Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 34
Frustração


Notas iniciais do capítulo

Gente, estou postando isso mega rapido - nem consegui revisar, e ainda tem pates que achei que poderiam ser melhores, MAS espero que vcs tenham gostado!


Beijo grande,

Nia



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Quarta, 28 de março.

"Você precisa terminar os armários, garoto."

Quarta-feira era o dia em que a ruiva sempre estava no lugar dos dois. Sempre munida de pergaminhos, fingindo precisar de ajuda numa matéria que ele sabia que a grifinória claramente não necessitava - mas era óbvio que o bruxo seguiria com o fingimento. Eram aqueles poucos minutos que andavam mantendo sua pouca felicidade, eram aqueles momentos de conforto que o faziam ver que sim, precisava seguir com o plano, que sim, por ela, valia a pena se arriscar da maneira que se arriscaria. Com certeza armários eram a última coisa que se passava pela mente do sonserino justo naquela quarta.

"Hoje não." Olhou para Severo, já sabendo em antemão do sermão que viria com sua resposta.

"Temos menos de dois meses-"

"Hoje não, Severo." disse com mais firmeza, levantando-se da cadeira que ocupava enquanto terminava de encher um último frasco com o restante do líquido vermelho-vivo do fundo do caldeirão. "Me dê detenção, tire pontos, faça a merda que quiser," Jogou as luvas na mesa antes de colocar a mochila nas costas. "Eu não vou fazer isso hoje!"

"Você está indo ver a Weasley." Escutou quando já estava frente à porta. "Outra vez."

"Eu tenho menos de dois meses para isso." respondeu, a mão já girando a maçaneta. "Em menos de dois meses, nem a melhor explicação vai me devolver qualquer tempo com ela, Severo." bufou, odiando ouvir suas palavras. "Esperava que entendesse a importância disso."

O grito que seguiu foi escutado mesmo com a porta fechada.

"Se você machuca-la mais, nem a melhor explicação vai fazer aquele bando de ruivos não te matar!"

Mas ele não iria machuca-la mais. Não poderia machuca-la mais, poderia? Tudo o que os dois faziam era sentar um ao lado do outro enquanto ele comentava as lições, corrigindo as partes que Ginevra parecia errar de propósito.

Ela com certeza estava errando de propósito. Merda.

Snape sabia que o feitiço fora feito - o professor chegou perto de esganar o sonserino mais novo quando descobriu a verdade por trás daquele obliviate. O que Snape não sabia era que algo saíra muito, mas muito errado. Se soubesse, com certeza teria verbalizado muito mais seu descontentamento. Colin Creevey, por Merlin, onde vocês estavam com a cabeça? Sendo assim, Severo não tinha conhecimento daquelas memórias, daqueles fragmentos que surgiam nas horas mais inesperadas e que Draco tanto precisava que continuassem, que ela se lembrasse.

Patético. Vivendo de migalhas de uma Weasley. Se contentando com pequenas palavras soltas de forma desconexa - e a cada dia mais raras. Patético.

"Tem lição de Latim, Weasley?" perguntou ao sentar-se ao lado da ruiva, largando de qualquer jeito a mochila no chão.

"Não." Escutou a voz quase triste, e apesar do rosto continuar neutro, sentia seu peito queimar ao achar um par de olhos vermelhos. "Só quero um pouco de silêncio." Ginevra continuou, voltando rapidamente sua atenção para o lado oposto ao dele.

"Ok, bruxa." a chamou pelo apelido que sempre a fazia sorrir, e deu-se por satisfeito com um leve levantar daqueles lábios.

Ok, ele contentaria-se com o silêncio confortável naquele fim de tarde e tentaria afastar de sua mente o motivo dos olhos chorosos. Não perguntaria a razão das bolsas inchadas embaixo dos castanho-chocolate que adorava ver. Definitivamente ficaria quieto, e passaria todo o tempo possível a observando de canto de olho.

"Você parece cansado." Mas ele sabia bem da dificuldade da grifinória em dividir a quietude.

"Achei que precisasse de silêncio, bruxa." Por que infernos a ruiva parecia gostar tanto quando era chamada assim? Será que lá no fundo, algo se lembrava dos momentos em que ele usara aquela palavra? Algo se recordava das vezes que aquilo saiu de sua boca no meio de todos os beijos, quando ela o fazia quase queimar de dentro pra fora?

Resolveu continuar olhando para frente e não comentar nada sobre os olhos castanhos, mesmo quando a viu os esfregando antes de fungar e começar a revirar sua mochila. De repente, a bruxa lhe estendia um pacote, antes tirando algo de dentro dele e colocando por inteiro na boca.

"Quer?" ela ofereceu enquanto mastigava, sem receio algum de se portar sem modos justo na frente dele, que ano passado teria arranjado ótimos apelidos para o comportamento. Mais uma vez Draco quis sorrir, quis muito sorrir quando notou o quão confortável a maldita ruiva já estava ao seu lado, mas se contentou em colocar na boca um dos doces. "Um biscoito de chocolate sempre consegue melhorar meu dia." a jovem já falava com um humor muito mais leve.

Sim, aquilo era realmente bom.

"Tá vendo! Você está até sorrindo!"

Olhar a grifinória transparecer qualquer pequena felicidade era quase tão bom quanto os beijos que tanto sentia falta.

—__

Domingo, 01 de abril.

"Eu não acredito que esse ruivo-"

"Blaise." Fechou os olhos, encostando a cabeça na parede de pedra. "Foi só um beijo."

"Vou deixar um bruxo qualquer me dar só um beijo." o sonserino dizia, sentado no parapeito da janela em frente ao namorado. "Quando eu falo com um você já me acusa de-"

"Eu não aguento mais brigar, Blaise." Sua vontade era de gritar no meio do corredor, e foda-se quem ouvir, foda-se quem o olhar de qualquer jeito estranho. "Eu não aguento mais. É só o que fazemos ultimamente, e eu não aguento mais."

Havia começado na semana seguinte ao obliviate mal feito: Malfoy estava péssimo, Malfoy não comia, Malfoy não se importava com nada, Malfoy isso, Malfoy aquilo - e Colin sinceramente não aguentava mais escutar aquele sobrenome. Assim como não aguentava mais olhar para a amiga e saber que toda sua confusão era culpa dele. Muito menos suportar os comentários afiados da pessoa que dizia ama-lo - dizia, pois não escutava tais palavras já há meses, muito menos via ações que de algum modo as reforçassem.

Já havia pensado dia após dia que talvez a melhor solução para ambos fosse terminar tudo aquilo, e doía tanto lembrar do baile de Halloween e das palavras ditas pelo loiro ao seu lado. Sem dúvida não se sentia mais parte do mundo do sonserino fazia um tempo, por mais que lutasse desesperadamente para o bruxo continuar a fazer parte do seu. Soubesse ele que o pedido de Malfoy - maldito Malfoy - fosse causar todo aquele estrago, deixaria Ginevra caça-lo no inferno.

"Eu te amo Blai, mas isso não está fazendo bem pra gente." Merda, queria desabar ali mesmo, e estava sendo tão difícil engolir aquele soluço e impedir as lágrimas que lutavam tanto para sair. Falar sobre seus sentimentos em voz alta fora muito mais dolorido do que em seus pensamentos. "Acho que deveríamos dar um tempo."

Voltou a abrir os olhos após segundos sem resposta: tinha acabado de pedir um tempo, por que o maldito sonserino não falava nada nem mesmo agora? No mesmo segundo, quis ter ficado de olhos fechados: Zabini olhava janela afora, muito mais interessado - e parecendo surpreso - na cena que encontrava nos jardins no que nas palavras do namorado. Óbvio que deveriam terminar, era mais claro ainda agora, afinal estava ele falando sobre se afastar, e o bruxo ao seu lado mais interessado no casal que-

"Mas que diabos?"

"Eu realmente estou vendo isso?"

Queria se socar quando, ao perceber o leve sorriso que tomava conta dos lábios que tanto amava, sentiu sua raiva evaporar. Voltou a observar o casal que estava lado a lado na grama, tentando manter um mínimo de irritação com toda aquela situação, mas ao sentir mãos o puxarem para um abraço, deixou de fazer qualquer esforço.

"Escute, e escute bem Colin Creevey porque eu vou falar isso somente uma vez." Blaise dizia, as próximas palavras mostrando que o bruxo havia sim ouvido cada palavra dita pelo grifinório. "Nós não vamos dar um tempo. Nós não vamos terminar. Você não está autorizado a sair do meu mundo." A voz saía séria, mas o sorriso de antes continuava ali - e fazia tanto tempo que não via aquele repuxar de lábios tão verdadeiro! "Entendeu?"

"Blai-"

"Entendeu? Eu amo você e eu não quero terminar." Malditos olhos azuis sinceros que sempre acabavam com todo o seu pensamento coerente. "Eu vou melhorar, Cols. Prometo. Acredita em mim, por favor." Fez que sim com a cabeça, aquela boca tão perto da sua que já não conseguia nem mesmo pensar - há quantos dias eles não-? "E agora, eu vou te mostrar quem é a única pessoa que está autorizada a te beijar."

—__

Uma coisa que Ginevra gostava: brincadeiras. Uma coisa que detestava: brincadeiras com ela.

Então sim, desde o começo daquela tarde, após ser perseguida por Ravenis e depois de passar meia hora não sabendo se ria ou segurava Ronald, que não conseguia tirar as mãos de Colin - o namorado sonserino que Creevey arranjara iria matar seu irmão, com certeza - decidira se isolar no seu lugar. Mataria os gêmeos, Fred e Jorge muito teriam que lhe pagar nas férias de verão, ainda mais quando por pouco não acabou com ainda outra pessoa apaixonada por ela: nunca ficara tão feliz ao ver o menino que sobreviveu escolher olhar para outra garota - Hermione talvez não estivesse no pico de sua alegria.

O sol anunciava ser três e meia de um domingo, as flores que desabrochavam gritando primavera, e ali estava a ruiva, aproveitando a sombra que a árvore próxima proporcionava, encostada no tronco que geralmente usavam como banco.

Que usavam. Era assustador pensar daquela maneira. Era ainda mais assustador pensar que dividia aquele seu espaço tão privado, achado após tanto esforço, de bom grado justo com aquele sonserino. Pior, queria a companhia da fuinha - quando havia começado aquela amizade? Aquilo era uma amizade? Que diabos era queria daquilo? Por que seu cérebro andava gostando das coisas mais estranhas e sem o menor sentido ultimamente?

Draco Malfoy não era um exemplo de boa pessoa, sabia. Não era também a pessoa mais fácil de se conversar, ou a mais extrovertida, nem mesmo poderia ser considerado um bruxo alegre - por mais dinheiro que a família tivesse na conta em Gringotes, sorrisos sinceros raramente eram vistos naqueles lábios. Mas a companhia do rapaz era irritantemente agradável - e não conseguia descobrir ao certo o porquê de gostar tanto de passar seus minutos ao lado dele. Talvez pelas conversas serem tão fáceis, pelas palavras não lhe provocarem confusão alguma como as de Colin andavam fazendo, pelos olhares não a deixarem desconfortável - não do jeito que os olhos de Harry e Hermione a deixavam nos últimos meses.

Então agora ali estavam os dois naquela situação, há semanas se encontrando quase todos os fins de tarde, ela sempre com Latim - que sinceramente nem mesmo precisava de ajuda -, ele sempre prestativo. E aquilo era agradável. E a bruxa começou a ansiar pela presença do loiro, a decepção claramente presente sempre que um dos dois faltava ao compromisso informal.

Mas hoje era domingo, e Malfoy nunca aparecia aos domingos - já havia verificado tal duas vezes. O que o bruxo fazia aos domingos? Ginevra permitiu-se fazer um beicinho, deixando o saco de balas confiscado jogado perto de seu tinteiro e pena enquanto folheava o livro em seu colo. Latim, gramática XVII - estava pelo menos dois capítulos adiantada, o que a fazia ler sem prestar muita atenção no conteúdo. Preferia a companhia.

Ridícula.

Ficou quase com raiva quando a visão de pétalas brancas interrompeu sua leitura despreocupada e causou automaticamente um sorriso em seus lábios, a ruiva sabendo já de quem era a mão pálida que segurava o cabo da flor antes de levantar a cabeça.

"O que você colocou nessa margarida para estar me dando, Malfoy?" Como o bruxo sabia daquela sua preferência?

"Com certeza alguma coisa para te deixar menos irritante, Weasley." A mão insistiu, os olhos dela achando os cinzas já aborrecidos. "Eu não coloquei nada, bruxa!"

E Draco largou a flor sobre o livro aberto, e Ginevra revirou os olhos - e sorriu: bruxa. Tinha ficado claro nas últimas semanas que o sonserino mimado tinha o pavio tão curto quanto o dela. Com certeza não era aquele detalhe que fazia os dois se darem bem, mas surpreendentemente também não era uma causa de briga. Pelo contrário, até mesmo se divertia com os comentários afiados que o temperamento de ambos gerava.

Era simplesmente confortável ficar com ele. Era confortável para o seu cérebro, que não tinha tanta dificuldade em manter uma conversa com quem nunca conversara na vida. Era confortável não ter tantas memórias falsas - ao menos era como ela chamava aquilo - perto do loiro. Então mesmo com as provocações, mesmo com as pequenas brigas, mesmo com o apelido que ela odiava adorar, mesmo com a vontade que às vezes lhe vinha de chegar mais perto daqueles fios loiros, era bem confortável aquela presença.

"Latim? No domingo?" Tentava diminuir o sorriso que crescia mais ao ver o loiro sentar-se ao seu lado, um contentamento tomando conta de seu peito - um contentamento estranhamente conhecido, quando mesmo se sentira assim antes? "Precisa melhorar essa vida social."

"Melhor ficar aqui do que aturar mais alguma brincadeira de primeiro de abril." respondeu enquanto fechava o livro, sua mão encostando de leve na do bruxo ao alcançar seu pergaminho e pena.

"Nossa, isso é muito doce." Seu pergaminho e pena, que repousavam ao lado do saco de balas vermelhas. "Como você consegue gostar desse negócio?" As malditas balas que seus malditos irmãos enviaram por uma maldita coruja naquela maldita manhã.

"Me diga que você não comeu-"

Ele tinha comido, soube ao ver duas das três balas que deveriam estar ali. Fechou os olhos por um instante, recitando um rosário de xingamentos em sua mente: não era assim que imaginava desfrutar de seus poucos minutos com o bruxo, foi o primeiro pensamento.

"O que tinha nessa bala?" Ele iria mata-la, foi o segundo, ela se forçando a olhar para frente. "O que tinha nessa bala, Weasley?" Não olhe para o loiro, foi o terceiro, porque afinal, era só não olhar para ele, e era só não deixa-lo olhar para ninguém por o que, umas duas horas? Três? O que dizia mesmo nas instruções que os gêmeos gentilmente colocaram no fundo daquele pacote?

"É da loja de Fred e Jorge," Como, mesmo tão longe, aqueles dois ainda conseguiam causar em sua vida? "Eles mandaram achando que eu fosse comer - como se não conhecesse os irmãos que tenho. Colin está correndo de Ronald até agora." Controlou uma risada no final da frase: a cena de Rony tentando seduzir seu amigo nunca perderia a graça. "Só não olhe-"

Mas é claro que a primeira coisa que veria no segundo seguinte seriam os olhos acinzentados.

"Nos meus olhos."

E o sonserino percebeu no segundo seguinte o que havia de diferente naquela bala - ao menos ele não poderia matá-la enquanto a desejasse, poderia?

"Como eles conseguem colocar uma poção de amor num maldito doce??" O olhar confuso mudava para um de quase desespero, o loiro escondendo com dificuldade o rosto nas mãos enquanto respirava fundo uma, duas, três vezes. "Desde quando é legal vender uma merda dessas?"

"O efeito passa rápido!" Mas não, não passava rápido depois da poção ser ativada - ao menos não era o que seus irmãos afirmavam -, e Ginevra sabia o que tinha que ser feito para o efeito sumir antes de uma semana.

"Por isso que Creevey está correndo atrás do seu maldito irmão ainda?" Uma semana!

"Na verdade, Creevey está correndo de Ronald, e não para Ronald." E provavelmente correria por um tempo, visto que seu irmão mais novo era um dos últimos bruxos que Colin beijaria naquela vida.

As mãos antes no rosto corriam agora pelos fios loiros, o bruxo colocando a cabeça para trás antes de soltar um suspiro frustrado, ainda forçando os olhos a permanecerem fechados. A ruiva o observou respirar fundo outra vez, o cenho franzido, parecendo se controlar ao máximo para não deixar escapar qualquer palavra - inutilmente.

"Seu maldito cheiro é a melhor coisa que já senti em toda a vida." A confissão foi feita por entre dentes cerrados, e conseguiu ver os primeiros sinais de rubor naquele rosto sempre tão pálido. "E eu quero beijar o seu maldito pescoço até você aprender a gemer a porra do meu nome, merda, Weasley!" o sonserino reclamava parecendo desacreditar nas palavras que saíam de sua boca. "Mas que merda!"

Não conseguiu mais esconder uma risada, assim como não sabia dizer se ria por estar nervosa ou pela intensidade da última revelação. E a risada lhe rendeu um dos melhores olhares que já recebera na vida: o bruxo poderia sim querer mata-la, mas ao mesmo tempo a ruiva conseguia ver nas órbitas cinzas uma mistura de todos os sentimentos que naquele segundo soube ansiar receber dele.

Conseguia ver um desejo gigante naqueles olhos. Conseguia ver uma adoração que nunca pediria a ninguém. Mas o melhor que via era aquele último sentimento, o que talvez fosse sim um maldito erro de seu cérebro, pois poções de amor, apesar do nome, não conseguiam produzir justo aquilo. Justo o que mais lhe agradava perceber.

Amor.

O sonserino parecia fazer o maior dos esforços para tirar os olhos dos dela e coloca-los no lago, as mãos outra vez passando pelos fios platinados - tão mais bagunçados durante aquele dia, durante aquele ano.

"Você quer que eu vá embora?" Levantou-se antes mesmo de ouvir a resposta, que veio novamente carregada de irritação.

"Sim!" Mas a mão que a segurou e a puxou para o colo do bruxo dizia diferente - e agradecia pela resposta contrária, que a faria passar mais alguns minutos junto ao seu conforto.

Assim perto conseguia sentir o quão forte o coração dele batia - tão forte quanto o dela, quando já de olhos fechados sentiu dedos roçarem pelos seus lábios. Foi quando sua mão tocou a do sonserino que ele pareceu perder o resto do pouco controle que tinha, a puxando até encostar testa contra testa - estavam próximos o suficiente para sentirem suas respirações, e por um momento a ruiva pareceu tonta com aquele toque, aquele cheiro, sua cabeça ficando mais leve quando as mãos suadas do bruxo acharam sua nuca.

"Vai embora, Weasley."

Se conteve a tempo para não reclamar quando sentiu o rapaz se afastar, novamente apoiando as costas no tronco.

"Se te conforta, comparado aos outros que comeram essa bala, seu controle é impressionante."

"Você me conforta." Conseguia acreditar naquelas palavras. "Odeio você, bruxa." Naquelas também.

Aquele rosto já estava tão vermelho quanto seus cabelos, e admitiu mentalmente o quanto o loiro ficava ainda mais desejável quando corado. Quando daquele jeito. Não como Malfoy, não como um sobrenome que ele sempre associou a uma perfeição irritante, mas normal. Humano.

Fez menção de alcançar o saco de doces mas o loiro o chutou para longe.

"Não. Eu quero que você me beije porque você quer, ou você é livre para ir embora." o sonserino falou, as mãos saindo dela por alguns segundos.

Fechou os olhos, finalmente admitindo para si mesma: ela também queria aquilo. Também queria que o sonserino a beijasse por livre vontade, e não pela ação de uma poção estúpida. Queria gritar aquilo, eu também quero, também desejo que você queira isso, e talvez tivesse, se no segundo seguinte não fossem pousados em seu pescoço lábios molhados, a fazendo agarrar-se no bruxo enquanto seu corpo parecia derreter - e qualquer pensamento coerente foi embora.

"Você quer me beijar, Ginevra?"

"Draco-" E a bruxa gemeu, cumprindo o desejo de antes enquanto sentia a boca subir.

"Bem melhor." Ele com certeza sorria, conhecia bem o sonserino.

"Eu preciso limpar todos esses frascos e tirar uma maldita mancha da mesa."

Abriu os olhos, os cabelos platinados ainda ocupando quase toda sua visão enquanto tentava tirar algum sentido do que acabara de assistir. Não, não surtaria agora, já fazia tanto tempo mas não justo agora que os lábios se aproximavam tanto dos dela - e inspirou devagar uma, duas vezes, o perfume que tanto gostava servindo para tirar as últimas paranoias de sua cabeça.

Depois. Depois daquilo teria o resto do domingo para se perder em suas loucuras.

Mas seu novo comportamento - não mais tão receptivo durante alguns segundos - não passou despercebido pelo bruxo, que no segundo seguinte se afastava pela terceira vez com um quase pesar, as mãos abandonando seu corpo e indo grudar na grama.

"Me afasta, Ginevra. Sai de cima de mim, porque é sério, eu não consigo te tirar daqui. Eu não consigo-" Foi a última coisa que ouviu do sonserino antes de seus lábios cobrirem os dele.

Ginevra nunca esperou um beijo delicado de Draco Malfoy, e não foi um beijo delicado que veio. As mãos saíram do verde assim que as dela agarraram o pescoço do bruxo, uma a puxando pelo quadril enquanto outra se perdia no meio dos fios vermelhos, ele parecendo querê-la cada vez mais perto. Sentiu o rosto queimar quando a mordida em seu lábio inferior a fez soltar um novo gemido, a língua passando por aquela pele sensível antes de parti-los e explorar sua boca - e a grifinória simplesmente não conseguia impedi-lo de nada.

Estava perdida, beijando Draco Malfoy no meio dos jardins de Hogwarts - e não queria pensar em mais quantos segundos teria aquilo que já ansiava ter para sempre. Estava perdida, praticamente montada em cima do sonserino enquanto suas mãos traçavam seu peito, achando cicatrizes ao irem para baixo da camisa branca que ele usava, arrancando um sibilo ao passarem da linha da cintura.

"É muito-" A boca longe da sua que fez suas mãos pararem de descer. "É muito, Gin." Gin.

Tudo que queria era voltar para aqueles lábios, mas abriria os olhos a qualquer segundo agora e o que veria a faria querer sair correndo dali, não? Um beijo, o antídoto para aquela maldita brincadeira era um beijo no bruxo escolhido pelos olhos. Quando ele voltasse a vê-la, todo o encanto teria passado - então por que as mãos estavam a puxando para perto novamente, mesmo com os olhos cinzas abertos? Por que os lábios outra vez brincavam com os seus? E por que o toque de antes, tão bruto, tinha se transformado num quase delicado?

Por mais que o rosto do bruxo mostrasse sinais de aborrecimento quando o beijo enfim acabou, Draco nunca soltou de sua cintura, assim como nunca reclamou no momento em que a ruiva se aconchegou em seu peito - cítrico. Sorriu tanto que seus lábios chegaram a doer ao senti-lo apoiar o queixo no topo de sua cabeça, após um beijo rápido em seus cabelos.

"Fique comigo até essa vontade irritante de idolatrar suas sardas passar."

Ficaria para sempre, caso ele deixasse.

—__

Quinta, 03 de maio.

Que merda ele estava fazendo?

Sim, Draco precisava disso, mas que merda estava fazendo ao continuar com isso? Ao continuar com o que começara há mais de um mês, aqueles malditos encontros, naquele lugar escondido mas tão público.

Pior.

"Draco." A voz gentil o recebia como sempre ao sentar-se no espaço reservado só para ele.

"Ginevra." A mão dele envolvia sua cintura enquanto seus lábios capturavam os carnudos da bruxa num beijo terno.

Continuar daquele jeito.

"Pra mim?"

Continuar beijando a bruxa que não sabia de sua marca.

"Penas de algodão doce?"

Continuar beijando a bruxa e não contar que diabos havia acontecido entre eles antes de tudo aquilo.

"São minhas favoritas."

Continuar mentindo.

"Obrigada."

Até quando duraria aquele sorriso?


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