Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 10
O que ele está perdendo




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Segunda, 9 de outubro.

Os quase trinta alunos que atendiam aquele curso sentavam-se num semicírculo, frente ao professor Kardek. Animagia era uma aula prazerosa principalmente por causa daquele fator: ao invés de estarem presos em uma sala, os alunos aprendiam aquela matéria ao ar livre, num dos jardins próximos a Estufa nº 4.

"A Animagia é a habilidade que nos é adquirida somente depois de muita prática." falava o professor. "Com estudos aprofundados, podemos modificar nossa forma completamente para a de uma forma animal, por isso o nome ani de animal e magia pela capacidade mágica. Um animago só pode transformar-se em um animal, ele sempre vai estar relacionado a sua capacidade física, mental, e características gerais que assemelham-nos a eles."

Gostaria de saber qual será o meu. Gostaria de não ter que ficar com uma folha de mandrágora na boca durante novembro inteiro.

A aula já estava quase no fim, para o desânimo da grifinória. O professor dava seus últimos comentários sobre o capítulo finalizado naquele dia, e quando o relógio marcou quinze para as seis da tarde, após insistência geral, transformara-se em sua forma animal: uma pantera.

"Agora vamos, vamos, mexam-se!" Kardek, já em sua forma humana, os apressava. "Eu ainda tenho mais uma classe hoje, não fiquem aí parados!"

Os alunos não mais tardaram a se levantar depois da ordem, dando lugar a turma seguinte, recém chegada. Gina notou um loiro sonserino, que jurava ter visto ao lado de Colin naqueles últimos dias, olha-la com certa curiosidade, enquanto ela guardava o livro grosso daquela matéria em sua mochila. Era dele que Colin falava no fim da noite de sábado? O bruxo maravilhoso que tinha como defeito ser da casa das cobras?

Sacudiu a cabeça e seguiu em direção ao castelo, mas andou poucos passos até ter seu caminho bloqueado por um setimoanista conhecido.

"Gina!" O corvinal a cumprimentou, beijando a bochecha da jovem como se os dois fossem íntimos há muito tempo.

Storms foi o primeiro garoto corajoso o suficiente para lhe fazer um convite, desde sua pequena mudança na semana passada. Pegara Gina de surpresa, chegando na mesa grifinória na última terça-feira com uma quantidade generosa de barras de chocolate e uma única rosa - que a garota não conseguia lembrar por nada onde tinha ido parar. No entanto, o papo do rapaz não era exatamente interessante para ela. Não sabia o porquê do bruxo insistir em manter aquelas pequenas conversas desde semana passada: nunca na vida falara com o corvinal, e sendo muito sincera consigo mesma, não estava com o menor interesse em falar. Ginevra teve olhos apenas para um moreno de olhos verdes na sua curta vida, e não havia sido Aeon Storms.

"Oi Aeon!" o cumprimentou de volta, segurando o impulso de revirar os olhos enquanto forçava um pequeno sorriso. O que ele queria agora? "Não sabia que você fazia Animagia."

"Mais uma coisa que temos em comum!" Ela não fazia ideia de quais eram as outras. "Você acabou não indo para Hogsmeade, não é mesmo? Você perdeu, a primeira visita do ano sempre é a mais divertida. Precisava ver como estavam os terceiros anos!"

"Infernais, eu imagino." Como aquela conversa. "Eu tive meus motivos para ficar, mas quem sabe na próxima! Ouvi que esse ano estão liberando quase todos os finais de semana."

"Sábado que vem estarei lá outra vez, com certeza! Você poderia me acompanhar num chocolate quente." E lá estava ele, em plena segunda, convidando-a novamente para sair. E ali estava a jovem, um tanto quanto sem jeito, não fazendo ideia de como dar um não definitivo para aquele garoto insistente.

"Talvez-"

"Alguém já te convidou?" o moreno se aproximou mais, deixando uma distância não muito confortável entre os dois.

"Você." ela respondeu antes de pensar. Droga. "Mas também prometi ficar com algumas amigas no próximo sábado, então preciso ver se consigo escapar delas por um tempo." Naquele momento, ela esperava que Colin nunca desgrudasse de seu pé. "Eu te falo na sexta-feira se vou conseguir, tudo bem?"

Ginevra nem deixou o rapaz replicar antes de se afastar com passos rápidos. Tinha a leve impressão de que se permitisse, com certeza aquilo atrasaria sua quase extinta tarde por mais alguns minutos, e naquele começo de noite já estava combinada a primeira aula para aquele que seu irmão chamava carinhosamente de cobra venenosa sonserina.

A cobra venenosa sonserina, de olhos cinzas azulados, rosto pontudo, cabelos platinados e mãos geladas, que ela havia beijado por impulso, que seu lado hormonal gostaria de beijar novamente - e por Merlin, ela não sabia o porquê -, e para qual daria aulas em pouco mais de uma hora.

Parando para pensar, talvez eu devesse ter atrasado.

...

Ela não poderia ser uma prodígio numa matéria que eu realmente não sei?

Lá estava Draco Malfoy, sentado num dos cantos mais isolados da biblioteca com cinco livros de Latim ao seu redor. Naquela segunda feira, ele teria que passar por um leigo numa das matérias que mais dominava: falava latim mais fluentemente do que a ruiva que estava vindo para lhe ensinar.

O bruxo abriu o livro que fora usado por ele no primeiro ano em que estudou a língua e começava a folhear o índice quando um sonserino conhecido sentou-se ao seu lado.

"Flint." Era só o que faltava.

"Não ando te vendo muito por aí, Malfoy." ele disse, examinando os livros sobre aquela mesa. "Latim? Achei que fosse fluente."

Observou incomodado a curiosidade do sonserino fazê-lo folhear um dos livros, Draco querendo mais do que tudo arranca-lo daquele lugar antes que uma grifinória muito conhecida pelos dois aparecesse. Ele tinha ainda quanto, dez, quinze minutos, até o horário combinado?

"Pare de me incomodar e vá achar Liana." tentou, forçando sua voz a sair despreocupada enquanto tirava um tinteiro e uma pena da mochila. Fale sobre Liana. Fale se você achou sua maldita aposta, e me deixe menos paranoico, por Merlin.

"Mas eu achei a Liana." confirmou o bruxo, dando uma ênfase desnecessária ao nome. Quando seus olhos acharam os do bruxo veterano, soube no mesmo segundo que Flint não falava de McDonald. "Eu até estava atrás dela numa dessas noites, mas a menina foi mais rápida que eu." Conseguiu se conter para as mãos não denunciarem seu nervosismo, mas não foi capaz de esconder seus olhos, que denunciavam a surpresa. Definitivamente, Flint não se referia à sua grifinória.

Draco Malfoy era paranoico, e naquele começo de ano letivo, mais do que nunca esse traço herdado do comportamento de seu pai se fazia presente, fato que estava tornando sua vida um inferno. Desde sexta, a única coisa que conseguia pensar era por qual razão Flint tinha escolhido justo Ginevra Weasley para perseguir.

Ela estava sozinha? Sim. Presa fácil? Sim, provavelmente. Era a única garota sozinha nas masmorras naquela hora? Não, ele sabia que havia uma lufa-lufa, segundo Goyle. Flint sabia? Ele a viu junto com Goyle, o mesmo também confirmou. Por que ele havia escolhido justo a ruiva para brincar?

Ele queria me fazer perder, nunca conseguiria alguma coisa se ele tivesse tocado na Weasley. Ele não sabe que eu a ajudei. Ele não está pensando em nada além dessa aposta ridícula. Ele estava bêbado. 

Suspirou, frustrado. 

Eu estava bêbado quando aceitei essa merda.

"Bem, boa sorte com suas aulas, Malfoy." o bruxo falou, finalmente levantando-se e deixando a mesa. Ele sabia das aulas. Ele estava o espionando. Por que Flint o estava espionando? O sonserino não se conteve e acompanhou com os olhos o moreno até este sair da biblioteca, dando de cara com a última pessoa que gostaria. "Belas pernas!" ainda disse, antes de sair.

Sem saber, Marcos fora de grande ajuda. A mente de Malfoy não estava mais apta a focar pelo resto do dia: não precisou de esforço nenhum para ser o pior aluno de Latim já visto pela recém-chegada professora grifinória.

...

Pela quarta vez, Ginevra, com muita calma, explicava a mesma parte da matéria para o sonserino, que insistia em dizer que não estava entendendo.

Por que eu estou com a impressão de que esse menino está me fazendo de idiota?

Eram exatamente sete e vinte e cinco quando ela entrou na biblioteca, tão perdida em seus pensamentos que nem ao menos se incomodou em olhar para a fonte do belas pernas que ouvira no caminho, revirando os olhos enquanto pegava mais uma trufa de chocolate explosiva.

Ginevra Weasley estava um tanto quanto nervosa quando atravessou aquela grande porta, logo, ela estava comendo um doce. Ginevra Weasley estava nervosa, e não sabia explicar por que diabos estava nervosa. Tinha motivos para estar nervosa? Claro que não tinha, eram apenas aulas, em público, com os dois sentados em uma distância aceitável e com o sonserino a tratando de forma tão aceitável quanto. Ainda assim, a ruiva, enquanto explicava pela quarta vez o porquê daquele verbo ser conjugado daquela forma, continuava a tirar chocolates daquele saco, agradecendo a pequena calma que todo aquele açúcar lhe proporcionava.

E é impossível ele ainda não ter decorado isso! Onde eu estava com a cabeça quando disse que aceitava? 

Respirava fundo possivelmente pela sétima vez naquela noite.

A grifinória teve que admitir para si mesma que sabia muito bem onde estava com a cabeça quando disse sim: no peito dele, sentindo o cheiro meio cítrico que insistia em ser cada vez mais agradável à ela. Nem mesmo sabia como tinha parado em cima do bruxo, mas antes daquele terceiro tombo, suas intenções eram totalmente o contrário do que acontecera no final. Aula às sete e meia, seu cérebro tinha se comportado da melhor maneira possível.

Só que não. Eu tenho certeza que vou ser deserdada se alguém descobrir isso.

"Então o passado tem essas terminações." explicou, rabiscando algumas palavras no pergaminho ao seu lado. "Conjugue." pediu, colocando a pena sobre a mesa e esperando uma resposta. Quando aqueles olhos cinzas acharam os seus, ela tinha certeza de que o bruxo não havia escutado uma palavra. "Malfoy, sério? Se você vai desistir no meio da lição, não me faça perder meu tempo." o desabafo grosseiro foi acompanhado de um olhar nada amigável.

"Eu não vou desistir!" A irritação naquela noite não parecia ser exclusividade da bruxa. "Talvez não tenha sido o melhor dos dias para se começar com isso." o sonserino admitiu, afastando de sua frente um dos livros abertos e apoiando os cotovelos na mesa, as mãos massageando as têmporas. "Estou com um milhão de coisas na cabeça."

Gina quis gritar consigo mesma quando reparou que ele fazia muito aquilo, levar as mãos à cabeça. Só quis gritar mais quando reparou que estava reparando, de todos os garotos que haviam em Hogwarts, justo naquele. Respirou fundo - outra vez -antes de começar a arrumar seus livros de volta em sua mochila, um a um. Colocou um pouco mais de calma do que o necessário nessa tarefa quando sentiu que gostaria de arremessar o mais pesado deles na cabeça da cobrinha.

"Então a aula de hoje já acabou?" Quem perguntava era Malfoy, sua voz já soando mais cortês.

"Foi você quem quis parar." O último dos livros já estava dentro de sua mochila, um chocolate em suas mãos, quando a jovem questionou. "Tem mais alguma pergunta?"

Engraçado como a próxima a pegou de surpresa.

"Como foi seu dia?" O que? "Se você vai me dar aulas, eu posso tentar ser pelo menos um pouco agradável, não concorda?" ele se justificou. "Claro, se você preferir meus comentários agressivos, Ginevra, eu posso continuar a ser o Malfoy de sempre."

Aquilo tudo parecia ficar mais estranho a cada segundo. Olhando para o sonserino sentado a sua frente, a ruiva se perguntava quando, antes de semana passada, poderia imaginar que tal coisa aconteceria: aqueles dois bruxos, um de frente para o outro, sentados tendo uma conversa civilizada.

Ou aqueles dois bruxos caídos no meio dos jardins do castelo, ou aquela bruxa abraçando o sonserino e colando os lábios nos dele. Que inferno Ginevra, pare com isso!

"Meu dia foi bom." A bruxa respondeu após um tempo, tentando afastar aqueles pensamentos da cabeça. "E o seu?"

Pare de olhar para os lábios dele. Olhe para seus olhos. Melhor, nem olhe para ele.

"Foi ok." Ela o observou de canto de olho tirar alguns fios platinados que insistiam em cair no rosto. "Tirando o fato que fui obrigado a passar o dia ao lado do maldito Potter."

"Então deve ter sido realmente horrível." disse sem pensar, lembrando-se com certa raiva do bruxo de olhos verdes a interrogando junto de Ronald no domingo de manhã.

"Achei que ele fosse o amor da sua vida." Os olhos castanhos não conseguiram mais ficar longes do sonserino, que a observava com certo interesse. Harry Potter havia sido sim o amor da vida daquela bruxa, mas os amores só vingam quando são retribuídos. "Pelo menos era, antes de você me conhecer de verdade." Assim como os bons diálogos.

"E acabou a conversa agradável, não é mesmo?" a ruiva falou, levantando-se junto de sua mochila, pronta para ir embora. Óbvio que uma conversa realmente civilizada entre aqueles dois era utopia. "Bem Malfoy-"

"Ok, ok, eu me comporto!" o sonserino disse antes de Ginevra virar-se para ir embora, estendendo sua mão esquerda, que a bruxa apenas observou com um olhar desconfiado. "É uma oferta de paz, Weasley, não é como se eu fosse te puxar para cima da mesa!" Draco explicou, após alguns segundos com a mão estendida.

"Não é como se você nunca tivesse tentado isso antes." A resposta veio rápida e afiada, mas algo naqueles olhos convenceu o lado difícil da ruiva. Ela já havia notado como as olheiras dele estavam maiores esse ano? "Ok Malfoy." Ginevra estendeu a mão para o sonserino. "Paz nas aulas." A bruxa o olhou por alguns instantes, tentando adivinhar o que estava se passando na cabeça daquele garoto: definitivamente aquela atitude não era típica do Draco Malfoy que conhecia, e ela não sabia se deveria sentir-se feliz com aquele tratamento diferenciado.

"Paz nas aulas."

Mas lá no fundo, bem lá no fundo, ela estava feliz com aquilo.

"Nos vemos amanhã?" Soltou a mão do bruxo e voltou a pegar sua mochila.

"Terça não vou conseguir. Quarta-feira, mesmo horário?" Ginevra fez que sim com a cabeça, checando uma última vez se não esquecia nada sobre a mesa. Estava já virada para a porta quando ouviu outra vez seu nome. "Eu sei que não é problema meu, mas," ele hesitou, antes de continuar a falar. "Potter não sabe o que está perdendo."


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Notas finais do capítulo

E aí, o que estão achando?
;*



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