Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 40
Fugindo


Notas iniciais do capítulo

Oi leitorinhos, sentiram minha falta?
A vida anda corrida, mas consegui um tempinho pra postar ;)
espero que gostem - deixem sua opinião quando terminarem o capítulo, vou adorar ler!

;*



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Domingo, 19 de agosto.

Todo seu maldito corpo doía, e por um momento lembrou-se de meses atrás, quando acordara com a mesma sensação. Sim, sem dúvida era uma aviso que as coisas não iam bem - ainda mais quando abriu os olhos e não fazia ideia da onde estava, muito menos conseguia escutar o barulho do mar. Maldição, deveria estar na sua casa, e não-

"Eu estou vivo?" Acreditaria se lhe dissessem que não - aquele poderia ser o paraíso, afinal.

Porque Draco estava no quarto dela - sabia. Soube ao abrir os olhos e dar de cara com o colar que não via desde aquele dia de junho. Soube ao ver o vestido, antes naquele corpo pequeno, agora cheio de rasgos pendurado num cabide. Soube ao ver vermelho - mas não, aqueles fios ruivos não pertenciam a maldita bruxa que tanto queria - e agora podia - abraçar.

"Por sorte." Aqueles fios pertenciam a Molly Weasley, que o olhava de uma maneira estranha. Estava brava? Curiosa? Com dó? "Ginevra deve estar voltando," conteve-se a tempo para não sorrir com a informação. "Já desisti de manter minha filha longe de você." Ok, a mãe sabia - e ele ainda estava vivo. Era uma boa combinação.

"Quanto tempo eu dormi?" Mais uma vez o déjà vu ao tentar se mexer e sentir como se sua alma estivesse sendo arrancada de seu corpo. Quando ele iria parar de se foder naquela guerra estúpida?

"Menos de oito horas." Por isso se sentia tão disposto - apesar da dor.

"Mais do que minhas últimas noites, sem dúvida." Quantas horas costumava ficar de olhos fechados desde o começo do ano? Três, quatro? Havia se acostumado, até mesmo com as olheiras que se aprofundavam a cada dia.

"Como está se sentindo?"

Com a pergunta que lembrou-se do porquê estar deitado de lado: suas costas estavam pegando fogo, provavelmente fora aquele incômodo que lhe tirara de seu sono. Espinhos do diabo, doze, treze fincados ali? Viu um frasco com um líquido azul que já lhe era muito bem conhecido sobre o criado mudo, a mulher o alcançando no instante seguinte.

"Péssimo." Nem mesmo tentou se sentar antes de ingerir a poção - não que fosse conseguir. "Com fome." completou, ao ouvir o estômago se manifestar - deveria ter comido alguma coisa no casamento estúpido ao invés de passar a tarde focado na taça de vinho, hora ou outra o enchendo um pouco mais da Polissuco em seu cantil.

"Torta?" Merlin, sim! "Ao contrário do que seu pai acredita, comida é uma coisa que não falta nessa casa."

Ignorou o comentário da bruxa enquanto sentava-se na cama após certo esforço. Merda, havia com certeza aberto uma das feridas - já conseguia sentir algo escorrer pelas costas. Que se foda - primeiro a torta.

"Há quanto tempo vocês estão juntos?" A pergunta veio após uma mordida, confirmando o conhecimento da ruiva sobre aquele relacionamento. Sentia os olhos castanhos o encarando, e forçou seus cinzas a fazerem o mesmo apesar de seu desconforto.

"É complicado." Eles afinal, ainda estavam juntos?

"É uma pergunta sobre tempo, como isso pode ser complicado?" Porque para ele, estavam juntos desde o último ano - apesar dela não lembrar, apesar dele ter sim - até mesmo se envergonhava daquilo agora - ficado com a bruxa com quem estava antes dela, em fevereiro.

"Outubro." resolveu responder, acabando com o pedaço de salgado que tinha na mão.

"Dez meses?" Quem dera.

"Cinco meses, se muito." Molly o olhou, confusa. "Eu disse que era complicado." Era difícil continuar a encarar aqueles olhos que estreitavam, ainda mais com a pergunta que seguiu.

"O que você está fazendo com Gina, Malfoy?" A ruiva cruzou os braços, claramente descontente - não esperava uma reação diferente. "O que você está fazendo com a minha filha?"

Quase sorriu com a memória que lhe veio à cabeça, da tarde e que ambos discutiam revelar o relacionamento as famílias - até mesmo pareciam um casal normal.

"No final todos estarão chorando, e minha mãe com certeza vai querer conhecer o príncipe da Nimbus 2001 prateada."

Duvidava daquilo.

"Eu amo a sua filha." admitiu antes de se dar uma chance de pensar pela segunda vez nas palavras. Pelos olhos expressivos da bruxa mais velha, via que não era o único surpreso com a exposição daquele sentimento. "Não é um amor estúpido de gente jovem, até porque deixei as minhas fantasias estúpidas para trás desde o último agosto, como a senhora já deve ter conseguido ver." soltou o esboço de uma risada ao ver novamente as cicatrizes no antebraço esquerdo - também percebido pela mulher ao seu lado. "E esse maldito amor é um difícil, que eu tenho certeza que mais a machuca do que faz bem, mas foi o que me salvou. É por causa dela que estou aqui, por causa dela que entrei na Ordem, que estou vivo."

Quando os olhos se encontraram novamente, deixou-se sentir alívio ao ver um pouco mais de suavidade nos da ruiva.

"Então é mesmo você o sonserino." Como? "Chegou até mim, no último Natal, a informação de que minha única filha havia caído de amores por um bruxo dessa casa."

"Vou contar como eu me apaixonei pelo bruxo que me salvou de um psicopata. Vai ser uma linda história, acredite."

E daquela vez deixou-se sorrir.

"Talvez sua filha não sinta mais o mesmo, eu realmente não sei, mas eu sei que nunca vou conseguir tirar esse maldito sentimento de dentro de mim - eu já tentei tanto. Eu tentei tanto afasta-la tantas vezes, mas Ginevra simplesmente não colabora, e eu acordo vendo vermelho mesmo sem tê-la ao meu lado. É tudo que consigo ver, é tudo que consigo pensar. É completamente maravilhoso e totalmente desesperador."

Dizem os bruxos que Molly Weasley teve seis meninos por querer tanto uma filha - Ginevra ser a caçula era uma coisa que muito confirmava a informação. Era o que a bruxa sempre quis, uma menininha, uma pequena tão parecida consigo - e foram seis tentativas até conseguir. De tudo que sua ruiva já lhe contara, podia deduzir o quanto a mãe a amava e protegia - muitas vezes até demais.

Assim, ouvir aquela próxima frase foi como ouvir o consentimento da mulher para continuarem seja lá o que for aquilo que tinham.

"Bem vindo à família, Draco."

...

Ainda tinha o cabelo molhado ao sair do banheiro, tendo disfarçado sua demora com um banho. Por um instante seu coração ameaçou disparar mais uma vez ao ver de longe o irmão mais velho sair do quarto onde estava seu sonserino, mas as palavras de Gui para ela - como sempre - apenas a acalmavam.

"Ele está acordado, Gin."

E enquanto Guilherme descia as escadas, a ruiva abria com pressa a porta, achando o loiro já de pé, abotoando a camisa com a qual deveria ter vindo - um jeans escuro e uma camisa preta, como se pressentisse ser melhor não usar nada que pudesse ser tingido pelos ferimentos. Um jeans escuro e uma camisa preta, apenas - tão trouxa.

Estaria o bruxo vivendo como um?

Estava esperando fazia horas o rapaz acordar, e nas suas horas acordadas, milhares de pensamentos se passaram pela sua cabeça. Mas de todas as palavras que pensara em falar, de tudo que se passara em sua mente - senti sua falta, não vá mais embora, amo seu maldito cheiro, lembro de tudo, só me beije - as primeiras que saíram fugiam de todas as consideradas.

"Deveria estar deitado." falou - até porque ele realmente deveria estar na cama -, seu coração acelerando, esperando o sonserino enfim percebe-la, olha-la. E quando os olhos acinzentados finalmente acharam os dela, foi como um choque. Merlin, queria tanto abraça-lo! Queria tanto, e juntava todo seu autocontrole para não correr até ele e o fazer, uma mão suada segurando a outra, Draco estava ali, estava ali na frente dela, a salvo, de pé-

"Eu deveria estar muito longe daqui." ele a corrigiu, sustentando uma expressão quase triste. Perceber o que o sonserino estava prestes a fazer foi como um balde de água gelada na alma.

"Você estava indo embora." Não foi uma pergunta.

"Não." Mas o bruxo continuava a abotoar a camisa, já não mais a olhando enquanto sentava-se para calçar as meias com certo esforço, antes de pegar os sapatos. "Eu só estava me vestindo."

Draco era um ótimo mentiroso, de verdade - um dos melhores que havia conhecido. No entanto, não conseguia mais mentir para a bruxa. Ginevra sempre sabia, e Draco sabia que ela sabia, sem nem ao menos precisar olha-la. Ela nem mesmo precisou mais falar palavra alguma.

"Sim, eu estava indo embora." o rapaz confessou, calçando os sapatos. "Eu estou indo embora. Me desculpe."

"Draco Malfoy, pedindo desculpas." Fechou a porta, porém não mais se aproximou. "Não achei que fosse viver para ver esse dia." Aquelas palavras, novamente - as ditas no dia em que descobrira sobre a maldita marca, agora lembrava até da tarde em que o deixara sozinho na estufa que considerava deles. "Bem, você é livre para ir." tentou fazer a voz soar desinteressada, mas como o bruxo, a ruiva também não conseguia mais manter segredos - não era possível mascarar o tom triste que tomava conta da voz.

"Eu posso ficar um pouco." Forçou-se a manter os olhos no chão. Era muito mais fácil fingir que tudo se passava no seu cérebro - como acontecera nas últimas vezes que ouvira aquela voz.

"Por que?"

"Porque eu te amo."

As mãos, já fechadas em punhos, forçaram ainda mais as unhas contra a pele fina, deixando finas marcas em formato de meia lua. Depois de tudo que passara - depois do descoberto há poucos minutos - Ginevra achou que fosse preciso de muito para conseguir deixa-la com os olhos marejados. Talvez ouvir Draco Malfoy admitindo que a amava tão abertamente fosse, sim, muito, pois foram aquelas palavras - aquelas que esperou tantas semanas para outra vez ouvir - foram as que a quebraram. Era irritante como pela segunda vez em tão pouco tempo, as lágrimas saíam por mais que tentasse para-las.

Ele conseguia perceber que aquela não era a primeira vez que a bruxa chorava no domingo?

"Por que é tão difíc-?" Queria soca-lo ao ouvir sua voz falhar, queria soca-lo apenas mais quando sentiu mãos grandes ajudarem as suas pequenas a secar o rosto.

"Porque eu te amo." Aqueles olhos claros eram tão sinceros, como odiava ansiar tanto por eles! Seria fácil deixar-se envolver outra vez pelos malditos encantos do sonserino, pelas mãos que traçavam com tanto carinho as curvas de seu rosto - poderia se afundar naquele toque e esquecer de todo o resto.

Mas não, não era aquela resposta que buscava, por mais que ouvir tais palavras aquecesse seu maldito coração. Se ele iria outra vez deixa-la, se iria mais uma vez para longe, necessitava de suas malditas respostas: por que não voltou? Por que não me falou nada? Por que diabos me lançaram um obliviate? E precisava contar suas novidades - precisava tanto falar sobre todo aquele verde.

Fungou uma, duas, três vezes, limpando os olhos já vermelhos com irritação.

"Por que você mandou apagar minhas memórias?" perguntou com uma recém descoberta revolta, continuando ao prever a resposta que viria. "E eu juro que se você responder que é porque me ama-" Por mais que não fosse se importar de ouvir aquilo, apenas mais uma vez-

"Mas é sim porque eu te amo, ou eu estaria pouco me fodendo para as suas memórias." Maldição, ele estava tão perto, segurava suas mãos com uma delicadeza tão irritante, queria tanto beija-lo! "Eu achei que Zabini fosse fazer, eu achei que fosse dar tudo certo e que você fosse simplesmente me esquecer e seguir com a sua maldita e segura vida. E antes que você fale, antes que pense novamente que foi uma decisão fácil-"

"Eu sei que não foi uma decisão fácil." interrompeu, se livrando da proximidade dando passos até a janela - ali fora ainda estava tão escuro, encarar o nada era tão mais fácil que encara-lo. Porque vendo os olhos sinceros, tinha sua certeza que aquilo passara longe de ser fácil, que as palavras eram todas verdadeiras - o bruxo a amava, o bruxo iria deixa-la outra vez. "Mas foi uma injusta, de todo modo." Inconscientemente, envolveu a barriga - ainda reta - com as mãos.

"Eu fiz para te proteger-"

Mas que droga, o bruxo iria embora.

"Foi egoísta."

Iria embora e ela teria que dar conta de superar mais aquela dificuldade. Era egoísta deixa-lo partir sem saber? Muito, mas não queria fazê-lo ficar por aquele fato. Daria um jeito se o sonserino resolvesse partir - ficariam bem.

Ela sempre dava um jeito de ficar.

"Foi." Outra vez o cheiro de grama ao seu lado, as mãos grandes, pálidas, envolvendo novamente as suas antes do bruxo voltar a falar. "Eu nunca neguei ser egoísta, Ginevra. Nunca neguei ser nada do que me chamava, nunca neguei não querer fazer parte de toda essa merda, e nunca neguei fazer parte de tudo isso só por você - se é que você lembra disso -, então não, não havia outra escolha para mim a não ser pedir isso. Assim como não houve jeito de eu me comunicar com qualquer pessoa daquele colégio por quase todo aquele mês - e uma hora eu realmente achei que fosse morrer, e naquele momento fiquei muito, mas muito aliviado de ter incumbido Zabini da tarefa. Porque eu sabia que ele cumpriria com louvor."

Sua maior vontade era se agarrar a ele e pedir para nunca mais partir - fique comigo, fique conosco -, e foi tendo essa vontade que novamente tentou se livrar daquele toque, e daquela vez ele a segurou mais forte.

"Para, Gin." Se perder naqueles olhos que a fez obedecer. "Para de me afastar ainda mais." E Ginevra suspirou, vencida, deixando as mãos envolverem as suas, envolverem seus braços, seu rosto, ela. "Senti tanto a sua falta, bruxa." Maldito sonserino, maldita voz, malditos lábios que tocavam seus fios vermelhos. "Cada segundo. Não achei que fosse ser tão difícil não ter você."

"Por que você não voltou antes, Draco?"

"Porque fiquei preso à minha cama por quase todo janeiro, graças a uma infecção por gnomos de jardim que peguei deitando na sua grama. Longa história," o bruxo adicionou ao ver olhos confusos. "Mas foi naquele dia provavelmente que ganhei o mínimo de confiança do seu irmão favorito, o que realmente me foi útil nas últimas horas."

Deixou-se sorrir pela primeira vez - um detalhe tão bobo, mas que não passara despercebido. Sonserino idiota, como lembrava daquilo?

"Gui sabe, não sabe?"

"De nós?" a pergunta veio hesitante. "Sabe." Sua própria mão começou a imitar a do rapaz, passando do cabelo para a sobrancelha - tão clara quanto -, para a bochecha, para os lábios, aquele canto esquerdo ainda inchado pelo chute da noite anterior. "Eu não devo merecer, eu sei," E sim, ela sentiu-se derreter quando os lábios machucados acharam a palma de sua mão. "Mas ainda existe um nós?"

Só soube a real falta que Draco fizera quando sua boca colou na dele. Quando mãos grandes a puxaram para perto, perto demais, as dela envolvendo o pescoço do bruxo, evitando qualquer ponto de dor ao mesmo tempo que tentava traze-lo para mais próximo de si. A qualquer momento alguém poderia entrar, a cada segundo que ela passava se perdendo naqueles lábios um de seus irmãos poderia ver, e pela primeira vez, Ginevra Weasley não estava dando a mínima.

Pela primeira vez, também, ninguém chegou perto de abrir a porta.

"Merda." Voltou a abrir os olhos ao sentir os lábios se afastando, a testa encostando na sua - sentira falta daquele gesto.

"O que foi?" Daquele sorriso sincero.

"Não vou mais conseguir partir." Dele.

"Você sabe que ainda vamos brigar, não sabe?" o lembrou, antes de envolve-lo com cuidado em um abraço, retribuído com mais força pelo bruxo.

"Não esperaria nada menos de você, bruxa." Estava com saudades até do maldito apelido. Foi porque ele a chamou assim no dia daquele primeiro beijo em Hogsmeade que se tornara tão especial aquela palavra? "Achei que tivesse te perdido quando acordei sozinho naquela noite." A confissão saiu seguida de um beijo no pescoço.

"Achei que fosse te perder noite passada." Realmente esteve muito próxima de literalmente perdê-lo antes de Lucio aparecer com um antídoto - ele sabia daquilo? E o comensal sabia de sua dúvida - agora certeza. "O que faremos agora?" Outra vez o pensamento voltou para o ventre - aquele detalhe que o sonserino ainda não sabia. Precisava contar. Como?

Olhos cinza azulados voltaram a observa-la no final da pergunta, a boca se abrindo algumas vezes antes das palavras saírem.

"Depois de tudo que te fiz passar, você ainda consegue sentir algum amor por mim?"

Se segurou para não gargalhar com o questionamento - como ele ainda tinha alguma dúvida dos sentimentos dela? Apesar do bruxo ser a pessoa mais paranoica, mandona, apesar de ter desrespeitado sua maldita vontade mais de uma vez achando estar protegendo-a, estava ali! O sentimento ainda estava ali, praticamente confessara tudo para ele na droga do casamento!

Grávidas realmente tinham aquelas mudanças bruscas de humor?

"O que foi?"

Tinham, pelo menos em situações de estresse como aquela Ginevra estava provando ser verdade tal informação - sabia pelo choro que se forçava a novamente engolir, com um pouco mais de sucesso do que antes.

Se ela o amava? Já estava começando a considerar que a palavra amor não mais expressava tudo que sentia pelo bruxo.

"Sim, eu amo. Tenho certeza que eu te amo." Sentira falta também da expressão tão relaxada que só via no rosto daquele rapaz quando estavam apenas os dois. E do sorriso - aquele que alcançava os olhos cinzas -, que apareceu ao ouvir as próximas palavras. "Eu soube que te amava desde aquela tarde. Aquela tarde que você me ajudou no meio de uma crise de pânico - fazia anos que não tinha uma. Foi no momento em que abri os olhos e te vi, e então conseguia respirar outra vez, e tudo que eu queria era te abraçar e ficar com você pra sempre. No instante que te abracei, sabia que não importava mais quem era você, o que você tinha feito, e nem o que você faria. E eu nunca te falei, porque você iria ficar tão, mas tão convencido," A surpresa nos acinzentados denunciava o entendimento, afinal, da situação pelo loiro: não eram apenas as memórias cedidas por Colin ou Blaise. "Mas nunca ninguém me fez sentir como você faz. Nunca senti por nenhum outro o que eu sentia por você - o que eu sinto. Você fez todo o resto parecer bobo e totalmente sem graça - todos os outros são preto e branco enquanto só você é meu colorido." Conseguia escutar o coração do sonserino batendo acelerado, o dela acompanhando o ritmo.

"Você lembra." Assentiu com a cabeça, as mãos trêmulas tanto quanto sentia as dele estarem.

"De tudo. De nós em Hogsmeade na chuva, da nossa primeira e única aula de Latim - antes das desse ano, claro -, das suas enxaquecas. Das manhãs em que íamos tomar café na cozinha do castelo, da vez que Ronald quase nos pegou juntos numa sala do quarto andar." Não escondeu uma risada, o bruxo a acompanhando.

"A cara dele te vendo sem o suéter seria impagável." Seria. "Se quiser, podemos tentar repetir - eu até deixo a porta destrancada." Revirou os olhos, enquanto estapeava a mão que ameaçava abrir um botão de sua blusa - e outra vez, após tanto tempo, eram iguais ao casal do começo: ele não tão tenso, ela não tão preocupada.

Mas haviam muitos motivos para a preocupação não se ausentar.

"Deveria ter estudado com mais vontade oclumência." confessou quase que se desculpando ao lembrar-se de mais uma das coisas que precisava revelar. "Bellatrix entrou na minha mente sem nem mesmo fazer esforço. E na hora que ela entrou, alguma coisa pareceu quebrar, e então você era tudo que eu via."

Não era preciso falar mais nada.

"Merda, Ginevra." No instante seguinte, Draco sentava-se na cama, mãos nas têmporas - e outra vez, não eram mais aquele casal normal. "Mas que merda."

Estava prestes a sentar-se ao lado do bruxo quando a porta, enfim, foi aberta. Soltou um suspiro de alívio: de todos que poderiam entrar, o melhor.

"Gui."

"Weasley."

"Achei que já tivesse ido." Seu irmão mais velho olhava confuso para o loiro - provavelmente não esperava entrar e encontrar as duas companhias.

"Achei que tivesse pedido para não deixar sua irmã entrar." o sonserino falou, os dois continuando a conversa ignorando o fato da ruiva estar no quarto.

"Você já tentou dizer não para Ginevra?"

Estava prestes a se intrometer quando notou a expressão dos bruxos. Draco estava sorrindo. Guilherme estava sorrindo. Os dois estavam praticamente relaxados, conversando como se fossem velhos amigos.

Lembrou-se de palavras de anos atrás.

Lembre-se: namorado só depois dos trinta, e nós sete vamos fazer um interrogatório antes de deixarmos vocês saírem - sim, papai incluso. E depois disso ainda tem a mamãe, com certeza será a pior, você sabe.

"Já perdi a conta das vezes."

Quando encontrou os olhos do irmão sorriu de verdade - ele não precisava falar para Ginevra saber de sua aprovação.

"Mamãe está chamando para o café." Se atreveu a pensar que talvez tinha até mesmo a de sua mãe.

"Todos deveriam estar fazendo preparações para sumir, e Molly Weasley fez café?"

"De onde você acha que vem toda a tenacidade da minha irmã?" A ruiva acabou concordando mentalmente com a informação. "Antes que eu me esqueça, tente não comer nada tocado pelos gêmeos - aqueles dois não estão exatamente felizes com você fazendo parte da família." E Guilherme saiu do quarto sem mais palavras, a porta voltando a se fechar.

"Posso te trazer alguma coisa para comer, se preferir ficar no quarto." As palavras saíram enquanto se lembrava das balas dadas pelos dois no último primeiro de abril. Por mais que tivesse a aprovação do mais velho, talvez sentar-se a mesa com o sonserino e todos os seus outros irmãos não fosse a melhor das ideias.

Mas Draco teria que enfrentar os ruivos alguma hora naquela manhã, afinal, ele não iria mais partir sem ela, iria? Havia dito, e ela tinha se agarrado em cada uma daquelas palavras. Ela também teria que enfrentar os olhos de sua mãe e mentir, até saber o que fazer - afinal, fora de consideração sentar-se a mesa e contar a Molly Weasley que a bruxa seria avó.

"Todos estamos indo para o chalé de Gui e Fleur, na Cornualha." Estremecia só de pensar nas possíveis reações da bruxa mais velha - avó. "Devemos deixar a casa em algumas horas. Você vai vir com a gente, não vai?" Tão focada na nova palavra, tão confiante nas de antes do sonserino, nem considerou receber um não para sua pergunta, surpreendendo-se realmente quando uma sacudida negativa veio.

Precisava falar alguma coisa para ele notar que a bruxa queria agora uma explicação? Realmente, iguais a antes: em uma questão de segundos, todos os beijos que queria dar no loiro se transformavam em tapas.

"Eu não quero te deixar, mas não posso voltar para o mundo bruxo." o loiro dizia com pesar - sim, eles realmente iriam brigar, e provavelmente começariam agora. "Gin, todos querem me matar. Se eu morrer, Snape morre - e eu sei que é sua família, e que você confia neles mais do que tudo, mas é tão fácil fazer alguém falar! Você sabe, você-"

"Isso é outro adeus, então?" Inacreditável como seu humor mudava tão rapidamente - mas então, poderia ser apenas efeito do sonserino. "Em vezes como essa, preferia que o obliviate tivesse dado certo e eu realmente tivesse te esquecido."

"Bruxa-"

"Você acabou de falar que não conseguiria partir!" E outra vez, o quase choro. "Não acredito que você vai embora outra vez! Quantas malditas vezes você acha que eu aguento?"

Droga, queria socar o maldito loiro.

"Talvez seja melhor parar de aguentar."

O bruxo já estava de pé, e por um momento Ginevra sentiu seu coração apertar: ele poderia aparatar e fim, teria sumido novamente, por sabe-se lá quanto tempo. Quando percebeu, suas mãos agarravam um dos braços cobertos pela camisa preta.

"Você acha que eu não tentei? Você acha que eu não tentei parar de te amar, seu idiota?" Agarrou até mais forte quando uma das mãos de Draco foi para o bolso de sua calça - ele tiraria a varinha e aparataria dali, tinha certeza! Mas ela não soltaria, a ruiva iria junto, e não era negociável. "Eu vou aguentar pra sempre. Eu vou aguentar para sempre, porque não quero passar o resto da minha vida pensando e se tivesse aguentado só mais um mês. E se tivesse esperado mais uma semana. E se naquele maldito dia eu tivesse dito sim. Eu não quero que você seja o maior 'e se' da minha vida."

As palavras não demoraram para vir, o bruxo tirando um isqueiro do bolso do jeans.

"Então vem comigo."

...

"Não acredito que o sonserino vai com a gente." Molly escutava o marido reclamar pela quarta vez enquanto subiam as escadas.

"Querido, se não fosse pelo sonserino-" Se não fosse pelo sonserino, Ginevra teria sofrido algo pior do que sofreram em seu primeiro ano.

"Eu sei, eu sei." o ruivo bufou, parando no último degrau. "Acho que sempre esperei que nossa filhinha terminasse com Harry Potter." o marido confessou, derrotado. "O que foi?" a pergunta veio quando a bruxa se deixou sorrir.

"Algo em mim sempre soube que nossa menina acabaria superando essa paixonite."

E a bruxa sempre teve aquela certeza, por mais que nunca tivesse falado nada para Arthur. Teve certeza a partir do segundo ano de Ginevra - tão adulta, sua única filhinha, tão quebrada. Se esforçando tanto para juntar as peças da alma outra vez. Doze anos, e às vezes parecia mais velha que Guilherme.

"Bem, é melhor esse bruxo aprender que ele não ficará em lugar algum com minha filha e a porta fechada por um bom tempo." Concordava com aquela informação.

Sua filha e a cria de Lucio Malfoy, era quase engraçado. Era irônico. Era sensacional, achava quando parava para pensar sobre o assunto e esquecia-se por um minuto que aquela era sua única menina. A cara feita pelo comensal quando juntou as peças ao ver Ginevra com o filho foi uma que guardaria para sempre na memória - impagável.

Definitivamente não seria o melhor sobrenome para sua menininha, mas tinha que admitir que o moleque tinha coragem. Também precisava admitir que o sonserino parecia se importar verdadeiramente com Gina: afinal, não fosse pelo pai, teria morrido noite passada - ou estaria terrivelmente próximo, agora. Por mais que esperasse um destino diferente para a filha, sabia que no final, o que realmente importava era Ginevra estar feliz.

E a pequena ruiva parecia estar mais radiante do que estivera todo aquele verão.

"Molly!" foi a voz do marido que a tirou dos pensamentos. Tão esperava que aquele escândalo não fosse por um simples beijo. "Molly!"

"O que-"

Não era.

Mãe, pai, precisei partir. Estou segura. Não me procurem. Me perdoem.

Com amor, Gina.


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