Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 2
Introduzindo Ginevra




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Domingo, 1.º de outubro.

A ruiva se olhava no espelho, examinando minuciosamente o cabelo - na sua opinião, escorrido demais. O pijama vermelho, que mostrava um pequeno furo na manga da camiseta, combinava quase perfeitamente com a cor dos fios que a jovem segurava de uma maneira descontente. Prendeu-os num rabo de cavalo, sua última tentativa de deixa-los mais interessantes, mas fez um bico que demonstrava total insatisfação com o resultado. Gina não estava nem um pouco bem naquela manhã.

E nesses dias, quando eu estou realmente bem?

Ainda era cedo, mas as jovens que dividiam o quarto com ela pareciam ter levantado há já algum tempo. Estranho para um domingo, dia em que todas as três tinham o costume de dormir até o almoço, após uma noite longa de conversas. Mas ontem não tinha sido uma noite de conversas, pelo menos não para ela - até mesmo Colin havia saído para um encontro, enquanto Ginevra encontrou as cobertas antes das dez horas. Assim, mal eram nove da manhã, no fazia ideia.

Arrumou o lençol de sua cama e jogou o edredom por cima dele de qualquer jeito, então abriu a janela, e uma coruja de pequeno porte, toda marrom, não tardou em voar pela abertura.

"Pichi!"

Era normal aquilo acontecer, praticamente todos os dias. Quando a garota aparecia na frente da janela aberta, a coruja que dividia com o irmão entrava feliz por esta, fazendo barulho suficiente para acordar a todos presentes no dormitório - um despertador natural. Com a bichinha pousada em seu ombro, a ruiva acariciou a cabeça da ave por um tempo, mas a pequenina logo se cansou de ficar parada e saiu voando janela afora. Ginevra debruçou-se no parapeito da janela, o vento brincando com o cabelo outra vez solto. Observando os enormes jardins do castelo, viu o outono se fazendo presente nas árvores. As folhas amareladas pareciam ter se espalhado por todo o chão, transformando-o num grande tapete dourado, que já era apreciado por alguns casais andando de mãos dadas. Naquele dia o sol não iria sair, a jovem conseguia afirmar, as nuvens carregadas o cobriam e provavelmente trariam uma tempestade no fim da tarde.

Bem que podia chover e afogar todos esses casais irritantemente felizes. Pensou, fechando a janela sem muita delicadeza e colocando uma roupa apresentável apenas o suficiente para descer e comer alguma coisa.

Já fazia algum tempo que Ginevra não estava com muito ânimo para casais. Não lembrava quando havia começado a sentir-se assim, talvez na época que recebera a notícia de Hermione fora quando começara? A amiga e o jogador russo estavam sérios, e Gina fora a primeira pessoa de toda Hogwarts a saber disso - ou ao menos era o que a amiga dizia. Uma surpresa para a garota, que nem mesmo fazia parte daquele trio inquieto.

Não me espanta ela não ter contado a Harry e Rony, meu irmão com certeza armaria uma cena de ciúmes enorme. Aquele bobo deveria parar de ser orgulhoso e falar logo para ela como se sente, é tão óbvio.

Não que ela tivesse inveja de Hermione e Krum, ou de Raven e Denis, ou de Colin e quem quer que fosse seu encontro na noite passada. Mas quando havia sido a última vez que alguém tinha mesmo se interessado por ela? Ok, tinha saído com Dino por um tempo ano passado, outra vez tentando esquecer aquela paixonite estúpida, e por um breve tempo funcionou tão bem que nem ela conseguia acreditar. Mas então tudo se tornou tão chato, e cinza, e outra vez não conseguia querer ter alguém ao seu lado que não fosse o menino da cicatriz. Não era justo com Dino continuar, e Ginevra, diferente de sua vida, não sabia ser injusta.

Injusto é ele nunca perceber que existo, maldição. É eu, não conseguindo esquece-lo, arranca-lo de vez dos meus pensamentos. É injusto que Chang seja tão bonita, tão perfeitamente irritante mesmo com aquele cabelo liso e sem graça. É injusto meu cabelo ser essa droga lisa que eu tanto odeio, junto com essas pintas de fogo nessa pele branca quase pálida.

Pegou uma mecha dos cabelos na mão. Eles tinham escurecido mais ainda no verão passado, ficando com a cor igual aos de sua mãe. Amarrava-os outra vez de uma maneira descuidada num rabo de cavalo quando escutou uma batida na porta.

"Gina?" Ela reconheceu a voz de imediato.

"Pode entrar, Mione." Gina falou alto e sentou-se na cama com um suspiro, ignorando os ruídos de seu estômago.

Observou sem muito ânimo a jovem eufórica entrar no quarto. Hermione ainda vestia seu pijama, e seu cabelo estava completamente bagunçado, lembrando Ginevra de um ninho de coruja. Parecia não se importar com o estado, vestia um enorme sorriso no rosto e seus olhos brilhavam. Parou frente à cama, mostrando a bruxa mais nova um pedaço de pergaminho - e seria mais uma longa conversa sobre garotos, tão, mas tão atípico.

"Mais uma carta de Krum?" Pelo estado do pergaminho, com certeza era uma carta do russo: a letra apressada, o papel sujo de terra e molhado em algumas partes pela neve derretida. Ele adorava a garota, e mesmo estando quase sempre ocupado, pelo menos uma vez por semana arranjava um tempo para mandar notícias.

Tinha semana que a ruiva nem mesmo via de relance aquele maldito bruxo que assombrava sua mente.

"Acabou de chegar! E eu queria muito conversar, e você está me apoiando até agora, eu queria que você visse, que soubesse," A bruxa falava quase nervosa, gesticulando com o pergaminho nas mãos. "Eu fiquei tão contente quando a carta chegou, e desci correndo para o salão comunal," Ela soltou um suspiro frustrado. "E então eu vim aqui. Eu não posso falar dessas coisas com os meninos, e mesmo se pudesse," A ruiva viu uma expressão quase triste no rosto da outra grifinória. "Eu não acho que seja o melhor dos momentos para tocar em alguns assuntos. E eu estou tão, tão agradecida por você estar torcendo por mim e por não contar nada para o Ronald, Gina."

"Sem problemas, Mione. Não precisa ficar agradecendo, você faria o mesmo por mim, certo?" A bruxa morena fez que sim com a cabeça. "Para isso que servem os amigos, não é mesmo? Agora me conte tudo, para vir correndo pra cá na primeira hora da manhã, o mínimo que eu espero é-" A jovem parou de falar quando viu o anel que Hermione usava em sua mão direita. Então por isso que ela estava gesticulando tanto. "Hermione?"

A morena abaixou a mão, parecendo agradecida pela outra grifinória ter percebido o detalhe antes dela precisar falar.

"O que você acha?" Do anel, que era muito mais lindo do que ela esperava que Krum desse algum dia para sua amiga? Ou da situação, que parecia estranhamente apressada? O anel prateado que sustentava a pequena pedra vermelha ainda permanecia quieto quando a ruiva decidiu sua fala.

"Isso é mesmo o que estou pensando?" Gina falou, colocando um sorriso no rosto como a amiga e a abraçando. Quem era ela para cortar a felicidade de alguém, nos tempos de agora? "Quando ele vem pra cá? Está livre esse sábado, para Hogsmeade?"

"Está, está sim. Já combinamos tudo!"

"Eu fico de olho em Rony, ok?" Gina respondeu antes mesmo de Hermione pedir. "O convívio com essa peste me faz ter certeza que ele vai armar um escândalo se ver vocês dois juntos. Não se preocupe, eu não deixo ele estragar o momento." falou, sorrindo.

"Obrigada Gina! Eu nem sei como agradecer tudo que você está fazendo."

"Continue com esse sorriso no rosto. E claro, continue me ensinando as matérias que eu não sei! Assim você já faz o bastante." as duas jovens trocaram mais outro sorriso.

"Mas me fale você, está pensando em ir com alguém?"

"Talvez se alguém me convidar - além de Dino, que andava querendo voltar." confessou, levantando-se da cama ao ouvir o estômago roncar pela terceira vez. Não conseguindo mais adiar a fome, se viu obrigada a perguntar. "Me acompanha no café?"

"Vou colocar outra roupa e te encontro no salão comunal em cinco minutos." Hermione respondeu, apressando-se para fora enquanto colocava o anel preso em seu colar.

Gina voltou a olhar para fora da janela. Observava uma leve chuva começar no campo de Hogwarts, um casal conhecido correndo para dentro do castelo, e outra vez ficou sem a menor pressa para descer.

Sim, a chuva poderia afogar ambos bruxos.

...

Naquele domingo, Draco Malfoy havia acordado mais cedo do que o habitual para uma pós noite de festa: eram nove horas quando o rapaz abriu os olhos. Espreguiçou-se e depois preguiçosamente levantou, seu corpo despido arrepiando-se ao entrar em contato com o ar matinal.

A garota que dormia em sua cama nem mesmo se mexeu. Jogou o lençol verde em cima da sonserina antes de abrir seu baú, notando a cama de Zabini já vazia - o loiro havia sequer voltado para a Sonserina naquela noite? Tinha esfriado consideravelmente - ou era a ressaca agindo no seu corpo -, e o bruxo acabou vestindo um roupão antes de andar até o banheiro.

Por que continuo com essa surda? Pensava, enquanto lavava o rosto com a água gelada demais que saía pela torneira. Pansy sabe o quanto odeio dormir com ela ao meu lado, mas adianta falar?

Tomou um banho, a água quente como de costume o acordando por completo. Vestiu-se com uma roupa qualquer, colocando a capa sonserina sobre o corpo. Olhou-se uma última vez no espelho, colocando o cabelo ainda meio molhado para trás, frustrando-se quando algumas mechas loiras voltaram a cair na frente dos olhos. Sua mãe implicara o verão inteiro, não passou um dia sem tentar cortar seu cabelo, mas o garoto negou todas as vezes. Ele não tinha o menor tempo para aquilo, mal tinha tempo para aprender tudo que precisava para aquele ano nas poucas semanas de férias.

Mas definitivamente devia ter aceito o corte.

Andou com passos rápidos pelos corredores úmidos da masmorra. Estava com fome, graças à janta perdida por causa da farra pós jogo, e não demorou a chegar até o Salão Principal, logo vendo não ser o único sonserino de pé tão cedo naquele dia. Olhou para a mesa grifinória e lembrou-se dos fatos da noite anterior no mesmo instante.

Não vai machucar ter essa pequena distração durante o ano. Pensava enquanto ia em direção ao colega. Até pode vir a calhar se der certo.

Marcos Flint parecia bem acordado, coisa estranha para um domingo, e assim que o loiro se sentou frente ao bruxo os dois voltaram a conversar sobre a ideia da noite passada.

"Liana McDonald? Mas ela é tão-"

"Séria?"

"Intragável. Sem graça. Feia pra cacete." o moreno continuou com as reclamações por mais alguns minutos.

Os rapazes comiam sem pressa, observando a mesa Grifinória com interesse. Parecia que, como a mesa deles, a dos grifinórios também estava quase deserta: além de Liana McDonald, apenas duas garotas, uma japonesa e uma loira, sentavam-se na extremidade próxima a porta.

"Se eu aceitei a aposta de flertar com uma Weasley, você vai flertar com a bruxa que eu quiser."

"Pelo menos você vai tirar algum proveito disso! O que eu vou fazer com aquilo?"

"Flint, ela é inteligente. E você, mais do que qualquer um, precisa de toda a ajuda bruxa que puder conseguir para estudar. Quer reprovar outra vez?" Comiam as torradas e bebiam o suco de abóbora, não tirando os olhos da enorme porta de entrada. "Agora, que proveito eu vou tirar da pobretona, além de irritar o Cicatriz?"

"Já é proveito o suficiente."

Após terminar o café, o sono havia voltado de uma forma que ficar de olhos abertos era um desafio, mas precisava ao menos ver a garota Weasley - mesmo que esperar alguém fosse uma das coisas que mais odiava fazer na vida. Seus dedos batiam num ritmo impaciente sobre a mesa, apenas parando quando iam retirar as mechas que insistiam em cair nos olhos.

Estava preste a se levantar para procurar seu alvo quando uma jovem resolveu sair do refeitório, acompanhada de uma pilha de livros. Não demorou muito até esta levar um tombo, graças a pouca visão que lhe era proporcionada, caindo no chão, o barulho ecoando pela sala.

McDonald era uma desastrada nata. Desde seu primeiro ano estava conhecida na escola por sua inteligência, timidez extrema e falta de jeito. Baixinha demais para sua idade, dezessete anos e ainda um metro e cinqüenta e cinco, pelo que corria na boca de todos ela nunca teve um encontro e não ligava nem um pouco para a aparência.

Mesmo se ligasse, ela é um típico caso perdido. Olhando para ela, não dá nem para acreditar que sua família seja tão popular no mundo mágico. Ela deveria ter nascido como aborto. Eu teria pena de Flint se não o desprezasse tanto.

Draco agradecia aos céus por não ter que flertar com alguém que parecia tão insuportável. Não que a Weasley não fosse, mas Ginevra, pelo que se lembrava, não tinha espinhas surgindo por todo seu rosto e sabia combinar pelo menos o uniforme - por mais que fosse de segunda mão. Também tímida com muitos garotos, porém mais jeitosa que Liana a sardenta com certeza deveria ser. A ruiva até podia ser um pouco masculina, segundo as bocas dos bruxos, mas não chegava a ser intragável. Ela até mesmo já teve uma namoradinho, não era a pobretona que estava saindo com Dino Thomas até uns meses atrás? Talvez acabasse ganhando o jogo, afinal, como Marcos se aproximaria daquilo?

"Por que você não vai ajudar sua dama?"

"Por que você não vai pro inferno?" O loiro se conteve para não rir da cara do colega. "Vamos Malfoy, ela não é tão feia. Tente ver algo positivo nela." Houve silêncio. "Além da inteligência, claro." Mais silêncio. "Malfoy, algum ponto positivo."

"O que você quer que eu diga?"

"Por Merlin Malfoy!" Ele parecia desesperado.

"Estou tentando!"

É, a aposta estava praticamente ganha.

...

Ginevra voltava sozinha pelos corredores que levavam a sala comunal de sua casa. Não estava com a mínima vontade da companhia de suas amigas até o salão comunal da Grifinória naquela noite, querendo um tempo em paz para pensar - ou melhor, para poder não pensar. Desde que o dia começara, Hermione não havia a deixado em paz, passando praticamente o dia inteiro ao seu lado, hora estudando, hora falando de Krum, hora tentando palpitar em sua vida amorosa - e até mesmo sobre futuras carreiras a jovem estava disposta a conversar. Mas o final da tarde de domingo, escolhendo roupas e penteados: aquilo sim havia sido a morte. 

Como se ela precisasse se arrumar. Mesmo com aquele cabelão, ela está simplesmente maravilhosa esse ano! Ninguém jamais iria imaginar que ela mudaria tanto nas férias de verão. A ruiva suspirou, socando de leve uma parede. Até mesmo Harry notou essas mudanças, esses dias ele não foi nada discreto comentando com Simas o quanto Hermione estava bonita. Eu poderia mudar assim. Será que ele comentaria se eu mudasse assim?

Mudar. Era triste pensar em mudar qualquer coisa apenas para chamar a atenção de alguém. Ela realmente não era bonita, então? Seu jeito mais masculino de ser não haviam incomodado Michael, muito menos Dino. Não tinha culpa de suas manias. Crescera numa casa sem nenhum grande toque realmente feminino: sete homens e uma mulher que precisava mantê-los na linha se quisesse a casa inteira. Passou seus anos aprendendo como jogar quadribol, como bater, como xingar, em vez de ser instruída na cozinha, na beleza, nas roupas.

Não sou uma princesa como aquela chinesa. Mas poderia colocar uma vez ou outra uma saia, ao invés de sempre optar pela calça. Poderia me dar ao trabalho de deixar as unhas mais inteiras ao invés de sempre roídas. O cabelo mais penteado.

Perdida em seu mundo, só percebeu estar frente ao quadro da mulher gorda quando quase deu de cara com ele. Parou, murmurou a senha e entrou no salão com a cabeça baixa, planejando passar o resto da noite em sua cama - com certeza a melhor opção. Nem mesmo notou como aquela sala estava cheia, só vendo quantos grifinórios se acomodavam em um mesmo sofá quando Colin chamou seu nome.

"Ei Gin, senta aqui!" O moreno chamou alto, acenando mais animado que o necessário para ela. "Bem, tente sentar aqui, meio cheio hoje, né?" O rapaz estava sentado frente à lareira, suas mãos voltando para perto do fogo, querendo ser esquentadas.

"Colin, acho que vou passar-"

"Vai querer ficar sozinha lá em cima? Raven e Sati não subiram ainda." Colin colocou uma das duas almofadas nas quais sentava mais para sua esquerda no chão, forçando uma quartoanista a fazer uma cara de poucos amigos enquanto se afastava um pouco. "Vem cá, ainda tem espaço."

Ginevra viu-se obrigada a aceitar o convite, não conseguindo pensar a tempo numa desculpa suficientemente convincente para o amigo a deixar subir sem uma discussão.

"Nem vi você hoje!"

"Passei o domingo com Hermione." explicou, aceitando um dos biscoitos que o amigo oferecia. Os biscoitos que a mãe de Colin mandava sempre em larga escala todo começo de mês eram os melhores biscoitos de chocolate que já comera na vida, impossíveis de se recusar. "Conversa de garota, sabe."

"Vocês duas, sentadas na cama, vendo roupas, esmaltes, e fofocando sobre garotos e sabe mais Deus o que, o dia todo?"

"O dia todo." disse num tom sofrido e pegou mais um biscoito, colocando sua mão livre perto do fogo, próxima das do amigo. "Como foi o encontro ontem?"

"Chato." O grifinório respondeu, também pegando mais um doce. "Como foi a noite solitária ontem?"

"Ótima." Ele deu um olhar desconfiado. "Não me olhe como se não me conhecesse, Colin Creevey. Você sabe muito bem que gosto de ter um tempo para mim."

"Um tempo sozinha para chorar enquanto escreve poemas de amor para você-sabe-que-garoto?" A bruxa lançou um olhar ameaçador para o amigo, agora suas duas mãos livres esquentando próximas da lareira. "Você sabe que eu só falo a verdade, Ginevra Molly Weasley."

"Quer dizer que você realmente acha que meu cabelo é sem graça?" Pensou em falar aquilo brincando, mas sua voz saiu um pouco mais séria do que o planejado.

"Gin, não começa com essa história de novo." Colin desviou o olhar para o fogo. "Por que eu tive que abrir minha boca naquele dia? Já é a segunda vez que você toca nesse assunto!"

"Mas é verdade! Quero dizer, olha bem pra ele!" continuou, pegando uma mecha dos cabelos ruivos e a observando com desânimo. "Pareço um fogo ambulante."

"Fogo brilha no escuro."

"Como se alguém me visse no escuro, Colin Creevey." Fechou os olhos por um momento, pressionando suas têmporas. "Vamos mudar de assunto, não é o melhor dos dias para eu falar sobre qualquer coisa relacionada a genética."

"Tá naqueles dias?" o moreno brincou, levantando-se antes de Ginevra conseguir lhe estapear. "Brincadeirinha Gin. Seu cabelo é lindo, ok? Maravilhoso, estonteante!"

"E o resto?"

E o resto era tão sem sal quanto o cabelo para a ruiva.

"Não adianta ser uma Parkinson da vida e ser uma 'Parkinson da vida', certo? A bruxa é linda, tem um corpo maravilhoso, mas nem mesmo o namorado idiota dela consegue aturar a garota por mais de cinco minutos. Agora todos que realmente te conhecem adoram passar o tempo ao seu lado, você me entende?"

"Entendo, claro que entendo." desviou o olhar para as mãos. "Eu só queria ter os dois."

"Mas você pode ter os dois. Ginevra, você é uma garota muito bonita, e pare de tentar me falar o contrário!" Os dois sorriram, ainda que o sorriso da ruiva esboçava uma pontada de tristeza. "Ok, já chega. Seu dormitório, cinco minutos." Colin falou num tom mais baixo, antes de sair apressado para direção do dormitório masculino, desaparecendo escada acima.

...

Ginevra estava de pé de frente ao espelho quando Colin entrou pela porta, depois de uma leve batida. Nos seus braços havia uma caixa, que ele depressa colocou sobre a cama da jovem. De dentro dela, diversos potes começaram a ser retirados e espalhados sobre o edredom vermelho.

"Eu não sei até agora como você consegue subir aqui, Creevey." A ruiva disse, observando curiosa seu amigo trabalhar no que parecia ser uma poção.

"Talvez porque, de algum jeito, Hogwarts saiba que eu aqui dentro sou inofensivo?" Era uma possibilidade. "Agora vamos, volte para frente do espelho, tire sua capa e me fale o que você vê." A ruiva obedeceu, sua cara amarrando ao olhar para seu reflexo. "Em voz alta, por favor. Sem reclamar." emendou, ao ver a amiga abrindo a boca, descontente.

"Eu vejo um cabelo sem graça." ela disse, amassando uma mecha ruiva.

"Uhum."

"Eu vejo um corpo normal." constatou, enquanto olhava para a calça preta de malha que usava, combinada com um moletom com um grande W. "Uma pele branca demais." Disse aproximando o rosto do espelho. "Olhos sem nada de mais. Uma boca nem um pouco atraente. Milhares de malditas sardas." Um suspiro.

"É por causa dele, não é mesmo?" A jovem não deu resposta, apenas continuou a encarar seu reflexo. "Bem, quer saber? Eu vejo um cabelo sensacional, como já disse." começou Colin, indo para o lado da estudante com um pote na mão. "Mas nós sempre podemos dar um jeito para mudar uma coisinha ou outra, não é mesmo? Tome isso." Estendeu um recipiente transparente com uma pasta laranja dentro, e esperou a garota pega-lo para voltar a falar. "Amanhã pela manhã, coloque um pouco nas mãos e passe nos cabelos. E espere um minuto para ver o resultado antes de me xingar, ok?"

"Ok."

"Ok. Agora, roupas." Ele foi para frente do baú da jovem. "Sabemos que de segunda a sexta usamos o uniforme da escola, e sabemos que suas saias não foram nem mesmo ajustadas para esse ano, então considere o que eu vou fazer agora como mais uma parte do seu presente de aniversário atrasado e futuro presente de Natal." O jovem tirou as saias do baú e arremessou para a ruiva. "Você precisa vesti-las para eu tirar as medidas, Gin."

"Você sabe costurar?" Colin só revirou os olhos, antes de se virar e começar a retirar mais algumas coisas da caixa.

"Isso aqui que vou te dar," Ela via de longe uma caixinha pequena nas mãos do amigo. "Era pra ser realmente seu presente de Natal, mas podemos antecipar as coisas um pouquinho. Já isso aqui era para Raven," Gina viu que ele colocava ao lado da caixinha um esmalte vermelho. "Mas ela com certeza vai entender que vai ser seu por uma boa causa. Pronto?"

"Pronto." E o jovem foi para perto dela munido de alguns alfinetes para marcar onde deveria ser apertado e reduzido.

"Arrumamos então o corpo 'sem graça'," Ele colocava um alfinete fazendo a saia marcar mais a cintura da jovem. "O cabelo 'sem sal' também já demos um jeito," Alguns alfinetes reduziram um pouco o comprimento da saia, após o consentimento da ruiva. "Tenho algumas coisinhas para o 'rosto branquelo' e para suas unhas, que se precisar posso te dar uma aulinha de como usar." Ele colocou o último alfinete, se afastando para ver os ajustes de longe. "Agora desculpe, eu sou louco pelas suas sardas. Elas ficam, e é minha condição para continuar."

"É um preço justo a ser pago." Gina respondeu, finamente dando um sorriso verdadeiro enquanto colocava de novo sua calça.

"Então, vamos começar os trabalhos."


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que estão acompanhando =)



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