o bruxo voltara a falar.

"Eu penso na minha família do mesmo jeito que você pensa na sua." A confissão veio numa voz melancólica, que se arrastou nas próximas frases. "Severo disse que meus pais continuam na mansão, mas que estão vivos. E visto a situação - serem pais de um traidor de sangue, que é o que sou agora - é mais do que eu poderia esperar."

"Sinto muito." Já se arrependia de sua pergunta.

"Não sinta." Segurou contra o rosto a mão que acariciava sua bochecha, o toque tão confortável lhe devolvendo um pouco da calma necessária para seu coração "Eu não estou triste, pequena. Estou passando o Natal com a minha família." Não conteve mais a vontade de abraça-lo, afundando-se no peito do bruxo, o cheiro de grama que tanto amava a passando ainda mais conforto. "Espero que isso te deixe tão feliz quanto me deixa."

"Não duvide disso." a voz saiu abafada, a boca achando o pouco de pele exposta do pescoço do rapaz.

Foi uma batida na porta que os separou, os dois olhando com certa confusão para a entrada antes de escutarem a voz já tão conhecida - e inesperada.

"Onnorato, larga a tua esposa e vem abrir a porta!"

"Às vezes esse bruxo me dá nos nervos." escutou Draco reclamar - mas com um sorriso outra vez - antes de levantar-se, pegando a chave sobre a TV.

Internamente, agradeceu pela visita inesperada: tão acostumada a ter a casa repleta de familiares naquela data, por mais que estivesse feliz, passar um Natal tão quieto estava sendo no mínimo estranho. Graças a Merlin por sua fome gigantesca naqueles últimos meses, e por isso a fazer preparar um banquete - que repousava no fogão, esperando apenas o peru acabar de assar. Tanta comida com certeza alimentaria os três e ainda sobraria por dias.

E foi então que ganhou seu primeiro presente.

"Acharam que não viríamos, né?"

"Colin!" foi a primeira coisa que falou ao olhar para a porta já aberta, levantando um pouco desengonçada ao ver não apenas Blaise, mas também o melhor amigo ao lado desse, segurando um número considerável de embrulhos.

"Surpresa!"

...

"Temos a próxima consulta no começo de janeiro." ele contava ao amigo, os dois sentados no sofá enquanto Ginevra e Creevey pareciam colocar o assunto em dia na cozinha - o bruxo esquentando a comida enquanto a ruiva permanecia na cadeira, em frente aos seus olhos. "Ela está bem. Sente falta da família mas está bem. Teima que vamos ter uma menina, com certeza só para tentar me tirar do sério - conheço bem a bruxa com quem escolhi estar." Apesar dele ter certeza de que aquela última parte era exatamente o contrário: ela quem conhecia muito bem o sonserino com quem decidira ficar.

"Você está aceitando tudo isso muito bem." o comentário de Zabini veio numa voz surpresa, o loiro enfim conseguindo desligar a televisão.

"Não tem o que aceitar, Blaise." Colocou o controle remoto de volta na mesa de centro, encostando-se mais no sofá, a expressão denunciando toda a calma do sonserino. "Isso aconteceria um dia, afinal. O único problema que vejo é vir no meio do caos que está o nosso mundo, mas tirando essa parte, não tenho muito do que reclamar."

Observou a bruxa levantar-se, o olhar de fúria e as palavras que seguiram denunciando algum erro cometido pelo grifinório - que ela não o mate naquela casa, por Merlin. O pensamento seguinte só aumentou ainda mais sua serenidade: ao menos não fora ele que queimara alguma coisa - pois com certeza a tarefa de Creevey teria sido do bruxo, os dois amigos não tivessem aparecido.

"Fico feliz, cara. Ela é a paz que faltava pra você."

"Ginevra é tudo, menos a minha paz." Teve que rir com a frase, acompanhado pelo outro sonserino.

"E o que comprou de Natal para o seu caos?"

"Nada que ela realmente queira." respondeu, enfim lembrando da última conversa que tiveram em agosto. "A não ser que você tenha me trazido o que pedi. Apesar de que, dessa vez, eu acredito que não tenha sido possível o meu pedido, por mais contatos que-"

Ele foi calado quando o bruxo ao seu lado lhe entregou um pequeno saco preto, este sendo logo aberto, os olhos cinzas surpresos no instante seguinte. Como diabos Zabini conseguira aquilo?

"Testado para qualquer magia negra que tal herança de sua família pudesse vir a ter, então é completamente seguro." Blaise terminou com uma risada, parecendo estar se divertindo com o espanto naqueles olhos. "Acha mesmo que tem alguma coisa impossível para mim, doninha?"

...

Quarta, 26 de dezembro.

Aquele fora o primeiro dia sem sol que pegaram desde a chegada - o que tornava o clima muito mais frio do que na véspera de Natal. O que lhe dava muito mais vontade de ficar abraçado com o namorado - o que tornava muito pior não poder, ali no meio daquele pequeno vilarejo.

"Eu ainda não vejo problema." Blaise falou, debruçado na mureta que os separava do mar, ainda reclamando vez ou outra do afastamento do moreno desde a chegada no cais. "O que poderia um trouxa fazer comigo se me visse beijando você?"

"Eles não aceitam tão bem a nossa opção, Blai. Às vezes nem os bruxos aceitam." E se atrevia a dizer que em povoados menores, ver dois homens juntos conseguia provocar reações ainda mais desconfortáveis do que na cidade grande. "E você faria o que, azararia um trouxa, mesmo com Malfoy praticamente implorando para não usarmos magia nessa maldita ilha?"

"Aceito não poder pegar na sua coxa até sairmos do barco - nem um segundo a mais." E eles nem mesmo haviam entrado na embarcação. Talvez devesse ter alimentado aquelas reclamações, pois com o namorado parando de se queixar, sua mente voltou automaticamente para o assunto que tanto estava lhe fazendo pensar.

"É estranho, você não acha?" E sabia que não precisaria completar com mais nenhuma frase.

"Meus dois amigos, felizes?" O loiro disse, deixando claro não ver problema algum na situação. "Fico contente que ele não esteja surtando, isso sim. Pense bem em todas as reações que meu amigo não muito calmo poderia ter tido." De longe, viam o navio que os levaria para fora da ilha atracar, esperando os passageiros desembarcarem antes de começarem a andar até a fila que se formava.

"Gina largou a escola e mal passou nos NOM's no último ano." enfim desabafou o que tanto incomodava - e mais uma vez não precisou terminar seu pensamento em voz alta.

"E Ginevra te perdoou pelo obliviate, Cols. Não se sinta mal, ela não te culpa - ninguém te culpa, ok?" Queria muito beijar aquela mão que apertava seu ombro, tentando passar alguma calma. "Também, a ruiva sempre quis ser jogadora de quadribol. Você não precisa de notas muito altas para isso. E pra finalizar, Malfoy tem dinheiro o suficiente para Gina não fazer mais nada para o resto da vida. Às vezes acidentes acontecem, Cols. Nossa amiga não vai deixar de viver tudo que quis por ser mãe aos dezesseis. E o que importa é como eles estão: felizes."

Precisava fazer seu coração acreditar naquilo.

"Ainda acho que deveria ter falado de Ronald." confessou a última coisa que o inquietava.

"Que toda a família de ruivos está tão ou até mais preocupada com o sumiço dele e dos outros dois do que com a fuga romântica da filha mais nova?" Viu o namorado balançar a cabeça, um sorriso torto nos lábios que tanto estava querendo morder - tanto de desejo quanto de frustração com aquilo tudo. "Se você sequer pensou nisso durante o almoço, Malfoy já sabe - e posso afirmar que ele vai manter minha posição quanto a isso. Ainda mais agora, com o filho quase nascendo."

O barulho de vidro quebrando o fez esquecer por alguns segundos a amiga, a cabeça virando automaticamente em direção ao ruído feito pelos caco caindo no chão - não fora muito longe deles. Por um momento achou ter visto um rosto conhecido discutindo com um vendedor, que insistia no pagamento pelo copo estilhaçado na calçada, o homem de costas soltando alguns xingamentos antes de puxar uma nota da carteira, a entregando a muito contragosto ao dono da loja.

"O que foi?" Outra vez a mão quente no seu ombro - e outra vez a vontade de abraçar aquele corpo. "Cols, tudo bem?"

"Achei que fosse um conhecido." Se contentou em apenas sorrir.

"Vamos, antes que partam sem a gente." Assentiu, os dois bruxos andando em direção ao navio que os levaria para o destino de ano novo: um dos melhores hotéis bruxos da Itália - e de sua sogra.

Deixou sua mão encostar na do loiro em alguns momentos da travessia, mas nada além disso. Quem sabe num dia futuro, beija-lo em qualquer rua seria algo tão normal quanto respirar.


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