Além de uma vida escrita por Ania Lupin


Capítulo 21
Premonições


Notas iniciais do capítulo

Mais um gente ;)
Espero que gostem!



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Ponto de vista de Alice

Uma e quinze, final da última aula daquela segunda feira – e naquele dia, eu definitivamente não estava com pressa de correr para o conversível amarelo que me esperava do lado de fora da escola, mas sim de discar o número de minha irmã, para saber se ela havia chegado bem no hospital.

E aquela foi a primeira coisa que fiz quando o sinal tocou – nem fiz questão de levantar correndo da cadeira. Isabella naqueles últimos dias estava, definitivamente, estranha: o sorriso forçado demais, que não combinava em nada com os olhos, tristes demais. Ela parecia cansada demais. Como podia achar que eu não iria perceber que havia algo de errado, eu era sua irmã, por Deus!

"Sim, Al?"

"Já chegou?"

"Al, você não precisa ficar me ligando de cinco em cinco minutos-"

"Eu estou preocupada com você, droga!" Ignorei as poucas pessoas ainda dentro da sala que me olharam incomodadas – que ficassem contentes por eu não me dar ao trabalho de me incomodar com elas. Sentia que desmoronaria em lágrimas a qualquer segundo agora, eu o queria aqui agora – tudo parecia tão certo com ele ao meu lado. Jazz...

"Alice, eu estou bem, é só um exame!" Mas não agora – não podia chorar com Bella do outro lado da linha. "Você vai ver, até o fim do dia vou te ligar contando do resultado negativo, tenho certeza." Tinha certeza. "Vai ficar tudo bem." Por que eu não tinha aquela certeza? "Tenho que desligar agora, tá? Assim que o exame acabar, a primeira coisa que vou fazer é te ligar, então fique calma, ok?"

E assim que Isabella desligou o telefone a primeira lágrima caiu – e as outras não demoraram a seguir.

E pararam no exato segundo em que vi, como se estivesse em frente aos meus olhos, a imagem de Jasper me abraçando, com um copo de café da Starbucks em uma das mãos.

"Vai ficar tudo bem, minha pequena. Não chore."

Jazz?

Mas não havia nem sinal de Jasper.

Ah, um café, definitivamente, era o que eu precisava: todos aqueles dias nervosa com o exame de hoje não devem ter feito muito bem para meu cérebro. Só precisava levantar daquela cadeira e ir para fora daquela escola, onde meu professor com certeza já estaria me esperando.

Meu professor. Respirei fundo, enxugando o rosto com as mãos – só a imagem dele já tinha o poder de me acalmar. Desde aquele dia, 14 de fevereiro, tudo havia mudado entre nós: tudo estava tão bem, tão certo. Todos os dias tocava o sinal e eu sabia que sairia pela porta da frente da escola, atravessaria a rua, e o homem loiro estaria me esperando do outro lado do estacionamento.

"O exame vai dar negativo, você sabe disso. Você precisa relaxar, Al."

"Jasper?"

O rapaz com quem eu converso nessa última aula vai entrar na sala. Ele esqueceu um livro debaixo da segunda carteira, da esquerda para direita.

O que?

Segunda carteira, esquerda para direita... tinha um livro vermelho embaixo dela. E logo após eu perceber isso, Allan entrou correndo na sala, me dando um sorriso antes de pegar seu livro.

Meu Deus, o que foi isso?

"Está tudo bem, Alice?" Meu rosto, claro, dá pra ver que eu estava chorando minutos atrás. Mas que droga!

"Tive uma discussão com a minha irmã, sabe como é." Enxuguei os olhos novamente, pela primeira vez em muito tempo não me importando se havia borrado ou não a maquiagem, e me apressei em pegar meus livros e mochila para ir embora – depois de forçar um sorriso para o garoto que agora saía da sala.

Discussão com a minha irmã, aham – estava mais para preocupação doentia. Segui para fora da sala, e não demorei em chegar ao estacionamento, muito menos em achar o carro amarelo que chamava pouca atenção.

E lá estava ele, do lado de fora do Porche, me esperando com um copo da Starbucks na mão. Meu exame havia mesmo dado negativo? Mas, se eu não tinha nada, porque todas essas visões, e agora essas – do que poderia chamar isso? –, por que tudo isso não ia embora?

"Al?" E quando eu senti o abraço, não consegui mais conter o soluço – nem sabia mais porque estava chorando.

Estava preocupada com o exame de Bella, estava frustrada com esses flashes que não iam embora, estava me sentindo a maior das loucas por achar que já tive uma vida passada com o homem que me consolava no momento. E hoje ainda me aparece uma coisa nova – essas premonições estúpidas, que só fazem eu me achar ainda mais maluca.

"Vai ficar tudo bem, minha pequena. Não chore." Tinha alguma coisa de errado comigo, certeza. "O exame vai dar negativo, você sabe disso." Certeza absoluta. "Você precisa relaxar, Al."

"Você não quer passar num restaurante para almoçar? O que acha de irmos naquele mexicano que você tanto gosta?"

"Para comer sozinha na mesa?"

"Podemos alugar um filme depois." Revirei os olhos e entrei no carro, abandonando o copo de café e batendo a porta. "Alice, você não vai ficar sem comer!"

"E você acha que estou com cabeça para pensar em comida agora? Ou para alugar um filme? A minha irmã está num hospital, fazendo um exame que pode decidir a vida dela, a última coisa que eu quero é ir num restaurante mexicano!"

"Você não quer passar num restaurante para almoçar?" Jasper perguntou, enquanto abria a porta do carro para mim, me entregando o café – que eu quase não consegui pegar.

Não, a última coisa que queria naquele dia era brigar com alguém – especialmente com ele. Era loucura aquilo, com certeza tinha alguma explicação científica, quem sabe marcaria mais alguns exames semana que vem, só para ter certeza.

"O que acha de-"

"Eu quero ir para casa, Jazz." O cortei antes que ele pudesse terminar a frase que eu já sabia que viria – antes que pudesse me irritar com aquilo. Antes que aquilo me assustasse ainda mais. "Em casa tem um filme que eu quero ver, então vamos direto para lá, e eu peço qualquer coisa para comer quando chegar, por favor."

E meu loiro me olhou como se soubesse que havia algo de errado além de minha irmã – será que ele me conhecia assim tão bem?

"Por favor, Jazz."

E depois de me dar um sorriso – simpático demais – ele entrou no carro, dando a partida em silêncio e continuando assim enquanto dirigia em direção a minha casa.

—__

Ponto de vista de Jasper

Eu conhecia aquele olhar perdido – não deixaria de reconhecê-lo nem em mil anos. Conhecia ainda mais aquele rostinho, aquela expressão de quase alívio quando uma visão enfim acabava. Lembro como se fosse ontem do dia em que perguntei se ela sentia alguma dor ao tê-las, e da risada doce que recebi enquanto ela tentava me explicar o que exatamente acontecia quando via o futuro.

Mas o que poderia falar? Perguntar se estava tudo bem, quando claramente não estava? Me contive em dirigir em silêncio até a pequena casa que as duas agora irmãs dividiam, mas não deixando de perceber as prováveis previsões que Alice ia tendo ao longo do caminho.

Quando chegamos frente à casa, ela desceu do carro em silêncio e logo foi para dentro, rumando para seu quarto sem mais nenhuma palavra. Tranquei o carro e fechei a porta da frente, não sabendo o que fazer ao entrar na casa. O misto de sentimentos que vinha da minha pequena me deixava completamente confuso sobre o que fazer: ao mesmo tempo em que pensava em entrar no quarto onde ela estava, sentia algo que me fazia ficar ali na sala.

No final acabei tirando o celular do bolso da calça, e me certificando de que a porta do quarto de Al estava mesmo fechada, disquei para um delivery de comida chinesa, e logo após para o número que havia me ligado inúmeras vezes desde o começo daquela manhã.

"Jasper, se eu continuar mais alguns minutos sem notícias dela, eu-"

"Você não enlouqueceu em todos esses anos, Edward, não vão ser algumas horas que farão esse feito."

"Dia errado para uma manhã ensolarada." Ouvi meu irmão admitir a única coisa que o havia parado de ir atrás de Isabella.

Claro que estava sendo um inferno para ele não fazer ideia do hospital que uma de nossas humanas estava fazendo aquele exame – exame descoberto por acidente, numa das visitas de Alice a nossa casa. Será que Isabella tinha ideia de que sua desculpa de visitar os avós não havia sido convincente?

"Se você estivesse no meu lugar, estaria igualmente, ou até mais, nervoso." Estaria igual, sim. E quase respondi que já estivera em seu lugar, há anos atrás, quando Alice estava naquele avião, e eu não fazia ideia se ela sairia viva ou não da cidade italiana.

"Só mais algumas horas. E Edward, de modo algum você sabe desse exame. Eu nunca te falei nada. Alice logo mais vai começar a ligar para ela, com certeza." Alice. O que me fez recordar o motivo exato da ligação.

"E você acha que Bella vai contar a verdade para a irmã, se der positivo?"

"Ela vai saber se Bella estiver mentindo, estou quase certo disso. E se ela souber eu também vou. E você também vai." E continuei antes de meu irmão poder me perguntar como. "Alice está tendo visões, Edward."

—__

Ponto de vista de Alice

O Frontal na gaveta da escrivaninha e o copo com água até a metade sobre o criado mudo me serviram minutos depois de entrar no quarto – e conseguir frear por alguns segundos minha mente que se negava a ficar sem trabalhar naquele dia.

Foram três tirados da cartela – me dando a certeza de que conseguiria desligar por algumas horas, que eu esperava ser o tempo exato para minha irmã voltar do hospital. Me deitei na cama, e passados cinco minutos, conseguia sentir o efeito do remédio se misturando ao meu já presente cansaço.

Mal escutei uma leve batida na minha porta antes de apagar por completo.

—__

Percebi que a porta se abriu quando ouvi a sineta tocar. Um homem alto, magro, porém musculoso, surgia no recinto. Apesar da luz fraca, suas cicatrizes em forma de lua crescente eram visíveis, em ambos braços. Ele vestia roupas consideravelmente velhas, e seu cabelo, molhado pela chuva do lado de fora, era de um loiro puxado para o mel.

E ele estava andando na minha direção.

De repente, me senti nervosa. Seus olhos pareciam me examinar, e eu não bem sabia o que fazer, o que dizer. Em meu nervosismo, sorri para ele, e me aliviou o estranho me devolver o gesto.

O homem aproximou-se rapidamente, e logo ele estava frente a mim. Por um instante pensei em pular de minha cadeira para seu pescoço, por toda aquela felicidade que me dominava, mas algo me dizia para ir com calma. Não assustá-lo. Tinha esperado por tanto tempo, o que seriam alguns segundos a mais?

Ele puxou uma cadeira, sentando-se ao meu lado.

"Você me deixou esperando por muito tempo." Enfim disse.

"Desculpe, senhorita." Deus, como ele era lindo.

Estendi minha mão para ele enquanto o olhava, e ele pegou-a sem hesitar.

"Estou tão contente por finalmente encontrar você." Me sentia tão protegida ao seu lado. "Sei que tenho muito que explicar.", disse num quase sussurro, e antes de poder continuar ele me cortou.

"Isso pode esperar." Sua frase me pegou de surpresa, e ele sorriu, como se soubesse que eu tinha sido surpreendida. "Ao menos até o fim da tempestade. Então podemos conversar sobre tudo isso. Se você não se importar-"

"Não precisamos falar sobre nada." Coloquei minha outra mão sobre a dele, ainda o olhando. Não queria fechar meus olhos nunca mais. Poderia passar uma eternidade me perdendo nele. "Te esperei por mais de uma década, apenas para ficar do seu lado. Não precisamos conversar."

"Não quero te fazer esperar mais nenhum minuto." Ele me assegurou. "Como-"

"Alice. Meu nome é Alice."

Era uma época tão distante da que estava, como conseguia recriar tudo aquilo em meus pensamentos com tanta clareza, com tantos detalhes?

"Meu nome é Jasper."

Jazz?

"Jasper, temos que sair daqui."

Isso era somente um sonho?

"Não seria melhor esperar-"

"Agora, Jazz." Eu lhe estendi minha mão, falando num tom calmo, mas firme, e ele não hesitou em pega-la. Segundos depois, estávamos do lado de fora, correndo para um aglomerado de árvores, a chuva molhando nossas roupas.

—__

Chateada, sacudia minhas pernas enquanto sentada na cama de casal do que parecia um hotel – formal demais para ser o quarto de uma casa, com certeza. O café da manhã ainda jazia intocado na bandeja, aparentemente ambos, e não havia sinal algum do loiro no quarto.

Mas ainda assim, sabia que não demoraria mais muito para ouvir uma batida – sua batida – na porta.

E quando vi a maçaneta dourada girar e a porta se abrir, não consegui mais evitar um sorriso, e ele pareceu não conseguir conter o próprio.

"Me desculpe por mais cedo. A minha intenção não era gritar com você, mas-"

"Você não deveria ficar tão tenso em relação as suas cicatrizes." No instante seguinte, ia para seu lado, enquanto ouvia o clic que a porta fazia ao se fechar. "Eu também não queria gritar com você, Jazz. Mas fiquei tão-"

"Eu sei." Um abraço. "Sei exatamente como se sentiu."

"O que vamos fazer hoje?" O loiro me perguntou, afastando um pouco a cortina, deixando o sol entrar. Seu rosto mostrava milhares de pontos luminosos aonde o sol alcançava. "Depois que o sol for embora."

"Vai chover em duas horas." Respondi com segurança, me espreguiçando na cama, ainda desfeita. "Na verdade, um pouco menos. Tem uma nova joalheria aqui nas redondezas. E uma costureira, também."

"Se estiverem abertas ainda quando sairmos, não vejo problema em ir."

"Você está cansado de sair para fazer compras comigo, não?" Uma pausa.

"A verdade?" Ele sorriu. Eu sorri. Eu sabia exatamente o que iria escutar. "Sim. Mas mesmo assim, eu te acompanho sem reclamar."

No entanto, eu sabia o que faríamos durante todo aquele sábado.

"Vamos ficar aqui no quarto." Disse, fechando os olhos. Ele voltaria para a cama em 15 segundos.

"O dia todo?"

Sete, seis, cinco, quatro, três dois... e eu senti seu corpo quente deitar ao meu lado.

"O dia todo."

—__

"Parece tão macio. Deve ser tão macio na boca – eu nunca comi isso enquanto podia." Examinava o algodão doce de perto, os fios rosas grudando em meus dedos.

"Nunca?"

"Nah. Não sei se já existia. Se sim, ele não estava exatamente ao meu alcance." Coloquei o doce na boca, mas nem mesmo consegui sentir a textura.

"Se eu pudesse-"

Não. Eu sabia o que viria.

"Se tivesse que mudar isso," levantei nossas mãos entrelaçadas. "Eu não mudaria nunca."

"Nem por mil algodões doces?" Um beijo.

"Nem por mil algodões doces."

—__

"Você não precisa fazer isso, pequena." E sabia que ele falava isso apenas da boca pra fora, pois Jasper sabia que eu sim necessitava daquilo.

"Eu preciso."

Em segundos, chegamos em frente ao túmulo que procurava. A pedra estava coberta de musgo, e o que foi um dia um buque de flores jazia totalmente seco ao lado esquerdo do nome.

Mary Alice Brandon, 1901 até 1916. Amada Filha.

Eu sentia dor, e me culpava por tal, pois sabia que ele também sentia o mesmo naquele momento. Mas, amada? Que tipo de parente trancava a própria filha num hospício e tinha a coragem de colocar 'amada' em seu túmulo 'vazio'?

"Desculpe, Jazz. O que você deve estar sentindo-"

"Não tem problema algum, meu amor. Apenas sinta, o que quiser. Eu não farei nada. Apenas ficarei aqui, ao seu lado. Para sempre."

Para sempre. Sim.

"Obrigada."

—__

"É fascinante o jeito que você realmente gosta de fazer esse tipo de coisa, Al." As palavras foram sussurradas para mim, enquanto braços me envolviam de uma forma carinhosa.

"E é fascinante você fazendo esse tipo de coisa comigo." Eu respondi, beijando o homem na bochecha.

"Hum, vamos ver: sentado no chão, com uma garota maravilhosa nos meus braços, enrolados em um edredom, vendo a neve cair." Uma pausa. "Isso parece uma coisa muito boa para mim. É. Não tenho reclamações."

"Eu também não. Nenhuma."

—__

"Você está louca? Alice, por Deus, por tudo que é mais sagrado-"

"Não me siga."

"Como você pode me pedir isso? Deus, dessa vez Edward passou dos limites!"

"De algum jeito, nós vamos sair de Volterra. Eu prometo Jazz, de algum jeito, eu vou te encontrar outra vez."

"Al-"

"Confie em mim, querido."

"Eu não posso te perder, Alice."

"Você não vai. Eu te amo."

—__

"Al?" Sentia uma mão gelada sacudir meu ombro de leve – não, eu não queria parar de sonhar ainda, não agora! "Al, já são oito horas, querida."

Abri os olhos, o quarto estava escuro a não ser pela luminária acesa em cima da escrivaninha. Pela janela via a lua cheia no céu, rodeada de estrelas. E ao meu lado, tirando alguns fios de cabelo do meu rosto, Jasper, com um olhar preocupado.

"Oito?" Me sentei, ainda um pouco desorientada, não sabia se pelo Frontal ou por todos aqueles sonhos – parecia que eu sonhava há dias. "Jazz," sentia que apagaria novamente a qualquer momento. "Acho que quero dormir mais um pouco."

"Sua irmã ligou." Aquilo foi o suficiente para me acordar, apesar de meus olhos pesados. Coloquei as pernas para fora da cama, vendo pela primeira vez o telefone já desligado na outra mão do loiro.

"Bella, o que ela disse, ela está bem?"

"Isabella deve chegar aqui em menos de uma hora, mas não me disse mais nada." E ele continuava me olhando daquele mesmo jeito, como se algo o houvesse afligido.

Jasper... Tão igual ao dos meus sonhos. Mas então, eram apenas sonhos, certo? E provavelmente o Jasper dos meus sonhos era igual a este, porque eu o tirara de minha realidade. Sonhos, nada demais, por mais reais que parecessem, por mais detalhados que houvessem sido.

"Me desculpe por dormir a tarde inteira." Disse, chegando mais perto dele, encostando minha cabeça na dobra entre seu pescoço e ombro. "Por estar estranha ultimamente, acho que não ando sendo uma boa namorada."

"Boba. Você é uma ótima namorada – eu nunca poderia imaginar melhor do que você, minha pequeninha." Senti um beijo na minha cabeça, ele envolvendo seus braços ao redor da minha cintura. "Mas você não comeu nada." Meu estômago pareceu entender essas palavras e escolheu aquele segundo para se manifestar. "Tem comida chinesa na cozinha, eu posso esquentar para você."

"Nossa, seria ótimo." Fechei os olhos, inalando aquele cheiro tão doce que meu professor sempre tinha. E vi uma loira na minha frente – a mesma mulher da festa do Ano Novo – com um vestido de noiva.

Um casamento, num campo aberto, num dia nublado.

"Al?" Por mais que eu não quisesse me separar daqueles braços, não agora, precisava de alguns minutos sozinha para tentar organizar minha cabeça.

"Jazz, se importa se eu tomar banho? Preciso acordar um pouco antes de comer." disse, indo em direção ao meu armário, pegando uma roupa qualquer. No segundo seguinte ele estava atrás de mim, beijando meu pescoço.

"Companhia?"

Eu estava de verde, Bella de um rosa muito claro – era uma cor que combinava com ela.

"Não dessa vez." Precisava ficar sozinha só por alguns minutos. "Não quero que minha irmã nos ache sem roupas no chuveiro, Jazz. Afinal, não quero demorar só quarenta minutos com você." Não consegui achar desculpa melhor do que essa, e com um beijo rápido segui para o banheiro, trancando a porta.

Joguei o vestido que pegara perto do Box, e me apoiei com os braços esticados na pia. Fechei os olhos por o que eu imaginava que seriam apenas alguns segundos, somente para tentar clarear os pensamentos, quando aconteceu.

Um casamento.

Uma viagem – uma cidade pequena, tão agradável de morar.

Lobos.

A foto de uma mulher tão parecida comigo.

Jasper, indo embora.

Um celular tocando, Bella.

Um acidente.

Minha cabeça latejava. Quando abri os olhos novamente, pontos pretos dançavam na frente deles – se não tivesse me segurado mais forte na pia, teria ido direto para o chão, e não apenas derrubado o que havia sobre ela.

"Al, tudo bem aí?"

"Sim Jazz, só eu destruindo a saboneteira!"

Não, não estava tudo bem.


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