Slender: O Internato. escrita por Alison


Capítulo 1
Introdução


Notas iniciais do capítulo

E aqui está! O nosso pequeno Prologo da história!



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Onde há humanos, há demônios e é por isso que vocês nunca devem perder a fé. Ela é a única coisa que lhes protegem desses seres.

Essas eram as palavras de nossa Madre. A Madre Cícera. Ela sempre dizia isso quando vinha dar uma olhada na sala de aula. Dava um grande discurso religioso e por fim soltava essa frase. Eu já tinha ouvido isso tantas vezes que acabei decorando e sempre falava mentalmente junto dela.

Esta escola é como é, graças a ela. Madre se dá de corpo e alma para que nosso ensino seja bem qualificado e que estejamos sempre no caminho do bem. Por mais que seja uma escola interna católica e muitos dos adolescentes estão aqui contra sua vontade, o ensino é de se admirar.

Mesmo com todas as regras religiosas e bem rígidas que temos aqui, posso dizer que somos bem “livres”. Claro que de um jeito bem moderado.

— Vivian?

Madre voltou seus olhos até os meus, havia me chamado. Ela sempre faz isso e provavelmente irá pedir o que sempre pede para algum aluno aleatório durante sua visita.

— Sim, senhora? – Me levantei. Os olhos dos outros adolescentes que antes estavam diretamente pra Madre se voltaram totalmente até mim. Não fiquei desconfortável.

— Poderia dizer o “Salmo 91:11”? – Ela soltou um sorriso – O salmo considerado pela maioria como de maior força e proteção?

Sorri novamente. Por sorte eu tenho sempre estudado os Salmos. Não que eu goste, mas é que sei que ela sempre irá perguntar algum pros alunos e eu quero sempre saber responder. A maioria nunca sabe e é sempre ela que acaba recitando, sem dar nenhuma bronca e sem tirar o grande sorriso do rosto.

Para uma senhora de quase oitenta anos a Madre está bem. Seus cabelos brancos ainda são volumosos, poucos cairiam ou ela está usando uma peruca, mas acho isso pouco provável. Algumas rugas cobrem o rosto de que um dia poderia ser o mais belo de todas as garotas de sua época. Seus olhos azuis são bem claros, talvez estivessem perdendo o brilho devido a idade. Porém o mais chamativo é seu sorriso branco e reluzente. Você se sente acolhido por aquele sorriso.

— Porque a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos seus caminhos.

Assim que terminei, todos os alunos soltaram um suspiro decepcionados por eu ter conseguido. O sorriso da madre se ergueu ainda mais. Era incrível e eu sentia que ela estava feliz que eu sabia este salmo. Sorri pra ela de volta, mas meu sorriso não chegava aos pés do dela.

— Muito bem... Como sempre você está sempre bem... “atualizada”. – Ela demorou pra falar a última palavra, Madre sempre procura palavras dos jovens e acaba se enrolando as vezes.

Depois de um pequeno período de tempo, o sinal tocou. Nossas aulas teriam se encerrado por hoje e estava quase no horário do jantar. Levantei e comecei a arrumar minhas coisas enquanto a maioria já tinha saído correndo da sala quase atropelando a pobre Madre.

Enquanto arrumava notei que Madre continuava no mesmo lugar. Achei estranhos, pois ela normalmente sai junto de toda multidão. Deve estar esperando pra falar com a professora e precisa da sala vazia. Apressei minha arrumação e sai com os três cadernos em mão e meu estojo.

Quando fui passar pela Madre Cícera, ela me faz um sinal pra esperar. O que será que ela queria? Isso tá bem estranho. Madre não fala com os alunos a não ser nessas visitas na sala de aula que acontecem de mês em mês praticamente. Talvez seja um recado de meus pais?

Bem improvável. Depois que meu pai separou de minha mãe, ela ficou um pouco diferente. Começou a não bater bem da cabeça, escrever coisas estranhas na parede. Deixar papeis colados por todo quarto. Era algo bastante estranho e por causa disso, numa visita da minha avó – que é bastante religiosa – achou melhor levar minha mãe no médico e me colocar nesse colégio que um dia ela já estudou. Desde então eu não recebo notícias de minha mãe. Não sei se ela está bem. Se ficou louca...

— Ah... Vivian! – Madre passou os olhos pela sala e confirmou que já não havia mais ninguém presente. – Estou muito preocupada e com um horrível pressentimento.

Gelei.

— Como assim, Madre? É algo comigo?

Madre negou com a cabeça e segurou seu terço em suas mãos com muita força. Automaticamente acabei segurando meu pingente de cruz que minha avó tinha me dado antes de me deixar aqui.

— Eu venho notado um grande nevoeiro negro pela escola...

Nevoeiro negro era como a gente fala quando alguma coisa muito ruim estava acontecendo. Algum tipo de obra maligna. Coisa ruim, mesmo! Da última vez que teve esse nevoeiro aqui foi nas histórias de minha avó, ela me contará que uma vez uma menina se suicidou aqui na escola dias depois que a Madre da época lhe falou sobre esse tal nevoeiro.

Senti meu coração acelerar.

— Mas Madre? O que aconteceu? Desculpe... Mas por que está me contando isso?

— Minha querida, eu tenho certeza que esse nevoeiro está em um de seus melhores amigos.

Meu coração quase parou quando ela terminou de falar. Meus melhores amigos! Somos um grupo de cinco pessoas (contando comigo). Notei mesmo algo de estranho com um dos meninos, mas pra mim e para Isabela ele estava apenas passando por uma desilusão amorosa.

— Não diga isso, Madre... Você consegue me dizer o que seria esse nevoeiro? Em quem está?

Madre nega.

— Apenas reze. Reze muito por eles e não deixe de perder a fé. Lembre dá minha frase querida! Enquanto haver fé em vocês, nada poderá atingi-los. E lembrem de que não deve falar aos seus amigos sobre isso. Essa notícia pode quebrar a fé deles.

Concordei com a cabeça. Não tinha muito o que falar. Na verdade queria fazer muitas perguntas, mas sei que Madre é uma senhora de poucas palavras. Ela fala apenas o necessário e sempre filosofando com sua religião poderosa. Novamente apenas concordei e ela me liberou. Sai da sala com uma pulga atrás da orelha, pensando se realmente tinha algo acontecendo aqui.

Como é possível algo maligno penetrar numa instituição religiosa cheia de cruz e freiras rezando em cada canto? Não consigo entender.

Fui para o dormitório feminino, o meu era o número vinte e sete e dividia ele com minhas duas melhores amigas de todo esse mundo: Isabela e Vitória.

— Finalmente chegou! O que estava fazendo, Vivian?

Isabela. Uma morena de dar inveja, seus cabelos eram cacheados, negros e lindo. Era bem revoltada com a escola, estava aqui obrigada pelos seus pais devido suas atitudes meio rebeldes de alguns anos atrás. Mas ela é muito gentil quando quer e tem uma enorme preocupação com seus verdadeiros amigos.

— A Madre me segurou... Tinha algo muito importante pra falar!

Os olhos negros de Isabela ficaram num tom curioso. Parou de bagunçar sua cama e se sentou esperando que eu falasse algo pra ela.

— Onde está a Vitória? – Olhei pelo quarto e não a via.

— Ela foi no banheiro, já deve voltar. – Coçou os olhos num movimento rápido – O que a Madre queria?

Pensei bem no que a Madre disse sobre não falar nada sobre isso. Acho que realmente eu não deveria, se ela pediu e porque tem um grande motivo sobre isso.

— Ela queria me parabenizar por sempre está bem competente nas aulas! – Sorri. Foi uma deixa pra me achar, claro.

— Deus! Como ela é puxa saco seu!

Do banheiro saiu Vitória. Essa tinha a pele bem branca e seus cabelos eram totalmente negros. Uma combinação bastante peculiar. Eram tão lisos que você poderia passar a mão entre eles tranquilamente. Seus olhos castanhos escuros também chegavam quase num tom negro. Ela era muito bonita e sempre atraia a atenção dos meninos aqui da escola. Não pense que ela é metida! Pois é a pessoa com o coração mais protetor de todos, ela ama muito todo mundo dessa escola e não guarda magoa de ninguém.

— O que eu posso dizer? Sou excepcional no que faço! – Tentei disfarçar minha preocupação.

— Você irá virar uma Freira!

— E depois será uma Madre! – completou Isabela.

Dei um pouco de risada. Não era esse meu sonho. Queria me tornar uma administradora de alguma empresa grande. Esse sim era meu sonho.

— Se me dão licença, a futura Madre aqui vai para o refeitório. – Tentei imitar o jeito da Madre e as duas caíram na risada.

Sai do quarto. Não conseguia parar de pensar no que ela tinha me dito. Vou ficar de olhos aberto em cada um dos meus amigos. Até agora Isabela e Vitória estão super bem. Não estão agindo estranho e nem mesmo precisando de algum tipo de ajuda, mas ainda preciso ver os meninos.

Gabriel é o que me preocupa. Ele é um garoto alto, bem branco mesmo e tem os cabelos loiros cacheados. Parece até mesmo um anjinho junto dos olhos azuis penetrantes que ele tem. Ele vem ficando muito triste ultimamente. Deixou de arrumar seus cachos, as vezes nem mesmo aparece na sala de aula.

Como eu disse. Pensamos que ele só está passando por uma desilusão amorosa, já que dias atrás ele levou um fora de Roberta, a menina que ele tanto amava em segredo e só contava para nós. Foi minha ideia dele ir até ela e contar todas seus sentimentos e quem sabe ela também gostaria dele? Mas acabou que dando errado.

Enquanto pensava nele, acabei vendo o mesmo andando pelo corredor apressado. Vinha em minha direção, quando chegou em minha frente fiquei um pouco surpresa.

Ele estava com enormes olheiras. Seu cabelo estava todo bagunçado e suas roupas estava amassada e de qualquer jeito. Em sua mão tinha uma caneta preta que ele apertava sem parar para abrir e fechar.

— Gabriel! O que aconteceu? Você está horrível cara... é por causa da Roberta, não é?

— Não! – Ele olhou para os lados – Escute, será que tem como você me dar um caderno novo?

— Mas... Eu te dei um faz poucos dias, o que fez com ele? Impossível ter usado todas as duzentas folhas.

— Eu usei! Vai me dar um novo? – Ele parecia muito impaciente e isso estava me dando calafrios.

— Só se me dizer o que está fazendo com tantos cadernos.

— É uma história! Estou escrevendo uma história e ela está enorme. Agora será que poderia me dar um caderno? Eu sei que tem vários sobrando!

Olhei fixamente pra ele. Desconfiada demais. Porém decidi que daria o caderno pra ele. O que mal ele poderia fazer com simples folhas?

— Tudo bem. Eu vou buscar e te levo depois...

— Eu preciso pra agora!!

Ele gritou.

Gritou no meio do corredor cheio de pessoas. Todo mundo parou e ficou nos encarando. Ele não pareceu nem um pouco envergonhado com os olhares. Eu, no entanto, senti meu rosto queimar de vergonha. Dessa vez eu estava muito tensa com tantos olhares se voltando pra mim.

— Gabriel! – Falei baixo. – Pra que isso? Eu vou te dar esse maldito caderno, mas não precisava gritar dessa forma.

Ele não respondeu. Olhei por cima de seus ombros e vi Madre nos olhando, ela estava parada com as mãos em seu terço. A encarei por uns momentos e depois olhei pra Gabriel. Deve ser ele. Ele deve estar com o nevoeiro em sua cabeça.

Talvez se eu entregar o caderno pra ele o alivie um pouco. Dizem que escrever é como uma grande terapia, quem sabe isso elimine o nevoeiro que está passando por sua mente.

— Venha. – Peguei na mão dele e o puxei pra longe daquela multidão, indo até o meu dormitório.

Chegando lá, entrei no quarto e fui pegar um dos meus cadernos. O quarto estava vazio, provavelmente as meninas devem ter ido pro refeitório, será que viram a cena anterior? Depois de tanto procurar notei que Gabriel estava parado na porta do quarto. Olhei por cima de meus ombros e a cena me deu um pouco de medo.

Seu semblante estava horrível. Os olhos dele já não eram tão belos e agradável como antes. Seus cachos estavam todos caídos na frente de seu rosto o que fazia um tom bem perturbador. Suas mãos ansiosas e não paravam de abrir e fechar.

E o mais perturbador era o pequeno sorriso que surgia em seu rosto. Um sorriso que não significava felicidade.

— Não vai entrar? – Perguntei tentando conter meu medo.

— Estou bem aqui... – Ele olhou pra cima e depois pra baixo.

Olhei pra cima, na mesma direção que ele tinha olhado e vi que no lado de dentro, bem em cima da porta tinha uma cruz. Voltei a olhar pra ele, será que...?

Não! Devo estar ficando maluca. Aquilo que a Madre me disse acabou me deixando um pouco paranóica.

— Aqui está. – Fui ate ele e entreguei o caderno.

Ele pegou o caderno de minhas mãos e saiu correndo. Onde será que está o Gabriel que eu conheci? Sempre feliz, sorridente e animado pra vida...

Será que é minha culpa? Ele estar desse jeito? Foi minha ideia de ele ir falar com Roberta. Talvez se eu nunca tivesse optado na vida dele...

Olhei a janela. Notei que as árvores estavam agitadas.

Estranho. Parecia que tinha alguém parado lá fora.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Espero um review seu!!