Além de uma vida escrita por Ania Lupin


Capítulo 15
Um beijo à meia noite


Notas iniciais do capítulo

Mais um antes do fds gente! Espero que gostem ;)



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Ponto de vista de Jasper

Quando vi um homem que aparentava ser velho demais para minha pequena – velho demais, quem era eu para dizer aquilo? – levantar-se e dirigir-se até nossa mesa, a única coisa que pude pensar era que ele considerava a possibilidade de tirá-la para dançar. Mas aquilo não foi a única coisa que me fez levantar e ir para frente de Alice, oferecendo a ela minha mão gelada.

Na verdade, o principal motivo era cantado pela irmã da jovem – tão mais baixa do que eu, mas ainda assim, mais alta do que me lembrava – que dançava nos meus braços. Nossa música, a reconheci já nos primeiros acordes, e dança-la outra vez junto a minha Alice era quase como sonhar.

E ela parecia gostar tanto da música – e da situação – quanto eu, ao menos era o que me fazia sentir, enquanto fechava os olhos como ela. Minha Alice cheirava a sol – tão como sua personalidade. Meu sol.

E eu, com tanto medo naquele sábado de me aproximar da garota dentro daquela lanchonete. Temendo que o cheiro humano dela pudesse acabar com tudo, antes mesmo de algo ter começado. Mas quando entrei no local, e inalei aquele aroma pela primeira vez, entendi por completo tudo que meu irmão sentia – por mais que quisesse, por mais que fosse tentador aquele sangue para mim, eu seria para sempre incapaz de fazer algo para feri-la. Nunca poderia tocá-la de algum jeito que a machucaria. Meu sol, minha Alice.

"We're after the same rainbow's end, waitin' 'round the bend,"

Meu único amor - os anos de ausência me certificaram daquilo.

"My huckleberry friend,"

Só a puxei para mais perto – rezando para que ela não objetasse – quando senti o rosto quente encostar-se de leve no meu peito. Não dançávamos mais, apenas nos mexíamos tão devagar, mas não importava para mim, e não parecia importar para ela.

"Moon river…"

Naquele momento, só conseguia sentir a paz que ela me transmitia.

Paz. Então ela também sentia aquilo comigo.

"And me."

Ficamos juntos até as palmas cessarem, e quando elas enfim acabaram, demorou até Alice se mexer. Foi ela quem fez o primeiro movimento, e eu acabei quebrando nosso contato. E então todos os sentimentos de sempre voltaram: confusão, nervosismo, ansiedade, hesitação... Vergonha?

"Eu vou pegar alguma coisa para beber, avise a minha irmã que já volto, ok?" Ela já não tinha coragem de olhar nos meus olhos. "Obrigada pela dança, Jasper."

E eu não consegui fazer nada além de observá-la sumir na enorme multidão. Quando retornei a mesa, Bella já se aproximava, e a antecipação de todos – em especial a de Edward – deixavam mais uma vez meus nervos à flor da pele.

Não me atrevi a cumprimentá-la antes, apesar de eu estar mais perto do que os outros – os olhos da jovem só existiam para meu irmão mais novo. Me sentei com o resto de minha família, que então desviaram os olhos do casal de pé para mim, Esme e Carlisle sorrindo.

"Bella, meu pai, que você já conhece," Edward começou com as apresentações depois de alguns segundos dizendo o quanto a garota havia sido maravilhosa cantando. Ele conseguia elogia-la tão facilmente, por que eu não conseguia fazer aquilo com Alice? Por que com ela era tão difícil? "Esme, minha mãe."

"Querida, você esteve maravilhosa lá em cima!" Nossa mãe postiça se levantou no mesmo momento, abraçando Bella como abraçara Alice mais cedo. "Como meu filho conseguiu conhecer uma jovem tão talentosa é um mistério!"

E agora felicidade, era tudo que conseguia sentir naquela mesa. Logo as apresentações chegaram a Emmett, e todos vimos o primeiro sorriso verdadeiro do marido de Rosalie, enquanto este dava um abraço de urso em Isabella.

Os dois – Emmett e Rose – chegaram depois de nós, aparentando ainda estarem desconfortáveis em retornar para a família. Desconfortáveis ao nosso redor, confusos ao verem tudo outra vez bem, depois de tantos anos de sofrimento aturados. Edward e eu sabíamos melhor do que qualquer um naquela mesa o que os dois pensavam, o que aqueles dois sentiam – e não podíamos nos mostrar chateados com aquilo, nem mesmo tínhamos o direito. Nós, que com nossa fraqueza, quase arruinamos a família com nossa ausência.

Foi então que aconteceu, e todos na mesa paramos de respirar. Por mais baixo que tivesse sido o sussurro, cada um de nós tinha ouvido as palavras que saíram da boca de Isabella, e Emmett ganhou um olhar quase esperançoso ao ouvir na voz da jovem as palavras 'minha humana favorita'.

Mas antes que alguém pudesse fazer alguma coisa – dizer alguma coisa –, Edward já a tinha de volta em seus braços, e rumava para o bar, a convidando para tomar alguma coisa nos minutos finais do ano.

Todos os olhares foram parar em mim enquanto o casal andava para longe.

"O que foi isso?" A primeira a falar foi Rose, tão surpresa e confusa quanto Emmett, que agora voltava a se sentar. "Elas se lembram de alguma coisa, ou o que? A garota, a – Isabella – acabou de murmurar o que meu marido sempre falava para ela! Como?"

Como?

Também nos perguntávamos aquilo, desde a primeira vez que tomamos conhecimento. Já haviam sido tantos. Como? Como elas tinham aqueles flashes, do nada, ficando presas em seus próprios pensamentos? Como, por que? Não tínhamos nenhuma boa explicação para aquilo.

"Elas não se lembram de nada." Peguei meu copo de champanhe metade cheio, ainda intocado. "Mas esses," Momentos? "Essas visões, parece que estão ficando mais frequentes, ao menos com Bella. Edward já a escutou falando tantas coisas, ele está bem esperançoso." E eu, não - mas não consegui acabar a frase em voz alta. Sim, me incomodava e muito meu irmão ter visto Bella daquele jeito já há tantas vezes, enquanto com Alice absolutamente nada parecia acontecer.

E se ela nunca se lembrasse? E se ela nunca voltasse para mim?

"Então são elas mesmo." Outra vez, Rosalie. E ela não estava feliz. "Talvez seja melhor nós irmos." Ela olhou para Emmett, e pelo tom de voz, aquilo não era um pedido.

"A melhor coisa que poderia ter acontecido, milagrosamente acontece, e você está brava?", dizia numa voz apenas um tom mais alta, tentando ao máximo controlar meu temperamento naquele lugar. Mas era difícil, tendo justamente aquela irmã ao meu lado.

No entanto, quando ela outra vez abriu a boca para falar, sua voz estava longe da raiva, assim como sua expressão. Assim como seus sentimentos.

"Nós vamos nos casar – outra vez –, no começo de março. Nós não íamos convidar vocês." Ela respirou fundo, apesar de não precisar. "Pensamos em começar uma família – só nós dois, sem brigas, sem nada do que passamos nesses últimos anos." Se Rosalie pudesse chorar agora, ela com certeza estaria às lágrimas. "Mas agora, eu não sei o que pensar agora. Vocês estão aqui, juntos outra vez, felizes outra vez, e por mais que eu queira também me sentir assim-" Ela não conseguiu terminar a frase. "Eu quero ir embora, só quero ir embora."

"Nós vamos ligar." Quem prometeu foi Emmett, enquanto se levantava.

E segundos depois, mais um casal caminhava para o meio da multidão.

...

Ponto de vista de Edward

"Minha humana favorita."

A expressão de Emmett era impagável – talvez como a minha, quando a vi assim pela primeira vez, no dia em que nos encontramos no mercado. Como a de Carlisle, quando ele nos contou que encontrara Isabella falando sozinha em sua sala, quase num transe. Como agora.

"Bella?" No instante seguinte, eu a tirava dos braços de meu irmão, antes que esse pudesse falar mais alguma coisa.

Quando Isabella se encontrou ao meu lado, um de meus braços a envolvendo pela cintura, a puxando para perto, não precisava ter o dom de Jasper para saber que ela estava confusa, completamente perdida com aqueles poucos segundos de sua vida faltando, como sempre a via ficar depois daqueles ocorridos.

"Desculpe, você disse alguma coisa?" A ouvi perguntar enquanto andávamos alguns passos para frente, logo entrando no meio da multidão.

"Disse para minha família que iríamos até o bar pegar algo para você beber, Bella." Inclinei minha cabeça para falar mais perto de seu ouvido, o ambiente já barulhento graças à nova banda que começara a tocar. "Você cantou por tanto tempo, acho justo a mulher mais bonita dessa festa não perder a voz por não se hidratar."

A observei corar com a última frase, o olhar mais uma vez envergonhado. Tão adorável.

"O que você vai querer?", perguntei quando chegamos ao balcão, e água com gás foi a bebida escolhida. Esperei ela dar o primeiro gole para voltar a falar. "Dez minutos para meia noite. Já sabe quais vão ser suas metas para esse novo ano?"

Outro gole, e um sorriso.

"O de sempre, eu acho. Entrar numa boa faculdade, cuidar para que minha irmã não faça nenhuma besteira, não me machucar caindo por aí."

"Só isso?" Ela assentiu.

"E você?"

"Os meus mudaram um pouco esse ano. Um deles é conseguir que você cante uma música para mim."

Bella me olhou com uma expressão quase inconformada por um momento, e eu sabia o que ela iria dizer: que havia cantado, que sua penúltima música, que cantara quando meus outros dois irmãos chegaram, era a minha música. E nunca me esqueceria da letra que meu único amor me deu.

"Mas eu quero uma música só para mim. Uma que você cante só para mim." Não esperava, no entanto, conseguir aquilo tão cedo.

"O ano ainda não acabou."

Não, ainda não. Ainda tínhamos oito minutos e trinta e nove segundos.

"Você confia em mim?" Uma resposta positiva. Bella, sempre confiando em mim, sem nem ao menos me conhecer direito. "Venha comigo."

E voltei a puxá-la para o meio da multidão, abandonando seu copo quase vazio no balcão. Um minuto depois saíamos do salão por uma porta traseira, para um espaço onde provavelmente mais ninguém apareceria – de onde estávamos, era impossível ver os fogos, e a atenção de todos nos próximos minutos seriam para eles.

Logo tirei o terno que usava, agradecendo por ter colocado justo aquele extremamente quente: o tomara-que-caia que Isabella usava não permitiria que ficasse sem um casaco nos graus negativos que com certeza marcavam do lado de fora do bar.

"Você vai congelar-"

"Coloque e não contrarie, Bella. Estou acostumado, acredite. Já você vai morrer de frio se ficar só com esse vestido na temperatura que faz aqui fora." Mais alguns segundos e ela vestia o paletó preto, e eu a puxava de volta para mim. "O que você vai cantar para nós?"

"Eu," A vi respirar fundo, olhando logo para baixo. "Eu não sei." Ela tremeu quando minha mão gelada tocou seu queixo, o puxando para cima, e mais uma vez o vermelho se espalhou por aquele rosto.

"Qualquer coisa. Qualquer coisa que queria cantar." Seus pés estavam sobre os meus antes que ela percebesse, e eu conduzia uma dança lenta enquanto nossos olhares não mais desviavam. "Bella, temos quatro minutos."

Isabella abriu a boca algumas vezes, não emitindo som algum. Quando enfim a voz saiu era trêmula, mas nem por isso menos bonita do que antes. Na verdade, era muito mais linda do que antes. Era uma somente para mim.

"So I put my arms, around you, around you…And I know that I'll be leaving soon…" Mais uma vez a cabeça se inclinou para baixo.

"Me deixe te olhar, por favor." E os olhos castanhos tímidos voltaram a encontrar os meus amarelos. "Você é tão linda."

"Eu..." Nos rodopiei devagar, seguindo o ritmo de uma música inexistente. "My eyes are on you, they're on you... And you see that I can't stop shaking. No, I won't step back but I'll look down to hide from your eyes, 'cause what I feel is so sweet and I'm scared that even my own breath… could burst it if it were a bubble…"

Era o momento perfeito. Tudo que eu esperei, durante todos esses anos. Havia vivido para aquilo, e somente aquilo. Havia então, enfim, um motivo maior para nunca ter feito a viagem para Volterra.

"So I put my arms around you around you, and I hope that I will do no wrong. My eyes are on you they're on you, and I hope that you won't hurt me…"

"Nunca.", disse, fechando os olhos. "Nunca vou machucar você, Bella."

Deixei meu rosto afundar em seu cabelo, e inalei mais uma vez seu cheiro intoxicante – morangos, ela ainda usava um shampoo com aquele aroma. Quando voltei a olhá-la, era Bella agora quem estava de olhos fechados, perdida em seus pensamentos. Ela poderia não escutar a contagem que se iniciava na parte de dentro, mas meus ouvidos conseguiram captar o número vinte.

Dezenove, dezoito...

"Você me perdoaria se eu te beijasse agora?" Não conseguiria me conter mais, aqueles lábios estavam tão perto, tão tentadores – mas nunca conseguiria fazer nada sem sua permissão antes. Mais uma vez os olhos castanhos se abriram.

"Eu não perdoaria se você não beijasse."

Dez, nove...

Minhas duas mãos seguraram aquele rosto delicado, meus dedos acariciando a pele fina de seu pescoço enquanto eu trazia os lábios mais para perto dos meus. Será que ela se sentia tão atordoada pela antecipação quanto eu?

Sete, seis, cinco...

A vi passar a língua pelo lábio inferior, antes de respirar profundamente.

Quatro, três, dois...

E então, meus lábios frios colaram naqueles tão quentes. Nos lábios que eu esperei vinte anos para poder beijar outra vez. Teria eu a sorte de passar o ano que se iniciava ao lado do meu único amor?

A eternidade?

Um...

O beijo acabou tão rápido quanto começou – na verdade, não chegou a passar do roçar dos lábios. Não podia ser mais do que aquilo, eu não iria conseguir me controlar se fosse mais do que aquilo. Mas a jovem que me olhava confusa provavelmente esperava bem mais.

"Não quero assustar você.", confessei com um sorriso, minha testa encostando na dela. "Você é preciosa demais para mim, não quero te assustar, fazer você se afastar de mim, nunca mais."

Fui pego totalmente de surpresa – minha Bella, a única que conseguia me surpreender – quando seus braços envolveram meu pescoço.

"Você nunca vai me assustar, Edward." Nossos lábios voltaram a ficar próximos demais enquanto ela dizia as próximas palavras. Não, meu amor, nunca diga nunca. "Eu sinto que-" Ela parecia estar tentando escolher as palavras certas. "É como se eu tivesse esperado minha vida inteira por esse momento. Como se eu tivesse esperado todo esse tempo por você."

E ela voltou a nos unir, num beijo que tomava todo meu autocontrole. Fechei meus olhos, tentando manter minhas mãos firmes e ao mesmo tempo suaves em suas costas, enquanto me concentrava naqueles lábios doces e macios. Precisava manter meu controle, Deus, fazia tanto tempo! Conseguia sentir sua respiração irregular no meu rosto, suas mãos se entrelaçando no meu cabelo, provavelmente o bagunçando ainda mais – como se me importasse. Ela poderia fazer o que quisesse comigo, Bella sempre me teve na palma de suas mãos. E seu cheiro, seu bendito cheiro, que rasgava como nunca minha garganta - controle, Edward.

Minutos depois, quando nos separamos, eu ofegava pelo ar que não me era necessário. Senti as mãos que antes seguravam com força meu cabelo tremerem; meu maior tesouro num estado igual ao meu.

"Minha Bella, eu sinto o mesmo." A puxei então para um abraço, descansando o queixo em sua cabeça. Sorri, um sorriso verdadeiro que somente ela conseguia me fazer dar, e senti os lábios contra meu peito fazerem o mesmo. "Exatamente o mesmo."

...

Ponto de vista de Alice

Dez minutos para a meia noite. Terceira – ou era a sexta? –, talvez quinta, taça de champanhe em menos de meia hora. Minha fraqueza para qualquer coisa alcoólica já começava a se manifestar quando achei o rapaz parado ao meu lado bonito o suficiente para jogar conversa fora até a virada do ano.

"Nem todas as mulheres precisam de um par para irem a uma festa de Reveillon.", respondi a pergunta após esvaziar mais uma taça, a colocando sobre o balcão, e logo pegando outra cheia, da bandeja que o garçom que passava carregava. "Estou muito bem sozinha." Muito, muito bêbada. "Mas não vou reclamar se quiser me manter acompanhada." Totalmente bêbada.

Por que havia começado a me embriagar mesmo?

Ah, sim. O motivo de minhas taças vazias estava a alguns metros de distância de mim, conversando de uma maneira simpática demais com uma morena alta e irritantemente deslumbrante. Ele parecia estar se divertindo, a mulher então, nem era necessário comentar – ganhar a atenção de um homem tão lindo deixaria qualquer uma extasiada. Como eu ficara, há alguns minutos atrás, quando fui tirada para dançar – bem na minha música – pela única pessoa que me interessava naquela multidão de gente.

E que claramente não se interessava por mim, pensei, tomando mais um gole. Nem um pouco.

Então por que ele não podia parar de me olhar enquanto flertava com aquela mulher? Será que aquele maldito não via o quanto aquilo era cruel, esfregar na minha cara que poderia ter a mulher que quisesse naquele salão?

"Sabe, nós não precisamos esperar até os minutos finais para um beijo." O homem moreno ao meu lado disse, enquanto me puxava pela cintura em direção a ele.

Rápido demais – o álcool fazia tudo girar em demasia. De repente me vi nos braços de um total desconhecido, e não havia nada que eu queria mais do que estar nos braços dele – que nunca me puxaria daquele jeito, que nunca me seguraria como o estranho me segurava.

Eu poderia muito bem fechar os olhos e fantasiar, apenas por um minuto, não?

Mas os lábios nunca chegaram aos meus, e outra vez, tudo se moveu rápido demais. Passei de um aperto quente para um aperto muito frio, e muito mais firme. E então consegui focar o suficiente para escutar o que falavam ao meu redor.

"Ela está bêbada, e você está se aproveitando disso, seu filho da mãe!" Por que Jasper estava me segurando? E onde estava o homem de antes- Qual era o nome dele mesmo?

Mais alguns segundos, e eu era arrastada para a direção oposta da festa, totalmente contra minha vontade. Mas apesar de todos os protestos, as mãos fortes só me soltaram quando a primeira rajada de ar frio bateu no meu rosto.

"Está um frio de morrer aqui fora!" Apesar de minha reclamação, não consegui voltar para dentro.

"Você está bêbada-"

"E quem é você para se preocupar com isso?", gritei, e tentei empurra-lo com as mãos – mas ou ele era forte demais, ou a bebida havia me enfraquecido, pois Jasper não se moveu um milímetro. Era como empurrar a parede. Era enervante.

"Tome um ar. Quando você melhorar, podemos voltar para a festa."

"A que você fez o favor de estragar para mim? Professor Hale, qual é seu maldito problema?" E continuaria a gritar tudo que precisava desabafar - qual a necessidade de me dar aquela árvore perfeita, por que toda aquela bipolaridade, e tantas outras coisas - se não tivesse visto a expressão quase triste que tomava conta daquele rosto perfeito. 

Me sentei num banco perto da porta, abaixando a cabeça, totalmente vencida. Estava cansada, triste, e tremendo – não apenas pelo frio, mas pelas lágrimas e soluços, que eu tentava inutilmente manter em silêncio.

O casaco que me cobriu me surpreendeu, assim como o abraço que o seguiu.

"Minha intenção não era a de te fazer chorar." Uma mão – tão grande! – envolveu um lado de minha face, me fazendo olhar para cima, direto naqueles olhos amarelos. "Só não queria que você fizesse algo do qual se arrependeria pela manhã, Alice. Não quero que nada de mal aconteça com você, pequena."

E no meio dos soluços, eu queria gritar. Por que ele era tão inconstante? Não tinha palavra melhor no momento para explicar aquele comportamento absurdo – uma hora não me suportando, na outra, agindo como se eu fosse a coisa mais importante do mundo. Eu queria gritar até deixa-lo surdo.

Mas a única coisa que importava agora era que ele estava tão perto, e cheirava tão bem, e era tão agradável para os olhos.

"Não sou pequena.", contrariei, minha voz ainda quebrada pelo choro, e minha mente ainda tomada pelo álcool. "E de qualquer jeito, vou acabar fazendo algo do qual vou me arrepender quando acordar." Afinal, seria minha única chance, e ainda poderia colocar toda a culpa no champanhe.

Coragem, Alice. Você pode fingir não lembrar de nada depois.

"E o que você pode fazer aqui fora, que pode te causar algum arrependimento?"

"Isso."

E sem um segundo pensamento, colei meus lábios nos dele.

Eu só queria provar, só queria aquele gostou uma vez. Apenas ter uma pequena ideia, por alguns poucos segundos, de como seria beijar aqueles lábios rosados, que pareciam tão macios. Que gosto eles teriam contra os meus, precisava saber: eu o beijaria, e então me afastaria - talvez ele mesmo recuaria primeiro. 

E mais uma vez, o rapaz sentado ao meu lado me surpreendeu por completo, meu puxando para mais perto e aprofundando o beijo, ao invés de me afastar.

Mel. Era clichê demais dizer que ele tinha gosto de mel? E eu estava tão contente por Jasper não ter me afastado, pois depois do quinto segundo, não queria parar de beijá-lo nunca mais – também era deveras clichê dizer que seu beijo era viciante? Agradeci por estar sentada, já que minhas pernas não conseguiriam me sustentar de pé ao sentir aquelas mãos vagarem pelo meu cabelo, me puxando para mais perto de uma forma delicada e ao mesmo tempo possessiva. Entorpecida, era a única palavra para descrever meu estado atual. Escutei os fogos, e desejei fortemente que a tradição fosse verdadeira – a pessoa que você beija na virada do ano vai ser aquela com a qual você vai passar o resto do novo ano junto. Um ano junto com uma pessoa maravilhosa era mais do que poderia algum dia esperar.

"Feliz ano-" Mas ele não tirou os lábios dos meus para que eu pudesse terminar a frase, e seus braços começaram a me prender mais forte contra ele, de uma forma não muito confortável.

Não me importava, realmente. Que continuasse, poderia me apertar o quanto quisesse, desde que aqueles lábios nunca saíssem dos meus. No entanto, o aperto em um dos braços começou a ficar forte demais alguns segundos depois, e meu gemido de dor não passou despercebido.

Maldição, Alice.

Quando voltei a olhar em seus olhos, o amarelo se tornara negro, e tentei imaginar se aquilo poderia ser por causa da pouca luz ou do excesso de bebida. Mas olhos não mudam de cor do nada, daquilo eu tinha certeza - mesmo bêbada. Mas os olhos negros não olhavam diretamente nos meus: estavam mais interessados em um ponto no meu braço esquerdo, que notei começar a arroxear.

No instante seguinte ele se afastou, e uma expressão que só poderia descrever como perturbada tomou conta de seu rosto.

"Meu Deus-"

"Jasper, está-"

"Não me fale que está tudo bem!" O vi passar uma mão pelos cabelos, enquanto se afastava ainda mais. "Me desculpe, eu sinto muito Alice. Isso não deveria ter acontecido."

"Jazz-" Jazz?

Por um instante aquilo – aquele apelido que surgira do nada – pareceu amenizar a situação, a expressão suavizara e o rapaz havia se fixado em frente à porta. Mas não demorou até a agonia voltar para sua face, e a porta de entrada ser aberta.

Eu não consegui fazer nada além de observá-lo desaparecer porta adentro.

O que havia acontecido?


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Notas finais do capítulo

Muito, muito obrigada mesmo para todos que estão comentando, seguindo, favoritando, cada uma dessas coisinhas me faz querer postar mais rápido e inspira a escrever!

Valeu pra quem recomendou a história também, Ero e Regiane, adorei ler o que escreveram, motivou muito ;)

Como sempre, estou aberta a críticas, e vou adorar ler os comentários de quem quiser deixar!

Um beijão,
Ania.



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