Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 20
Caindo


Notas iniciais do capítulo

Mais um antes do fds ;)



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 Quinta, 19 de outubro.

Draco tentava ignorar a dor nas costelas da mesma forma que tentava não beber de seu cantil já às sete e meia da manhã. Começava a entender porque seu pai gostava tanto de firewhisky, e não sabia se o entendimento era confortante ou preocupante.

Então a ruiva tinha descoberto tudo e ido embora, grande merda. Era até melhor, mais fácil. Era uma preocupação a menos, uma coisa resolvida - a grifinória nunca mais chegaria perto dele, seria muito mais fácil fazer com que Flint desistisse da ideia doentia de pega-la. Foda-se ela. Foda-se Ginevra.

Estava terminando seu café quando uma capa preta foi praticamente jogada em cima de seu prato vazio. Zabini sentou-se ao seu lado logo após, parecendo incomodado.

"O que é isso?"

"Colin me entregou agora de manhã." Sua capa. Tinha esquecido que havia deixado a vestimenta com a ruiva. "Cara, fala com ela." E claro, claro que ela iria devolver aquilo.

Foda-se Ginevra, faria aquilo ecoar como um mantra. Não era como se ele a amasse. Nem mesmo estava apaixonado. Ele só queria uma diversão, e ela era uma ótima diversão, e era ótimo passar seu tempo ao lado daqueles cabelos vermelhos. Zabini estava errado, Parkinson estava errada. Ele mesmo estava errado.

"Como você deve ter percebido, não é tão simples. Eu estou marcado, Zabini." Ele estava tão errado. "E todos que sabem disso e não estão, ou fogem como a grifinória, ou me olham do mesmo jeito que você olha agora." Tudo estava tão errado.

"Fale com ela." insistiu Blaise, continuando antes que o bruxo pudesse responder. "52-C. Vá até a 52-C agora."

"Zabini, se você estiver de brincadeira-"

"Vai logo, Malfoy."

Não ficou nem mais um segundo sentado.

Corria em direção a sala e não sabia nem mesmo o que iria falar. O que iria falar? Por que diabos estava indo? Por que não faze-la esquecer de tudo e fingir que a bruxa nunca existira em sua vida? Estava sendo tão idiota em adiar aquilo, ela tinha que ir embora, ela tinha que sair! Nunca que iria olhar outra vez para um comensal. Falaria para todos. Ela precisava tanto esquecer tudo aquilo. E ele precisava tanto esquece-la.

Sentimentos eram irritantes, e eram coisas que Draco deveria nunca ter começado a cultivar. Sentimentos pela Weasley o faziam abrir a porta da sala e sorrir involuntariamente ao ver os cabelos vermelhos. Faziam seu coração acelerar e por um milésimo de segundo esquecer do que ocorrera dias atrás.

"Ginevra?" Os olhos da bruxa revelaram que esta não fazia a menor ideia de que era Draco quem apareceria.

"O Colin só pode estar de brincadeira." Ele viu o olhar confuso, então a irritação, e então a grifinória percebendo que o bruxo estava bloqueando sua única saída. "O que você está fazendo aqui?"

"Eu vim conversar." Houve um minuto de silêncio, e por um momento o sonserino acreditou que conseguiria resolver a situação. Era só ele contar tudo. Era só ele detalhar aquela história. Ela iria entender, por que não entenderia? "Eu quero explicar-"

"Explicar o que?" As palavras vieram ao mesmo tempo em que ele deu um passo para frente, a ruiva encostando na parede ao dar dois para trás. "Explicar que merda é essa no seu braço?" Mesmo vendo olhar assustado, não conseguiu parar de andar em direção a jovem. "Explicar o porquê de você estar nesse grupo tão seleto?" Maldição, a bruxa deveria saber que ele nunca a machucaria! "Sério, o que você quer explicar, Malfoy?" Ela deveria saber, e não olha-lo como se ele fosse perigoso.

Como já vira tantas vezes as pessoas olhando para seu pai.

"Ginevra-"

"Não me toca!" A ruiva empurrou com força a mão que tentou pegar em seu braço, indo em direção a porta agora livre.

"Gin, eu não vou te machuc-"

"Eu fico me perguntando porque você não deixou o seu amiguinho comensal me pegar. Você queria me pegar primeiro? É isso?" Que diabos ela estava falando?

"Mas que inferno-"

"Conseguiu! Parabéns, você me enganou direitinho!" Se arrependeu de não ter ficado no Salão Principal quando viu uma lágrima escapar dos olhos castanhos, a ruiva a enxaguando com raiva. "O que você ainda quer aqui, hein? Terminar o serviço?"

Foi o que bastou para ter sua certeza.

No segundo seguinte, Ginevra corria porta afora. E Draco novamente não corria atrás.

...

Era difícil se concentrar com todos os fatos dos últimos dias em sua cabeça. Era difícil ter alguma concentração com as memórias do sonserino.

Lembrava dos doces, da carta, da aula. Lembrava da detenção, do cheiro, do beijo na chuva. Lembrava do quanto estava se acostumando com aquele sorriso torto e o quando começava a gostar daquela voz arrastada. Lembrava da noite nas masmorras. Da tarde na estufa. De todos os pensamentos durante as aulas. Da cor de cabelo, única em Hogwarts. Lembrava dos lábios quentes e das mãos frias.

Lembrava da pele branca.

E então, lembrava da marca.

Era difícil se concentrar e manter-se em cima da vassoura com todos aqueles pensamentos em sua cabeça. Mas a ruiva até que estava fazendo um bom trabalho naquele seu primeiro treino do quinto ano.

"Boa, Gina!" Ouviu Harry gritando quando pontuou mais uma vez com a goles.

A marca. Ele ser um comensal. Ele estar do lado que ela desprezava.

Desequilibrou quando sentiu algo raspando em sua orelha esquerda.

"Batedores, mais atenção com o balaço!"

Sim, era difícil se concentrar hoje. Ainda mais depois de sua manhã, depois de encontrar o loiro no lugar de Hermione - que era quem Colin havia dito que apareceria -, loiro que ela queria abraçar e ao mesmo tempo fugir. Era horrível o sentimento bom que havia antes ainda existir, mas acompanhado de repulsa. Como acreditar em tudo que o sonserino havia dito? Como esquecer todos os beijos, o jeito que ele a fazia sentir?

Quase esbarrou em um dos batedores.

Subiu mais, tentando focar somente no vento gelado batendo em seu rosto. Seria difícil, mas iria esquecer. Seria mais fácil do que esquecer Harry, com certeza. Por Merlin, Malfoy era um comensal! Ele havia brincado com ela, tudo que fizera, com certeza fizera por ser parte de algum maldito plano. Era só uma diversão, ele só queria o que todas as garotas espalhavam pelo castelo ser verdade. E quase conseguira naquela terça, não fosse Ginevra ter visto a mancha negra na pele branca. Um comensal! Um maldito comensal! Ela poderia cair de sua maldita vassoura naquele instante, ele não faria nada além de assistir, tinha certeza.

"Gina, CUIDADO!" Ouviu o grito do apanhador um segundo antes de sentir algo entrar em contato com seu rosto.

Tudo estava sendo processado muito rápido, mas não o suficiente para retomar o equilíbrio e manter-se firme na vassoura. Seu queixo doía pelo balaço que o atingiu. Sentia o gosto de sangue na boca, mas seus dentes pareciam inteiros. Sentiu-se escorregar da vassoura, culpa de sua grande concentração. E caiu por exatamente um segundo, antes de sentir um braço a segurando, ela novamente em cima de uma vassoura - claramente não a dela. Foi automático agarrar a pessoa que a segurava como se sua vida dependesse disso - e não soltou o bruxo mesmo quando o cheiro de grama que tinha aprendido a amar se fez presente.

Que tinha aprendido a amar.

"Draco!" Ele não a deixaria cair. Ele não ficaria parado enquanto a ruiva ia ao encontro do chão do campo de quadribol!

"Agora é Draco novamente?" Observou os olhos cinzas que pareciam se esforçar para não olha-la, e não conseguiu evitar a lembrança de sábado passado - eles estavam tão irritados quanto naquele dia. "Agora você não se importa que eu te toque?" Sentiu o braço aperta-la mais forte contra o peito do bruxo, e se deixou por um momento fechar os olhos e esquecer da tarde passada. Por que ele era tão confuso? "Você vai grudar no seu amado Potter assim que eu te levar para o chão, está me ouvindo?"

"Eu não quero-"

"Grude no seu garoto de ouro e pare de me causar problemas, Weasley." Foi a última coisa que ouviu antes de sentir a vassoura pousando, Draco a tirando de seus braços sem a menor delicadeza, antes de recolher a firebolt e ir em direção ao capitão do time grifinório.

Ficou parada, observando Harry ignorar o apanhador sonserino, passando reto por este e chegando ao seu lado em segundos.

"Gina, tá tudo bem?" Seus olhos ainda não haviam deixado seu salvador. Eles pareciam estar grudados no loiro, e por um momento ela achou que a irritação que este voltava a mostrar era fruto da conversa que tiveram mais cedo. "Está doendo? Precisamos colocar um gelo nisso, Gin." Foi um segundo depois que Ginevra notou todo o time sonserino em campo.

"O que você está olhando?" Não combinava mais ele dirigir-se a ela com aquele tom de voz arrogante, muito menos olha-la como se ela não fosse nada além de um incômodo. "Saiam da merda do campo!" Era estranho o quão errado aquilo parecia.

"Nós temos uma-" a grifinória começou a falar antes de perceber, e aqueles olhos cinzas pareceram ainda mais irritados. Mas ela nunca terminou a frase, sendo interrompida pelo provável motivo da irritação do bruxo que antes a olhava.

"Nossa reserva é a partir das cinco, Ginevra."

Vamos ruivinha, eu só quero brincar um pouquinho! Sentiu por um momento as pernas trêmulas, e agradeceu mentalmente por Harry estar ali tão perto.

Marcus Flint passou ao seu lado, olhando-a novamente como se a grifinória fosse comestível. Foi inevitável e inconsciente: os olhos castanhos procuraram outra vez seu já duas vezes salvador. Malfoy nunca chegou a ver a expressão assustada da ruiva - quando Ronald chegou ao lado dela, ele já subia para o alto com sua firebolt.

"Gina, você está bem?" A bruxa estava julgando-o por uma marca.

"Vamos sair logo daqui." E ainda assim, o sonserino a protegia mais do que qualquer um naquele campo.

...

"Fala alguma coisa, Malfoy."

Não conseguia focar direito. Abria os olhos, mas sua visão estava turva, quase preta. Enxergava quase nada, e quando ficava de olhos abertos tudo girava. Como ele tinha ido parar ali naquele corredor? Era um corredor?

"Malfoy!"

Ah, Ginevra. Ginevra, Potter, Flint, todos seus pensamentos e uma garrafa novinha de firewhisky. Definitivamente entendia agora porque Lúcio idolatrava aquela bebida - nem mesmo lembrava porque estava ali, nem mesmo lembrava onde estava. Não conseguia pensar claramente em nada. Aquela sobrevida seria ótima, não fosse pela mão que o chacoalhava.

"Draco, fala alguma coisa!"

Sentia seu braço esquerdo latejar, e sentia algo escorrendo pelo mesmo. Parecia que aquilo doeria no dia seguinte - mas então, era só tomar mais da garrafa. Sentia um cheiro de ferro misturado com o de álcool, mas não fazia ideia do porquê.

"Cara, ele talhou o braço." Aquela voz era conhecida. "Tem muito sangue." Sangue? Sua mão direita foi direto para cima de onde sentia queimar. Seus dedos ficaram molhados, e segundos depois sentiu algo agarrar sua mão e a manter afastada. "Para de piorar isso, Malfoy."

"Dá licença, Blai." Era outra voz conhecida, aquele não era o grifinório, namoradinho de seu amigo sonserino? Sentiu abrirem sua mão direita e algo ser tirado dela. "Segura isso pra mim." Que diabos estava acontecendo? Ele estava sendo forçado a pensar, e já não era mais agradável o estupor que sentia graças a toda aquela bebida.

Abriu os olhos novamente e focou por alguns segundos naqueles rostos. Mas é claro que Zabini viria ao seu encontro, socorre-lo dele mesmo. Como havia o achado nem imaginava - em que lugar mesmo começara a beber? Algo quente no seu antebraço o fez voltar a focar naquilo, e sibilou ao sentir a dor antes fraca se transformar em fortes pontadas. Mas que inferno, por que não podiam te-lo deixado sozinho ali?

"Não é o melhor dos meus trabalhos, mas ele vai viver." As pontadas passaram tão repentinamente quanto começaram, e agora ficava apenas uma ardência incômoda. "É melhor leva-lo até a Madame Pom-" O que ele havia feito, afinal?

"E mostrar o antebraço, Cols?" Ok, Draco lembrava de sentir o antebraço arder como o inferno no começo daquela noite. "A marca continua ali." E então havia uma garrafa de firewhisky." Não dá pra ir até a enfermaria." E havia, depois de alguns goles, um canivete. "Você acha que ele perdeu muito sangue?"

"Talvez esteja mais bêbado do que a primeira opção." Merlin, ele realmente fizera um buraco no seu antebraço. "Malfoy, o quanto disso você bebeu?"

"Tudo que falta." respondeu, não sabendo como achara voz para tal.

"Isso tava cheio?" A voz de Zabini era tão incrédula que na hora, era engraçada.

Estava cheio, mas não cheio o suficiente para faze-lo apagar, infelizmente. E agora ele estava acordado, muito acordado, muito diferente do que estava há minutos atrás. Sentiu alguém o puxar para cima, um braço cutucando dolorosamente sua costela machucada - precisava logo dar um jeito naquilo.

"No três, ok?" Queria que Zabini calasse a boca. Merlin, ele estava se sentindo péssimo - não queria imaginar como estaria no dia seguinte. "Um," Não queria imaginar nas semanas seguintes. Simplesmente não queria mais imaginar aquele ano. "Dois," Naquele momento, não queria mais precisar pensar. Naquele momento, sabia que para se livrar fisicamente daquilo, talvez nem se arrancasse seu braço inteiro.

E então, aquela voz.

"Draco?" Era detestável admitir, mais uma vez. "Meu Merlin, o que houve?" Mas havia aprendido a adorar aquela voz.


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Notas finais do capítulo

E aí gente, curtiram? Vou adorar ver a opinião de vcs, me contem o que estão achando ;)
beijão!



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