Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 13
Bem-me-quer




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Quinta, 12 de outubro.

Sete horas da manhã de quinta-feira. O sonserino ainda estava deitado na cama desfeita, não querendo por nada enfrentar o dia que estava prestes a começar. De olhos fechados, ainda conseguia sentir o cheiro doce da bruxa, que praticamente se jogou nos seus braços e o fez gastar todo seu autocontrole para permanecer quieto e não fazer o que sonhava há já algumas noites. Beija-la seria sua sentença, com toda a certeza. Ter qualquer coisa com ela, sentir qualquer coisa além do que já estava sentindo, seria o fim para Draco Malfoy. Ela já andava dominando seus pensamentos de uma forma irritante, já fazia com que ele considerasse tantas coisas, tantas opções diferentes. Impossíveis.

De olhos fechados a vida era tão mais fácil.

"Acho que alguém está dando importância demais a sua aposta, não está?"

"Cala a boca Flint, você acha que eu me importo com a menina?" ele disse, a porta do salão comunal fechando-se atrás de si.

"Buscar a menina na detenção e levá-la até a Grifinória, bancando o protetor, é prova suficiente para mim. Acha que sua família gostaria de saber disso? Acha que seria bem visto um Malfoy ficar defendendo uma traidora de sangue?"

Ele o estava espionando, pior, estava espionando Ginevra. Afundou o rosto no travesseiro, bufando.

"Vou te dar uma sugestão: vamos mudar um pouquinho essa aposta. O que acha? Vai ser uma muito melhor de se contar na nossa 'ceia de Natal'." o bruxo falou, não deixando tempo para uma resposta. "Vamos tirar Liana de cena, já me cansei dela. Vamos ver quem consegue primeiro a Weasley."

"Não." respondeu, passando ao lado do sonserino mais velho quando este o empurrou para a parede. "Que diabos-"

"Você com certeza não está em condições de negociar, Malfoy." Marcos ameaçava, o antebraço pressionando a garganta do bruxo. "Com Lúcio na prisão, com o nome de sua família não sendo mais tão bem visto no nosso meio, ainda mais por Ele, qualquer coisa que eu fale pode gerar uma catástrofe, concorda comigo?" Ele não tinha outra opção senão responder sim. "Bom garoto."

O que faria agora? A sua festa de iniciação no meio de agosto voltou a memória, e como de habitual, o peso no seu estômago também. Draco Malfoy não fazia ideia do que fazer, mas sabia que aquela grifinória não poderia se dar ao luxo de ficar andando sozinha até ele pensar em alguma maneira de tirar Marcos de cena.

Faltaria na aula de Binns, como sempre.

...

Defesa Contra a Arte das Trevas com Snape. Ninguém merecia ter tantas aulas com aquele professor em uma só semana. Ginevra tentou se manter atenta no discurso que ele fazia sobre vampiros, mas era quase impossível. Apesar do professor dar boas aulas – precisava admitir que ele levava jeito para lecionar – a ruiva já ouvira aquelas palavras pelo menos cinco vezes durante todo seu período letivo: Moody havia falado sobre vampiros, Umbridge também, Lupin já falara em seu segundo ano, e agora Snape estava repetindo tudo outra vez. Pelo menos de uma coisa ela tinha certeza: se ele perguntasse algo, ela, assim como toda a sala, conseguiria responder.

Mas o sinal tocou e Snape não havia chamado sua atenção durante a aula, muito menos feito alguma questão direcionada a ela, e aquilo já era uma pequena vitória. Gina levantou-se, colocou a mochila nas costas e pegou os livros restantes nos braços, e foi, acompanhada de Raven e Sati, em direção ao Salão Principal. As duas falavam sobre o baile - o assunto não andava variando muito -, mas dessa vez Ginevra não se opôs a ele: qualquer coisa que dispersasse seus pensamentos sobre a noite passada era válida.

E ela estava conseguindo, realmente conseguindo, não pensar no tópico sonserino, porém quando notou Colin olhando fixamente para um estudante um pouco a frente deles, soube que havia perdido a batalha interna antes de seus olhos acharem o bruxo mais velho. Draco não estava junto do amigo, mas não demorou muito para Ginevra descobrir o paradeiro do garoto.

"Quem você pensa que é? VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO!" Ela sabia de quem era aquela voz, que parecia vir escada acima. E ela sabia de quem era a voz que respondia.

"Eu posso fazer o que eu quiser, bruxa!" o sonserino retrucava, praticamente arrancando seu braço das mãos da garota que o segurava.

"Draco, por favor-"

Realmente estava acontecendo o que a bruxa imaginava que estava?

"Caramba, que escândalo!" o comentário veio de Raven, que como as outras, havia se virado e olhava curiosa para o casal, que descia as escadas discutindo.

"Falou a calminha comportada." Colin provocou.

"Ah Creevey, cala a boca, vai."

Ginevra não conseguia tirar os olhos dos dois sonserinos, que chegavam cada vez mais perto de onde ela estava. Sentiu pena da bruxa quando viu lágrimas molharem seu rosto, enquanto tentava fazer o talvez ex namorado parar para escuta-la, mas ao mesmo tempo sentiu algo que a fez ficar mal consigo mesma: uma pontinha de felicidade, bem pequena, e bem lá no fundo. Ele estava terminando com a Parkinson. Ele, Draco Malfoy, o sonserino que ela queria muito beijar, estava praticamente solteiro.

Encontrou aqueles olhos cinzas e o coração foi a mil no mesmo segundo. Queria abraça-lo outra vez, queria abraça-lo ali, agora, no meio de todos os estudantes e que se dane o quão estranho aquilo fosse parecer. Queria que ele a beijasse como se não houvesse amanhã, e não que se afastasse como estava fazendo, novamente arrancando o braço das mão de Pansy.

"Gin, pare de olhar para o bruxo." foi o amigo que sussurrou no seu ouvido, a grifinória automaticamente desviando o olhar para outro lugar. "Bem, acabou o escândalo meninas, vamos comer?" Colin disse, agora mais alto, e todos os quatro seguiram caminho para o almoço, ele e Ginevra alguns passos atrás.

"Valeu." a ruiva agradeceu, dando um pequeno sorriso para o amigo.

"Meu Merlin, você gosta mesmo desse bruxo. Talvez eu me arrependa muito dessas palavras, mas," ele pausou, seus olhos achando um par de azuis na multidão e seus lábios também sorrindo. "Invista nisso, garota." continuou, voltando a olhar para frente. "Sonserinos também podem valer a pena."

...

Foi numa parte mais deserta do castelo, nos corredores do segundo andar após o final da última aula daquele dia, que Malfoy avistou o rosto conhecido, o bruxo sentado no peitoril de uma das janelas.

"Zabini." falou, sentando-se ao lado deste. Tinha comparecido em três aulas naquela quinta e estava mais cansado do que nos dias que fora a todas.

"Eu já sei o que aconteceu, não precisa nem se incomodar em explicar." o loiro disse, fechando o livro que lia. "Você sabe que foi a decisão certa."

"Será mesmo?" respondeu Malfoy, olhando confuso para o amigo ao receber uma margarida. "Creevey vai ficar com ciúmes disso." Viu o amigo revirar os olhos.

"Minha intuição disse para você achar a sua ruiva e entregar essa flor."

"Então sua intuição sempre teve um nome."

"E é cem por cento confiável, Malfoy." o bruxo afirmou com um sorriso. "Falou com Flint?" Blaise não pareceu mais tão feliz quando recebeu uma negativa. "Você precisa cancelar essa maldita aposta. Você sabe disso, eu sei disso." Estava prestes a começar a se justificar, mas o bruxo não se deixou ser interrompido. "E por favor, não me venha com a história de que Malfoys não se apaixonam, veja bem o jeito que você olha pra essa menina! Olha como você a trata! Onde está o pobretona, o traidora, o amante de sangues-ruins? Penas de algodão doce, terminar com a Parkinson, levar a ruiva até a Grifinória?" O sonserino deu um sorriso irônico. "Você nunca deu nem bom dia para Pansy! É sério que você não percebe?"

"Eu não posso cancelar essa aposta, Zabini." enfim falou, a voz não sendo uma das mais contentes.

"Draco, vamos lá, você precisa-"

"Eu tentei, caralho!" o sonserino respondeu, se exaltando. "Confie em mim, eu tentei!" Aquela maldita pontada na cabeça, novamente.

"Você tentou?"

"Ela não pode ficar sozinha por aí, de jeito nenhum. Fale isso pro seu namoradinho." continuou. "Flint está de olho nela. Nela, e em mim. E o que eu preciso é achar qualquer coisa que tire a atenção desse maldito psicopata da ruiva."

"Cara, se você está com problemas-"

"Tem coisas que eu não posso te contar, justamente porque eu te considero meu amigo. Entenda e confie no que eu posso dizer." Respirou fundo, pensando que teria que gastar um de seus doces, pois não conseguiria aguentar uma enxaqueca sem surtar naquele dia. "Então se você quer me ajudar, fala pro Creevey colar na menina."

Seus olhos observavam a parte dos jardins onde encontrara a ruiva no último final de semana quando a vontade de esgana-la voltou. Havia procurado a bruxa durante toda a tarde entre suas aulas, esperando acha-la com alguns de seus amigos, mas achara todos eles sem a companhia da grifinória. Agora, quem ele achava sentada num tronco, sozinha, num dia que ficava mais escuro a cada minuto graças às nuvens de tempestade se aproximando? Ginevra Weasley não tinha noção de que havia um praticamente maníaco fissurado nela, mas vê-la naquele canto isolado o irritou independente do conhecimento da jovem.

"Filha da mãe."

...

Ginevra só queria ficar sozinha no final daquela quinta feira, e sua matéria extracurricular era a melhor das desculpas para se afastar do seu grupo. Nunca havia faltado em Animagia, mas não estava com a menor capacidade de concentração no momento, quanto mais vontade de escutar qualquer coisa além de seus pensamentos.

Destruía com os dedos uma folha achada no chão, fazendo pequenos rasgos na beirada desta enquanto pensava em qual motivo havia feito Draco Malfoy acabar com seu relacionamento por interesse.

"É pura conveniência. Como disse, tem seus pontos positivos, mas nunca passou de diversão, e eu nunca demonstrei o contrário."

Não era por ela que ele estava fazendo aquilo, e se sentia tão estúpida por tal pensamento existir que somente considera-lo por um segundo era o suficiente para a bruxa sentir-se envergonhada. Ele provavelmente se cansara, do mesmo jeito que deveria cansar-se de tudo e do mesmo jeito que algum dia se cansaria dela.

Do mesmo jeito que se cansaria dela.

Pare de ser idiota, vocês não tem nada para ele se cansar de você. Estúpida.

A folha foi parar no chão.

Por Merlin, era Malfoy, como ela se esquecia tanto que era Malfoy o bruxo em questão?

Ela não conhecia Draco Malfoy, não sabia das coisas que o sonserino era capaz de fazer. Mas naquela tarde, com ele debaixo dela, seu cérebro só conseguia pensar que aquilo era bom e que gostaria de repetir a situação o maior número de vezes possível. Colocou as mãos na cabeça, aquele não era nem mesmo um pensamento racional! Amanhã, biblioteca, sete e meia.

Ele nem ao menos queria aquelas aulas.

Estava concentrada em seus pensamentos até o momento em que uma flor branca caiu em cima da página que fingia ler.

"É difícil achar você." Não precisou olhar para a pessoa para saber quem era, e teve que se segurar para não sorrir - o que seus lábios estavam gritando para fazer. Só o fato dele busca-la já a deixava eufórica. Ridículo.

"Estava me procurando para jogar uma margarida em mim, Malfoy?" respondeu, subindo suas defesas. Era detestável como seu cérebro o achava lindo, e como seu corpo se comportava de maneira tão irritante com ele perto daquele jeito.

"De nada." Tão irritante.

"Escutei que você terminou com a sua namoradinha." falou antes de pensar, fingindo atenção no lago. "Quero dizer, todo o castelo escutou." E sentiu seu coração parar quando, como no sábado passado, o sonserino resolveu dividir aquele tronco com ela, sentando-se muito mais perto do que o necessário.

Fechar os olhos não ajudou na tentativa de organizar seus pensamentos. O primeiro pingo caiu no seu nariz, o segundo em seus lábios, e logo sentia vários pelo corpo, a chuva aumentando gradualmente. Sentia as mãos gelada, o cabelo começando a pesar, as vestes ficando mais úmidas a cada segundo, e então, sentiu algo pesado em cima de seus ombros. A capa era quente, e cheirava a ele. Era injusto demais continuar de olhos fechados e imaginar que o calor vinha do bruxo ao seu lado.

Draco também olhava para frente, como ela fazia minutos atrás, a camisa branca que vestia quase transparente. O viu passar a mão nos cabelos molhados, jogando todos os fios para trás, e então finalmente os olhos se encontraram. O que aqueles olhos lhe diziam hoje? Ele estava triste? Triste por ter terminado com Parkinson, triste por estar ali? Por ela?

"Ginevra-"

"Por que eu?" ela se viu falando antes de conseguir se controlar, outra vez. "Por que, de todas as garotas que você poderia mandar cartas e chocolates e malditas penas de algodão doce, por que justo eu?" Merlin, ele estava tão perto! Se ela se aproximasse só mais um pouco, poderia repetir o gesto daquela sexta feira, e ela queria tanto aquilo desde a noite passada - talvez desde sábado passado -, que estava gastando todo seu autocontrole mantendo-se imóvel naquele tronco.

Os olhos dele tinham a mesma cor de um céu tempestuoso, notava tal coisa pela primeira vez. Eles eram profundos e combinavam perfeitamente com o cabelo platinado que ela tanto queria tocar.

"O que você está fazendo aqui sozinha, Gin?"

Foi o nome pelo qual ela foi chamada que fez Ginevra mandar seu autocontrole para o inferno e agarrar aqueles fios loiros. Gin. Por que aquilo saindo dos lábios dele parecia tão certo?

"Eu gosto de você." Ela não sabia como estava conseguindo manter-se tão perto e ainda assim tão longe dos lábios do sonserino. "Então por favor," Por favor me beije. "Por favor," Me beije antes que eu desista. "Pare."

No instante seguinte estava de pé, suas pernas a levanto para longe dali, de volta para o castelo. Só parou quando enfim chegou no seu dormitório vazio, deixando finalmente o soluço que queria tanto sair livre. As lágrimas se misturavam com a água da chuva ainda em seu rosto, seu corpo se ajeitando em posição fetal na cama, o cheiro do rapaz na capa somente aumentando a dor que crescia em seu peito.

Só após se acalmar reparou na margarida que sua mão nunca havia soltado.

Eu estou tão ferrada.


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Notas finais do capítulo

E aí gente, gostaram?
Beijão!



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