Capitulo 01

O dia estava magnifico, com o céu sem nenhuma nuvem que pudesse encobrir o sol que brilhava tão intensamente, clareando tudo que podia alcançar. O sol era capaz de iluminar cada cantinho da cidade. Diferentes dos dias comuns em Londres, onde era geralmente chuvoso e nublado. Parecia que ele sabia que de alguma forma, aquele dia, era um dia especial para alguém. Da janela de seu quarto, Hermione o olhava com um sorriso imenso estampado no rosto. Um sorriso tão intenso, quanto o brilho do sol, pois de fato, aquele dia seria especial, e ela estava mais que agradecida ao universo, por ter lhe dado um dia tão lindo.

Saiu da janela indo em direção ao espelho. Enquanto se olhava de cima a baixo, um filme passava em sua cabeça. Lembrou-se do quanto sonhou com esse dia, do quando passou horas e horas pensando durante as madrugadas em que a insônia a perseguia, se o dia do seu casamento estava sendo escrito no seu destino, porque para ela, parecia algo tão impossível. Quantas vezes tinha se dado a oportunidade de conhecer outras pessoas do seu convívio, mas nunca avançava, pois Draco de uma maneira ou de outra, estava sempre ali, nos seus pensamentos, e principalmente nos olhos de sua filha. Hermione sempre teve o sonho de menina, de um dia se casar, usar um lindo vestido de noiva, trocar alianças, fazer os votos mais sinceros de seu coração. Mas no fundo, por mais que ela tentasse, ela nunca tinha se permitido realizar, pois nunca tinha encontrado alguém que substituísse Draco.

Pretendentes era algo que nunca lhe faltava, sempre tinha um rapaz com os olhos sobre si. Afinal, não podia ser diferente. Ela havia se tornado uma mulher encantadora, inteligente, linda, dedicada ao trabalho e a família. Deu uma leve risada ao lembrar-se de uma das conversas com Gina, sobre um encontro que tinha tido.

Já eram quase 22h00 da noite e Hermione tinha acabado de chegar em casa, depois de um encontro aparentemente fracassado, e não era o primeiro. Mal entrou na sala e levou um susto ao se deparar com Gina sentada no sofá.

— Que me matar do coração Gina? – Disse colocando a mão no peito, tentando conter a respiração ofegante. – Achei que já estava dormindo! – Disse fechando a posta atrás de si e a trancando.

— Desculpe amiga, não queria te assustar. Voltou cedo, o que houve? – Perguntou já encarando Hermione com desgosto. Ela sabia que a amiga tinha falhado mais uma vez.

— Prometo que te conto tudo, mas antes... Eu preciso ver a Mia. Ela passou bem enquanto estive fora? - Hermione tinha pedido para Gina ficar com Mia, enquanto ela tinha o encontro com nada mais e nada menos do que Victor Krum.

— Fica tranquila que esta tudo bem... Ela já esta dormindo!

— Obrigada por ter ficado com ela... Eu já volto para te contar como foi com o Victor.

Victor estava passando um mês em Londres para descansar de seus treinos de Quadribol. Ao chegar na cidade, descobriu que Hermione estava trabalhando no Ministério, então não pensou duas vezes em ir se  encontrar com ela. Quando seus olhos foram em direção a ela, quando vinha pelo saguão, não pode deixar de repara no quanto ela estava linda caminhando distraidamente lendo alguns papeis em mãos, enquanto ia até a recepção. Vê-la ali, o fez sentir saudades da época em que ficaram juntos em Hogwarts durante o Torneio Tribruxo. O olhar de surpresa de Hermione ao lhe ver, foi algo impagável para ele. Nunca mais tinham se visto desde a escola, então a reação de surpresa não podia ser diferente. Como era hora do almoço, Krum a convidou para almoçar. Conversaram bastante dentro do tempo que cada um tinha disponível, mas foi algo leve e até divertido para ambos relembrarem os velhos tempos.

Entre um almoço e outros, os dois foram se tornando mais próximo. Conversavam sobre tudo. Mas foi inevitável para Hermione se sentir tensa no inicio de umas dessas conversas, quando Victor tinha lhe feito a pergunta “É verdade que tem uma filha?” por mais que já estivesse mais próximos, Victor não tinha ainda criado coragem para lhe perguntar. O coração de Hermione saiu pela boca, mas a verdade é que ela não tinha como evitar de ser julgada, por mais que ela tentasse. Desde que tinha acabado a guerra, ela não parava de sair dos jornais, principalmente quando o assunto era a sua filha. Ela so desejava que pelo menos ele não a julgasse. “É verdade! Ela tem 3 anos e se chama Amélia” se viu dizer. Por alguns instantes, Hermione viu nos olhos dele um pouco de decepção, mas o que ela poderia ter feito? Embora ela não quisesse que os outros a julgassem, ela sentia orgulho da pessoa que havia se tornado, sentia orgulho de ser mãe solteira e tirar o maior proveito disso. “Ela deve ser linda, igual a você” ouviu Victor dizer depois de alguns segundos, fazendo Hermione corar mesmo que não quisesse. Ela apenas sorriu e agradeceu gentilmente. Ele nem fazia ideia que Mia não tinha quase nada dela. “Logo estou partindo, gostaria de te convidar para um jantar, espero que seu marido não se importe” Vitor não percebeu, mas os olhos de Hermione haviam perdido o brilho discretamente, pois lamentou não ter Draco em sua vida e mais uma vez, o bloqueio a atingiu a fazendo tomar a decisão mais drástica da sua vida. Hermione estava decida a não se permitir mais tentar viver um romance.

— Pode começar a contar tudo! – pediu Gina ansiosa.

— Não aconteceu nada Gina! – Disse Hermione se sentando no sofá ao lado da amiga.

— Porque você é tonta Mione! Olha para você! É uma mulher linda, inteligente, conquistou tantas coisas em tão pouco tempo, é uma mãe incrível... Merece ser feliz Mione... – suspirou – Mas me conte, como foi?

— Bom... conversamos bastante. Ele me perguntou mais sobre a Mia e ele ficou um pouco decepcionado em saber que ela é filha do Draco, mas ao mesmo tempo, ele foi super gentil ao dizer que sentia orgulho de mim e que não me julgava – deu um leve sorriso.

Gina sorriu também.

— Victor sempre foi muito fofo com você, Mione, deveria dar uma chance a ele.

— Não posso Gina, não seria justo com ele e nem comigo. Tenho um carinho muito grande por ele, mas é apenas uma amizade. É nítido que ele gosta muito de mim... até tentou me beijar...

— O que?? – Perguntou Gina pasma.

Hermione riu

— Sim Gina, ele tentou me beijar, mas eu não deixei...

— Poxa vida Mione, como você é boba... Como pode dispensar um gostoso daquele?

— Gina... Primeiro que daqui a pouco ele vai embora... Ele so veio passar uns tempos aqui e segundo, eu não sinto nada por ele. Foi ótimo reencontra-lo depois de tanto tempo, ele continua sendo uma pessoa maravilhosa, mas não para ter um relacionamento.

— O problema amiga, é que ele não foi o único que você dispensou... Sabe disso!

Hermione suspirou

— Eu sei, mas não tem como. Por conta disso eu tomei uma decisão, vou apenas me dedicar a Mia, a minha família e ao meu trabalho; eu prefiro que seja assim.

Gina a olhou incrédula.

— Você não pode estar falando sério?... Mione eu não sei exatamente os seus motivos, mas se for algo relacionado ao Draco, você esta cometendo o maior erro da sua vida. Esta estragando a sua vida, por conta de um idiota que nunca mais vai sair de Azkaban e principalmente por alguém que não te merece. Ele com certeza nem lembra que você existe.

Aquelas palavras a feriram, mas Hermione se manteve firme. No fundo, ela sabia que Gina tinha razão.

— Sei que posso estar tomando uma decisão muito drástica, mas vou mantê-la por um tempo. Quem sabe um dia eu encontre alguém que me desperte algo diferente, mas por enquanto, quero me dedicar ao meu trabalho e a minha filha.

Gina suspirou frustrada, ela sabia que a amiga não mudava de opinião tão facilmente.

 - Tudo bem Mione, não vou discutir com você, mas ainda não deixo de pensar que esta cometendo um grande erro... Mas tudo bem, você quem decide... Apenas quero que saiba que não vai achar ruim se quando eu me cansar do Harry, eu for atrás do gostoso do Krum – disse rindo, fazendo Hermione rir também.

— Ai Gina, so você mesmo! – disse rindo

— So disse a verdade amiga! – riu – Bom... já esta ficando tarde, é melhor eu ir, se não quem vai me deixar é o Harry – disse de forma brincalhona levantando do sofá. – Boa noite Mione!

— Boa noite Gina e obrigada por ter ficado com a Mia – se despediu da amiga.

— Imagina, sabe que pode contar comigo para o que precisar. – sorriu – Deixa um beijo para ela quando acordar.

Hermione assentiu, vendo Gina sumir pela sua lareira. Respirou profundamente e foi em direção ao quarto da filha.

— Oi meu amor, o que faz acordada? – sorriu ao ver os olhinhos cinzas e brilhantes de Mia.

— Mamãe! – Chamou Mia esticando os bracinhos para Hermione lhe pegar no colo.

— Estou aqui minha linda!

Hermione pegou Mia no colo e a levou para o seu quarto. Depois de tomar um banho rápido e se arrumar, Hermione deitou na cama com Mia ao seu lado. Abraçou o pequeno corpo da filha e se aconchegou.

Ninguém tinha o direito de julga-la por suas escolhas, de julga-la por querer se dedicar apenas a filha e ao trabalho, porque ninguém imaginava, o quanto ela tentou, tentou e tentou. Quantas vezes mentiu para o seu coração dizendo que Draco nunca tinha se importado com ela de verdade, e que ela não deveria se fechar para mundo, principalmente pela pessoa que ela havia se tornado, mas quando ela olhava nos olhos de alguém estranho, uma barreira se formava e a bloqueava de qualquer tentativa de seguir em frente, porque não eram os olhos dele que ela via, e mais uma vez o seu coração vencia a sua mente. A verdade é que quando se trata de amor, a mente nunca vence o coração, por mais que você lute até a exaustão.

Enquanto se via no reflexo, não conseguiu evitar se emocionar ao se ver toda produzida. Passou a mão levemente no vestido sentido a textura do tecido. Ele era simples, mas elegante. Não era muito volumoso, mas também não era daqueles modelos retos. Tinha detalhes em strass apenas no corpete tomara que caia com decote em formato de coração. Estava encantada com o brilho que o tecido mostrava nas luzes do quarto. Passou a mão no penteado para dar uma ajeitava. Preferiu deixar os cabelos soltos, deixando tudo ainda mais harmonioso. As lagrimas discretas e o brilho no olhar, eram sinais de que ela estava se sentindo o mulher mais feliz do mundo.

— Você é a noiva mais linda que eu já vi – Disse Jane a mãe de Hermione ao entrar no quarto. Hermione sorriu ainda entre lagrimas – E não estou dizendo isso, porque é a minha filha quem esta se casando – sorriu.

— Eu estou tão feliz, mãe – Disse secando as lagrimas, olhando a mãe pelo reflexo, enquanto a mesma a abraçava.

— Você merece toda a felicidade no mundo, meu amor! Vocês dois passaram por tantas coisas, que tem todo o direito de construírem a felicidade de vocês.

— Eu sei que não deveria, mas ainda me sinto tão culpada por ter demorado tanto... Draco já pediu para eu não pensar mais nisso, mas não consigo evitar...

— E ele tem toda a razão filha, o importante é que estamos aqui, comemorando um dia especial para vocês. O dia em que Draco vai fazer parte da sua vida para sempre e ninguém vai pode mudar isso, porque se o amor de vocês sobreviveu por tanto tempo, é porque mais cedo ou mais tarde, vocês tinham que estar juntos... E para tornar tudo ainda mais especial, gostaria de te dar uma coisa, para lhe trazer muito amor nessa nova fase da sua vida. – Jane pegou um enfeite de cabelo com detalhes em strass azul e prendeu uma mecha na lateral do cabelo  de Hermione, dando um toque ainda mais elegante e singelo. – Esse enfeite, eu usei no meu casamento, foi um presente da sua avó. – sorriu – Gostaria que a usasse também para lhe trazer toda a felicidade e amor que vocês merecem.

Na cultura inglesa, é tradição a noiva usar algo na cor azul no dia do seu casamento. Pode ser no buque, detalhe de cabelos, vestido, trata-se de algo simbólico para trazer muito amor e fidelidade para os noivos.

Hermione não aguentou se emocionar mais uma vez. Em meio as lagrimas, virou para a mãe e a abraçou forte, como todas as vezes em que tinha a oportunidade. Embora Hermione nunca tivesse contado a eles sobre tudo o que tinha acontecido na guerra, ela sentia a necessidade de demostrar o quanto podia, afeto aos seus pais, muito mais do que antes, pois ninguém podia imaginar o pavor que ela sentia na possibilidade de nunca mais tê-los em sua vida.

— Eu te amo tanto mãe! Muito obrigada por tudo!

Naquele momento nem Jane conseguiu conter as lagrimas. Abraçou a filha na mesma intensidade. Ela sentia tanto orgulho da filha.  

— Eu também te amo e muito, meu amor!... Agora vem, deixa eu retocar essa maquiagem, pois esta quase na hora de irmos – Jane pegou o estojo de maquiagem e foi retocando-a com cuidado, tirando qualquer resquício de que a filha tinha chorado, mesmo que tenha sido por pura felicidade. - não pense mais no que já foi, pense agora, no que será.

~*~

O sol entrava intensamente pelas janelas daquela pequena casinha abandonada caindo aos pedaços, onde Lucius passou a morar não fazia muito tempo. A casa ficava mais afastada da cidade no meio de uma floresta, que quase não tinha visitantes. Lucius estava tão alheio a tudo, apenas concentrado na manchete que lia, que nem percebeu que depois de tanto tempo, a luz do sol estava lhe trazendo um pouco de vida.

“CERIMONIA DE CASAMENTO DE DRACO MALFOY E HERMIONE GRANGER IRA ACONTECER NA PRÓXIMA SEMANA. O QUE LUCIUS MALFOY ACHARIA DISSO?

Como estamos acompanhando, caros leitores, no próximo final de semana, ira acontecer a tão aguardada cerimonia de casamento entre Draco Malfoy (ex presidiário e comensal da morte) e Hermione Granger (Heroina de guerra e Ministra da Magia). Podemos ter a total certeza que grandes coisas podemos esperar dessa nova geração da família Malfoy. Como ficamos sabendo por fontes próxima ao casal, Narcisa foi assassinada pelo Lorde das trevas durante a guerra e Lucius Malfoy desapareceu, não deixando pistas. O que será que deve terá acontecido com ele? O que ele diria a respeito dessa nova união?

A verdade é que para essas perguntas, nos nunca saberemos as respostas, mas pelo que conhecemos de Lucius e toda a historia que envolve toda a família mais influente da Grã- Bretanha, podemos supor que Lucius ficaria muito decepcionado com a escolha de seu único filho, pois todos sabemos o quando a família Malfoy sempre procurou preservar acima de tudo a linhagem puro sangue da família.

Mas a verdade, é que nada disso importa nesse momento. O que importa mesmo é o que podemos esperar dessa cerimonia tão aguardada por todos. Acredito que podemos esperar fortes emoções.

Rita Skeeter”

  Fazia uma semana que aquelas perguntas na manchete do Profeta Diário atormentava os pensamentos de Lucius. Ele já tinha perdido as contas, de quantas vezes releu aquela manchete naquela semana e muitas outras que ele expunha na parede da sala. Se soubessem o quando a vida tinha lhe transformado desde que fugiu e foi obrigado a viver nas piores condições. Se soubessem que ele não era mais aquele homem arrogante e desprezível que foi um dia, jamais aquelas perguntas estupidas seriam feitas.  Em meio a raiva, amaçou com gosto a sua única companhia e a sua única fonte para o mundo, a qual não podia pertencer. Amaçou a folha e a jogou em qualquer canto daquela pequena sala e riu. Rui por tamanha ironia da vida. Logo ele que sempre esteve no topo do mundo, hoje não passava de um marginal, vivendo nas margens da sociedade. Vivendo as escondidas, longe de tudo e de todos. Não por não ter escolhas, mas por opção mesmo, pois era covarde demais para se entregar. Era covarde demais para voltar a Azkaban e bater de frente com a realidade, que diferente de seu filho, não existia nada que pudesse o salvar; que pudesse livra-lo de uma condenação perpetua pela pessoa que ele sempre demostrou ser e principalmente pelos crimes que cometeu.

Embora estivesse vivendo de forma precária, Lucius se sentia feliz. Feliz por ver seu filho recomeçar a viver depois de tudo que havia passado. Ele olhava as fotos nos jornais e não resistia em dar um leve sorriso, ao reparar o brilho que Draco apresentava, a leveza nas expressões que ele tinha, muito diferente das expressões frias que ele carregava quando mais novo. Lucius podia contar nos dedos, os momentos em que se sentiu verdadeiramente feliz. Os momentos mais marcantes, foram: quando se casou, teve Draco, quando conheceu Mia e agora. Depois de anos vivendo as escondidas, Lucius nunca mais se deu a chance de acreditar que a vida poderia lhe trazer algo de bom. Ele tinha perdido tudo. A mulher que amava, o filho que sempre sonhou, a sua família, e uma vida digna. Perdeu tudo por contas de erros irreparáveis, que nem em um milhão de anos, ele iria se perdoar. Tinha perdido tudo e o único culpado, era exclusivamente ele.

Uma lagrima escorreu de seus olhos cinzas, ao se deparar com a sua deprimente realidade. Tinha passado tantos tempo acreditando nos ideias de um mestiço imundo, que nunca chegou a perceber que tudo estava o levando ao buraco mais fundo. Nunca tinha reparado que enquanto matava pessoas por puro preconceito e ideologias erradas, ele não estava destruindo apenas aquelas família que ele julgava ser escoria da sociedade, mas estava destruindo a sua própria família, que tanto acreditou que jamais seria atingida.

Olhando as fotos do filho nas manchetes, o sorriso que ele apresentava em seu rosto, fez Lucius finalmente perceber que Draco nunca tinha sido uma pessoa feliz de verdade. Nunca tinha sido uma pessoa livre para ele mesmo. Ao ver aquelas fotos, é que Lucius pode enxergar que Draco sempre foi o seu espelho e sentiu raiva ao perceber, que nem ao menos o valorizou pelos seus esforços. Lucius tinha sido um espelho para Draco, do mesmo jeito que Abraxas tinha sido um espelho para ele. Sentiu raiva do pai, raiva porque precisou passar por tudo o que passou e ainda passa, para perceber que espelhos também podem projetar uma imagem destorcida.

— Você é um grande mentiroso, Pai! – disse em pensamentos altos. – Sempre me fez acreditar que nunca nada iria acontecer de mal conosco, mas olha so que ironia. Seu filho se tornou um foragido, perdeu a mulher e seu neto teve que passar treze anos em Azkaban. O que me diria se estivesse aqui, hein? Irias nos chamar de fracos e dizer que somos uma vergonha para a família? Pelo que conhecia do senhor, era exatamente o que nos diria, mas sabe de uma coisa? Eu não estou mais nem ai com o que pode estar pensando de nos ou poderia pensar. E quer saber de uma coisa? Estou orgulhoso do meu filho, estou orgulhoso por ele ter sido tão corajoso e esta se esforçando para recomeçar. Esta procurando ser feliz ao lado da pessoa que ele ama, não importa mais quem ela seja ou deixa de ser... Não importa mais se ela é uma nascida –trouxa. Ela demostrou ser alguém muito melhor do que todos nos juntos, pai.

As vezes Lucius se perdia em pensamentos altos e muitas dessas vezes, seus pensamentos eram direcionados ao seu pai, pois sentia a necessidade de desabafar tudo o que estava entalado dentro de si. Quem o visse poderia acreditar que ele estava enlouquecendo, mas a verdade, é que depois de anos sozinho, sua mente havia se tornado uma companhia. Ele estava envelhecendo e se sentir sozinho era algo que estava se tornando cada vez mais doloroso. Quando não conversava com a sua mente, Lucius se entregava a bebida. Tudo era valido na realidade em que vivia desde o fim da guerra.

Levantou da poltrona velha com uma decisão em mente. Iria voltar, mas não para se entregar, ele não estava preparado para se revelar ao mundo e sofrer as consequências, mas ele voltaria, porque precisava ver o sorriso de felicidade estampado no rosto de seu filho. Precisava ter a certeza de que ele estava bem e seguro. Precisava vê-lo, nem que fosse pela ultima vez.

~*~

Quando a musica finalmente começou a tocar, as portas da igreja foram abertas, revelando Hermione acompanhada do pai e da filha que entrava a sua frente. Imediatamente os olhares de todos os presentes se voltaram para elas. Hermione passava o olhar para cada pessoa de forma agradecida por estarem fazendo parte de um momento como aquele. Uns tinham um sorriso enorme em seus rostos, outros não conseguiam conter as lagrimas de emoção ao ve-la ido a caminho do altar, depois de conhecerem um pouco da sua historia. Estavam tão entretidos a vendo passar, que nem repararam que o casamento já acontecia, e eles apenas precisavam olhar para Draco no pé do altar com os seus olhos marejados, enquanto tinha os olhos vidrados em Hermione e Mia. Lagrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto pálido, por tamanha emoção.  

Quando Hermione e Mia chegaram ao altar, Draco foi ao encontro delas. Abaixou para ficar na altura de Mia e beijou sua testa.

— Você esta linda! – disse baixinho.

Ele não tinha pressa, apenas queria aproveitar cada segundo daquele momento tão especial em sua vida. Mia sorriu mais ainda com os olhos marejados, ninguém podia calcular a tamanha felicidade que os três estavam sentindo. Quando Mia se juntou ao amigos, Draco levantou e se direcionou ao senhor Granger. O cumprimentou com um forte abraço e lhe agradeceu por todo apoio que teve no inicio. Draco jamais podia imaginar que poderia se sentir tão acolhido por pessoas que sempre nutriu sentimentos tão ruins. Muitas vezes ele até se sentia constrangido diante deles, mas Hermione sempre lhe ajudava a superar suas dificuldades com um passo de cada vez.  Quando seus olhos se encontraram com os dela, ficaram se olhando de forma tão profunda, como se pudessem enxergar a alma um do outro. Eles tinham a consciência que nem tudo seria um mar de rosas, teriam dificuldade para lidar com muitas coisas, mas ambos estavam dispostos e enfrentar o que fosse preciso, pois os olhos eram o caminho mais seguro que cada um tinha, para acreditar que tudo aquilo valia a penas, que nada tinha sido em vão.

Passado alguns minutos em que estavam pedidos dentro dos olhos um dos outro, Draco segurou o rosto de Hermione com delicadeza e beijou sua testa da mesma forma que tinha beijado a sua filha. As lagrimas ainda estavam ali, mas apenas eles podiam enxergar por estarem tão próximos. Hermione passou a mão no rosto de Draco de forma carinhosa, limpando as teimosas lagrimas que insistiam em cair. Draco beijou sua mão em resposta ao gesto antes de segura-la e guiar Hermione até o altar ao encontro do padre. Ao chegarem la,  deram uma ultima olhada na alma um do outro e voltaram a prestar atenção no homem a sua frente que se preparava para dar inicio a cerimonia.

— Eu me lembro como se fosse hoje o dia em que os dois, Hermione Jane Granger e Draco Lucius Malfoy, vieram marcar a data do casamento, e quando os vi entrando por aquela porta, eu sabia que esse casamento de alguma maneira seria especial. Quando me contaram brevemente a historia de vocês, essa certeza só ficou mais evidente. Entre vocês há uma ligação muito forte, uma ligação que ninguém pode imaginar. Uma ligação que já existia muito antes de vocês mesmo tomarem consciência. Sabem... Muita gente acredita que o ódio é o oposto do amor, mas a verdade é que o ódio também é uma forma de amar. Um amor destorcido, duvidoso, mas ele estava lá camuflado nos sentimentos aparentemente ruins, esperando apenas o tempo fazer esse amor aparentemente ruim, se tornar um amor bom, como podemos ver claramente quando olham um para outro... Estou realmente realizado em estar aqui celebrando essa união, que tinham todos os motivos para ser posta em duvida. Tenho a plena consciência que não deve ter sido fácil. – Draco e Hermione assentiram concordando. Ambos estavam emocionados com as palavras do padre, parecia até que ele tinha convivido com eles desde os tempos de escola, mas era apenas um padre amigo da família de Hermione que tinha feito a cerimonia de seus pais. Hermione queria muito que ele realizasse o seu casamento, por toda a trajetória que ele tinha com sua família e porque ela o admirava muito. Ele não tinha poderes mágicos como ela, Draco e a maioria das pessoas ali presentes, mas aquele homem a sua frente sempre demostrou muita sabedoria em seu jeito de pensar e no seu jeito de não condenar ninguém, que Hermione achava aquilo uma espécie de dom especial.  - Devo alerta-los – continuou ele – que ira continuar não sendo fácil, mas tenho a plena certeza que juntos irão enfrentar o que for preciso, pois demostraram ter uma força enorme diante dos obstáculos e é isso que os tornam únicos. Estão dispostos a se permitirem recomeçar? – Draco e Hermione assentiram mais uma vez. – Muito bem! Então podemos fazer a trocas de alianças e fazer os votos.

Enquanto a musica voltava a tocar, Mia saiu do seu lugar e foi ao encontro dos pais. Draco pegou uma das alianças e iniciou seus votos.

—  Eu nunca vou me esquecer daquele dia em que te pedi em casamentos e você aceitou dizendo que queria estar ao meu lado, e  que queria encontrar o nosso lugar no mundo depois de tantos anos. Embora eu não tenha te dito, mas aquilo, aquelas simples palavras me trouxeram um conforto enorme que eu nunca poderia imaginar que sentiria novamente. Pela primeira vez, depois de tanto tempo, eu me sentir em casa, me senti vivo novamente. Sei que muitos podem duvidar do que eu sinto por você e principalmente acreditar que eu realmente mudei, mas estou disposto a enfrentar o que for para chegar até você. Enfrento o que for para voltar para casa, onde vou aos poucos aprender a recomeçar, deixando cada vez mais para trás, o frio daquela cela e todos o tormento que ainda me persegue daqueles tempos ruins. Eu estou disposto a enfrentar o que for preciso para estar com a minha família. A família que eu sempre sonhei em ter depois de ter perdido as pessoas que eram o meu porto seguro. Sei que tenho muito o que melhorar, mas estou disposto a enfrentar o que for preciso porque eu amo você Hermione. - Ao finalizar, Draco colocou o anel no dedo de Hermione, ela estava emocionada ao ponto de ter as mãos tremulas. Ambos sorriram um para outro enquanto Mia voltava ao encontro deles. Secaram as lagrimas que insistiam em cair e Hermione respirou fundo se preparando para dar inicio aos seus votos.

— So Deus sabe o quanto eu sempre sonhei com esse dia. Com dia em que iria dizer eu aceito para o homem da minha vida. Já perdi as contas de quantas noites passei em claro pensando se um dia eu poderia realizar esse sonho, porque, por mais que eu tentasse recomeçar, eu nunca conseguia. Nunca consegui seguir em frente, quando os meus pensamentos estavam em você. Tenho consciência do quanto me julgavam por eu não querer encontrar alguém e buscar ser feliz, mas a verdade, é que não foi por falta de tentativa. Ninguém nunca fez ideia do quando foi difícil olhar nos olhos de alguém e não encontrar os seus olhos. Não encontrar esse lindos olhos cor de oceano que são capazes de me fazer mergulhar ao ponto de alcançar a sua alma. Ao mesmo tempo que não conseguia encontrar os seus olhos em alguém, eu via você todos os dias, toda hora, quando olhava para a Mia. Eu sentia tanta falta do que eu era quando estávamos juntos, mesmo que não disséssemos nada. Eu quero e estou disposta a estar do seu lado, para enfrentarmos o que for preciso e te prometo que irei mergulhar em seus olhos cor de oceano, todas as vezes que for necessário para chegar na sua alma e te fazer entender que você não precisa ser a pessoa mais perfeita desse mundo, ninguém é, você so precisa voltar para casa, pois eu vou estar te esperando porque eu amo você Draco. – Hermione colocou a aliança em Draco enquanto era possível ouvir alguns soluços vindo de familiares e amigos que assistiam aqueles votos tão puros e profundos, de duas pessoas que haviam se ferido. De duas pessoas que estavam dispostas a fazer suas feridas serem cicatrizadas. Precisariam de esforço e tempo, mas era nítido para todos ali que eles seriam capazes de conseguir. Após os votos, o padre voltou a pronunciar.

— Se tem alguém que é contra essa união, diga agora ou cale-se para sempre - Ninguém se manifestou - Então, diante de Deus e de todos os presentes, os declaro marido e mulher.

Os aplausos vieram com intensidade, juntos com choros e largos sorrisos. Draco e Hermione se beijavam sem pressa. De forma calma como se tudo em volta deles estivesse em câmera lenta. Eles não tinham pressa, poderiam ficar ali o tempo que for, apenas sentindo o toque, o gosto, a corrente elétrica que passava por seus corpos, o arrepio. Ter Hermione em seus braços, trazia para Draco realmente a sensação de estar em casa, sensação de paz que a muito tempo ele buscava. Agora que estavam finalmente juntos, ele cuidaria de sua família, iria protege-las porque ele sabia muito bem cuidar do que lhe pertencia.

Mia olhava seus pais emocionada em vê-los ali, tão felizes. Ela tinha lutado tanto para que isso acontecesse, que as vezes ela achava que estava sonhando. Desviou a atenção deles e virou para as pessoas que estavam na igreja, olhando cada rosto ali presente, mas ficou incrédula quando olhou pela porta de igreja e viu alguém escondido nas sombras das arvores de final de tarde. Se ela acreditava que estava sonhando, agora ela tinha certeza. Seu avô estava ali presenciando o casamento de seu filho, presenciando o seu único filho voltando a viver. Lucius fez um gesto para que Mia não dissesse nada, ela assentiu discretamente lhe dado um leve sorriso para não chamar a atenção, Lucius retribuiu. Ele so precisava se certificar que Draco estava bem e que finalmente havia encontrado a felicidade. Tendo certeza disso, partiu para longe dali em meio as sombras, como da ultima vez.