Além de uma vida escrita por Ania Lupin


Capítulo 34
Um bebê




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Ponto de vista de Rosalie

"Um bebê." Para falar aquilo, Isabella havia me arrastado para fora de casa, para longe de meu irmão - seu marido.

"Um bebê."

Não vou mentir, a primeira coisa que senti não foi medo, não foi alegria, não foi nada do que ela provavelmente sentira em todo o tempo desde a primeira mensagem até agora. Foi inveja.

Ridículo, não?

Inveja de uma coisa que nem mesmo era possível, que nem mesmo era real.

"Bella, você tem câncer." disse, colocando o carro em uma das tantas vagas livres do estacionamento do shopping. "Edward é um vampiro." Tirei a chave da ignição, pegando minha bolsa no banco de trás com certo incômodo. "E essa é uma piada doentia."

Era. Aquela era uma piada doentia - vampiros não podem procriar. Com certeza, era fruto de nossa tarde de compras, finalizada na frente daquela loja infantil, cheia de roupas que nunca precisaríamos comprar.

Respirei fundo, pisando forte por todo o caminho até nosso destino. Tentava entender, tentava entender de verdade o que diabos estava se passando na cabeça da menina que me seguia, vestida com um jeans e um moletom azul grande demais na parte de cima - Alice morreria de desgosto ao ver a combinação. Tinha que entender que era a doença - só podia ser a doença - combinada com sua futuramente perdida humanidade. Aquilo era uma coisa da qual ela abriria mão para continuar viva. Ela nunca mais poderia sonhar em ter um bebê. Eu, mais do que ninguém, sabia o quanto isso podia mexer com a cabeça de uma mulher.

"Eu nem sei porque estamos indo até a farmácia, porque vai dar negativo." resmunguei enquanto virava mais um corredor. "E agora, além de tudo, eu vou ter que ficar não pensando nisso ao redor do seu marido, porque você sabe, mais do que eu, o quanto Edward gosta de um drama." Como se ele já não soubesse que algo estava errado, pelo meu aparecimento repentino e minha mente cantando o que ouvia na rádio - o mais alto que conseguia - e nada mais. Diminuí o ritmo quando ouvi uma fungada vinda detrás de mim. "E agora, você está chorando." Ótimo, simplesmente ótimo.

Entrei na farmácia sozinha, observando de canto de olho Isabella enxugar as lágrimas. Tinha que melhorar aquele temperamento, tinha que melhorar e agora: não havia mais porque ter raiva dela - ou de sua escolha. Antigamente, a sua falta de respeito com a humanidade me incomodava profundamente, mas agora, não era como se ela tivesse escolha caso quisesse continuar com meu irmão. Pelo contrário, nessa vida, o que eu mais queria era que a humana se tornasse logo de nossa espécie - para o bem estar de toda aquela família. Mas a situação em si estava sendo tão irritante! Falar da possibilidade era tão doído - e em minutos, ela saberia também o quão doído era abdicar daquilo.

"Quero o teste de gravidez mais preciso que tiver."

Paguei, revirando os olhos ao receber um boa sorte do caixa, e saindo da loja felizmente mais calma. Não tinha porque ficar incomodada com aquilo, Isabella estava assustada e havia me escolhido para acalma-la - em todo, eu deveria ficar apenas feliz por nossa aproximação.

Coloquei um sorriso no rosto quando entramos no banheiro, entregando o pacotinho nas mãos de minha cunhada.

"Sabe o que fazer?" perguntei, abrindo a porta de uma das cabines.

"Xixi na tirinha?"

"E espere dois minutos." E a porta se fechou.

Em dois minutos estaria tudo acabado, e nós provavelmente sairíamos dali e acabaríamos sentadas na praça de alimentação, Bella comendo alguma das combinações bizarras que seu paladar andava pedindo nos últimos dias. Um minuto e meio. Conversaríamos sobre seu desejo, sobre o que a fez pensar estar grávida, e Isabella provavelmente choraria - e eu falaria que está tudo bem, que eu sabia o que ela está sentindo, e que tudo, dado o tempo certo, passaria.

"Rose?"

"Sim?"

"Você gostaria de ser a madrinha se der positivo?"

Suspirei. Um minuto.

"Claro, Bella." Não me deixei sorrir - não havia aquela possibilidade, então o melhor era nem pensar. "Mas vamos esperar mais um minuto antes de falar qualquer coisa, ok?"

Quarenta e cinco segundo. Talvez consola-la fosse muito mais difícil do que estava imaginando, se sua esperança já era assim tamanha.

"Você seria a melhor madrinha." Trinta segundos. "Alice vai dar uma ótima tia, mas não tem ninguém melhor do que você para ser a madrinha, Rose. Você seria como uma mãe precisa ser." Vinte segundos. "Por isso que não pensei em nenhuma outra pessoa para chamar." Dez segundos. "Rose?"

"Sim?" ouvi ela ofegar atrás da porta. "O que foi, Bella?"

"Quando é positivo?"

"Quando você vê dois riscos."

A porta abriu no segundo seguinte, Isabella saindo por ela com os olhos marejados, tremendo enquanto segurava nossa resposta. Pelo sorriso que havia em seus lábios, assim como pela mão que descansava em cima de sua barriga - meu Deus, havia uma barriga! -, eu soube da resposta antes de olhar o resultado.

Como eu não havia visto antes? Como não reparara em nada no último sábado? Desde quando ela e Edward-

"Você realmente aceita?"

Eu mesma sorri, uma mão indo em direção a pequena curva que só agora era vista. O teste, já no chão, anunciava meu afilhado, ou afilhada, com dois riscos rosas, nenhuma de nós duas pensando no quanto aquela notícia mudaria nossas vidas - talvez para melhor, talvez para pior.

Naquela tarde, eu sabia que não mais poderia pensar em deixar esse mundo - nunca mais.

Ponto de vista de Alice

"Eu não enxergo mais o futuro da minha irmã, Jazz." bufei, após finalizar a ligação com Edward. "E ela insiste em esperar para se transformar! Me diz, qual o problema em ser quinta? Isabella vai arranjar outra desculpa até sábado!" Só notei que destruía mais um celular - o terceiro naquela semana - quando uma das peças caiu no meu pé descalço. "Estou ficando quase louca."

"Al, Bella quer aproveitar só mais alguns dias sendo humana." Jasper tentava me tranquilizar, mas mesmo sentindo minha irritação se dissolver, a preocupação nunca realmente ia embora - até porque a dele era tão constante quanto a minha. "Ela está tão próxima, não é como-"

"Eu quase morri e eu estava assim próxima, de todos vocês." o lembrei, jogando os restos do telefone na lixeira vazia da cozinha.

"Edward não vai sair do lado de Isabella."

"Era o que eu deveria ter feito, Al. Nunca deveria ter saído do seu lado. Eu sabia que você estava se dopando, e ainda assim eu-, me desculpe."

Não, não era o momento para ouvir desculpas. O cortei antes que pudesse fala-las.

"Edward está tão preocupado quanto eu." retruquei, minha irritação voltando por um minuto. "Eu não preciso dos meus poderes para saber disso."

"Nosso veneno consegue curar-"

"Eu não sei o quanto o nosso veneno conseguiria curar uma complicação cerebral." Finalmente admiti aquilo para mim mesma, minha voz saindo baixa enquanto olhava para a floresta atrás da casa pela porta de vidro dos fundos. O quanto nosso veneno adiantaria para alguém em coma? Em estado vegetativo? E se o tumor causasse um AVC? E se crescesse mais até sábado, e se- "Carlisle também não sabe se pode haver alguma complicação. Edward sabe que não sabemos, Edward sabe que não a enxergo mais, e Edward, por algum motivo desconhecido, ainda não a obrigou a se tornar uma de nós."

Encostada na parede, olhando para aquele fim de dia, o que eu mais queria era poder chorar.

"Calma." Jasper pedia, novamente ao meu lado. "Calma, Al. Olhe para mim." Suspirei, me rendendo a mão que puxava meu queixo para cima. "Isabella está viva. Ela está viva, ok?" ele tentava me reconfortar com aquela certeza. "Nós vamos fazer todo o possível para nada - nada - dar errado até sábado." Fechei os olhos ao sentir o beijo em minha testa. "Nada vai dar errado. Ela vai viver. O que você vê, minha pequena?"

"Você vai me abraçar e dizer que está tudo bem." Feito. "Nós vamos fazer amor na floresta." Senti Jasper sorrir contra minha bochecha, suas mãos descendo para além de minha cintura.

"Gosto dessa parte." ele sussurrou no meu ouvido.

"Vamos voltar para casa e-" Eu já não via mais nem aquela última parte. "Nada."

Esme está com Emmet. Eles vão ver coisas para a nova casa que querem dar de presente para Edward e Isabella. Voltam à noite, após visitarem o terreno, e-

Mais nada.

Carlisle está em um dia normal de trabalho. Ele resolve voltar para casa quando recebe uma ligação.

"E quando ele chega aqui, eu não vejo mais nada." Não conseguia ver Rosalie. Tentei mais uma vez minha irmã, e daquela vez, Jasper não conseguiu domar meu desespero - ao contrário, ele conseguiu finalmente senti-lo.

Nada.

"Al?"

"Eu não vejo mais nada com Izzy, Jazz. Não vejo mais o futuro de ninguém que está com ela." As duas estavam juntas, com certeza, porque eu não via nada. "Quando ela está junto no futuro de alguém, eu não vejo mais nada."

Ponto de vista de Edward

"Vocês realmente precisam conversar mais para esse relacionamento funcionar, irmão." Por mais incrível que pareça, era Emmett quem me aconselhava isso.

"Eu sei." E eu estava tentando colocar a dica em prática - realmente estava -, mas era difícil conversar unilateralmente, enquanto sua esposa saía apressada de dentro do banheiro já em direção a porta de entrada, ignorando suas perguntas.

"E você precisa confiar mais na Isabella, cara." Sem nenhuma palavra, com olhos preocupados e mãos que eu via que tremiam - por mais imperceptível que fosse o tremor ao olho humano. Mas estava tudo bem, ela só havia esquecido que marcara uma tarde com Rose. Isabella, numa tarde de compras, justo com a vampira que parecia odiá-la na vida passada.

"Ela saiu correndo para o carro da sua esposa, que cantava mentalmente num volume ensurdecedor 'girls just wanna have fun'." Claro, esquecido. "Bella saiu com Rosalie, Emmet." E os pensamentos de minha irmã, ela não poderia ser mais óbvia? Era mais fácil vir pensando: estou escondendo algo, estou escondendo algo.

"Elas são amigas agora cara, você deveria ficar feliz com isso. Ou preferia Rosalie detestando Isabella por uma eternidade?" Se é que algum dia teria aquela eternidade.

Graças ao meu dom, que nos últimos dias provou ser muito mais uma maldição, eu sabia sobre o total ocorrido na tarde de terça. E ligando a informação as palavras dos últimos pesadelos de Isabella, eu conseguia ter uma leve ideia do que estava se passando em sua cabeça, por mais que não tivesse acesso algum aos seus pensamentos.

Não, não o machuquem.

Não machuquem o meu bebê.

Um bebê. Um filho. Um desejo humano que ela nunca poderia realizar - nunca teria tempo para realizar, mesmo que eu fosse capaz de lhe dar. E com Alice não conseguindo mais ver o futuro de minha esposa, minha imaginação nem precisava ser muito grande para me dar o provável resultado daquilo tudo.

Eu a faria se transformar naquela noite, nem que para isso fosse necessário força-la a tal.

They just wanna, they just wannaaaaaa-

"Elas voltaram." disse ao escutar o pensamento, e logo em seguida o fechar da porta da Ferrari.

Ooohh, girls, girls just wanna have fun.

"E Rosalie está estacionada na frente de nossa casa por algum motivo." E era tão evidente que as duas queriam esconder algo de mim. Levei uma mão até minha cabeça, massageando minha testa, minha preocupação triplicando assim como minha irritação. "Emmett, tira sua mulher daqui, vampiros não tem enxaquecas e ela está quase me dando uma. Se a vampira não sair em cinco minutos eu mesmo vou tira-la da frente de nossa casa." avisei, desligando o telefone ao mesmo tempo em que ouvia - no meio de todos os gritos de Rosalie - Isabella destrancando a porta da frente.

"Se divertiu?" perguntei quando ela enfim entrou, largando algumas sacolas azuis em cima do sofá recém destruído no mesmo momento em que eu deixava o celular em cima do aparador e andava em sua direção.

"Sim!" a resposta veio acompanhada por um sorriso tão sincero, que por um instante achei que toda minha preocupação fosse fruto de uma mente paranoica. "Nós compramos algumas coisas, como você pode ver." ela disse, finalmente parando os olhos em mim. Feliz, Isabella estava realmente feliz - aqueles olhos nunca mentiam.

When the working day is done, oh, when the working daaaaay-

Mas a maldita música e as sacolas azul bebê me fizeram voltar a minha realidade, que apesar daquela nova felicidade, ainda era preocupante. Preocupante e totalmente confusa. Não consegui sorrir de volta, e meu rosto sério fez o dela ficar igual.

"Manda ela ir embora, Bella." Minha esposa sabia de quem eu estava falando. "Eu mal consigo escutar você."

"Você precisa me prometer que vai me ouvir até o final." Socar a parede ao meu lado foi de todas as possíveis a melhor reação, o buraco aberto no antigo quarto de Alice a menor das preocupações. Merda, merda, merda! Sabia o que seguiria, sabia a frase que- "Edward, eu não mudei de ideia!" ela disse, suas mãos indo para meu punho coberto de pó de gesso. "Pelo contrário, eu nunca precisei tanto viver!"

When the working-

"Mas eu estou meio apavorada, e eu preciso que você me escute."

When the working day is doooone ooohh-

Eu ficaria louco se aquela música continuasse a tocar em minha mente, e Bella percebeu minha falta de paciência pelo olhar irritado que lancei para fora da casa.

"Eu mando Rose embora se você prometer que vai me escutar com calma."

"Eu prometo."

No segundo seguinte, Isabella digitava algo em seu celular, e passados dez segundos, escutava os pneus da Ferrari cantando do lado de fora, minha mente enfim tendo o silêncio que tanto confortava ao lado de minha humana. Minha humana, minha ainda humana. O que ela pediria? Mais dias, mais algumas semanas? Não poderia ser tão ruim, eu ficaria preocupado - com certeza, ainda mais pela ausência das visões de Alice - mas poderíamos lidar com aquilo. Sim, era suportável.

Edward vai surtar, por que ela está me mandando sair?

Merda.

O que, além daquilo, poderia estar por vir?

"Bella, eu não consigo ler você, já disse." enfatizei após mais um minuto de silêncio, acabando com o espaço entre nós. "Você está nervosa?" Sim, conseguia ver o nervosismo no par de olhos castanhos, enquanto ela passava as unhas na palma de suas mãos, em todas as vezes que abriu a boca e nada saiu, no coração que só acelerava. "Por favor, me conte o que está acontecendo." Ainda o silêncio. "Você está com medo de me contar?" Ela assentiu. "Acha que eu vou ficar bravo?"

"Não sei." Vi os olhos irem para baixo, ela engolindo seco. "Talvez?"

"Bella, eu prometi que nunca mais machucaria você, e eu não vou. Não importa o que você tenha para me dizer, eu vou entender. Eu não vou embora, eu não vou te abandonar, e eu não vou te forçar a nada. Eu te amo. Por favor." Mas apesar das diversas tentativas de começar a falar sobre o aparente problema, o silêncio ainda reinava por parte dela. A vi abrir a boca mais algumas vezes, mas nada saía. "Bella, seu silêncio quanto à isso está me deixando louco." Mas ela apenas voltou a olhar para baixo, como se estivesse me pedindo desculpas.

Quando seus olhos voltaram para os meus, as primeiras palavras vindas de Isabella não foram bem as que eu esperava.

"Me beija." O que? "Me beija, Edward."

No segundo seguinte, seus braços envolviam meu pescoço e ela se puxava para mais perto, fazendo nossas bocas se encontrarem num beijo - forte demais, necessitado demais, desesperado demais.

"Bella, não." Mas ela lutou contra minhas mãos que tentavam para-la, e por medo de machuca-la, acabei a deixando vencer. "Isabella, não-" Deveria ter virado o rosto, mas eu a amava, Deus eu a amava demais. E mesmo precisando saber o que estava acontecendo, eu me deixava ser puxado para o quarto, me deixava ser deitado no colchão, mas que inferno Isabella, mas que droga! "Bella, por favor," Ela iria me deixar louco. "Eu te amo Bella, eu te amo tanto, mas por favor me fale o que está acontecendo." Mais uma vez meu pedido era ignorado, suas mãos tirando a camiseta que eu usava, as minhas se prendendo no colchão quando senti o corpo tão quente indo para cima do meu.

Perdi qualquer vontade de argumentar quando senti uma mordida em meu lábio inferior. Eu estava nervoso, eu estava preocupado, estava sem o menor controle das minhas emoções naquele dia e ali estava eu, deixando Isabella fazer o que quisesse. E aquele era o momento em que eu deveria - como sempre fazia - ter soltando um pare, enquanto enrijecia todo meu corpo - a fazendo parar. Não deveria ter sido o momento em que minhas mãos abriam dois rasgos no colchão, e minha boca se enchia com meu veneno. E por um segundo - e aquele um segundo poderia ter mudado tudo, aquele um segundo de descontrole poderia ter sido o fim de tudo - eu praticamente rosnei pelo desejo que senti, minhas mãos apertando suas coxas e minha boca indo em direção ao seu pescoço. E por um momento ela estava tão próxima, próxima demais.

E no instante seguinte Isabela estava de pé, longe de mim, seus olhos assustados.

"Merda." xinguei, deitando a cabeça no colchão. "Desculpe, Bella." bufei, fechando os olhos enquanto levava as mãos até meu rosto, tentando me acalmar. "Eu machuquei você?" Mas minha única resposta foi seu coração acelerado, sua respiração profunda tentando faze-lo se acalmar - tentando se acalmar. "Isabella, eu machuquei você?" perguntei novamente, por um momento temendo que tivesse feito o que havia prometido realizar somente com seu consentimento. Mas não, não havia cheiro de sangue, não havia gosto de sangue. "Bella-" suspirei, enfim me levantando para verificar o que estava acontecendo.

Talvez vampiros pudessem sim ter enxaquecas, assim como pudessem entrar em choque. Porque se passaram minutos antes que eu pudesse falar qualquer palavra, antes que eu pudesse fazer qualquer movimento, antes que eu pudesse olhar para algo além daquilo. Daquela barriga.

Não conseguia entender como aquilo estava lá - pois eu tinha certeza de que não havia protuberância alguma no último domingo. E hoje era quarta. Três dias. Era um tumor - um tumor com um fator de crescimento aceleradíssimo, única explicação coerente. Mas por que, sendo aquilo, ela colocava aquelas mãos protetoras ao seu redor? Por que ela acariciava aquilo?

Uma gravidez era algo feliz, era algo a ser comemorado - pelo menos para mim, que sempre quis, que sempre desejei uma família em minha antiga humanidade. Eu sempre imaginei que ao receber a notícia, pegaria minha esposa nos braços e falaria que aquele era o dia mais feliz de minha vida, e faria planos, inúmeros planos, montaria um quarto, construiria um berço, passaria horas acariciando aquela barriga, que crescia a cada dia. Passaria horas pensando em nomes, e em como seria seu rosto, e no quanto eu o amaria ainda mais, a cada dia.

Mas as próximas palavras acabaram com o resto de sanidade que havia em mim. As próximas palavras faladas por Isabella, depois de muito tempo, me confirmavam seu destino. Porque não era um filho humano que crescia nela - e eu sabia, tive a maior das provas que não houvera nenhum outro além de mim. E aquele corpo, tão fragilizado, tão doente, não conseguiria comportar uma gravidez - quanto mais uma não humana, quanto mais uma que já lhe sugava tanto, por mais saudável que ela parecesse estar.

Realmente, não era para ser. Eu e ela, não era para ser.

"Parabéns, papai."


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Notas finais do capítulo

Oi gents! Adoro ler as críticas de vcs, então fiquem a vonts pra me mandarem sempre ;)

beijo grande,

Ania.



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