Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 1
Uma ideia




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Sábado, último dia do mês de setembro.

"Esse ano a taça é nossa, com certeza!" O capitão do time sonserino afirmava animado, virando mais uma caneca de cerveja amanteigada. "Chega de perder por cinco anos consecutivos! Os malditos grifinórios vão ver do que os sonserinos são capazes!" Mais uma garrafa aberta, seu conteúdo sendo despejado na caneca vazia. "Esses escrotos vão comer pó no final do campeonato!"

Draco, largado num dos sofás verdes do salão comunal, ouvia entediado o discurso sendo feito por Flint para os sonserinos restantes. Há oito horas atrás, Corvinal havia sofrido uma derrota fenomenal no jogo contra a Sonserina, quatrocentos e cinquenta a dez, e Marcos realmente parecia empolgado com isso.

Por Salazar, se já na primeira vitória esse babaca não consegue calar a boca, é melhor nem imaginar como esse traste vai estar quando o time entrar para a final. Ninguém vai conseguir aturar.

O jovem olhou ao redor da sala, e fez uma cara de desgosto com a vista. Aquele cômodo pós-festa estava, como sempre, caótico: garrafas de cerveja amanteigada e restos de bolinhos de abóbora tinham se apossado do chão, canecas estavam abandonadas em todas as superfícies possíveis, alguns sétimo-anistas dormiam bêbados nos braços dos muitos sofás e Flint, na sua bebedeira, derrubava mais cerveja no carpete do que colocava goela adentro.

Pelo menos isso aqui continua mais limpo do que na última festa que demos. Draco pensou, ainda desgostoso com o ambiente. As pessoas ainda conseguem chegar até seus quartos.

Acabou com mais uma caneca de cerveja enquanto tentava desgrudar Pansy de seu braço esquerdo. As últimas bebidas já estavam sendo tomadas, os alunos pouco a pouco voltando aos dormitórios. Eram quase onze e meia quando conseguiu fazer a loira ir até seu dormitório, assegurando-a que logo a seguiria. Na verdade, o esperado pelo apanhador era que a garota acabasse dormindo enquanto o aguardava: não estava com a mínima vontade de passar a noite em claro depois daquele jogo, mesmo sendo o dia seguinte um domingo.

"Ela tem dado trabalho?" A pergunta veio de Flint, agora o único presente na sala além de Draco.

"Ela está insuportável nesse último mês." disse, tirando alguns fios loiros que caíam nos seus olhos, ainda sujos da partida. "Anda uma tarefa impossível aguentar Pansy falando, mas então, também anda chato fazer qualquer coisa que faça a garota parar de falar."

"Perdeu o tesão, Malfoy?" Flint deu uma risada debochada. "Muita pressão esse ano depois da festinha de agosto?" Draco se limitou a mirar sua caneca vazia na cabeça do moreno, errando por pouco. "Rompe com ela. Dá a garota pra mim, eu não me importaria em ter uma companheira assim."

"Eu também falei isso nas primeiras três semanas do meu quinto ano." Marcos acabou rindo, enquanto Malfoy apenas deu um de seus sorrisos cínicos. "O defeito dela é ter nascido com o dom da fala. Aqueles ruídos que saem da boca dela acabam com qualquer paciência."

"Draquinho, querido, o que posso fazer por você agora?" O loiro teve que rir com a imitação, que havia ficado muito próxima da versão original. "Se fosse muda, seria a parceira ideal. Como você atura ela te chamando de diminutivos, com aquela voz aguda, só Merlin sabe."

"Sei bem a voz horrível que sou obrigado a aturar, não é preciso me lembrar disso. Mas não quero acabar com ela."

"O príncipe de gelo da sonserina com pena de magoar um pobre coração?" A pergunta veio em tom de deboche. "Ou ela te mostrou algumas outras vantagens além de ter um corpo escultural?"

"Olha como você fala da minha namorada." Draco respondeu no mesmo tom de zombaria. "É claro que ela já me mostrou outras vantagens." Ele riu, aquilo não era óbvio? Ela fazia tudo que o garoto queria, e tudo para mantê-lo entretido o suficiente para não buscar uma companhia que pudesse oferecer um pouco mais de intelecto. "Por que acha que ainda estou com ela depois de um ano?" Não que funcionasse muito.

"Talvez porque a garota te ame?" Com a resposta, os dois voltaram a cair na risada. "É, só ela mesmo que não vê o namorado  que tem - ou não quer ver. Quem era aquela garota no vestiário hoje? Parecia aquela Lufa-Lufa, a tal de Bones."

"Susana Bones, a própria." O loiro disse. "Mas foi só uma vez. Sem graça demais, não vale o meu tempo. Nenhuma bruxa de outra casa anda valendo, para falar a verdade."

Ele relaxou um pouco mais no sofá, depois de se esticar para pegar o resto de uma garrafa de firewhisky. Bebeu um gole do gargalo, jogando o resto da garrafa para Marcos.

"Fala isso porque ainda não tentou alguma coisa com uma grifinória." O moreno fez o mesmo, e retornou a garrafa.

"E você já foi estúpido para tentar alguma coisa com uma dessas sangue-ruins amantes de trouxas?" Mais um gole - era realmente mágico o efeito de alguns mililitros daquela bebida. Ele simplesmente não precisava pensar em nada que o desagradava com aquelas doses de álcool, e até mesmo Flint ficava suportável.

"Montague já foi. Aquele tempo que ele dizia estar apaixonado, lembra? 'Oh, ela é perfeita para mim, vamos passar juntos o resto de nossas vidas', blá, blá, blá."

"Uma coisa assim não dá para esquecer. Aquilo foi traumatizante para o time!" Draco lembrava muito bem da época em que o goleiro começou a sair com Lilá Brown. O desempenho tinha caído tanto que ele chegou a ser posto como reserva. Por sorte apareceu a Bulstrode e colocou algum juízo na cabeça do garoto. Depois daquela festa, não demorou nem um dia para o jogador largar a grifinória. "Tolo, só um para conseguir amar uma raça tão desprezível."

"Quer dizer que você conseguiria sair com uma das meninas de ouro sem acabar apaixonado?"

"Tenho certeza. Por acaso eu estou apaixonado agora?"

"Por acaso está saindo com uma jovem dotada de alguma moral?" Mais um gole, e Draco largava no chão a garrafa vazia. "Talvez seja um pouco diferente sair com uma garota que não abra as pernas no primeiro encontro. Só que isso, eu arrisco dizer, nós não sabemos."

Houve um pequeno silêncio na sala, Malfoy olhando para a direção de seu dormitório, perguntando-se se Pansy já havia pegado no sono. Marcos o olhou, levantando uma sobrancelha.

"Pensando em aproveitar a noite, apanhador?" o olhar vindo do loiro foi o bastante para responder a pergunta. "Apenas perguntei, não precisa querer me matar por isso."

Novamente o silêncio, os dois voltando a atenção ao resto de suas bebidas. Era quase meia noite e dez. Draco estava próximo de acabar com sua cerveja, para finalmente arriscar em pisar no seu quarto, quando Flint voltou a falar.

"Essa conversa me deu uma ideia." Malfoy olhou o colega, desconfiado.

"Você pensando, Flint?"

"Vai pro inferno. Só estava querendo fazer nossas vidas menos entediantes esse semestre."

"É impossível fazer Hogwarts menos entediante." O loiro afirmou, o whisky finalmente fazendo todo seu efeito relaxante. "Mas fale. Quem sabe é alguma coisa útil."

"Quer fazer uma aposta, Malfoy?"

"Que tipo de aposta? Não quero acabar sendo quase expulso novamente por causa de um jogo estúpido." Ele ainda lembrava do berrador enviado pelo seu pai, e do quanto seu Natal havia sido tudo menos deleitável no quinto ano, graças a ideia do capitão sonserino.

"Não é nada desse tipo, idiota. Pode até ser prazeroso. Olha, quando você falou das garotas, eu pensei numa coisa." Flint se levantou, um sorriso desafiador – ou talvez bêbado – nos lábios, e apontou para o colega. "Aposto que você não consegue sair com uma grifinória sem ficar de quatro pela menina."

Draco olhou para o colega durante alguns segundos. E caiu na gargalhada.

"Está achando que é fácil, é?" A pergunta veio num tom irritado.

O loiro estava tentando responder, mas era difícil conter o riso.

"Flint," Ele fazia ideia do absurdo que estava falando? "Uma grifinória Flint, sério? Uma certinha, santinha," Uma possível sangue-ruim! "Que aposta idiota!"

"Eu duvido que você saia com uma."

"Eu duvido que VOCÊ saia com uma!"

"Apostado." E com essa palavra, Draco parou de rir.

"Você está falando sério?"

"O que você acha?" Marcos ainda falava no mesmo tom aborrecido, procurando algum resto de álcool entre as tantas garrafas vazias. "Você não tem exatamente a melhor das imagens para as oh, tão puras, grifinórias idiotas." Disse, remexendo num monte de vidro. "E eu duvido que você consiga convencer uma, uma daquelas difíceis, a sair com você. Você sabe, elas querem flores, declarações, mimos. Não são como as que estamos acostumados, não se vendem por um simples carinho, por um status. E de acordo com Montague, essas santinhas sabem ser bem envolventes. Conseguem fazer você comer na palma da mão delas."

"Se isso tornar minha vida mais interessante, sair com mais uma não destruiria meu 'relacionamento'." Ele deu os ombros. "Por quanto tempo?"

"Uma semana." Flint comemorou ao achar uma garrafa com o resto de algo preto que Draco não queria nem imaginar o que era. "Ninguém precisa saber - além de mim, é claro. Mas quando conseguir, eu vou querer provas concretas."

"Justo. Como escolhemos?"

"Você escolhe a minha e eu a sua." A resposta veio rápida. "Inclusive já tenho uma pra você: Ginevra." Mas o nome não foi reconhecido. "Ora, vamos, todos aqui sabem quem é Ginevra! Ela chega a ser motivo de chacota entre os bruxos sonzerinos." Mas ainda não conseguia reconhecer aquele nome por nada. "Aquela miúda ruiva, sardenta, roupas de segunda mão."

Roupas de segunda mão. Havia apenas uma família que-

"Weasley, cara, Ginevra Weasley! Sabe quem é agora?"

"Você quer que eu saia com uma WEASLEY?" Ele teve que respirar fundo para parar de gritar e evitar acordar metade da casa. "Minha família despreza essa merda de sobrenome! Se eu saio com ela, Lúcio realmente me mata! Você acha que sou o que, insano?"

"Pense um pouco! Você sabe quem é Ginevra Weasley?"

Draco ia responder por que ele haveria de saber quem era a tal da garota, quando se lembrou de um detalhe de seu segundo ano: uma garotinha tímida, mandando um cartão musical para um certo apanhador da Grifinória.

"Sim, Weasley, a que tem uma paixonite pelo Cicatriz. Isso é um desafio, não é mesmo? O que aconteceria se você conseguisse uma garota dessas nas suas mãos? Duvido que seu pai te tire o couro por estar se aproveitando de uma dessas. Afinal, como você já disse uma vez, Malfoy não se apaixonam."

Ginevra, então. Eu a consigo, e nada vai valer mais do que a cara do maldito Potter quando ver a bruxa ao meu lado. Eu a consigo e venço esse desgraçado. 

"Ela ainda está apaixonada pelo Potter, não é mesmo?"

E ainda acabo com a reputação da pobretona.

"Pelo que todos comentam, sim. Não é mais tão tímida como antes, e também não o persegue mais vinte e quatro horas, mas ainda adora o chão que o idiota pisa."

Draco não conteve um sorriso maldoso. Estendeu a mão para Marcos, selando o acordo.

"Nós temos uma aposta, Marcos."


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Notas finais do capítulo

Gente, essa é uma história escrita anos atrás sendo reescrita, espero que gostem =)

Sugestões são sempre bem vindas!



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