Ponto de Vista de Alice

"Esse é um daqueles favores sem perguntas!" Eu sabia.

"Não acredito que está me metendo nisso outra vez." Sabia, sabia, sabia. Sabia desde que o sol nascera, e ainda assim, ela achava que conseguia me enganar.

"Por favoooor!" Como se eu não soubesse no que ela tivesse se metido outra vez.

"Por que eu fui te ensinar justo esse conceito, pirralha?" Suspirei, escutando a risada de Lizzie do outro lado da linha, junto de um som que mais parecia- "A sua mãe vai me matar se seu pai descobrir que eu sei o que você está fazendo, você sabe, não sabe?"

"Mamãe te deixou viva até hoje tia Alice, e são aaaaaaaaanos de favores sem perguntas." E eu ouvi mais um latido.

"Isabella odeia que você ande com cachorros, Elizabeth." E era tão inútil, mas tão inútil falar.

Elizabeth Thompson Cullen, quase 20 anos, apaixonada por um maldito lobisomem. Eu sabia com quem ela estava, claro que sabia: porque seu futuro era completamente negro para mim desde que a meia vampira sumira noite passada. Mas ela nunca ficara sumida até amanhecer.

E o pior é que não era Izzy que faria qualquer coisa impensada caso descobrisse onde estavam enrolados aqueles cabelos de fogo: Edward iria acabar com o pacto se desconfiasse do paradeiro da filha, sendo o pai mais superprotetor de todo esse mundo, literalmente - simplesmente ótimo.

Olhei para a fachada de vidros grandes, então para a única sala da casa. Casa que em uma outra vida eu dividi com a mesma família com a qual agora dividia: vazia naquela hora, para minha sorte. Ao menos ainda não precisava controlar meus pensamentos, agora que todos haviam saído para caçar, então puta que pariu, Elizabeth, por que diabos você passou a noite com um maldito lobo?

"Quem é mamãe para falar sobre os perigos que eu corro com um cachorro quando ela mesma era a melhor amiga de um?" E quase ri com o rosnado que seguiu.

Quase.

Maldição Isabella, qual a necessidade de contar a história de amor de vocês na íntegra? Você morreu duas vezes - na verdade três, quase me levando junto da última vez! Vampiros podiam morrer do coração? Porque eu quase morri ao segurar a amante de cães nos braços pela primeira vez, enquanto você praticamente se afogava no próprio sangue antes do veneno fazer efeito!

"Para eu te ver junto de suas amigas de escola, Lizzie, e tranquilizar seus pais com minha suposta visão, quero ver você entrando pela droga da porta até às sete da noite," O que a fazia ter três horas para voltar para casa, tempo o suficiente de qualquer lugar que ela estivesse até aqui. "Sozinha." A não ser que tivesse se enfiado no Alasca outra vez.

"Posso estar chegando em Forks às oito e meia?" O que era o caso - maldita seja. E ela nem mesmo me deixou falar antes de emendar. "Te devo mais essa, tia!" E a linha ficou muda no segundo seguinte.

Que inferno!

"Você já me deve a eternidade, pirralha." bufei para mim mesma, afundando mais no sofá macio.

Ao menos tudo estava bem - bem até demais, me atrevi a pensar. Afinal, faltavam vinte dias para os vinte anos de Lizzie, o que queria dizer quase vinte anos de uma vida tranquila e sem nenhum problema significativo.

Claro, eu não conseguia ver o dia da festa de aniversário da pirralha, o que me fazia ter a certeza de um futuro caos chamado Henry - e não precisava enxergar o futuro para saber que Edward odiaria aquele cachorro.

Sacudi a cabeça, tão igual a mãe, não dando a mínima importância para a opinião dos pais quando o assunto era amor. Ele é o amor da minha existência, tia Alice. Tão igual. Desmembraria o lobo caso algum dia houvessem lágrimas naquele rostinho - e que se dane o tratado.

E então olhei para o vidro em minha frente, e quase saltei do sofá. Quando vi o reflexo na janela gigantesca, minha mão foi direto para o peito, como se houvesse algo ali batendo - manias humanas.

Eu fiquei menos de cinco minutos sem checar o futuro, menos de cinco minutos! Definitivamente não esperava ver aqueles cabelos bagunçados, assim como não esperava repetir a pergunta de minutos atrás: vampiros poderiam morrer do coração?

"Reze para ela ter a eternidade para pagar, Alice."

Precisava acabar com as regalias daquela pirralha.

"Me diga que minha única filha não está no Alasca com um vira-lata." escutava Isabella falar do lado de fora de casa.

Ops.

...

fim