Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 28
Arrependimentos


Notas iniciais do capítulo

Hey leitorinhos ;)
espero que curtam o capítulo do mesmo jeito que curti escrever!
obrigada a todos que comentaram, favoritaram, e a todos que estão acompanhando - e não se acanhem, me contem o que estão achando! E para quem se interessar, estou com outra DG em andamento: para lugar nenhum. Passem lá quando der e me deixem suas opiniões ;)

besos
Nia.



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Sábado, 4 de novembro.

Foi somente no sábado que Ginevra enfim avistou e dirigiu a palavra para aquele maldito bruxo de cabelos platinados - e sábado ela já estava irritada demais para conseguir controlar o tom de sua voz. Quarta passara o dia procurando, inutilmente, assim como quinta e sexta - o avistando apenas entre estudantes sonserinos e temendo que seu estouro naquele meio o pusesse em maus lençóis. Porque afinal, ele falaria com ela até quinta, não? Até sexta, no máximo - nem mesmo havia motivo para ele estar irritado com a jovem.

Assim, com a ausência de qualquer resposta do sonserino até aquele sábado, ela queria mais era que todos aqueles bruxos ao seu redor fossem para o inferno enquanto gritava enfurecida atrás do garoto que queria esganar.

"Malfoy!" Porque, não bastava ele ignora-la por completo após quase tirar por completo sua roupa. "Malfoy!" A ruiva também tinha certeza que tinha dedo do bruxo paranoico em sua impossibilidade de ir para o povoado naquela manhã. 'Não conseguimos achar sua autorização, senhorita Weasley' - e o olhar que dera a professora McGonagall teria feito qualquer outra pessoa tremer. "Você vai continuar me ignorando até quando?"

Então sim, que se danem os dois lufanos que a olhavam como se ela fosse louca, que morram todos os prováveis sonserinos que a escutassem gritar o nome do comensal pelos corredores do segundo andar. Comensal que não se virou uma vez antes de entrar numa sala, Ginevra o seguindo cega de raiva, sem se importar por um minuto com a fofoca que suas ações poderiam gerar.

Soube - ou pelo menos desejou que houvesse um feitiço, pelos gritos que seguiram - que o loiro havia silenciado a sala quando o mesmo começou a responder a grifinória à altura de suas últimas falas.

"O que você tem na merda da sua cabeça, bruxa?" O tom e o volume era o mesmo que ela usara a segundos atrás. "O que você tem na cabeça pra sair gritando o meu nome no meio da merda do corredor?" o loiro berrava, parecendo tão irritado quanto a ruiva. Brigar com Draco Malfoy - aquilo já era uma constante em sua vida.

"O que você queria que eu gritasse?" Se ele queria brigar, ela poderia brigar - e não pouparia nenhuma palavra para piorar a situação. "Potter? É isso que você quer na minha boca, o nome dele?"

"Ginevra-" Sentiu-se vitoriosa ao vê-lo pinçar o nariz e fechar os olhos - uma enxaqueca era o mínimo que o bruxo merecia.

"Prefere me ver correndo atrás dele? Prefere me ver correndo atrás de quem eu já amei um dia?" Talvez aquilo tivesse sido um pouco baixo, mas só pensou após a última palavra sair de sua boca. Nenhuma palavra veio - ele realmente teria motivo para ignora-la agora. "Cuidado, dá próxima vez eu posso preferir mesmo voltar com Harry."

Brigar com Draco Malfoy - uma constante em sua vida que sempre acabava de um jeito muito diferente do de agora. A porta batida antes de qualquer outra palavra e o silêncio que a seguiu até o salão grifinório lhe deu certeza de sua vitória - e que se danem os olhares que recebia ao marchar bufando corredor afora.

—__

"Deveríamos ter ido para Hogsmeade."

As duas, naquela manhã de sábado, eram as únicas no salão comunal, os estudantes do primeiro e segundo ano aproveitando o dia ensolarado nos jardins, o restante quase inteiro aproveitando a ausência de nuvens em Hogsmeade.

"Deveríamos muito."

Teria ido, não fosse sua proibição velada - mas não precisava comentar aquilo com Hermione, que parecia saber da impossibilidade de Ginevra antes mesmo dela falar qualquer coisa.

"Deveríamos ter chamado a Luna também."

"Também." A ruiva concordou. "Quase não a vi mês passado. Ela anda bem apegada a Harry, não?"

"Isso costumava te incomodar." Ginevra se limitou a sorrir, apesar da irritação que ainda nutria pela fuinha. "E agora, isso te faz sorrir."

"Bem, não fomos e agora aqui estamos, sofrendo por bruxos, estiradas no sofá." desconversou, sentindo a mesma raiva de mais cedo, e sabendo que a bruxa ao seu lado sentia uma raiva semelhante, Ronald ainda aparentando estar chateado com a grifinória mais velha - quando seu irmão cresceria?

"Comendo chocolate." a amiga completou, oferecendo mais um pedaço do doce, alegremente aceito. "Me sinto quase normal."

"Eu também." acabaram numa risada, a ruiva lambendo os dedos. "Obrigada pela companhia, Mi. Eu te devo uma."

"Eu te devo muito mais que uma." Hermione a cortou, e mais um pedaço de chocolate acabou em sua boca. "Apesar de eu ainda querer muito colocar algum juízo na sua cabeça."

"Eu tenho juízo." mentiu - não, ela não deveria ter juízo algum.

"Não parece." Para falar a verdade, depois das primeiras horas da manhã, teve certeza da ausência de seu bom senso. "Ver vocês dois se beijando é perturbador." a confissão veio acompanhada de uma careta. "Meu Merlin, Harry viu coisa pior do que eu, não viu? Por isso ele estava tão-"

"Nós nos limitamos a beijos." Ginevra sentiu o rosto ficar vermelho, uma mistura de vergonha em tocar naquele assunto com irritação pelo garoto que sobreviveu ter acabado com aquele momento. "Ainda." emendou, suspirando. "Hoje faz um mês. Um mês que falei com ele, de verdade, pela primeira vez." Quando voltou os olhos para a amiga, encontrou surpresa nos dela. Achava aquilo muito tempo? Pouco tempo? Achava tudo muito estranho? "Estava na biblioteca e ele foi me provocar e algo deu muito, muito errado, e de repente nós estávamos discutindo e eu quase caí em cima dele. A primeira coisa que pensei quando ele me segurou foi que o sonserino tinha o melhor cheiro do mundo todo - e meu Merlin, eu ainda o odiava muito. O quão estúpido é lembrar disso?"

"Nós sempre lembramos dessas coisas." Hermione comentou, acabando com o último quadrado do pacote.

"Ele entrou pra Ordem, Mi." Ginevra mordiscou os lábios em seguida. "Droga, eu nem sei se eu poderia estar te falando isso."

"Harry meio que ficou sabendo." A informação lhe rendeu um olhar surpreso. "Por que você acha que Ronald não sabe de nada? Eu nem sei como deixaram o sonserino entrar." foi a confissão que seguiu. "Ou melhor, sei sim: um Malfoy na Ordem quer dizer mais um agente duplo. Isso é realmente valioso, e imagino que as pessoas certas saibam o que o motiva - e quero acreditar que Snape o testou para isso."

"Acha que ele tomou veritaserum?"

"Tenho certeza." Mais um suspiro. "Acha que Rony vai voltar a falar comigo algum dia?"

"Tenho certeza."

—__

O dia estava bom demais para ficar trancada na biblioteca estudando, decidira isso após o almoço ao receber o convite de Hermione para colocar todas as suas matérias em ordem - não, o verde daquele castelo a chamava! Já era novembro, mais alguns dias e todo aquele sol partiria por um tempo, e todas aquelas folhas cairiam, e toda aquela grama seria coberta por neve. E Ginevra precisava, por tudo que era mais sagrado, lembrar onde havia visto folhas de mandrágora, e em que lugar conseguiria achar uma aquerontia para pegar sua bendita e gosmenta - e fétida - secreção. Se achasse também algum lugar onde pudesse colher orvalho que não recebeu a luz do sol por sete dias - muito mais fácil no inverno - estaria no lucro.

E era aquilo que faria: pensaria em Animagia, e que se dane sua maldita fuinha saltitante. Não, a ruiva não ficaria mais irritada - afinal a fuinha iria falar com ela cedo ou tarde, novamente - e usaria sua tarde para algo que a beneficiaria muito no futuro. Isso incluía dirigir-se para a floresta proibida, pelo menos para seu começo? Sim, incluía. Mas não era como se ela fosse realmente entrar na floresta - e era isso que falava para si enquanto dava os primeiros passos floresta adentro.

O que poderia dar errado ali? Quem sabe algum inseto nojento passaria por ela, ou algo a faria voltar para a trilha do castelo. Mas não era como se alguma aranha gigante, ou algo que pudesse realmente feri-la estivesse ali naquele começo - por mais que mesmo naquele começo, o sol já quase se extinguira e a atmosfera era muito mais pesada pela quantidade de plantas e árvores que a faziam invisível para qualquer passante.

Não precisava ter medo - e Colin, que acabara aceitando o convite de Hermione para os estudos, havia dito que realmente não precisava temer naquele sábado, ao menos quanto a um bruxo em particular. Assim, suas fobias realmente se limitavam a insetos nojentos e prováveis aranhas sem noção que talvez se aproximassem mais do que o necessário da beira da floresta.

Então, por não estar esperando qualquer outra coisa, quando uma mão tapou sua boca e sentiu seu corpo ser pressionado contra o tronco de uma das árvores, e então contra um corpo muito maior - nem um pouco familiar -, a bruxa sentiu seu coração disparar de um jeito desesperador. Não, era impossível - aquilo era uma brincadeira doentia de um bruxo tão doente quanto.

"Enfim, sós." A grifinória reconheceu a voz e quis gritar, mas a mão enorme não a deixava emitir som algum - salvo um grito abafado - e os braços a seguravam com uma força muito maior do que a bruxa tinha para tentar se soltar. Sua luta patética acabou lhe rendendo arranhões - em um dos braços e na bochecha pressionada contra o pedaço de madeira áspero - era uma brincadeira, só podia ser, e a soltariam a qualquer momento e Ginevra mataria a pessoa responsável por aquilo. "Eu estou me perguntando o quanto você vai gritar quando eu tirar a minha mão da sua boca." Sentiu suas mãos ficarem geladas no final daquela frase - não, não era uma brincadeira, não era brincadeira alguma e quis morrer quando aqueles lábios tocaram seu pescoço. Ela deveria gritar, deveria morder aquela mão e gritar o mais alto que conseguisse! "Mas não queremos arriscar sermos pegos, queremos?" Os braços só a apertaram mais forte, a ponto de machucar. "Então vamos nos certificar que você vai ficar bem quietinha. Você vai ficar bem quietinha, Ginevra?"

Por um momento ficou paralisada quando a mão livrou-se de sua boca - grite Ginevra, grite, grite! Ofegou quando o sonserino a virou, e bastou um olhar para confirmar o que já era certo na sua cabeça: Marcos Flint, e Draco não estava ali, ele estava tão longe, poderia gritar o quanto quisesse que o pedido de socorro nunca chegaria até ele- chegaria, chegaria sim! Draco, tinha que pensar nele e falar a palavra que ativava aquele feitiço, precisava falar, mas era tão difícil focar, quanto mais abrir a boca - procure, procure, mas as lágrimas deixavam tudo tão mais difícil, assim como os lábios que colaram nos dela de uma maneira nada gentil enquanto tudo que a ruiva queria era que aquelas mãos parassem de aperta-la, parassem de puxar seu cabelo.

Não conseguia respirar, não conseguia respirar e precisava tirar aquela boca da dela - aquele gosto era repugnante, aquele cheiro lhe dava ânsia, aquele toque a fazia querer esfregar seu corpo até tudo sair, todo e qualquer resquício da pessoa nojenta que estava na sua frente. Num reflexo fez a única coisa que lhe era possível, e então veio um grito que não era dela, assim como o gosto de sangue - que ainda não era dela.

"Você me mordeu, sua vadiazinha!"

E no próximo segundo o sangue era dela, e a ruiva foi parar no chão, os lábios pulsando tanto pelo beijo imposto quanto pelo soco que sua tentativa de defender-se rendera. Sua cabeça doía tanto, e tudo parecia estar girando - tinha batido em alguma pedra na queda? Sabia que precisava lutar, gritar, sair dali, mas ao mesmo tempo tudo que queria era ver o par de olhos cinzas na sua frente, Draco a salvando novamente, brigando com ela, gritando por ser tão estúpida - merecia tudo aquilo. Faria o que ele quisesse, nunca mais andaria sozinha, nunca mais o contrariaria, se esforçaria mais nas ditas aulas de oclumência, deixaria de falar com Harry se fosse o desejo do sonserino, desde que ele aparecesse ali e a salvasse outra vez, como naquele dia da chuva, como na primeira noite em que a tirou do caminho daquele comensal.

"Se tentar alguma outra gracinha, eu mato você." Marcos era tão pesado, e agora doía tanto aqueles lábios nos dela, seu inferior ainda sangrava, conseguia sentir - aquilo estaria tão inchado até o fim do dia, tão inchado quando o visse novamente. Escutou um grito rouco, quebrado, e se assustou quando enfim percebeu de onde estava saindo aquilo, o barulho cessando quando novamente uma mão tapava com força sua boca.

Fungou, tentando respirar pelo nariz já quase totalmente obstruído, não conseguia tira-lo dali, o bruxo era muito mais forte e ela não conseguia pegar a sua maldita varinha, e por um momento desistiu de lutar, de se mexer - e então sentiu a mesma sensação daquela noite de terça por exatos cinco segundos, como conseguiu contar cinco segundos nem ela sabia, tinha sido mais, menos? O que importava era que sim, era a mesma puxada, era como se houvesse um ímã invisível, então sim, ele estava vindo e sim, ela precisava lutar, por mais difícil que fosse!

Mas quando voltou a se mexer, uma mão em seu pescoço começou a tirar todo o seu ar e toda a força que lhe restava - e estava tão difícil continuar acordada, era tão difícil pensar.

"Estupefaça!" E todo aquele peso caiu imóvel em cima dela, tirando todo seu ar por um segundo.

Draco, Draco tinha vindo, ele tinha vindo mesmo sem ela conseguir chamá-lo - mas não, não eram os olhos de tempestade que Ginevra encarava após empurrar para longe Flint - ou alguém tinha o tirado de cima dela?. Ela não queria ver nenhum outro olho além dos acinzentados, mas eram dois olhos da mesma cor daquela floresta no verão que a encaravam. Dois olhos verdes aterrorizados, e de repente o ar novamente se fora, e respirar era a coisa mais difícil da vida de se fazer, porque o oxigênio parecia simplesmente não vir - mas suas mãos tocando seu pescoço confirmavam que nada a apertava como antes. O que estava acontecendo, onde estava seu ar?

Estava segura, mas não conseguia por nada desacelerar seu coração. Experimentava, sem dúvida, a pior sensação do mundo - outra vez. Sentou-se, mas todo o ar que respirava parecia sufoca-la ainda mais, mais do que as mãos do bruxo estirado no chão - era o professor de DCAT que estava ali, levitando o sonserino? Seu coração pareceu acelerar ainda mais - não iria aguentar muito mais daquele sentimento, ela iria morrer, ela iria morrer e olhar para as feições do sonserino desacordado piorava tudo dez, vinte vezes. Fechou os olhos com certo esforço e inconscientemente começou a apertar suas mãos, e então as arranhava, alguma outra dor conseguiria desfoca-la daquilo, daquele desespero, por que ainda estava tão desesperada?

"Gina!" A voz que ouvia parecia vir de tão longe, mas aquele toque, a mão que sentia sacudir seus ombros parecia a queimar, deixando tudo ainda mais difícil. Doía, por que o aquele bruxo insistia em tocá-la, por que não tirava a mão de seu ombro, tire a mão!

"Não!" Tentou se afastar e acabou arranhando a palma da mão esquerda no chão - mais um machucado para a coleção do dia -, e no segundo seguinte o toque em sua pele havia voltado.

Era oficial, não conseguia mais respirar e algo em seu peito iria explodir. Quem estava na frente dela tentando falar? Não conseguia escutar mais nada, muito menos focar, será que se abrisse os olhos melhoraria alguma coisa? Ao menos não a tocavam mais, ao menos ela tinha espaço para tentar captar um mínimo de oxigênio.

Parecia o seu nome que alguém chamava. Abrir os olhos era tão difícil - talvez tivesse demorado minutos para fazê-lo, entre sua respiração desesperada e o aperto que sentia no peito. E quando finalmente abriu - Merlin, deveria ter feito aquilo antes.

"Gin." Queria sorrir, queria envolver aquele pescoço com seus braços e sorrir, mas somente conseguiu soltar mais um soluço, derramando ainda mais lágrimas. Achou os olhos que tanto queria ver - era ele, não era? Eram o os olhos de Draco, pelo que sua pobre visão conseguia distinguir. Sim, queria abraça-lo, mas tinha certeza que não conseguiria, não conseguia mover um músculo. O que ele estava falando? Para respirar? Por Merlin, ela estava tentando aquilo, o bruxo não conseguia ver? "Olha pra mim." Ele inspirava e expirava numa velocidade bem menor do que a dela - quando tempo Ginevra levou para reparar naquilo, para tentar seguir aquilo? E doía tanto diminuir sua velocidade, precisava tanto daquele ar- "Está tudo bem, Gin." Ele não a tocava, mas ele podia toca-la. "Está tudo bem." Ficaria tudo bem.

Tudo bem, estava tudo bem.

"Está tudo bem."

"Eu-" O sonserino estava ali, e ela precisava respirar. "Eu-" Ele nunca a deixaria, nunca deixaria ninguém chegar perto dela, e ela precisava muito respirar. "Achei que você-" Inspira, expira. Devagar. Como Draco fazia. Devagar. Ele poderia toca-la, por que não a tocava?

Respirou fundo mais uma vez, sua mão suja indo secar seu rosto - as lágrimas enfim haviam parado, os soluços enfim haviam diminuído. Conseguia respirar, por mais que seu ar ainda parecesse pouco, por mais que seu peito doesse e sua garganta queimasse, conseguia respirar outra vez.

"Procure." E outra vez, a sensação que a acalmava - e agora Ginevra realmente conseguia respirar, e conseguia enxerga-lo direito - aqueles eram os olhos mais preocupados e tristes que já vira em toda a sua vida. "Está sentindo?"

Sim ela estava sentindo. Estava sentindo até demais, seus olhos se perdendo nos dele - talvez fosse a primeira vez que realmente observasse aquela cor, a beleza daquele azul acinzentado. Era a cor mais bonita que já vira em toda sua vida. Ela amava aquela cor. Ela amava Draco Malfoy.

"Eu ia achar você." Amava muito. "Eu sempre vou achar você." Muito mais do que já amara - se é que algum dia aquilo fora verdadeiramente um amor romântico - o bruxo que observava tudo aquilo à distância. "Finito."

No instante que a sensação que a ligava ao sonserino foi cortada, seus braços recuperaram a força - não queria ficar longe nunca mais. Ela o amava, Ginevra Weasley amava aquela maldita fuinha saltitante e realmente esperava que ele não se importasse com o abraço que sujava sua roupa sempre tão irritantemente perfeita - mas não, o bruxo retribuía o abraço, sentia o queixo dele repousar sobre sua cabeça e ele a abraçava tão forte quanto ela o fazia.

O amava, e todo o calor que sentia no peito naquele momento confirmava o sentimento. O amava, e queria tanto - era o que mais almejava - que ele sentisse o mesmo.

—__

Aquela tarde realmente estava ótima para se passar naquele povoado: no seu quinto ano, teria aproveitado cada segundo do clima ensolarado.

"Eu deveria estar no castelo." No seu sexto ano, Malfoy apenas reclamava enquanto tomava mais um gole de seu frasco - bendito seja o Firewhisky.

"Cara, relaxa." escutava Zabini dizer talvez pela já décima vez, enquanto batia os dedos na mesa. "Colin está no castelo, a amiguinha filha de trouxas dela está no castelo, até Potter está no castelo."

"Você deveria ter ficado lá." bufou, colocando o cantil de volta em um dos bolsos da capa. "Eu deveria ter ficado lá, e não ter obedecido as ordens da maldita Ordem. Por que esse maldito não veio buscar ele mesmo o caralho desse fio de ouro?"

"Por que você não trouxe sua ruiva?"

"Porque não posso ficar metendo a única filha de Arthur Weasley, menor de idade, sem autorização, no meio de assuntos confidenciais." A resposta veio carregada de sarcasmo.

"Primeiro, nós somos menores de idade ainda." Zabini começou, terminando com seu caneco de cerveja amanteigada. "Segundo, belo trabalho em manter esse assunto confidencial."

"Tem um terceiro?"

"Se eu fosse você, e Colin fosse Ginevra, ele estaria inclusive dormindo na minha cama nessa altura do campeonato, porque eu nunca tiraria meus olhos dele. E foda-se a idade e a confidencialidade." Se deixou imaginar por um momento aqueles cabelos ruivos nos seus lençóis verde escuros e não conseguiu evitar um sorriso - com aquela visão mental, mal conseguia continuar bravo com a grifinória.

Mas algo ainda o incomodava - e não era exatamente a lembrança dos gritos daquela manhã. Ou sim, ele realmente poderia estar paranoico - poderia ser genético, afinal.

"Não estou com o melhor dos pressentimentos." Ia tomar mais um gole de Firewhisky quando Zabini resolveu confiscar seu cantil.

"São três da tarde Malfoy, por Merlin, pare de se embebedar." Mas sua cara só piorou com a privação do álcool. "Escuta, Flint veio junto para esse maldito vilarejo, ok? Ele entrou no Três Vassouras e não saiu até agora!" Sim, o sonserino estava no pub bruxo e saberiam se ele voltasse para o castelo - então o que havia de errado naquilo?

"E desde quando Flint consegue entrar no Três Vassouras?" A pergunta trouxe a memória de uma tarde do fim de seu quinto ano no mínimo conturbada. "Desde a última vez que arranjou confusão, Rosmerta colocou um feitiço-" Então, tudo fez sentido. Como não se lembrou disso antes? Como não viu na hora que o impostor entrou na merda do maldito bar? "Não é o Flint."

"Mas que inferno."

"Consiga o fio de ouro, ok?" No segundo seguinte o bruxo já estava na porta, e no outro, do lado de fora do comércio, correndo até uma ruela que sabia ser mais deserta.

Foi a primeira vez que aparatou - acabando próximo da entrada de Hogwarts - e não notou o maldito enjoo que sempre seguia. Convocou sua vassoura e graças a Merlin em menos de dez segundos a Nimbus estava na sua mão. Estava tudo bem com ela, quantas pessoas, afinal, poderiam estar com a bruxa no castelo? Quais as chances de Ginevra ter resolvido justo naquele sábado se aventurar sozinha?

Todas, puta que pariu.

"Procure." falou, já voando por cima dos jardins, e queria mais do que tudo que aquele maldito fio invisível o puxasse para dentro do castelo. O enjoo que não viera na aparatação se fez presente quando, ao invés de para dentro da estrutura de pedra, tudo indicava que a ruiva estava na entrada da Floresta Proibida - aquela maldita sorte já estava de foder.

Menos de um minuto para chegar - não voara rápido daquele jeito nem nos seus melhores dias de quadribol. Rompeu a ligação, já sabendo onde a bruxa estaria e pousou apressado no chão, largando a vassoura e dando alguns passos para dentro da floresta. A primeira coisa que viu foi Severo, e suas pernas paralisaram quando seus olhos seguiram para quem o professor certificava-se de estar bem amarrado e sem a defesa de sua varinha. Graças a Merlin Severo estava ali, pois achando sozinho naquele sábado aquele filho da mãe, Draco estaria respondendo por homicídio no Tribunal Bruxo na semana seguinte. Gastou dois segundos registrando a aparente mordida que Flint tinha no canto da boca e o pensamento se tornou mais forte: iria mata-lo estando sozinho, ele tinha certeza.

Assim como sabia quem estava fazendo os sons que pareciam afundar seu maldito coração.

"Como você chegou aqui?"

"Voando. O que aconteceu?" Precisava ouvir aquilo, precisava ter certeza daquilo. Nunca se perdoaria se aquela hora fosse tarde demais, se não houvesse chegado a tempo, se ninguém houvesse chegado a tempo de- "O que ele fez com ela?" Mas Severo apenas sacudiu a cabeça, e a próxima coisa vista pelo sonserino realmente quebrou algo dentro do seu peito, e por um momento, precisou de tanto ar quanto aquela bruxa parecia estar precisando.

Ginevra estava uma bagunça, e por mais que não tivessem chegado tarde demais para impedir o pior, ele havia sim chegado tarde demais para impedir qualquer coisa - já sentia a frente de sua testa doer, a pressão crescer em seus olhos. Mesmo de longe conseguiu ver o lábio inferior aberto, o rosto arranhado - o lado esquerdo sujo de terra -, as mãos vermelhas que pareciam não conseguir parar de se arranhar. E ela estava sem ar, por um acaso aquele maldito bruxo achava que estava ajudando de alguma forma ficando assim em cima dela?

Se aproximou mais alguns passos, tirando com força a mão - e o jovem - de perto da grifinória.

"Se afasta, caralho!" Respirou fundo - merda, não precisava iniciar uma briga agora, não precisava, a única coisa necessária era acalmar a bruxa que não parava de soluçar, e tremer, e arfar por um ar que parecia não vir.

"Se afasta você! Isso é culpa sua, seu filho da mãe!" Ele não responderia ao empurrão, não descontaria toda sua raiva e frustração daquele momento na cara do grifinório - de novo. "Ela acabou de-"

"Potter, ela está no meio de uma crise de pânico, se afasta!" O moreno pareceu perceber finalmente o que estava acontecendo - não era óbvio aquilo? "Você está acabando com o pouco de sanidade que resta nela." Não era óbvio que a única coisa que a ruiva precisava era conseguir se acalmar sem ninguém a tocando? "Gin, olha pra mim. Ginevra, abre os olhos." tentava falar na sua voz mais calma enquanto se ajoelhava ao lado da bruxa, controlando a necessidade que tinha de abraça-la naquele momento e prometer que daria um jeito em tudo, que nunca mais ninguém faria aquilo com ela - promessas tão vazias, já tão quebradas. "Gin, respira fund-" A voz falhou quando ouviu mais um soluço sofrido, rouco - como se estivesse há mais de hora naquele estado. Merda, há quanto tempo ela estava assim? "Respira fundo Gin, com calma."

Nunca vira aqueles olhos castanhos tão vermelhos - mas ao menos ela havia finalmente os aberto.

"Olha pra mim. Foca em mim, Ginevra." Se esforçou mais para manter a voz firme, apenar de estar desmoronando por dentro. Ele iria matar Flint, mesmo com Snape ali. Ele iria matar aquele filho da puta, um dia - aquela sim era uma promessa que poderia cumprir. "Olha pra mim, bruxa." Os olhos que tanto gostava de ver enfim focaram nos dele, e a respiração diminuiu um pouco a velocidade - ok, era um começo. "Respira devagar, Gin. Devagar, ok?" Quanto tempo estava se passando? Um, dois, cinco minutos até finalmente a jovem entender que precisava diminuir o ritmo, que estava segura, que ele estava ali? "Está tudo bem." Era de algum conforto ele estar ali? "Está tudo bem, Gin. Está tudo bem. Você está bem."

"Eu-" Porque a bruxa não conseguia parar de tremer, não conseguia parar de chorar, mesmo estando tudo bem, mesmo com Flint já muito longe dali. "Eu-" O que poderia fazer para conseguir passar a mínima segurança, o mínimo conforto? "Achei que você-" Caralho, ele mesmo iria ficar louco se tivesse que aguentar mais alguns minutos daquilo.

"Procure." No instante seguinte, se xingou por não ter feito aquilo antes. Mais três, quatro respirações sofridas, mais dois soluços, e a jovem enfim pareceu perceber que estava tudo bem. "Está sentindo? Eu ia achar você." Iria achar de qualquer jeito, nem que sua vida tivesse que ser gasta na tarefa. E naquele maldito momento, sabia que era verdade, que não eram apenas palavras em sua cabeça: realmente daria a vida em troca da paz daquela bruxa. "Eu sempre vou achar você." Daria sua vida de bom grado para ter seu coração aquecido por aquele sorriso ridiculamente perfeito, que tanto queria outra vez ver naqueles lábios tão machucados. "Finito."

Respirou aliviado - talvez mais aliviado do que nunca em sua curta vida - quando os braços da ruiva o envolveram num abraço apertado, o rosto machucado sujando toda sua camisa de sangue e sujeira - e ele nunca se importou menos com sua maldita roupa. Foi automático um de seus braços a envolver tão forte quanto, sua mão esquerda afagando o cabelo vermelho tão bagunçado enquanto apoiava o queixo na cabeça da bruxa - era tão errado aquele cheiro tão característico estar misturado com o de sangue.

"Precisamos leva-la até Papoula." Sim, sabia daquilo - assim como não precisava olhar para Severo para saber quem a levaria até a enfermaria. "A não ser que você queira assumir publicamente sua insanidade, Malfoy, recomendo deixar essa tarefa para nosso herói em treinamento."

Fechou os olhos por alguns segundos, afastando um pouco Ginevra ao voltar a abri-los.

"Potter vai levar você até Pomfrey," disse a contragosto, finalmente percebendo como estava arranhado o lado esquerdo daquele rosto sardento. Algo parecia crescer na sua garganta, e teve que engolir antes de continuar. "Assim que sair de lá, eu vou saber e eu vou te procurar." E sim, naquele momento deveria começar a pensar num bom plano para a ruiva nunca mais sair de seu lado - dormiria com ela se fosse necessário, Zabini estava certo, estava tão irritantemente certo. E talvez tivesse começado a pensar, e tivesse começado a falar alto todas as insanidades que passariam por sua cabeça, não fosse a voz de Ginevra finalmente se fazer presente. "O que você disse, pequena?"

Duas coisas se passaram na sua cabeça com aquelas próximas palavras: um, se sentiria estúpido a partir daquele momento toda vez que sentisse qualquer ciúme do cicatriz; dois, sabia que grifinórios no geral eram - estupidamente - corajosos, mas Ginevra Weasley conseguia superar qualquer um no quesito coragem.

Metade da coragem daquela bruxa era tudo que ele precisava para enfrentar todos os seus medos.

"Eu amo você."


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