Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 19
Me deixe dormir


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vcs ;)



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Quarta, 18 de outubro.

Era engraçado como ele era um dos únicos garotos que conseguia subir sem problema algum até o dormitório feminino.

"Gina?"

Entrou no quarto já tão conhecido sem bater, encontrando apenas uma de suas ocupantes ainda enrolada no edredom vermelho. Colin deveria estar almoçando, ele deveria estar com Blaise almoçando fugido em algum canto daquele colégio, mas a ausência da ruiva em todas as aulas havia levantado uma bandeirinha vermelha em sua cabeça.

"Gin?"

Algo estava errado, definitivamente errado, para a amiga estar enrolada na cama até aquela hora de uma quarta-feira. Ele não a havia visto ontem, após sua longa conversa com o agora novamente namorado, mas não conseguia imaginar o que poderia ter acontecido para Ginevra estar na cama daquele jeito. Foi o que ele falara de Harry?

Colin deixou os muffins que trouxera num saco em cima do baú da grifinória e andou até a cama.

"Me deixa dormir, Colin." ela só respondeu quando sentiu o edredom sendo puxado pelo moreno.

"É meio dia, Gin! Você faltou em todas as aulas, e se não fosse Sati me explicando sua doença, eu teria surtado no meio de Poções." disse, sentindo-se um pouco vitorioso quando conseguiu fazer a bruxa ao menos sentar-se. Ela estava de uniforme, Colin reparou, havia se arrumado e desistido de levantar? Ravenis dissera que a ruiva nem mesmo se mexeu enquanto avisava que ficaria no quarto naquela manhã. "Você está uma bagunça." continuou, tentando ajudar a amiga a desembaraçar o cabelo, mas recebendo um pequeno empurrão e um olhar nada amigável. Mas que-

"Me deixa dormir, Colin. Sai daqui e me deixa dormir."

Era difícil eles brigarem, havia acontecido uma ou duas vezes no máximo em todos aqueles anos de amizade. A sinceridade que os dois tinham um com o outro era o grande motivo disso, com certeza, então era completamente estranho Ginevra não abrir a boca para falar o que parecia estar tanto lhe incomodando.

"Gina-"

"É difícil para você entender um não, Creevey?" a ruiva quase gritou, voltando a se deitar e cobrindo-se com o edredom, que no segundo seguinte estava no chão.

"É difícil sim! Você vai levantar, vai almoçar, e vai para Animagia - então trate de levantar!"

Não tardou mais em sair do dormitório. Saindo do salão comunal, não demorou a encontrar o loiro sonserino sentado no parapeito de uma das janelas, devorando um sanduíche. Negou um pedaço quando este ofereceu, sua fome havia desaparecido naquele quarto.

"Aconteceu alguma coisa." confessou ao sentar-se ao lado do namorado. "Gina não saiu do quarto, estava enrolada nas cobertas quando cheguei." Suspirou, encostando a cabeça no ombro do bruxo. "Estava com os olhos inchados. Acho que foi dormir com o uniforme de ontem. Fico me perguntando o que conseguiu acontecer agora."

"Eu não vi Malfoy ainda hoje." o sonserino disse, terminando seu almoço improvisado.

"Ela está péssima, Blai." Colin suspirou, passando as mãos pelos cabelos. "Ela está uma bagunça desde que ele apareceu, e eu ainda ando me culpando por isso. Era só deixar ela do jeito que estava, apaixonada por Potter, sem chamar muita atenção fora da grifinória-"

"A aposta foi antes disso, Cols."

"Mas talvez ele não tivesse se interessado! Se ela não tivesse chamado a atenção de todos por causa do que eu fiz, talvez tudo fosse diferente!" Se esforçava para não gritar.

"E talvez meu amigo continuasse com a vida sem pedir ajuda." Blaise falou, colocando um braço ao redor dos ombros do moreno. "E eu ficasse sem ele no final do ano letivo. Você pode muito bem ser o responsável por salvar a vida dele."

"Ela vai me odiar, Blai! Eu menti segunda à noite, e eu sei de coisas que deveria falar pra Gin e não posso falar, e ela vai me odiar! E eu não consigo viver com ela me odiando, porra! Ela é importante pra caralho!" Escondeu o rosto com as mãos ao final, tentando se acalmar.

"Ei, ei, vai ficar tudo bem." Zabini o confortou.

De relance, viu a amiga passar, o mesmo uniforme amassado.

"A gente vai resolver isso. Vai ficar tudo bem."

...

Era engraçado, Ginevra sempre imaginara que aquela marca fosse muito mais aparente - e não tão fraca, quase desbotada, como havia visto no dia anterior. A pele dele era tão branca, talvez só por isso que aquela parte maculada tivesse atraído seus olhos. Diferente da dela, coberta de sardas, Draco não tinha nenhuma pinta cobrindo seu corpo. Sim, a marca quase gritava naquela pele.

Estava difícil para a ruiva esquecer aquela caveira. Estava difícil para a ruiva prestar atenção na aula.

Os olhos dele estavam assustados - nunca vira os olhos de Malfoy daquele jeito. Como será que estavam os dela naquele minuto, iguais? Era difícil não se assustar - não se aterrorizar - com aquilo. Será que ele sabia de todas as histórias, já ouvira todos os feitos realizados por aquele grupo? Ele tinha orgulho em fazer parte daquilo? Quem poderia ter?

Pensava no que poderia ter acontecido se não tivesse visto aquilo à tempo. Pensava no quão conflitante era ela querer sentir novamente aquele toque quente, ao mesmo tempo em que queria passar o dia esfregando seu corpo com uma bucha. Era terrível como aquilo conseguia doer muito mais do que sua paixonite nunca correspondida.

Era terrível estar apaixonada pelo que você cresceu desprezando.

Será que o sonserino se sentia daquele jeito?

Você foi só uma brincadeira, pare de ser estúpida. Nem mesmo havia aberto o livro de Animagia.

Levantou-se da aula do mesmo jeito que chegou - calada. Notou um par de olhos azuis a observando, mas tentou não dar importância ao amigo do comensal - seria Blaise também um? Era por isso que Colin havia saído correndo naquela noite? Colin sabia mesmo?

Por mais que o amigo tivesse ido ao seu encontro naquela manhã, não conseguira forçar-se a perguntar alto sua dúvida. Como se verbalizar finalmente fosse tornar tudo real. Colin, Blaise tem a marca negra? Você sabia que Draco tinha a marca negra?

"Harry!" Nem sabia porque resolvera parar e chamar o moreno, que se virou para ela no mesmo instante. "Voltando do quadribol?"

Ele estava ao seu lado em menos de um minuto, e pela primeira vez Ginevra não se importou em como estava seu cabelo, em que roupa vestia, no que falar, em como se comportar, em não corar quando o grifinório dissesse algo. Pelo contrário: ela não estava dando a mínima para suas roupas amassadas e cabelo bagunçado.

"Voltando de Animagia?" Fez que sim, começando a caminhar ao lado do bruxo. O plano era tentar distrair sua cabeça, certo? "Não te vi no almoço hoje."

"Não estava me sentindo bem hoje de manhã." Aquilo com certeza conseguiria ser uma boa distração, fora todo o nervosismo que conseguiria aliviar nos treinos. "Escuta Harry, eu gostaria de voltar para o time. Vocês ainda estão procurando um artilheiro, não estão?"

"Sério? Nossa, mas isso é ótimo!" A voz do moreno já denunciava sua vitória.

"Eu participo da triagem outra vez, sem problema-"

"De jeito nenhum!" Harry a cortou, um sorriso nos lábios. "Você é ótima pro time, por favor não mude de ideia outra vez." Se forçou a olhar naqueles olhos verdes, e se forçou a copiar o sorriso do grifinório: era muito mais confortável do que se perder nos olhos cor de tempestade que passavam por ela.

"Eu não vou mudar."

...

Sentou-se num canto relativamente isolado da mesa sonserina e começou a comer. Não estava com a menor vontade de começar uma conversa, assim, não fazia esforço algum para mudar a cara carrancuda, tática que estava funcionando perfeitamente bem e afastando todos ao seu redor.

Engoliu mais uma vez o conteúdo de seu cantil, e outra vez sentiu uma dor nas costelas ao respirar mais fundo. Não conseguia esquecer a companhia de Ginevra naquela tarde. Não conseguia esquecer o modo como aqueles olhos castanhos o olharam no dia anterior.

"Não fale mais comigo."

Nunca mais. Como ele havia esquecido daquela merda? Cair da vassoura no meio do treino de hoje não havia causado metade da dor que sentira ao ver aqueles olhos na terça. Nunca ninguém o olhara daquele jeito, e aqueles olhos castanhos estampavam tudo que ele sentia desde que realizara onde tinha se metido. Nojo, desprezo, pavor. Pena? Foi irritante a dor aumentar quando lembrou mais uma vez dos dois alunos conversando naquela tarde, aqueles mesmos olhos o evitando a todo custo.

Draco não queria aquela loira sentando-se ao seu lado, mas estava cansado demais para começar qualquer briga. Continuou a mastigar sua janta, ignorando os olhos azuis inchados da ex-namorada.

"Me fala que não é verdade." Aquela maldita pergunta.

"Não é verdade." O quanto ele queria ter respondido que não era verdade no dia anterior! "Agora vá embora." Mais um gole.

Sentiu uma mão pousar bem em cima de seu antebraço, quase em cima daquela marca detestável. Parkinson não se importava com aquilo, nunca nem mesmo falara uma palavra sobre a caveira que aparecera na volta do ano letivo. E ela havia visto, tinha certeza - nunca havia se importado em esconder aquilo dos sonserinos que o cercavam. Era por isso que havia sido tão descuidado naquela tarde?

"Marcus veio falar comigo. Ele disse que está preocupado com você." A bruxa falou, examinando curiosa o cantil de prata do sonserino. "Draco, isso é firewhisky?" A pergunta veio quando ela cheirou o líquido que havia dentro.

"Pansy, fale logo e me deixe pelo menos jantar em paz." disse irritado, arrancando o cantil das mãos da jovem e voltando a mastigar um pedaço de pão. Só então que a frase anterior fez soar um alarme: Marcus falou com ela. O que ele havia falado?

"Você está saindo com a Weasley?" Mas que merda.

"Não." Outro gole.

"Foi por causa dela que você terminou comigo?" E outro.

"Você preferia que eu continuasse com você e todas as outras?"

"Trata ela assim também?" A pergunta veio numa voz triste, e era irritante como até mesmo ali, mesmo com tão pouco tempo juntos, lembranças da ruiva vinham a sua cabeça.

"Por que você continua com ela?"

"Era divertido no começo. Ela tem seus pontos positivos."

"Mas você não gosta dela."

"Você a trata bem, não é mesmo?" Havia sido mais uma afirmação do que pergunta.

"Você já abriu os braços e girou bem, mas bem rápido? Só assim eu vou conseguir te fazer sentir o que é se apaixonar."

"Eu não estou saindo com ninguém, Pansy." reafirmou, acabando com o conteúdo de seu frasco. "E mesmo se eu estivesse, não é mais problema seu."

"Eu vi vocês, Draco." Se esforçou para manter a expressão neutra com aquela confissão. "Você sorri pra ela. Você a olha como se ela fosse a coisa mais especial do mundo. Quantas vezes eu esperei você olhar assim pra mim." a loira começou, sua mão outra vez parando na marca coberta. "Você acha que a Weasley vai continuar ao seu lado depois de ver isso? Acha que ela vai ignorar isso como eu?" Ele poderia matar a sonserina no momento.

"Sai daqui." Outra vez afastou o braço daquele toque.

"Me obrigue."

Draco riu.

"Como se eu fosse me dar o trabalho."

No segundo seguinte, o bruxo rumava para as masmorras.

...

"Gina?"

Naquela noite, ela tomara um demorado banho após a janta, esfregando o corpo até doer enquanto tentava tirar todas aquelas memórias da cabeça. Não se importou em secar o cabelo, muito menos em tirar o esmalte vermelho já todo descascado das unhas, e do banheiro foi direto para sua cama, o dormitório ainda vazio a não ser por ela. E, por agora, Colin Creevey.

"Me deixa dormir, Colin." Era assim difícil ele atender seu único pedido do dia? Será que ele não conseguia ver que ela mal tinha forças naquele momento para fazer o básico, quanto mais para brigar com ele?

"O que está acontecendo, Gin? Você não saiu do quarto hoje-"

"Colin, me deixa dormir." Tentou mais uma vez, e por um segundo achou que tivesse finamente conseguido quando o moreno levantou-se da cama.

"Não! Eu não vou sair desse maldito quarto antes de você me falar o que está acontecendo!"

Talvez explodir com alguém seria bom. Talvez falar tudo que estava entalado na sua garganta desde a noite de ontem ajudasse, mesmo que minimamente, a acalmar seus pensamentos.

"Você quer saber o que está acontecendo?" Não demorou nem um segundo para levantar da cama e começar a falar. "O que está acontecendo é que eu tenho um amigo que mentiu pra mim." Ela queria que ele negasse na cara dela. Ela esperava mesmo que o bruxo falasse que era tudo mentira, que Ginevra havia entendido tudo errado - não havia marca alguma, óbvio que ele não sabia de nada. "Que sabia de uma coisa, e mentiu pra mim."

"Gin-"

"Olha nos meus olhos e me diz que você não sabia da marca!" Mas era verdade, viu no rosto do amigo quando falou aquelas palavras. "Olha nos meu olhos, e me diz que você não sabia que eu estava apaixonada por um comensal." Não deu a menor importância em falar num tom mais baixo aquela última informação.

"Eu sabia."

Era verdade, era tudo verdade e seu coração estava quebrando outra vez em alguns milhares de pedaços.

"Entrega isso aqui pro seu namoradinho." Arremessou a capa do sonserino no amigo, e voltou para cama sem um segundo olhar. "E agora me deixa dormir, Colin."


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Notas finais do capítulo

Mais um que deu um aperto no coração escrever, mas juro que vou arrumar a situação desses dois em breve!

Obrigada a todos que estão acompanhando.
Beijão,
Ania.



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