Além de uma vida escrita por Ania Lupin


Capítulo 22
Um casamento no campo


Notas iniciais do capítulo

Um obrigada especial ao RT, que foi um querido lendo e comentando capítulo por capítulo ;)

enjoy!



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Ponto de vista de Jasper

Alice dormia profundamente, seu corpo coberto apenas pelo lençol branco, sua cabeça repousando no meu peito. O relógio na parede marcava meia noite. Eu permanecia de olhos fechados, mas minha mente não parava por um milésimo.

A última segunda-feira, para alguém que a observasse de fora, havia acabado bem. Bella chegou em casa com um resultado negativo e um sorriso no rosto, e Alice a abraçou, também sorrindo, parecendo aliviada. Mas as emoções das duas estavam uma bagunça completa, e a cena que via simplesmente não encaixava com o que elas sentiam naquele momento.

Já era sábado, cinco dias desde o exame, e tanto eu quanto Edward não conseguimos uma resposta certa quanto ao resultado: as emoções de Alice continuavam um caos, e toda vez que meu irmão tentava extrair alguma coisa de seus pensamentos, ele conseguia apenas um vazio. Era como ela estivesse se entorpecendo, ele conseguia extrair apenas as coisas mais básicas: estou com sono, Bella precisa fazer a janta, precisamos ir ao mercado, não quero trabalhar hoje, quero minha cama. Que diabo estava acontecendo?

Com Bella não estava diferente: para Edward, ela continuava totalmente ilegível mentalmente, e para mim, suas emoções não haviam diferido muito das da garota em meus braços. Assim, meu irmão estava a ponto de ir até o hospital roubar os exames, e eu, a ponto de encostar a minha menina na parede e exigir uma resposta sobre o que estava acontecendo.

Mas como fazer isso? Al, você me disse que sua preocupação era com o fato de que Bella poderia estar mentindo – e mentindo relativamente bem – quanto ao resultado do exame, mas eu sei – eu sinto, literalmente – que não é só isso. Então por favor, vamos ser sinceros um com o outro: você me conta o motivo da real preocupação – se são apenas estas visões que eu sei que você anda tendo – e eu te conto ser um vampiro de mais de 100 anos.

Fora de cogitação. Pelo menos por enquanto.

"Jazz."

"Sim?" Mas quando olhei para baixo, minha pequena ainda estava com os olhos fechados. Estava sonhando, ela sonhava tanto ultimamente – e falava tanto.

"Vamos nos atrasar, Jazz. O casamento." Era um sussurro, com ela se aconchegando mais contra meu peito. "Sua irmã vai ficar brava."

Minha irmã – Rosalie?

"Vamos, Jazz."

Sim, Rose iria casar novamente. Seria um casamento para poucos convidados desta vez, nossos convites já haviam chegado, mas nenhum de nós havia comentado ainda com nossas humanas. Não tinha como Alice saber, o que me contava que até mesmo em seus sonhos, suas visões ocorriam.

"Durma, amor." Disse, minha mão acariciando seus fios de cabelo, mais compridos do que estava acostumado. Ela deve estar tão confusa, o quanto gostaria de explicar tudo, de fazê-la entender o quanto aquilo que acontecia era normal, que era seu dom. No entanto, eu ainda não havia tido ideia de como fazer isso sem acabar entregando o que eu era. E ninguém fazia ideia de como seria a reação daquelas duas. Poderíamos esperar uma como fora a de Bella, anos atrás?

As perguntas sobre nossa alimentação – minha e de Edward – se tornavam cada vez mais frequentes. A dieta especial que tínhamos por sermos veganos nos colocava mais em problemas do que nos salvava, ainda mais quando Isabella resolvera preparar, logo após dia 14, uma refeição que pudesse ser comida por nós – eu e meu irmão não pudemos fazer outra coisa além de engolir tudo aquilo, e depois passarmos vomitando em casa o resto da noite. A implicância de Alice quanto a ela era crescente – e a pequena estava convencida de que a temperatura do meu corpo, para ela sempre tão baixa, era culpa das poucas vitaminas que ingeria. Se ela se lembrasse do quanto somos quentes...

Sim, Al me amava, tinha certeza daquilo. Mas não era o antigo amor incondicional que eu sempre senti – ao menos não ainda. Contar, e vê-la sair correndo, nunca mais querendo colocar os olhos em mim, era algo altamente provável.

E era algo que eu não podia arriscar.

—__

Ponto de vista de Alice

Trabalhar num sábado não era a coisa que eu mais gostava de fazer na vida, ainda mais quando funcionava a base de café, mas me convencia de que era necessário desde as dez horas daquela manhã. Ao menos seria tortura somente até às quatro horas daquela tarde, e depois estaria livre para aproveitar o que me sobrava do dia na cama. Dormindo de preferência, sem pensar em nada – mas então, havia Jasper.

Ele não andava me deixando muito em paz – não que estivesse exatamente reclamando, aquela companhia era a que eu quis ao meu lado por tanto tempo – só que com ele ao meu lado eu simplesmente não conseguia desligar. Bella estivera mais ausente do que presente desde segunda, quando dissera que o resultado fora negativo: ou estava na escola, ou estava com Edward.

E agora eu acreditava que o resultado que ela me informou estava correto – a doente com certeza era eu, tudo que estava experimentando estes últimos dias com certeza era consequência de algo anormal que acontecia no meu cérebro, como acontecera no de mamãe.

Ao menos minha irmã havia encontrado uma boa pessoa, então mesmo com meu exame dando positivo na próxima segunda feira, eu poderia ficar em paz.

Pensando demais, estava pensando demais novamente – aquilo não era bom, não no meio do trabalho, não em um lugar onde não podia me dar ao luxo de surtar após ver alguma coisa.

"Anne, pode me cobrir por um segundo?" Pedi, pegando minha bolsa atrás do balcão. "Preciso ir ao toalete."

Tranquei a porta do banheiro, abri a bolsa, e tomei mais um Frontal, engolindo o comprimido com a água da pia. Se aquilo estava fazendo bem para mim? Fisicamente era provável que não, mas mentalmente aquilo me dava a chance da parar de pensar e quase entrar em modo automático – o que fazia com que minhas visões desaparecessem.

Em alguns minutos já sentiria o efeito. Abrindo a porta, devolvi a bolsa para um canto do balcão e voltei ao meu lugar, onde uma mulher conhecida me esperava.

A cunhada de Jasper – como era linda!

"Ela pediu por você." Anne me disse com uma cara não muito amigável – era a vez dela de atender um cliente, mas então, a loira poderia ter entrado aqui somente para me cumprimentar. Ignorei, e fui a sua direção.

"Rosalie, certo?" Aqueles mesmos olhos amarelos, tão iguais ao de Jasper. Era estranho, ela não era da família – não por sangue.

"Sim." Um sorriso, aquela mulher era tão bonita que me deixava quase desorientada – ou era o calmante já fazendo efeito?

Eu lhe daria a mão, então fiquei surpresa quando ela me cumprimentou com um beijo e um abraço. Aquele mesmo cheiro adocicado de Jasper, e de Edward também – será que aquilo era algo que vinha com a opção alimentar? Se é que Rosalie também era vegana.

"Esme quem me recomendou você," Ela disse, aquele sorriso nunca deixando seus lábios. "Apesar de ter me advertido que era quase impossível sair daqui sem a metade da loja contigo mostrando as melhores coisas!"

"Ah, não sou eu – é a loja que nos conquista!" Disse modesta, por um momento me perguntando o quanto aquela família tinha dinheiro: um Porche, um Volvo, uma Ferrari, uma casa daquelas, pouco não era. "Está procurando algo para alguma ocasião especial, Rosalie?"

"Por favor Alice, me chame de Rose." Ela pediu, colocando sua mão esquerda sobre um dos balcões de vidro próximo, seus olhos indo parar em um dos colares mais caros da loja. Em seu dedo anular, um solitário cravejado de diamantes brilhava tão lindo quanto a loira. "E sim, não sei se meu cunhado já a convidou – talvez não, os convites acabaram de chegar –, mas a ocasião é meu casamento com Emmet."

Casamento. Eu havia tido algum sonho com casamento, não? Uma loira casando, tão deslumbrante – Rosalie.

Não, focar Alice. Sem pensar em nada, focar no que acontece, no real.

"Ah meus parabéns!" Acho que meu sorriso e alegria foram convincentes o suficiente, ainda mais quando senti meus olhos já pesados – pronto, muito mais fácil não pensar em nada além do real agora. "Então, você procura algo para combinar com o anel de noivado?"

—__

Ponto de vista de Rosalie

"Então, você procura algo para combinar com o anel de noivado?"

Havia decidido sobre o casamento há alguns dias atrás, junto com meu marido – agora noivo novamente. Eu sentia falta daquela família, mas precisava admitir que só engoli meu orgulho pela falta muito maior que eles faziam a Emmet, ainda mais agora com aquelas duas integrantes de volta.

Emmet claro, ficara extasiado ao ver os últimos convites a serem enviados: para Carlise Cullen e família, e para Jasper Whitlock Hale. Uma chance, uma última chance, porque lá no fundo, eu queria que tudo voltasse a ser como antigamente.

"Exato!" Respondi, minha atenção toda em minha irmã, apesar dos olhos estarem em um dos colares. "Não me importo com o preço," Disse, a observando de canto de olho. "Só preciso de algo que combine, e está realmente difícil de achar. Um colar e um par de brincos – tudo que vi até agora ou era pequeno demais, ou brilhante demais, ou dourado demais, você é minha última esperança Al, sério."

Arrisquei-me no Al, mas a vi sorrir.

"Eu tenho a combinação perfeita para você," ela falou com segurança – com a mesma segurança que ela sempre vestia todos na casa –, levando-me até uma parte mais reservada da loja. "É um conjunto impossível de não amar!"

A acompanhei, nunca deixando de observa-la. Era parecida, sem dúvida alguma, mas igual? Os cabelos eram quase do mesmo tom negro, mas agora estavam bem cortados, já um pouco além da altura do ombro. Os olhos castanhos escuros não tinham aquela mesma expressão de segurança que minha irmã sempre me passou, mas de agitação – confusão até. E ela parecia tão menor, tão mais frágil, como Jasper ainda não conseguira quebra-la era um mistério para mim.

Sacudi a cabeça, não poderia sequer pensar naquilo, que algo poderia dar tão errado novamente.

Agradeci quando senti um colar ser posto em minha mão, acabando com tais pensamentos.

"Al, isso é," Era lindo – era um colar de ouro branco, com um pingente que era quase uma réplica do anel que eu usava, os brincos igualmente redondos, fazendo daqueles itens um conjunto. "Incrível. Você é incrível."

A vi corar, e não consegui mais controlar um pensamento – tão humana. Alice era novamente tão humana, o que queria dizer que se algum dia algo acontecesse comigo, se por algum deslize eu deixasse de existir como vampira, eu poderia ter essa chance – uma nova vida, como uma pessoa normal. Crescer, fazer apenas uma faculdade, ter filhos, envelhecer...

"Não precisa nem perguntar se eu vou levar este conjunto, Esme estava mesmo certa – como vou sair daqui apenas com estas peças?" Como sair daqui sem estes pensamentos atormentadores?

—__

Ponto de vista de Isabella

Cozinhava nossa janta – uma macarronada com molho bolonhesa – enquanto tentava lembrar-me mais detalhes do sonho da noite passada. Se o que tive no dia do exame já foi extremamente realista, o que tivera ontem à noite parecia uma memória antiga.

Uma cidade pequena, um dia nublado, um homem – meu pai? – com um bigode e um distintivo. Eu cozinhava também, o mesmo prato que fazia agora, enquanto conversava com um rapaz sentado perto da geladeira. O telefone tocava, pedia para o rapaz atender e ele me dizia que era Jessica, e que ela estava ligando para me dar os parabéns – como ele sabia? E então meu pai chegava, e o rapaz ia embora. Sentávamos nós dois à mesa e comíamos, conversando sobre o dia de amanhã, sobre o que faríamos no meu aniversário.

Você cresceu rápido demais, Isabella.

Isabella – escrevi num papel, abandonando a janta por um breve momento. Um nome – o meu nome, não, aquilo não estava certo. É o resultado positivo que estava fazendo todas essas coisas com o meu cérebro, por que eu continuo tentando achar desculpas? Tenho que abandonar estas fantasias e aproveitar todo o tempo que me resta, droga!

Parece que cresceu tanto, desde que chegou a Forks.

É isso – tiraria toda aquela droga da minha cabeça agora. Apaguei o fogo – molho e macarrão já prontos – e fui para meu quarto, ligando o laptop sobre a escrivaninha.

Google.

Forks – pesquisar.

Forks é uma cidade que faz parte do Condado de Clallam, no Estado de Washington, nos Estados Unidos. Ok, informação óbvia até aí.

Forks Isabella – pesquisar.

Isabela Forks, jornalista. Não.

Isabella Forks, colégio de Springfield. Não.

Polícia Forks – pesquisar.

Mike Newton é o atual chefe da polícia de Forks. Ocupou o cargo anos atrás, após a morte de Charlie Swan, chefe da Policia por mais de 20 anos.

Swan. Poderia ser esse...?

Isabella Swan – pesquisar.

Isabella Swan, turma de 2005, Colégio de Forks. Ok, agora aquilo era um pouco perturbador. Não tinha sentido eu sonhar com isso. Mike Newton, turma de 2005, Colégio de Forks. Alice Cullen, turma de 2005, seria ela da família de Edward?

Meu celular tocando tirou minha atenção da tela.

"Bella? Está em casa?" Era a voz de Edward do outro lado da linha. Desde o resultado era tão difícil falar com ele e não pensar que estava mentindo para uma pessoa tão importante para mim – ele, Alice...

"Sim, estava terminando a janta, onde você está?" Passei para a segunda página de pesquisa enquanto conversava.

"Eu e Jasper passamos no shopping e estamos dando uma carona para sua irmã hoje. Alice tinha comentado que estava sem carro e..." Mas o que eu lia quando voltei os olhos para o computador me fez bloquear a voz que falava comigo.

Isabella Marie Swan, 18 anos. Desaparecida desde 26 de maio de 2006. Qualquer notícia, ligar para-

"Bella?"

"Desculpe, o que disse?" Tirei os olhos da tela novamente, passando a mão nos meus cabelos. Aquilo era loucura. Agora eu via coisas também.

"Disse que chegamos em cinco minutos, e perguntei se gostaria de fazer algo hoje a noite."

"Desculpe Edward, não consigo hoje." Não tinha cabeça para nada hoje. Talvez nem amanhã, nem depois, e nem depois. "Eu estou morrendo de sono, sério, já estou de pijama e embaixo das cobertas. Podemos ver um filme amanhã de tarde, o que acha?"

"Claro. Amanhã eu te ligo, então. Eu te amo."

Fechei os olhos – por que era doloroso ouvir aquilo agora?

"Eu também te amo."

Desliguei. Não estava aproveitando o tempo como deveria, maldição, era para ter dito sim, sim, vamos sair hoje, e amanhã, e depois. Pro inferno com tudo, vamos dar uma festa! A vida é tão curta, nos preocupamos com coisas tão bobas, tão inúteis, arranjamos tantas desculpas para não sermos felizes...

E eu estava pronta para fechar o laptop e ligar para Edward, quando olhei para a foto que aparecia logo embaixo do nome Isabella Swan.

Nunca a havia visto.

Não parecia montagem alguma.

E era minha foto.


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