Além de uma vida escrita por Ania Lupin


Capítulo 12
Nuvens de algodão doce




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Ponto de vista de Bella

A cabine que parou na nossa vez foi uma azul. Entrei, logo seguida de Edward, e o funcionário fechou atrás de nós a barra de segurança. E então começamos a subir.

E no mesmo instante me arrependi de ter me deixado ser convencida por aquele par de olhos expressivos e adotei uma posição estática no meu lugar.

"Edward?" Foi quase um sussurro, aquela ponta de medo aumentando conforme eu via nossa cabine ficar mais e mais alta. Ele virou a cabeça para mim e continuei. "Não balance a cabine." prendi a respiração quando a roda parou de girar "Por favor."

Ouvi sua risada melódica, e por um momento senti o medo ir quase todo embora.

"Não vou balançar, Bella." Ele deu um sorriso e esticou a mão, um pouco hesitante, por cima do banco. "E você não precisava concordar em ir à roda gigante se tem medo."

"Eu não tenho!", contrariei, tentando fazer a voz sair confiante - falhando miseravelmente.

"Posso balançar a cabine então?"

"Não!", quase gritei. Abracei mais forte o vampiro que carregava nos braços, tentando me acalmar quando vi o brinquedo se mover outra vez, nossa cabine indo mais e mais para o alto.

De repente, senti uma mão tocar meu ombro, o braço que antes descansava no apoio do banco me envolvendo delicadamente, me puxando para mais perto, fazendo minhas mãos deixarem o vampiro ir para o chão e agarrarem o casaco grande que Edward usava.

"Nunca vou deixar nada acontecer com você, Bella.", o escutei sussurrar, encostando o queixo em minha cabeça. Ele estava tão perto, será que conseguia ouvir meu coração batendo tão alto? "Não precisa ter medo de nada enquanto estiver comigo. Não precisa ter medo nunca."

"Eu acho que você gosta do fato de eu ser tão desastrada." disse, me levantando da cama.

"Bella, claro que não! Da onde você tirou isso?"

"Não estou falando de como eu consigo sempre me machucar." Me virei para ele. "Mas de como você sempre está do meu lado para evitar isso. Você gosta de ficar me salvando. Você se diverte com isso."

"Minha Bella, eu nunca me divertiria com algo que possa machucá-la, como você caindo."

"Você se diverte quando me coloca nas suas costas e sai correndo sabe-se lá para onde. Eu morro de medo. E você se diverte." E ele sorriu, aquele sorriso que me dizia que sua próxima frase seria uma total mentira.

"Eu não me divirto com isso."

Sabia!

"Bella?" E a imagem que via se dissolveu perante meus olhos.

"Desculpe, eu-" Acho que estou ficando louca. Acho que estou ficando louca quando estou do seu lado, porque não tem explicação melhor. "Acho que estou com um pouco de fome." Louca. Completamente maluca.

"Vamos sair assim que voltarmos ao chão. E eu te compro um cachorro-quente, o que acha disso?"

"Você não precisa-" Mas ele me cortou.

"Eu sei que não preciso, mas eu quero." Edward disse, sua respiração no meu cabelo me arrepiando. Quase conseguia sentir o sorriso que ele tinha nos lábios.

Era tão estranho o jeito que me sentia ao lado dele. Desde a primeira vez – desde a vez que o vi sentado, de costas para mim – senti algo que não conseguia ao certo explicar, algo que me puxava para aquele rapaz de cabelos bagunçados. E era tão incrível, tão maravilhoso, tê-lo aqui do meu lado agora - era como um sonho se tornando realidade. Como se tivesse esperado todos esses anos para finalmente encontrá-lo. Meu Edward - e sim, era ridículo aquele sentimento de posse.

Me mexi, e ele se afastou um pouco, ainda mantendo seu braço em minha cintura. Sem pensar, levei meus lábios até sua bochecha, lhe dando um beijo estalado – e meu Deus, sua pele estava tão fria! Quando recuei um pouco para olhá-lo, Edward tinha uma das expressões mais lindas que eu já vira: seus olhos estavam fechados, seus lábios curvados num sorriso perfeito. Aqueles lábios pareciam tão beijáveis naquele momento! Na verdade, eles pareciam beijáveis a qualquer momento. E eu estava tão perto.

Só notei que uma de minhas mãos tinha se aventurado a tocá-los quando senti algo gelado a segurando. Aqueles olhos amarelos se abriram – parecendo tão mais escuros no momento – e os lábios frios tocaram mais uma vez minha mão num beijo. No segundo seguinte, eu estava pressionada contra um peito duro num abraço.

"Senti sua falta, Bella." Seu cheiro era tão doce, senti-lo me deixava quase inebriada. Era tão bom, era tão certo.

E ao mesmo tempo, era tão assustador me sentir daquele jeito ao lado de alguém que eu praticamente não conhecia. Era mais assustador ainda ter total certeza de que algo não estava muito certo com a minha cabeça. Eu sabia o que estava acontecendo, mas eu não queria parar para pensar nisso - não agora.

"Você não imagina o quanto." Edward voltou a me olhar, seu toque tão gelado contrastando com seus olhos que pareciam pegar fogo. 

Não sei por quanto tempo ficamos daquele jeito, um se perdendo nos olhos do outro – tão próximos.

Nossa cabine chegou ao chão, e voltou a subir.

...

Ponto de vista de Alice

Era inacreditável – alguém lá de cima tirara o dia, ou à noite, para brincar de sádico justo comigo. Porque era realmente inacreditável – e pode-se dizer hilária – minha sorte desde que botei os pés em casa.

Tudo que queria enquanto dirigia a Nissan vermelha era uma pizza, um bom filme e uma conversa de irmã para passar a noite. Pisei na porta da frente e fui recebida por uma Isabella arrumada demais para uma noite normal de sexta feira, e minutos depois, uma figura que eu esperava não mais ver por toda a vida tocou a campainha.

Sério Isabella, James? O menino que vivia me importunando e havia quebrado a boneca que eu mais gostava?

Olhava compulsivamente meu relógio de pulso desde que pisara no parque junto daqueles dois – eu tão iria matar minha irmã mais tarde. Eu tentava, mas simplesmente não conseguia ter assunto algum - até a vontade de falar era ausente, o que era surpreendente - com aquele rapaz, então eu estava passando por minutos infernalmente entediantes.

Já havia se passado quase uma hora quando a noite resolveu ficar pior. No mesmo instante que o vi, todos aqueles sentimentos irritantes – que sempre afloravam quando chegava perto dele – voltaram. E Deus, daquela vez pareciam ter voltado de um jeito tão, mas tão pior. Meu coração estava quase pulando do meu peito de tanto bater, e se meu estômago revirasse mais uma vez, precisaria urgentemente de uma pia.

Vi minha irmã quase correr até Edward, e tive que morder a língua para não xingar alto quando o mesmo apresentou seu irmão: ninguém menos que Jasper Withlock Hale, meu tão lindo, tão galanteador, e tão arrogante, novo professor de história. Ele não se chamava Edward Cullen? Por que diabos o irmão não tinha o mesmo nome?

Iria sair dali na primeira oportunidade – oportunidade que não demorou muito a surgir. Alguns passos para longe, e todo o nervosismo que sentia ficando ao lado daquele homem começou a se dissolver - amém. Por que ele tinha se mostrado tão maravilhoso naquele sábado? Não podia ter simplesmente sentado em outra mesa e ter me feito vê-lo somente naquela entediante aula de história? Com certeza a única coisa que sentiria, então, seria a raiva, ao contrário da confusão ridícula que agora se manifestava a cada encontro.

Bufei, praticamente despencando num banco de madeira, perto da barraca de algodão doce. O pior não era ele ser um cretino que ensinava história no meu colégio, nem ser irmão de um garoto que minha irmã havia claramente se tornado amiga - amiga, claro. O pior era eu ter me interessado por esse maldito. Naqueles poucos minutos em que Jasper dividira aquela mesa comigo, no meio daquela enorme tempestade, algo nele me despertara interesse, e eu queria muito me chutar por isso. Afinal, Alice não se interessava por garotos: Alice não se interessava por ninguém. Ridícula, ridícula.

De todos os poucos garotos com quem já tinha saído nessa vida, nenhum havia realmente me chamado a atenção para querer conhecer mais a fundo. Apenas um passou para o terceiro encontro, nenhum chegou ao quarto, e não era preciso dizer que meu quarto sempre esteve livre da presença masculina. Então por que esse loiro estúpido que apenas sentou-se na mesma mesa que eu e me mostrou suas cicatrizes mexia comigo daquele jeito? Era bizarro, era errado! Ele era meu maldito professor!

Por que Jasper não podia ser outra vez o homem daquele sábado?

"Encarar o nada é um passatempo, baixinha?" Aquela voz. Sério, Deus?

Levantei a cabeça, meus olhos já encontrando os fios loiros, como ele conseguia ser tão mais alto? Era intimidadora toda aquela maldita altura! Ah, que alguma força do além não o faça se sentar do meu lado, por favor não se sente, vá embora, não sente!

Como disse, aquela noite não estava sendo a melhor noite.

"Estou contando as estrelas.", disse a primeira coisa que me veio a cabeça, me movendo um pouca mais para a ponta do banco. Com ele assim tão perto, tudo que eu sentia piorava três vezes mais.

"Você não tem nada melhor para fazer do que contar estrelas?"

"Não.", respondi, bufando - algo já constante naquela presença.

Fez-se um silêncio curto entre nós dois, eu mantendo meus olhos no nada enquanto escutava as crianças conversando na fila do algodão doce. Mesmo sem ver, sabia que ele tinha encostado as costas no suporte de madeira – então ele iria ficar por ali. Ok. Conseguia lidar com aquilo. Com ele.

"Você não tem nada mais importante para fazer do que sentar do meu lado e encher o meu saco?", perguntei, tentando manter meus olhos em qualquer ponto a minha frente.

Não podia olhá-lo, não podia.

Mas era simplesmente impossível não virar de leve minha cabeça, deixando meus olhos se perderem por alguns momentos naquele rosto tão perfeito. Era tão simétrico, parecia esculpido em pedra aquele demônio. E aqueles olhos tão dourados, uma cor quase mel - poderia me perder neles para sempre, tinha certeza.

Balancei a cabeça, tentando me livrar daqueles pensamentos. Coisa típica minha, querer o que não posso ter.

"Eu tenho." Voltei a olhar para o céu escuro – tão mais seguro. "Mas estou onde quero estar agora, então as outras coisas podem esperar." A voz dele tinha outra vez perdido o tom arrogante, e eu tentava ao máximo não pensar que agora, longe da escola, ele poderia ser outra vez o homem que eu conhecera naquela tarde chuvosa.

Mas não, simplesmente não podia pensar em coisas assim. Precisava fazer o que fazia de melhor com todos os rapazes – era a coisa mais segura a ser feita em relação a ele. Precisava me afastar.

"Vá embora." Afinal, eu deveria ter o resultado até o final do ano que vem. "Não dá pra ver que eu estou ocupada vendo as estrelas?" Poderia começar a pensar em garotos ano que vem, tudo dando certo.

Afastá-lo talvez, não fosse das tarefa a mais fácil.

"Baixinha," Argh. "Não tem nenhuma estrela no céu essa noite." Ele me apontou o óbvio.

"Só porque você não pode ver uma coisa, não quer dizer que a coisa não esteja ali."

Me sentia tão calma de repente – nervosa por tê-lo ao meu lado, mas ainda assim, tão tranquila. Como da primeira vez. Ele estava novamente igual à primeira vez. E aquilo não era bom, definitivamente não era bom.

Não consegui mais evitar de meus olhos grudaram em seu rosto, examinando cada detalhe. Ele parecia esculpido, de verdade - por mais clichê que fosse dizer aquilo, mas não havia palavra melhor. Seus traços eram fortes, e nada naquela face parecia feio. Nem mesmo aquela cicatriz logo abaixo do queixo, apenas visível de perto. Jasper estava tão perto, percebi quando virou seu rosto para me olhar, fazendo nossa distância ser ainda menor.

"Mas se você não pode vê-las, qual o propósito de ficar olhando para o céu?" Como alguém conseguia ter um cheiro tão perfeito?

"Porque eu preciso fazer um pedido para a primeira estrela que aparecer.", confessei, antes mesmo que me desse conta.

"Se alguma resolver aparecer hoje, você quer dizer." Jasper deu uma risada perfeitamente afinada. "E eu achava que pedidos só funcionavam com estrelas cadentes. O que vai pedir, notas melhores? Alguns centímetros a mais?" Ele sabia mesmo como me tirar do sério. E eu achando por um momento que o homem seria agradável como naquele final de semana.

"Fica quieto.", bufei outra vez.

"Você está perdendo toda a diversão ficando irritada num canto. Achei que o propósito de ir a um parque era se divertir, e não ficar sentada esperando alguma estrela aparecer nesse céu nublado às dez horas da noite para fazer um desejo bobo." Tive que morder minha língua.

Poderia me divertir se não tivesse encontrado no mesmo dia justo as duas pessoas que eu menos gostava. Ou corrigindo, a pessoa que eu menos gostava, e a pessoa que me esforçava ao máximo para não gostar.

"Não é um desejo bobo." Contive a vontade de me virar para ele e mostrar a língua. "É importante." É um desejo que eu gostaria muito que fosse realizado.

"Vai me contar?"

"Claro que não!" Como poderia?

Mais um minuto em silêncio, mais um minuto com Jasper ao meu lado. Por que ele não podia desaparecer logo dali? Ou melhor, por que ele estava ali? Simplesmente porque os dois haviam pedido para não me deixar sozinha? Por que ele me causava tudo isso? Por que me sentia daquele jeito, mas que droga!

"Por que você continua aqui?" Minha vontade era de levantar e sair correndo daquele lugar.

"Quer que eu vá embora?" Sim! Não! Não sei! "Talvez você não seja a única com um desejo a ser feito." Suas palavras foram seguidas de uma risada.

"Você está debochando de mim?"

"Talvez." Como se alguém como ele precisasse fazer algum pedido: Jasper parecia ser aquele tipo de pessoa que tinha tudo. "Mas eu vou desejar algo para alguma estrela de qualquer jeito. O que você espera que eu faça, me coloque no meio daqueles dois ali na roda gigante?" Uma risada escapou: seria engraçada tal cena.

Mais silêncio, mas um silêncio confortável. Meus olhos acabaram voltando para a barraca de algodão doce, cheia de nuvens de diversas cores. Adorava aquilo, desde pequenininha – não dava paz a mamãe quando íamos a algum parque. Mamãe.

"Quer?" Algo gelado tocou minha mão, e foi como um choque.

"Algodão doce, Al?"

"Vai me dizer que você não tem vontade de provar isso? É tão macio, parece tão gostoso... olha a cara daquela menininha comendo!" Observava a nuvem de algodão amarelo desaparecer na boca da pequena.

"Você pode comer isso, Ali."

"Mas não vai ser a mesma coisa." Suspirei. "Eu não vou sentir o gosto. Não o que ela está sentindo."

"Se eu pudesse mudar isso, minha vida," Meu marido me puxou para um abraço, nós dois nos sentando num banco. "Mudaria nesse instante. Mudaria qualquer coisa por você."

"Se fosse para nunca te conhecer, não mudaria nada, meu amor."

"Nada." Nada. Não era nada, tentava me convencer.

Mas sabia que me enganava, não era nada – era alguma coisa. O que eram essas visões?

Quando olhei para o lado, não havia mais ninguém, e senti uma ponta de decepção. Bem, o que você esperava Alice, que ele fosse ficar ao seu lado a noite inteira?

"O que foi?" Meu bom humor que já ia embora voltou imediatamente com a imagem que surgira na minha frente. O homem loiro me olhava, com aquele sorriso perfeito nos lábios e um algodão doce cor de rosa em uma das mãos. "Pegue." Para mim?

"Obrigada." Tive que controlar o tamanho de meus olhos enquanto alcançava o palito, tomando cuidado para não tocar em sua mão.

E ele voltou para o meu lado, negando o doce quando o ofereci. O algodão acabou rápido nos meus dedos, meus pensamentos mais leves. Levei um susto quando, ao acabar de jogar o palito no lixo que havia ao lado do banco, fui puxada contra um peitoral duro – não bastava ele já ser tão lindo, ainda tinha que ter todos esses músculos trabalhados sob o casaco?

"Ali." O que? Jasper apontava para cima, mas não conseguia ver para o que ele estava apontando. "Ali. Olhe na direção do meu dedo." Ele ficou ainda mais perto, podia sentir sua respiração tocar meu rosto. Não demorou para eu ver um ponto brilhante no céu – a primeira e única estrela daquela noite.

Minha estrela.

"Viu? Fez seu pedido?" Fiz que sim, um sorriso se formando em meus lábios.

"E você?" Me surpreendi quando ele somente assentiu. "Vai me dizer quando se realizar?" Arrisquei a pergunta.

"No segundo em que se tornar verdade."


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