Além de uma vida escrita por Ania Lupin


Capítulo 37
Um pedaço de mim


Notas iniciais do capítulo

gente, penúltimo! >



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Ponto de vista de Isabella

"Se eu vomitar mais uma vez hoje, vou acabar com a minha garganta." resmunguei, praticamente jogando um pedaço de torta de vegetais num prato, o empurrando para dentro do microondas.

"Você não vai vomitar."

"Diz a pessoa que praticamente não consegue mais me ver direito." falei ainda mais irritada, tirando a torta depois de trinta segundos. Não me importei que ela estivesse ainda um pouco fria enquanto a comia, queria acabar rápido com aquele monte de cenoura, brócolis e abobrinha, que para mim não tinha gosto de nada - como nada tinha nos últimos dias, fora todo o sangue que ingeria. O sangue era maravilhoso - e sim, era um pouco perturbador admitir aquilo, ainda humana.

Suspirei, pelo menos o sangue ainda era bom e ficava no meu estômago. Os vômitos haviam voltado, dois quilos haviam outra vez sumido, mas ao menos eu tinha o sangue. E também, uma pequena vitória - que era talvez mais de Edward, ausente naquela tarde, do que minha. Ao menos daquela vez minha irmã estava certa: terminei a torta, abandonei o prato na pia e subi para meu quarto, não sentindo meu estômago revirar em nenhum instante. Sabia que precisava de um banho, mas passar reto pela minha cama tão confortável em direção ao banheiro fora quase um sacrifício. Que horas Edward chegaria mesmo do hospital?

Tirei a roupa, pisei dentro do box - não sem antes me certificar de que minha toalha estava ali perto - e abri o registro, logo fazendo minha pele entrar em contato com a água morna. Olhei para baixo, a barriga ainda estava ali, perfeita. Será que ele já percebera o fato hoje pela manhã? Será que seria uma surpresa?

Saí do chuveiro minutos depois, envolta na toalha após enxugar o excesso de água do corpo. Quando abri a porta do banheiro, a toalha quase foi parar no chão com o susto que tomei. Não tive nem tempo de dizer alguma coisa antes de ser puxada para um beijo apaixonado, e quando dei por mim, já estava deitada na cama. Minutos depois o vampiro estava deitado ao meu lado, um sorriso enorme nos lábios.

"O que foi isso?" disse, rindo. "Sentiu minha falta tanto assim?" Também sorri, me debruçando em cima dele. "Foram só algumas horas."

"Não importa se horas ou dias. Você nem imagina o quanto sinto sua falta, meu amor." Mais um beijo. O que mesmo eu tinha para lhe falar? Edward voltou a me deitar na cama, indo para cima de mim, sempre cuidadoso. "Não acha que precisa de algo além dessa toalha?"

"Você?" respondi sem pensar, ficando vermelha imediatamente depois.

"Eu amo você." ele disse, rindo com minha súbita timidez. "A cada dia mais. Tenho certeza que é algo que nunca vai parar de crescer, jamais." E mais um beijo nos lábios, na bochecha, no queixo, e na barriga ainda coberta. Então eu me lembrei.

"Tenho uma surpresa para você." Coloquei uma mão onde prendera a toalha com um pequeno nó, desatando-o. "Juro que não estou tentando te seduzir." Não nesse momento, pelo menos.

"Jura, é?"

"Uhum." Mas quando a toalha se foi, os lábios voltaram a se colar nos meus mais uma vez. Seus olhos se fecharam quando ele tocou com delicadeza meu rosto, me beijando com mais intensidade. Logo uma mão foi para minha cintura, a outra indo enroscar-se nos meus fios molhados. Só minutos depois que o beijo foi quebrado, por mim, que precisava de mais ar.

"Desculpe." De olhos fechados, senti o beijo em meu pescoço. "Você é tentadora demais para mim. Acho que já falei isso."

"Algumas vezes." Tentava me concentrar no que tinha para falar, mas aqueles lábios pareciam querer o contrário.

"Estou controlado hoje, tão controlado." Ele sussurrou contra meu pescoço, e suas mãos começaram a vagar pelo meu corpo. Eu tinha que contar mesmo o que?

Foi só quando senti uma mão passar pela minha barriga que me lembrei. Ele parou a mão fria ali naquele mesmo momento. E no segundo seguinte, toda a atenção tinha sido voltada para nossa filha.

"Essa era a surpresa." disse, enquanto o futuro papai observava maravilhado minha barriga normal. Nenhuma mancha roxa. "Lizzie está tão calma desde que você-" Desde que você a aceitou. Desde que fala com ela. Desde que tenho seu apoio. "Desde que você toca minha barriga." Não tinha como falar isso de qualquer forma mais suave, mas daquela vez, meu vampiro enfim não se afetou com sua rejeição inicial.

"É tão lindo." Ele passava a mão ternamente no local, seus olhos rapidamente achando os meus. "Você por inteira, é tão linda. A grávida mais perfeita de todo o mundo. Minha grávida." E ele voltou a me puxar para mais perto, se movimentando para que eu ficasse onde ele estava a segundos atrás, em cima de seu peito. Tão cuidadoso. "Está com sono, minha querida?" Seus olhos claramente não esperavam um sim como resposta, e não foi um sim que veio. "Qualquer coisa-"

"Edward," o cortei. "Me beija. Para de falar, e me beija."

Não precisei pedir duas vezes.

Ponto de vista de Alice

"Eu fiz extra forte. Essa xícara deve amarelar seus dentes e matar qualquer bactéria em seu estômago." disse, colocando a xícara de café nas mãos de minha irmã, que descansava no sofá exibindo uma barriga sem hematomas.

Finalmente sem hematomas, mas novamente mais magra. Finalmente conseguindo manter algo no estômago, mas quase sempre vomitando toda comida que ingeria fora o sangue - o que já lhe davam quase três quilos a menos, novamente. Até quando ela aguentaria, até quando Edward manteria aquele sorriso, como se estivesse tudo bem, como se ele realmente estivesse aceitando a morte da esposa? Porque era aquilo: ela estava morrendo. Minha irmã não estava mais vomitando por causa da gravidez.

"Deus te abençoe." Isabella não esperou o líquido preto esfriar antes de começar a bebe-lo "Não tem nada cem por cento comprovado que café faz mal durante a gravidez. E também, é só hoje." sorriu, esvaziando rapidamente a caneca.

Isabella estava vomitando por causa do tumor. Estava ainda mais cansada por causa do tumor. Estava desligada por causa do tumor - e a massa estava crescendo, por mais que ela não tivesse conhecimento daquilo, Carlisle simplesmente sabia. Por saber, fora caçar com todos os outros ontem pela noite, me deixando com Jasper - ambos recém-alimentados - para cuidar de minha irmã até a tarde, quando ele tentaria convence-la a fazer o parto. Já estava na hora, o feto sobreviveria se fosse tirado agora - Isabella, se continuasse grávida, talvez não.

"Obrigada Al." Uma mão sobre a minha me chamou a atenção. Era bem mais fácil sentar ao lado dela agora e não querer devora-la - bem mais fácil do que poderia imaginar nos primeiros dias.

Era a primeira vez que ficávamos sozinhas. Jasper estava do lado de fora da casa - por mais que pudesse ouvir toda nossa conversa - nos dando uma falsa sensação de privacidade. Queria, precisava, que aquela não fosse a última vez ao lado de minha irmã. Que em breve, fossemos nós duas caçando na floresta, que conversássemos madrugada adentro sobre tudo que aconteceu e tudo que iria acontecer, e compartilhássemos risadas pensando nessa época negra.

"Eu deveria ter te falado, Izzy." Mas, e se aquela fosse minha única chance? "Sobre minhas visões." Minha única chance de me desculpar? Nossa última conversa? "Sobre o que estava acontecendo na minha cabeça." Como poderia me perdoar se não falasse tudo agora? "Sobre achar que estava doente, sobre lá no fundo saber-"

"Eu também deveria." ela me cortou, um sorriso nos lábios, os olhos indo para longe. "Eu fui até Forks." Sim, eu já sabia. "Eu vi Jake." Aquilo eu não sabia.

"O lobo?" Isabella fez que sim com a cabeça.

"Ele casou com Leah. Eu não lembrava muito bem dela, mas fiquei tão feliz! Ele está feliz com ela." E eu deveria ter estado ao seu lado. Deveria ter ido junto com você, deveria ter estado lá quando descobriu tudo, quando lembrou de tudo. "Eu vi minha casa, eu vi o túmulo de meu pai, eu vi Jessica e Mike, lembra deles?" confirmei, uma onda de calma me invadindo. Jazz. "Eles também casaram. Tiveram um filho." Era como se ele pressentisse a próxima frase. "Lembrei do nosso fim lá. Lembrei que existiam vampiros lá."

"Você ficou com medo?"

"Eu queria muito você ao meu lado quando lembrei." ela enfim confessou - eu também queria, Izzy. "Mas a culpa era inteiramente minha. Eu fui sozinha, eu não te falei nada - nem te dei a chance de me acompanhar. Eu sabia que estava doente, e imaginava - tinha certeza - que tudo aquilo era uma brincadeira desse maldito tumor. Há, vampiros!" Compartilhamos uma risada. "E eu fiquei com medo, sim. Mas o meu medo foi muito maior quando achei que tivesse perdido você." Isabella terminou, voltando a me olhar.

"Então você entende como eu me sinto." As palavras saíram dos meus lábios antes que pudesse para-las.

"Entendo sim." Suas mãos quentes envolveram as minhas - ela não se incomodava com aquele frio? "Você não vai me perder, Alice. Porque eu vou viver, de algum jeito eu vou viver." De algum jeito? "Ela é uma parte de mim, Al."

"Eu quero as duas partes aqui, Izzy." admiti, egoísta. Eu não queria aquele pedaço de minha irmã - eu queria minha irmã, mas que droga!

Recebi um sorriso em troca, Isabella apoiando a mão em meu ombro enquanto se levantava - tão desengonçada, tão grávida.

"Vou me deitar um pouco." E eu já estava me preparando para ir embora, para sair correndo da casa - eu e meu egoísmo - quando veio a pergunta. "Vou ser muito abusada se pedir para me trazer um pedaço de torta e um pouco mais de sua companhia?"

Sorri de volta e fui para a cozinha enquanto ela começou a subir os degraus com o maior cuidado que conseguia ter. Não seria a última vez que veria minha irmã, com certeza não seria. Carlisle chegaria naquela noite, e tudo seria resolvido! Edward concordara com aquilo, Rose concordara, nosso pai sabia o que estava fazendo e Isabela haveria de concordar, também. Não tinha como nada dar errado até lá, tinha?

O barulho que ouvi em seguida, acompanhado de um grito da mais pura dor, me provou que sim, tinha.

"Izzy?" Nem vi o prato chegar ao chão, no segundo seguinte já ao lado de minha irmã, estirada no começo da escada. Ela caiu? O feto chutou? Meu Deus, o que houve, o que houve, por que ela está no chão- "Isabella!" De olhos fechado, Isabella! "Jasper!" Ok, ela abriu os olhos. Calma Alice, calma. "Izzy, o que você está sentindo?" Calma Alice, respira. "Onde dói, o que eu-" Sangue.

Merda.

Prendi a respiração, sangue. A garganta rasgou no mesmo milésimo, por mais alimentada que eu estivesse. Sangue. Fechei os olhos, tentando me concentrar: era minha irmã, era minha irmã e ela iria morrer - onde estava aquele sangue?

"Não respire, Alice. Não respire mais até isso acabar." A voz de Jasper me fez abrir os olhos, meu vampiro já do outro lado de Bella, tentando identificar os possíveis ferimentos além do pequeno corte na cabeça.

"Ela chutou muito forte, eu não consegui me equilibrar." minha irmã disse, com muito esforço. Estava respirando tão pesado, o que- "Acho que," Não respire, Alice, não respire. "Quebrei alguma coisa. Não sinto minhas pernas."

No segundo seguinte Jasper a carregava até o quarto montado por Carlisle, onde tudo seria feito naquela noite - se ela aguentasse até lá.

"Precisamos de Carlisle agora." Jasper disse, colocando Bella em cima da cama - ela realmente não mexia mais as pernas, mas as mãos ainda tinham vida, e apertavam a barriga com força, com dor. "Isabella, respire!" Ela tinha prendido a respiração, e parecia que desmaiaria a qualquer momento, tão branca estava. "Respire e não feche seus olhos!" Aquilo era uma contração - merda, merda, merda.

"Izzy, fica com a gente, ok?" Segurei uma das mãos quentes, totalmente perdida. O que faríamos agora? Ela estava tendo uma contração, e meu Deus, ela não poderia colocar essa criança no mundo como uma mãe normal, Isabella morreria no processo e Carlisle sempre deixou bem claro que, se chegasse a hora- "Jasper, o que eu faço?" Eu definitivamente não poderia realizar aquele parto. E já haviam passado cinco segundos, e nem eu, nem meu parceiro, sabíamos o que fazer. "JASPER!"

"Eu não sei!" ele gritou de volta, limpando o machucado da testa de minha irmã com uma gaze e soro fisiológico. Sério, essa era a única coisa que você conseguiu pensar em fazer? Espalhar mais ainda o cheiro de sangue enquanto minha irmã fechava os olhos?

"Izzy, fica acordada!" sacudi com delicadeza seu ombro, mas forte o suficiente para ela sentir. Aqueles olhos castanhos já estavam tão cansados, e havia se passado o que, cinco minutos desde a queda? Menos.

"O bebê, Al." A contração parecia haver finalmente parado, Isabela conseguindo respirar mais devagar, conseguindo falar outra vez. "Faça qualquer coisa, mas por favor-" E outra. E eu respirei novamente, e havia sangue, e água escorrendo pela cama - a bolsa. E eu não chegaria até Carlisle porque eu não era rápida o suficiente - Jasper era, e Jasper tinha muito mais problema com aquilo.

E Jasper-

Jasper, coberto de sangue.

"Jasper, vai!" praticamente o arremessei para longe da cama, enquanto abria a gaveta ao meu lado, procurando com o que abrir aquela enorme barriga, procurando uma anestesia, procurando ajuda - o que Carlisle disse, como eu deveria fazer aquilo?

"Você vai matá-la-"

Desculpe. Me desculpe, eu não consegui-

"Você vai mata-la!" gritei, quando Jasper voltou para o lado de minha irmã. Ele ia mata-la, eu sabia, eu conseguia ver novamente - meu Deus, o que eu precisava fazer para que ela vivesse, havia tempo de pesquisar, havia tempo para ser perdido olhando as possibilidades? "Você vai mata-la se eu abri-la aqui, vai!" Levantei a camiseta que tampava a barriga - um hematoma enorme do lado esquerdo, provavelmente recém feito. "VAI!" gritei uma última vez, começando a esteriliza-la.

Vi o vampiro ir embora e respirei fundo uma última vez - não acreditava, estava tão fácil, nem lembrava de minha garganta, e ela queimava, como se houvesse fogo dentro dela, mas então meu coração parecia que explodiria - o peito doía muito mais. Eu poderia cortar, não poderia? Poderia cortar, poderia cortar, eu conseguiria fazer aquilo.

"Ele vai achar Carlisle, e vai ficar tudo bem Izzy, vai ficar tudo bem ok? Você só precisa aguentar mais um pouquinho-" Minhas mãos tremiam com o bisturi, e o que mais queria ouvir era não. Não Alice, não corte, espere Carlisle, não corte.

"Eu acho que," Quando os olhos castanhos acharam os meus, eu já sabia o que seguiria - não precisava prever o futuro para ver a dor e o desespero dentro deles. "Al, não dá pra aguentar e eu não sinto as minhas pernas. E talvez eu não sinta meus braços com a próxima contração, e-" Sua mão tão suada segurou a minha livre, ela estava tão frágil, ela estava tão pálida - não havia mais cor naqueles lábios, naquele rosto. "Tira ela de mim."

E não havia mais escolha.

"Isabella, Carlisle vai chegar em-" Eu sabia que não havia mais escolha.

"Mais de uma hora," Isabella sempre soube. "Estão muito longe. Eu não vou aguentar, e eu não consigo fazer isso sozinha." Muito sangue, haveria muito sangue - e se eu não matasse minha irmã e matasse o que sair dela? Como ela conseguia confiar em mim daquele jeito, como conseguia confiar aquela vida tão importante nas mãos de quem a desprezou desde o começo? "Al, tem uma seringa com veneno na segunda gaveta, pega." Obedeci como um robô, logo achando a seringa cheia de um líquido translúcido. "No meu coração, como foi com você, ok?" Sim, no coração, e por um segundo eu já estava me preparando para injeta-la. "Depois! Depois de Lizzie!"

Foco Alice, foco. Mas eu não conseguia mais ver além do sangue, não via mais nada no futuro além do sangue.

"Isabella, por favor, por favor-" Nós riríamos daquela situação no futuro? Nós nos orgulharíamos de fazer tudo aquilo sozinhas? Haveria nós duas?

"Não precisa ter medo, eu estou aqui." Isabella dizia, tentando colocar alguma tranquilidade em mim. Minha mão tremia, eu nem sabia que vampiros podiam tremer. "Eu estou aqui com você, vai correr tudo bem." Respirei fundo inconscientemente - meu Deus, e se eu fizesse aquilo durante o corte, e se eu fizesse aquilo e acabasse com as duas? Edward me mataria, e eu não faria nada para impedi-lo - a morte seria merecida, para o monstro que matou a própria irmã. "Al, eu preciso que você segure forte o bisturi e corte mais embaixo, ok?"

"Eu não posso!"

"Al, por favor." Eu não posso, eu não posso! "Você consegue." Como ela conseguia ter aquela confiança, me ensine como ter Izzy, me ensine como ficar assim calma quando você está morrendo e um vampiro vai cortar sua barriga! "Você consegue, Al." a voz novamente tinha muita dor, a mão novamente apertava a minha, os nós dos dedos ainda mais brancos. "Prenda a respiração, não precisa de anestesia."

Aquele corte foi a coisa mais difícil que já fiz em todas as minhas vidas. Isabella gritava, gritava muito, era ensurdecedor, como não precisa de anestesia? Sentia aquela pele ser separada, e não sabia até onde cortar: e se cortasse demais e machucasse a criança? Cortar menos que o necessário foi o escolhido, parando quando senti uma camada muito mais dura que o resto. Só teria que tirar o bebê agora, certo? Só teria que-

"Merda. Merda, merda." Era um bisturi afiado, mas comum, comum, havia outro? Por que não havia outro, por que não foi feito um para isso, merda Carlisle- "Não vai, não corta! Não corta a bolsa Izzy, o que eu-" Mas Isabella não conseguia me responder mais, ela só conseguia se concentrar em toda aquela dor, e por um momento foi tão tentador acabar com tudo aquilo e aplicar o veneno em seu coração - tudo acabaria, e as duas ficariam bem, não ficariam? Porque eu não queria, eu realmente não queria fazer aquela última alternativa, eu não podia, eu não iria conseguir, eu- "Merda!"

Eu iria conseguir, eu precisava conseguir. Não respirava mais desde o início do corte, mas sentia o veneno encher minha boca, ainda mais naquele momento, e engoli antes da primeira mordida. Não precisei me esforçar para romper aquele tecido - pelo contrário, o rompi com toda delicadeza possível, meus dentes sendo muito mais eficientes do que qualquer bisturi.

E então, três segundos depois eu vi.

E cinco segundos depois, Isabella viu, e nós duas escutamos o choro mais lindo que já ouvimos. Ridiculamente afinado, vindo daquela criatura tão linda, tão perfeita, tão nossa. Aquele serzinho tinha as feições de Isabella, e os olhos mais verdes, mais lindos, mais expressivos que já vira. Era ela e ele, era uma mistura perfeita.

"É Lizzie." falei, me aproximando de minha irmã com sua filha. "É Elizabeth, Izzy."

Mas Isabella, para meu desespero, não estava mais se mexendo.


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