Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 31
Longe de você


Notas iniciais do capítulo

Um muito obrigada a barbara matias que recomendou essa fic - esse capítulo é pra vc ;)



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Segunda, 25 de dezembro.

"Eu vou voltar."

"Eu vou estar te esperando. Não faça nada imprudente."

"Quem deveria dizer isso para você sou eu, bruxa."

Acordava com a mente na despedida desde a manhã de sábado, seus olhos, já treinados para procurar cabelos platinados na mesa das cobras, se decepcionando diariamente ao não achar nenhum sonserino familiar - até mesmo Zabini voltara, o que havia tornado fácil a decisão do amigo em falar sim para o Natal em família.

Bem, como Colin - que tinha como plano confirmar na manhã de Natal os rumores que Denis escutava pelos corredores - Ginevra também poderia tomar decisões que a beneficiariam no futuro. Foi com aquele pensamento na cabeça que escovou os dentes pela última vez na noite da véspera de Natal, antes de colocar um pedaço da planta roxa na boca - aquele gosto esquisito perduraria por um mês. Torcia para o sonserino não se incomodar com os beijos negados em janeiro.

E outra vez, aquele aperto no peito.

"Feliz Natal!" Graças a Merlin por aquela bruxa ter ficado no castelo.

"Feliz Natal, Mi!" respondeu com sua melhor empolgação, desejando seu primeiro 'feliz natal' daquele ano para sua amiga e ao que tudo indicava, futura cunhada - conseguiu ver que a menina estava novamente nos bons lados de sua mãe pelo moletom vermelho com um grande H usado por ela.

E mais um aperto - malditos moletons. Foi o presente a mais de sua mãe que a fez sair correndo do salão comunal grifinório antes das sete da manhã.

Sim, era atípico a bruxa sofrer de insônia, a não ser quando algo ocupava tanto sua mente que a mesma não conseguia parar. Então não, não era estranho a jovem dormir de duas a três horas naqueles últimos dias, e então perder completamente qualquer traço de sono - o que a fizera estar de pé às seis e ir para debaixo da árvore natalina às seis e dez. E ao abrir seu segundo presente, um moletom igual ao que ela usava, não fosse maior e verde, resolveu que o melhor a fazer seria tomar uma boa xícara de café - e Ginevra odiava café.

"Foram poucos os alunos que ficaram no castelo dessa vez." Hermione fez a observação ao olhar para a mesa deserta senão as duas.

"Estou surpresa por mamãe ter insistido para que ficássemos, depois do que houve mês passado." Talvez mais preocupada que algo estivesse para acontecer na Ordem do que espantada com a decisão. "Você não quis voltar?"

"Ronald pediu para eu ficar." a amiga confessou com um sorriso sincero, e Ginevra não conseguiu conter uma pontada de ciúmes ao pensar naquele relacionamento tão fácil. Ela havia pedido para Draco ficar, e ele mesmo queria - sabia que o sonserino queria - ficar. E agora, lá estava ele, passando o feriado entre comensais.

"Não tente me achar de jeito nenhum. Eu vou te procurar assim que colocar os pés de volta nesse castelo, então por Merlin, não faça nenhuma loucura, Ginevra."

"E se você não voltar?"

"Eu vou voltar. De algum jeito, eu vou voltar."

"O que você tem na boca?"

"Folha de mandrágora." Não fez a menor questão em esconder a informação.

"Me diga que você não vai tentar se transformar antes de acabar com suas aulas." Por mais que soubesse o quanto Hermione com a mais absoluta certeza seria contra aquele ato de rebeldia.

"Eu não vou tentar me transformar antes de acabarem minhas aulas." A mentira foi tão descarada quanto as que ouvira Draco dizer para Snape na última sexta-feira. E novamente, o mesmo aperto - mas que droga. Respirou fundo uma, duas, três vezes: não iria chorar, não iria por nada chorar. Se derramasse a primeira maldita lágrima, talvez não conseguisse parar antes do ano que vem.

"Ele voltou, não é mesmo?" fez que sim com a cabeça, engolindo o choro tão desesperadamente quanto engolia o café - tudo ficaria assim tão pior com a maldita folha na boca? "Você está nervosa?" assentiu mais uma vez, as lágrimas enfim desistindo de cair. "A situação dele não é boa?"

"Você realmente não está ajudando, Mione." Não conseguiu mais guardar para si a frase, nem o desabafo que seguiu. "É claro que a situação dele não é boa, ele é um maldito agente duplo!" disse enquanto devolvia para a mesa a caneca vazia sem a menor delicadeza. "Ele não me conta nada. Diz que é melhor se eu não souber, que não pode discutir comigo os planos de nenhum dos lados, que não quer me envolver ainda mais - porque já é muito perigoso eu estar envolvida com ele. Nunca sei se está sendo apenas paranoico ou realmente existe a chance de algo dar muito errado." Deveria ter insistido em ir pra casa - pior Natal de todos, pensou enquanto massageava as têmporas. Maldito sonserino e malditas manias que pegara dele. "Você sabe de alguma coisa?"

"Tanto quanto você. Não me olhe assim Gina, estou falando a verdade." a amiga se defendeu quando olhos castanhos nem um pouco felizes pararam nela. "Ano que vem isso vai mudar. Dezessete anos, não poderão mais nos impedir."

Quase riu. Ginevra ainda estaria nos seus malditos dezesseis no próximo ano.

"E vou ficar mais uma vez de fora - agora, oficialmente de fora."

Mas não era a minoridade que a impediria de entrar na Ordem, e sim suas malditas promessas estúpidas. Lembrava-se da noite em que conversaram pela primeira vez sobre oclumência - uma das únicas vezes que o sonserino mencionara a Ordem.

Foi o olhar curiosos da amiga que a fez continuar.

"Draco não me falou nada, absolutamente nada, sobre o dia em que falou com Snape, sobre o dia em que saiu no meio da noite sabe Merlin para onde e entrou para esse outro bendito grupo. Nada além de uma coisa: a condição para ele trabalhar dos dois lados." Era ridículo: não podiam decidir isso por ela, como achavam que tinham esse direito? "O que Snape prometeu, e o que ele me fez prometer: eu nunca vou poder fazer parte dessa guerra." As vezes não conseguia entender como amava tanto alguém que lhe dava tanta vontade de gritar. "Eles nunca vão me colocar na Ordem."

—__

Era uma noite fria pra caralho - por sorte não nevava -, e ali estava Draco Malfoy, seminu, sentado ao lado de uma maldita fogueira improvisada. O último lugar que esperava estar no Natal era ali - quem diria.

Dia vinte e quatro de dezembro, após chegar na mansão em Wiltshire e ser recepcionado calorosamente tanto por sua mãe quanto por sua tia, esperava passar os dias do recesso discutindo sobre estratégias. Praticaria algumas maldições, talvez alguns feitiços, e qualquer coisa mais que Lestrange achasse necessário - um típico Natal na família Malfoy. Porque ao final do dia, sabia com certeza que ninguém desconfiava de nada - pensava com certo orgulho que não se passava pela cabeça de Bellatrix, mesmo após entrar diversas vezes na sua, que convivia com um traidor.

Snape não lhe contara nada sobre o ataque que a Ordem planejava, então sim, quando o primeiro feitiço cortou o ar e atingiu em cheio Avery, Draco passou quase cinco segundos sem reação - o que lhe rendeu quase o mesmo jato de luz vermelha no meio do peito. De repente ali estava ele, no meio de sua primeira batalha, por assim dizer - o que acontecia dentro de sua sala de jantar, repleta de comensais e agentes da Ordem, era uma quase carnificina - não fazendo a menor ideia de qual porra de bruxo deveria estuporar.

A dúvida lhe rendeu um corte generoso no ombro esquerdo, assim como estilhaços de vidro nas costas - sua sorte realmente não andava das melhores. Conhecia a maioria dos bruxos naquele recinto, muitos amigos de seus pais há anos, alguns tão próximos como se fossem família - e por mais que seus ideais não fossem honráveis, por mais que as ideias e ações não pudessem mais ser aceitas de olhos fechados-

Ao menos Narcisa tinha um passe - aquilo o deixava muito mais longe de perder o resto de sua sanidade, ainda mais quando Snape o puxou para fora daquele caos. Ninguém da Ordem poderia ataca-la para matar, ele poderia manter sua calma - a não ser legítima defesa, mas graças a Merlin sua mãe não ficava na ofensiva como Lúcio. Deveria estar tão longe da casa quanto ele.

"Feliz Natal!" Da onde vinha aquele agudo irritante?

"Quem é essa pessoa?" perguntou com sua voz mais mal humorada, sibilando ao sentir um pedaço de vidro mais fundo ser retirado da costela - teria uma coleção de cicatrizes até o final daquilo se todos os ataques que participasse acabassem assim. Ao menos toda a maldita dor servia como distração para a temperatura que enfrentava no meio daquele campo. Por mais calor que a fogueira improvisada gerasse, era somente a ruiva que o fazia não tremer sem vestir nada num frio de menos cinco graus.

"Curandeira nova." Severo respondeu, retirando outro caco superficial e o jogando dentro de um recipiente repleto de restos de pano e sangue - o que um dia tinha sido sua camisa. "Entrou semana passada." Se Ginevra o visse naquele estado, ela surtaria. Será que haveria um jeito de esconder aquelas novas cicatrizes?

"Dou duas semanas para o sorriso sumir." Como conseguia pensar na ruiva justo agora?

"Quatro dias. Vai ter um ataque na Romênia essa sexta, todos os com o mínimo de habilidade de cura estão de sobreaviso." Snape largou a pinça, derramando um líquido azul por cima dos cortes ainda abertos e Draco praticamente abriu o lábio inferior com a mordida que seguiu para abafar a reclamação - não poderia ter avisado que sentiria aquele cacete de dor? "O resultado não vai ser exatamente agradável de se ver."

"Parece que nunca é."

De longe conseguia escutar um urro - já não estava sendo agradável agora, esperava não estar presente na véspera de ano novo. Há quanto tempo eles estavam ali, na T'Oca? Sim, tinha vontade de gargalhar - como na sua última noite com a ruiva - quando se lembrava estar na casa dela, sentado na grama dela, junto de mais uma meia dúzia de bruxos feridos. Aquele era Lupin, o antigo professor de DCAT? O lobisomem? Ou poderia muito bem estar vendo coisas, estava exausto, e por mais que o lugar estivesse infestado de gnomos de jardim, seu maior desejo agora era encostar a cabeça no verde e apagar.

"Quem está gritando tanto?" Mas com todo aquele barulho - fora todos os pequenos incômodos que ainda restavam pelo corpo - só conseguiria fazer a primeira parte. "Por Merlin, eu só preciso fechar os olhos por uma hora." A grama era confortável o suficiente usando sua capa como travesseiro - por mais que devesse mesmo era vesti-la. "O que você vai dizer para minha mãe?"

"Que eu tirei você do meio do fogo cruzado, e estava tentando dar um jeito no que os rebeldes fizeram no seu braço esquerdo - boa justificativa para sua obra de arte. E Narcisa vai entender minha preocupação." Benditos sejam os votos perpétuos. "Você entrou em choque e ficou desorientado porque infelizmente perdemos os Goyles." Provavelmente seria a explicação para o jeito quase ridículo que se comportara nos primeiros segundos da batalha - nem sabia que os Goyles haviam sido mortos.

"Eu os conhecia desde pequeno." deixou escapar, fechando os olhos.

"Guerra é isso, Draco. Pessoas morrem." Sentiu o braço esquerdo ser puxado pelo padrinho, e lá estava ele, outra vez sentado. "Vai acabar com uma infecção na merda dos cortes se continuar deitado, garoto. Dê pelo menos um tempo para eles fecharem."

"Adiantou de algo esse ataque?" perguntou, o grito de antes novamente se fazendo presente - que porra de bruxo não conseguia suportar a dor em silêncio, mas que merda! "Fenrir dizimou nosso lado." E graças a um milagre - o mínimo de sorte - hoje não era noite de lua cheia. "Não consigo ver isso como sendo muito positivo."

"Acredite, o saldo foi positivo." Severo afirmou, procurando algo no bolso da capa preta.

Draco viu o professor tirar outro frasco com o mesmo líquido azul de antes e antecipou uma dor que não veio. Os dois se voltaram para a porta ao escutarem um grito muito mais rasgado que os últimos, seguido de uma bruxa, tão ruiva quanto Ginevra, praticamente correndo em direção aos dois. Snape já estava de pé quando a mulher parou em frente a eles.

"Molly." Sentiu-se ridículo pelo pensamento, mas soube naquele instante de quem a grifinória herdara os olhos chocolate tão expressivos - conseguia vê-los ali na sua frente, sendo quase difícil parar de observar as feições da bruxa mais velha.

"Severo, é o Gui, ele-"

"O ferimento não vai passar licantropia, já disse."

"Não, ele está ferido! Tem uma coisa nele!" a mulher soava desesperada - desespero tão familiar. "Eu não sei mais o que fazer, ninguém sabe o que está acontecendo-"

"Fique aqui, garoto." Não se moveu até os dois bruxos saírem de seu campo de vista.

Ficaria com prazer - já até voltava a deitar na grama -, e que se foda se algum ferimento infeccionar, ele precisava muito dormir. Talvez até com todos aqueles gritos conseguiria agora, já podia ver o rosto dela fechando os olhos, e amanhã se preocuparia com qualquer outra coisa que merecesse seu desassossego.

Não fosse o grito que seguiu, teria conseguido. Definitivamente não chegaria perto de dormir com todo aquele barulho, levantando-se e vestindo a capa enquanto amaldiçoava sua sorte inexistente.

Que diabos estava acontecendo com a porra daquele bruxo?

Não recebeu olhares muito acolhedores - como imaginava, e para o que estava pouco se importando - ao entrar pela porta da frente, um dos gêmeos particularmente o fuzilando com os olhos - com certeza era Jorge, e com certeza deveria se lembrar da bruxa que Draco o fizera perder. De repente aquela pequena vitória, na época ótima, já não era uma coisa tão boa na atual situação.

"Isso está crescendo dentro do corpo dele." avistou Snape já no primeiro cômodo, rodeado por mais dois ruivos - o outro gêmeo, e ao que a idade indicava - e pelo que Draco se lembrava -, Arthur. "Vai chegar no coração se não for tirado." o bruxo falava enquanto parecia puxar com certo esforço um pedaço de algo marrom-escuro - aquilo era uma raiz? - do ombro do Weasley estirado no sofá. "Não Molly, ele precisa ficar acordado." disse com uma voz irritada quando a mulher tentou fazer o filho tomar um líquido verde.

"Isso não é um pouco sádico?" Se viu perguntando antes de pensar, Snape enfim o percebendo na sala, parecendo tão desgostoso quanto todos os ruivos com a presença do sonserino.

"Eu posso rasga-lo inteiro por dentro e só descobrir que ele está morto quando tentar acorda-lo, ou eu posso rasga-lo com um pouco mais de cuidado, com ele acordado." Chegando mais perto, entendia agora o porquê dos gritos: aquilo sendo arrancado era tão quase grosso quanto um dedo, deixando praticamente um buraco na pele,. "Achei que tivesse dito para ficar lá fora, garoto." Provavelmente não sentira na vida metade da dor que aquele bruxo aparentava estar sentindo: o rosto pálido, as sardas parecendo até menos ferrugem do que as que já estava tão acostumado - simplesmente ótimo, ele via Ginevra em todos naquela maldita sala. "Merda! Enervate!"

Teria saído sem pestanejar se não fossem as próximas palavras.

"Agora que está aqui, mantenha o Weasley acordado." O mal humor de Snape era tão tácito quanto o seu de mais cedo. "Não posso ficar soltando esse maldito espinho e estou cercado de grifinórios que me pedem para parar a cada segundo." Sim, andava realmente com sorte, pensou enquanto ia para o lado oposto do outro sonserino. E era para ele ficar fazendo o que, se a dor era tanta que fazia o maldito bruxo apenas gritar e desmaiar?

"Enervate." disse, mexendo a varinha em punho. Gui. Aquele era o favorito de Ginevra, não era? Que ótimo. "O quão fundo isso está?"

"Quase dez centímetros." Bem fundo. "Outra vez." A ordem veio depois de mais um grito. "Malfoy, a cada segundo que perdemos esse espinho cresce mais."

"Enervate." Quanto tempo demoraria para tirar aquilo? O bruxo abriu os olhos - castanhos, óbvio que seriam - mas os cerrou forte no momento em que Severo voltou a puxar, a mão de Draco o segurando pelo queixo no momento em que o via quase perder a consciência outra vez. "Não, não, olhe pra mim!" Aqueles olhos castanhos pareciam queimar nos dele - e era ela quem o sonserino via outra vez. "Respira fundo. Respira, Weasley!" O bruxo o obedeceu, puxando o ar pela boca. "Não sinta a dor, coloca ela de lado. Sinta a sua-" Respiração, apenas - e mais uma vez a inconsciência. "Mas que merda! Enervate."

"Eu não aguento mais!" a confissão veio numa voz tão rasgada quanto os próximos gritos, e de canto de olho viu os gêmeos indo junto com o pai para o cômodo ao lado - ah, sabia que aquele era Remus Lupin! Não se surpreendeu por ser a bruxa Weasley a única a ficar ao lado do filho. Malditas ruivas corajosas.

"Olhe para mim, respira." Flashes de Ginevra naquela tarde de sábado vieram automaticamente para sua mente - sempre ela, sempre ela que aparecia nos seus momentos enervantes. "Fundo." Respira. Está tudo bem, Gin. "Mais uma vez." Está tudo bem. Eu estou aqui. "Feche os olhos e só se concentre em respirar." Chacoalhou o rosto sardento outra vez ao perceber a expressão quase suavizando - o Weasley iria desmaiar de novo, maldição, nunca conseguiria fazer aquele ruivo ficar consciente! "Weasley, você tem que me ajudar!" Seria tão mais fácil se ele conseguisse colocar na mente do bruxo algo como aquele fogo vivo, que agora vivia na sua. Daria para aguentar aquela dor pensando nela, com certeza - se fechasse os olhos, a primeira coisa que veria seriam aqueles cabelos. "Um minuto, Snape!" pediu, segurando a mão do sonserino.

"Dez segundos." Sim, o desejo de socar o padrinho andava aumentando naqueles últimos meses.

"Feche os olhos e respire fundo. Esvazie seu pulmão e me diga qual é a primeira coisa que você vê." Viu mais uma parte da raiz sair enquanto o jovem expirava - talvez faltassem o que, nove centímetros agora? Maldição.

"Fleur." a resposta veio junto de um xingamento após outra inspiração.

"Pense nela e continue falando comigo." E fique acordado, a última coisa que preciso é voltar para Hogwarts e contar pra ela que vi seu irmão preferido morrer. "Qual é a cor que você mais vê?"

"Amarelo."

"Por que?" Não veio de imediado uma resposta, mas os dentes cerrados e o cenho franzido denunciavam a ainda consciência do bruxo. "Weasley! Respira e me fala porque!"

"É a cor dos seus-" Mais um centímetro. "Cabelos!"

"Se concentre nela! Onde ela está?"

"Numa praia. Nós queremos casar-" As palavras eram cuspidas por entre os dentes, as mãos do ruivo agarrando firme o estofado do sofá - Ginevra estaria sim, surtando, estivesse ali. "Morar na praia." Ao menos estava conseguindo manter o Weasley acordado - esperava que sua bruxa nunca tivesse que presenciar aquilo. "Ter filhos." Nunca tivesse que estar presente em uma situação daquelas. "Ela quer filhos." Faria de tudo para aquilo. "Eu quero muitos."

Casar, ter filhos, morar na praia. Coisas tão simplórias que pareciam tão agradáveis agora.

"O que ela está vestindo?" Definitivamente poderia pensar em todas essas coisas com ela.

"Podemos-" Se identificou - irritantemente - com o sorriso dado pelo bruxo no meio de toda a dor. "Pular essa parte."

"Certo." Draco mesmo não conteve um - estivesse pensando na ruiva, ela com certeza vestiria o que Draco mais gostava: nada. "Qual a cor dos seus olhos?"

"Azuis." A voz quase não saiu. "Azuis, tão azuis-" E no instante seguinte, via Severo segurando, mãos vestidas de luvas, a totalidade do que estava crescendo naquele corpo."Quanto o mar! Caralho!" E o Weasley respirou realmente fundo, o corpo enfim relaxando no sofá vermelho carmim, as mãos indo cobrir o rosto exausto. "Puta que pariu, me fala que acabou!"

"Acabou, Weasley." disse, vendo os olhos castanhos novamente. Faltavam mesmo quantos dias ainda para ver os chocolate que realmente sentia falta?

"Obrigado." Quase riu mais uma vez, o bruxo deveria agradecer a irmã, isso sim. Molly já respirava aliviada ao lado do filho mais velho e o loiro já estava se dirigindo para saída quando ouviu a pergunta. "O que você vê, Malfoy? Quando você fecha os olhos, o que você vê?"

Ficar quieto e sair nem se passou por sua cabeça, assim como não precisou fechar os olhos para responder aquilo.

"Eu vejo vermelho."

Ele via Ginevra de olhos fechados ou abertos, em todos os malditos lugares.

—__

Quinta feira, 25 de janeiro.

"Isso na sua boca está nojento." dizia para a amiga enquanto a observava acabar com mais um copo de água - ao menos ela sorria novamente, pensaria assim.

"Último dia." Foi sua resposta, Ginevra colocando o copo de volta a mesa, seus dedos fechando discretamente em volta de uma colher, a arrastando para baixo e a fazendo sumir no meio da capa.

"Por que você está levando uma colher de prata escondida no bolso?"

"Vamos lá, não é meio óbvio?" Não.

"Eu não sei nem porque você está mastigando essa mandrágora nojenta."

"É uma folha de mandrágora." Viu a amiga dizer e revirar os olhos - ela estava assim estranha antes de tudo e ele que não percebera, ou tinha feito algo de muito, mas muito errado?

"É nojento ainda assim." falou, enquanto repassava a noite passada em sua mente. "Não está mais usando seu colar?"

"Aquele prateado? Muito pesado, estava incomodando. Mas vou ficar com os brincos!" a ruiva respondeu, um sorriso nos lábios. "Preciso ir Cols, já está quase anoitecendo." Isso poderia ser fingimento. Ela poderia estar fingindo apenas para tira-lo de seu pé. Poderia estar brava com ele - mas não, nem mesmo falaria com Colin se fosse esse o caso. "Para o quarto, estudar."

Observou quieto a amiga se perder entre os alunos no Hall de Entrada, em silêncio até sua melhor companhia sentar-se sem a menor vergonha na cadeira ao seu lado - um sonserino que não estava dando a mínima, sentado na mesa grifinória.

"Você parece preocupado." Ainda não estava acostumado com aqueles beijos tão públicos, por mais que os lábios acertassem apenas suas bochechas.

"Você parece feliz." observou quando braços carinhosos o puxaram para perto, um sorriso que não via fazia um tempo nos lábios do loiro.

"Tenho boas notícias."

Foi naquele momento que seu coração, por um segundo, parou.

Merda.

Merda, merda, merda.

"Eu recebi uma coruja dele no fim dessa tarde." Sentia sua cabeça leve, iria desmaiar? "Draco está voltando amanhã."

Merda.

"Cols?"

Abriu a boca mas não conseguia sequer pronunciar uma palavra.

"Cols, ele vai voltar, isso é uma boa notícia." Zabini disse, o sorriso diminuindo levemente. "Por que você não está feliz?"

Às vezes uma pessoa é presenteada com outra que a entende com apenas um olhar - era o caso dos dois bruxos. Colin não precisou falar nada para Blaise entender o porquê do namorado não estar sorrindo, e sim pálido, à beira de lágrimas.

"Merda."


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Notas finais do capítulo

Hey ;)
Espero que não queiram me matar com o final, mas gents, vai ficar tudo bem!
Obrigada a todos que comentaram, favoritaram, vcs são ótimos e me fazer mega querer postar mais

;*



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