Os Diários da Bruxa - Interativa escrita por Bétia


Capítulo 3
X — O que vem a partir da mudança.


Notas iniciais do capítulo

YOU GOT THE BEST OF ME *imita a batidinha legal da música* PA PA PA
Ai, gente. Perdão, o tamanho. No roteiro parecia que não ia dar nada, mas enfim, não consegui repartir. Espero que gostem, eu realmente dei o melhor de mim aqui!
SO PLEASE JUST DON'T LEAVE ME~ PAPAPAPAPA



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OH! Ana Júliaaa... — Samuel cantou para mim, indicando do seu jeitinho e tom alegre que o chamado, entretanto, indicava que queria falar de algo que havia achado estranho comigo. E eu ri, imaginando que ninguém o havia visto entrar aqui. Tudo isso meio que acontecia enquanto eu empurrava, ainda sustentando um meio sorriso, a porta de uma das cabines do banheiro do primeiro Café que encontrei.

 A julgar pelo seu olhar surpreso, lá longe, perto da porta de entrada, eu não estava nas melhores condições. Literalmente. Já que, olhando por esse lado, a minha barriga estava bem vazia e embrulhada, e eu estava sentada no chão sujo e fedorento, agarrada com um vaso sanitário, e com sabe-se lá que tipo de comida parcialmente digerida grudada em vários fios do meu cabelo amarrado. Mas ainda prefiro lhe poupar dos (outros) sórdidos detalhes da minha infecção intestinal mágica, se é que a podemos chama-la assim.

— Opa. — Murmurei quando o Persian chegou mais perto, enfim ponderando se valia a pena ou não se encaixar naquele pequeno local comigo. Talvez ele até não soubesse, mas era a pessoa mais transparente que eu conhecia. E, naquele instante, refletia na sua retina que seguia pensando se o que pretendia dizer antes era tão importante que não pudesse ser dito outra hora. Mas eu interrompi a linha do seu raciocínio: — Manda a bomba.

 E ele não me respondeu, ficou ali, parado, volta e meia balançando a ponta do rabo devagar e me observando colocar os bofes ‘pra fora, como se vivesse um monólogo sobre qual era a melhor atitude: Me levar embora, ou me deixar para morrer aqui.

 Não que eu fosse morrer, claro. Já tive tantas melhores oportunidades de ir para o Além que seria sacanagem chegar junto de Arceus e contar que eu morri vomitando. Imagina que bizarro?! Eu não entrava no céu nunca, sério mesmo! Ficava aqui como um fantasma só com a desculpa de que eu ia cuspir no caixão de vários entes não tão queridos assim. E olha que eu não sou nem uma pessoa vingativa! Mas, para mim, esse ainda era o melhor motivo que alguém usaria para ter um bônus pós-vida.

— O cara ainda tá lá. ‘Cê sabe, né? — Ele me falou finalmente, e eu tive a plena certeza de que tudo que pode melhorar, também pode piorar. E muito.

 Não que eu tivesse nada contra o cara dos chocolates, mas nada muito a favor também. E eu estava decidida a ir embora! Falar com ele por alguns minutos com certeza diminuiria a minha chance de tomar uns quinze banhos de vinagre, ácido e água sanitária e depois tacar fogo nas roupas de hoje.

 Então me pus de pé e saí depois de evitar os espelhos, lavar a boca, os cabelos sujos com sabonete e ter o hálito salvo por um dos chicletes amassados no meu bolso.

 Já no corredor que ligava os banheiros com a área onde ficava o balcão da recepção e as mesas, eu parei um pouco. Samuel, por sua vez, encaixou a cabeça no meu ombro e me viu alisar as pernas da calça num pleno sinal de que eu estava nervosa.

— Não tem como sairmos daqui sem sermos vistos. — Desembuchei depois de um tempo, olhando com dúvida para a forma da pokébola reduzida marcando presença no pano do meu bolso, mesmo sabendo que ele não iria querer entrar nela nem amarrado.

— Faz assim, então: Você sai com a próxima pessoa que se levantar, e eu vou por debaixo das mesas. — Ele sugeriu e eu ri.

— Mais fácil eu ir por debaixo das mesas, e você ir voando. — Comentei, me escorando na parede branca e gelada daquele lugar escuro, suspirando.

— Engraçadinha. E o que você sugere?

 — A mesma coisa de sempre, eu acho. Você vai indo, e quando arranjar uma desculpa para capar o gato, eu te alcanço. — E o Persian me olhou sério, sabendo que agora eu estava pensando seriamente em usar tal expressão para sair dali, e ainda mais! Que eu teria mesmo a plena cara de pau de dizer isso. — Melhor desculpa, não sei você! — Afirmei por entre um sorriso, travando a língua entre os dentes, sacana, enquanto me aproximava dele. O Sam, por outro lado, não tinha gostado muito do que eu disse, sua cauda o entregava, mas eu, por outro lado, não perderia a provocação nunca!

— Saí de perto de mim, desgraça. — Ele elevou a voz enquanto era encurralado num abraço apertado. — Nããão, agora vai lá! Fica com o cientista maluco, manda o gato velho embora!! Quero ver qual pokémon que vai chamar a polícia se você morrer!

 Tá, agora já não era mais tão legal assim brincar com o Sammy. Se realmente eu precisasse de alguém para me acudir, ou era ele, ou, bom, ele. Não havia outra opção. E eu esperava que essa opção ainda simpatizasse com a minha cara, e não que pensasse em me dar de isca para Toxapexs.

— Ah, mas você sabe que eu nunca de castraria, amigo. — Balbuciei de cara com seu pelo fofinho do peito, fazendo a voz mais fofa que eu sabia para parecer inocente por um minuto, admito. — Vender por alguns pokédollars, talvez. Mas nunca castrar. Ainda quero ser tia de vááários gatxinhos.

— Só ‘tá dizendo isso porque notou agora que eu ainda sou seu único pokémon. — Eu não pude ver o seu rosto, mas ele provavelmente rolaria os olhos para mim apertando-o mais forte agora, ainda que o seu tom fosse tão divertido quanto o meu.

— Talvez. — Provoquei outra vez. Mas ele nada disse, só saiu andando a passadas emburradas pelo corredor, me rebocando consigo como se meu peso fosse nada.

 Nossa parada, no entanto, se revelou como sendo as cadeiras da frente do rapaz que nos esperava já há algum tempo. Eu não estava nada animada para encarar o inevitável, mas mesmo assim me forcei um sorriso amarelo e um cumprimento, desconcentrando apenas a Kirlia que, entediada, fitava o percurso de pokémons e pessoas da janela, perdida nos próprios pensamentos. E ela virou seus olhos atentos para mim, logo depois percebendo que seu treinador estava imerso demais nas notas que tomava para notar a nossa aproximação.

‘Tá tudo bem se eu incomodar ele agora? — Eu falava do Robyn, enquanto passava para o assento oposto à sua parceira, vendo um Samuel estabanado empurrar o banco ao lado do meu para bem longe e voltar com os olhos brilhando sentar nesse lugar desocupado.

— Aham. — Ela, surpreendentemente, me respondeu, deixando a confirmação soar arrastado, e assim disferindo umas tapinhas no braço de seu treinador quando este parecia terminar as anotações mais rápido depois de umas letras erradas e borradas pela pokémon.

 Parada ali, esperando uma reação, eu percebia: Ele era uma figura interessante. Não por se vestir ou portar diferente, pois era até um modelo de cara regular. Ordinariamente comum. Camisa branca, jeans, edição vermelha do All Star Chuck Taylor.

 Com um olhar mais crítico, até sua Kirlia poderia soar como um grande clichê: Um pokémon de aparência frágil treinado pelo cara bonito e legal, que poderia muito bem virar um bad boy se usasse uma jaqueta de couro. O negócio era, eu não podia parar de achar estranho dele ter aberto o relicário que me entregou e não ter achado nada esquisito, nem ter se (ou me) enchido de perguntas sobre aquilo tudo.

Tá, tá, ou talvez eu só tivesse assistindo muitos filmes na TV e julgando precipitadamente.

— Certo, certo, obrigado Dalila. Eu acabei. — E logo sua pokémon tinha nome. Ela me acenou por um segundo antes do rapaz retorná-la para sua pokébola. — Qual o seu nome? — Ele me perguntou, mesmo que adotando uma postura envergonhada. O que eu não entendia muito bem, já que antes ele parecia tão convicto ao chamar por mim.

 Ainda desnorteada, eu respondi: “Ana”; mesmo que não fosse segredo para ninguém que eu preferia Júlia, ou simplesmente Jú. Como não sei o que deu em mim, apenas deixei-o prosseguir, sem nem mesmo me fazer uma correção.

— Certo, Ana. Pode ficar tranquila que os dados pessoais de vocês não serão colocados em nenhum local. — E anotou o que eu achava que era o meu nome e o do Samuel ao lado de um desenho de gato à lápis grafite na folha. — Podemos começar? — Voltando seus pequenos e puxados olhos para mim, ele perguntou. E eu acenei que sim, focando um pouco na louça suja disposta por cima da mesa. Meio perdida em o tudo que acontecia ainda, acho. — Não sabia se você vinha, então tomei café antes. Espero que não se importe. — Completou, num pedido silente de desculpas. Mas eu não lhe dei resposta, já que a última coisa que eu gostaria de ver no meu dia era um menu de comida nas minhas mãos. Tampouco gostaria de dizer algo parecido e acabar fazendo com que o meu status de saúde fosse, de alguma maneira, mudar o seu tratamento comigo.

— Mas, ei! Pode parecer um pouco estranho eu estar perguntando isso só agora, mas, por que nós? — Interrompi seja lá o que ele havia planejado para falar. Minha esperança era que, se esse encontro fosse apenas uma desculpa e se ele realmente havia visto “ele mesmo” no cordão de antes, me falasse logo. Eu também não fazia a menor ideia de como ele não sabia o meu nome se havia me chamado por ele agora há pouco, mas eu já achava que isso podia ser coisa da minha cabeça, ou apenas a parte da conversa de qualquer uma das pessoas que passavam por a gente naquele momento. Mas eu continuaria jogando verde, não tinha muito tempo hoje para enrolações, e duvidava muito que meu corpo também.

— Eita! Nossa... Perdão, moça. Eu não me apresentei. Sou o Robyn Tucker... — Falava enquanto se levantava para me dar um aperto de mão. — ...e trabalho como um pesquisador pokémon. E estou justamente pretendendo lançar uma tese sobre o comportamento pokémon. — Ele fez uma pausa e eu notei que ele sabia usar bem das palavras, pois era claro como queria me instigar a ouvi-lo. — Isso não necessariamente inclui seu Persian, mas gostaria de que ele fosse um dos alvos da minha pesquisa de estudo já que... — E ele apontou a caneta preta que usava para o Samuel. — ... ele não é muito normal, ou seja, não é standard. — Eu franzi as sobrancelhas, fazendo-o logo tratar de me explicar o “termo técnico”: — Ou regular, como preferir.

— Estudar... Como assim? — Indaguei sem muitos rodeios. Confesso, eu já preparava o meu não para ele, já tinha cansado de ver reportagens na televisão de pokémons vivendo maus tratos quando testados ou até mesmo “observados” por pessoas da mesma área que ele. Além de que eu tinha meus próprios objetivos e sonhos em conjunto com o Samuel, e não o deixaria ir para longe nem com todo o dinheiro do mundo!

— Eu tenho um pequeno questionário, são poucas perguntas, de 5 à 15, a depender das suas respostas. — E eu pude respirar de novo, me arrumando na cadeira logo após. Só assim acenei com a cabeça. Quanto antes eu respondesse tudo, mais cedo eu estaria partindo para a próxima rota. — Ele é de linhagem pura? No caso, a árvore genealógica dele é só composta por Persians e Meowths ou há algum outro pokémon incluso?

— Não sei bem ao certo... Mas seu pai é um Arcanine. — Afirmei, acariciando o pelo do pokémon que já se acomodava ao meu lado, para logo então o sentir retesar. Depois de tudo, seu passado era algo que ele gostava tão reservado quanto a própria imagem. E eu compreendia bem esse desejo pela sua privacidade, por isso tentava responder as coisas com a menor quantidade de detalhes possível.

— Certo. — Ele falou mais para si mesmo do que para nós, enquanto corria a mão pela folha do caderno. — Ele veio de uma ninhada grande e com todos mistos assim, ou foi um caso único?

 Dessa vez, eu sabia do que ele falava, havia estudado um pouco disso há poucos anos atrás, na biblioteca da cidade de Vermilion. Sua pergunta se referia aos seus irmãos para tentar justificar a predominância dos genes femininos na hora da gestação e assim tentar fazer cair por terra que a característica mais marcante que os pokémons podem receber de seus pais são os conhecidos Egg Moves, ataques que os filhotes aparentam conhecer desde o momento que nascem.

— A ninhada foi bem pequena, na verdade. Primeiros ovos e tudo mais. Três Meowths normais e o Sam.

Aham. Mas ele apresenta algum problema de saúde?

— Não, não. Nada relacionado a isso. Claridade, apenas.

Okay... Eu notei que ele é bem grande! A alimentação, socialização ou movimentação são prejudicados? — E eu neguei, dessa vez, com a cabeça. Estava cansada de dar tantos nãos para suas perguntas. Mas, pensa comigo: Também seria redundante ressaltar que um pokémon maior certamente precisaria de mais alimento para se manter do que um menor, certo?

 Num movimento inevitável devido ao meu crescente tédio, eu olhei para a janela, como a Dalila o fazia antes. O dia estava lindo, e eu estava um tanto frustrada por não podê-lo aproveitar. Também estava agoniada, eu não conseguia pensar em nada, só respondia ao rapaz tudo no automático, de forma que era quase impossível para mim desviar do seu olhar como agora.

E contava: Uma pergunta restante. Mas foi quando eu pus a mão no bolso, fechando-a no pingente da corrente, sentindo uma tão familiar sensação. Os cortes céleres do sonho voltaram, e aquilo se mostrou claro como a água, esse era o objeto em que eu havia fechado a mão antes, sem dúvidas!

 Me restava agora descobrir como isso havia aparecido por perto de mim quando deveria ser só uma manifestação maluca do meu subconsciente. E mordi a língua, era angustiante a forma como aquele sonho havia se transformado em tantas perguntas e problemas!

— Última. — Ele falou, me despertando da reflexão meio paranoica e me abrindo um sorriso bonito. — Ele sabe de algum movimento característico dos Arcanines?

Ahããã... Não, só o do ovo mesmo.

— Ótimo, então estamos encerrados. Muito obrigado. — E eu me acanhava enquanto ele se levantava outra vez, trazendo a mão para outro cumprimento, e nela carregando um pequeno cartão, provavelmente coisas do negócio. — E isso daqui. — Completava. — É caso descubra algo novo. Então... Qualquer coisa, me liga.

 E eu observei o seu e-mail, telefones, por um segundo, só para não parecer mal educada. Porém, com um tchau rouco, eu meti o pé, de volta para o banheiro, e só então segui de volta para a minha busca por uma mochila.

 

“...”

 Agora já posso lhe dizer: Bolsa nova, vida nova. Eu havia feito o meu check out ontem e pagado por uma noite extra à vista, pois iria sair cedinho. O motivo disso, você me pergunta? Bom, nem sempre a gente tem tudo o que quer nessa vida. Minha doença havia adiado o meu plano de viagem no fim da tarde, quando eu ainda não havia apresentado sinais de melhoras, e eu acabei ficando. Então decidi, junto com o Sam, dormir até quando pudesse naquela noite e botar o pé na estrada de madrugada.

 Foi quando o avistei no fim da rua, às três horas da manhã, no meio de um tempo estranhamente agradável. Robyn parecia, mesmo de longe, o tipo de cara que era legal só por ser legal. Eu gostava dessa ideia boa pinta, mesmo depois de ter tentado evitá-lo tanto. Já ele, carregava seu caderno nas mãos enquanto conversava animadamente com a Kirlia ao seu lado, que iluminava o local com alguma manifestação de energia que eu nunca havia visto antes.

Muito diferentemente do andar relaxado que eu e Samuel tínhamos, a dupla parecia seguir apressada na mesma direção que nós, escalando a rua das laranjeiras até a entrada para a rota 29, no sentido oeste da cidade.

Mas só nos falamos, de fato, depois que o Persian me permitiu montá-lo por um instante, para que pudéssemos pular uma porteira de arame que estava emperrada justo no ponto que separava a cidade da estrada. E eu os sugeri: “Passem por baixo”. Que era o que eu faria se o Samuel não tivesse lembrado que sou tão estabanada, quanto mais agora no escuro! Não ia prestar mesmo.

Robyn, no entanto, deveria estar com muito sono, pois só se atentou para a minha fala quando eu já descia e seguia a diante, assentindo para mim depois de um “Ah”, enquanto eu me perdia na paisagem e decidia que não queria sair dali. A areia do solo, pelo que eu via em minha lanterna, era preguiçosamente sobreposta pela grama alta e mais ao longe alguns pokémons noturnos grasnavam, correndo de volta para a escuridão. O vento, no entanto, corria os meus cabelos para longe e as lufadas quentes vindas no sentido do oceano ali perto, que já se esfriavam ao chegar até aqui, tornavam tudo o mais encantador possível.

Assim, conforme eu e o Sam adentrávamos na mata regional, eu descobria que havia encontrado o lugar certo para treinar. Segundo o meu cronograma, hoje era o dia reforçar movimentos do tipo normal e desde que não tínhamos restrição de horário já que a visão noturna do meu amigo era muito boa, era uma questão de poucas horas para que estivéssemos prontos para seguir em direção à Cherrygrove.

 Eu calculava: Se havíamos saído de três horas, daqui para às sete eu já estaria fazendo o percurso para a cidade que, julgo, duraria quatro horas, no máximo. Mas nada disso pareceu importar mais quando, cerca de uma hora depois, um brilho estranho e oscilante começou a surgir por entre as árvores do lugar.

 Eu me sentia completamente hipnotizada enquanto penetrava na grama e atravessava os arbustos. O cheiro do orvalho se misturava com o zumbido misterioso e logo algo como um pó de prata fluorescente pareceu circular toda a região, flutuando há poucos metros do chão.

 Samuel me sugeriu, quase que em seguida, que fossemos procurar a razão daquilo, sendo muito provável que alguém estivesse com grandes problemas. Ele estava indubitavelmente disposto hoje, visto que me oferecera até uma carona nas suas costas outra vez, o que era bastante incomum. Mas como eu não sou boba nem nada, quem era eu para negar?

 E logo esbarramos com o pesquisador e sua pokémon sem muita procura, era como se fossemos os únicos forasteiros naquela floresta. E falo literalmente, pois clarão centralizado em algumas trilhas à esquerda era tamanho que apontaria para qualquer um imediatamente!

 Mas a partir dali viria a mudança. As luzes apagaram da floresta e se focalizaram em alguns casulos apenas, esses que absorveram a energia de uma forma tamanha que só restaram suas cascas por ali, indicando que uma evolução em grupo alguma hora ocorrera enquanto as lindas Butterfrees resultantes do processo voavam em panapanã indo em direção ao nascer do sol.

Eventualmente, eu sorri, me motivei e, quando dei por mim, já estava conversando animadamente com o pesquisador. E eu e ele fomos ficando, na mesma trilha, na mesma conversa onde todos os presentes discutiam sobre os pokémon inseto. Isso tudo sem pressão, cobrança, pedido para seguir viagem junto ou ademais motivos. As borboletas só nos juntaram e ninguém questionara nada.

 Para minha grande surpresa, no entanto, permanecemos ali mais do que deveríamos. Eu e o Sam paramos para treinar novamente, enquanto Robyn aproveitava a extensão do lugar para explicar algo sobre Apricorns para a Dalila. Mas você está aqui esperando por uma ação, não é mesmo?!

 Então, lembra quando eu te disse para não confiar nas estrelas? É, isso continua como uma baita verdade. Mas, outra diquinha amiga: Não confia em nozes brancas também não! Porque, olha... Foi difícil escapar de uma Exeggutor furiosa depois que a Kirlia confundiu um filhote de Exeggcute com uma.

Quero dizer, nós não escapamos. Fui eu, sozinha. Mais cedo ou mais tarde, não sei, houve um momento em que me separei de todo mundo. E então veio a ribanceira, nós de grama, minha queda, e, pois é, aquilo de novo. Célere.

 

“...”

 Eu já me acostumava com os constantes seguimentos que cortavam a minha vista volta e meia, tanto com o fato de, repentinamente, acordar com a Dalila se segurando a mim, como se para ludibriar minha mente a produzir bons sonhos.

Thank God! You’re okay. — O Major, sentado em sacos de comida opostos aos meus, agradeceu. E esse era um parêntese interessante a se falar: Eu entendia o que ele falava sem nenhum esforço. “Obrigada Deus! Você está bem”, ou algo do gênero. Essa, eu identificava, era uma língua antiga de Hoenn, já não muito utilizada hoje em dia.

 E me forcei a sentar, sentindo náuseas outra vez, enquanto ele explicava, naquele mesmo código, umas outras informações que passaram despercebidas quando ouvi: “Poison”. Essa única palavra me fez voltar à realidade enquanto sentia meu corpo tontear, eu estava ali de novo. Com a barriga roxa, mãos feridas e, muito provavelmente, ainda envenenada.

 Não era como se eu pudesse te explicar como que eu sabia que ali era ali, e como isso me confundia porque ali deveria ser, não! Porque ali era um local criado tão vividamente pelo meu subconsciente que eu duvidava se era real mesmo ou não.

 O Robyn, entretanto, o qual eu já havia me esquecido por causa de alguns pensamentos sobressalientes, me entregou um copo de barro com água pouco tempo depois, se demorando ao arrastar as mãos calejadas pela minha pele. Entretanto, ele tampouco era como o jovem que eu conheci em New Bark. Era um homem, e as roupas de oficial o caiam divinamente bem. Igual como na foto do relicário.

 O seu físico estava mais forte, eu notara, três botões da blusa verde militar lhe faltavam e... Não havia mais a saudade, eu estava em brasas. Dalila, por sua vez, me sorriu depois de já ter se distanciado, agora uma Gardevoir nada mais, nada menos, que gorgeous. E isso provavelmente era um elogio.

Are we in trouble? — Eu indaguei, pouco tempo depois. Ainda que embolada naquela linguagem, a questão não deveria se resumir em perguntá-lo se estávamos em problemas, eu percebi. — Wait... Where are we? — Adicionei. Minha preocupação voltava para os feridos, aos doentes na minha enfermaria, ao vilarejo, ao cenário devastado pelo veneno... Mas tudo deveria ter sido levado pelos ares, me toquei.

 E esmaeci, era inevitável. Tanto quanto pensar que o fato de que termos sido generosos tinha causado aquilo. Eu havia estragado tudo.

Don’t 'ya worry, love. — Ele me falou, passando certa segurança com a voz. Mas não, sua ordem, em toda sua sutileza imperativa, não me acalmava. Quando ele me dizia para não me preocupar, era quando mais me preocupava.

 Aliás, seu sotaque, sua presença, ambos me bagunçavam, eu notara, mas meu foco ainda continuava na incógnita: O que eu fazia aqui?

 E seguia pensando, eu me tiraria daqui se tivesse um parceiro capaz de voar. Mas decidi, tempos depois, acompanhar a dupla para fora, como a Dalila me pedira ao se encaixar na minha asa. O carinho por essa pokémon, que "eu" havia mesmo visto nascer, era tamanho que eu até me permitia ao toque, mesmo que não gostasse tanto de grude. Ao menos essa minha versão, acho.

 Já no caminho, no momento em que me deparei com aquela árvore, eu pisquei e sabia que não estávamos tão longe assim. Volbeats disputavam por suas fêmeas no entorno do tronco e copa, enquanto tais Illumises observavam as danças de acasalamento um tanto sem graça. E pensei, por um instante, se eu não me portara assim agora há pouco. Não, nananinanão... Ai, foi sim. Droga.

 Entretanto, a vista de fora, que dava para o vilarejo Cherrygrove era estupenda, isso conforme a Gardevoir me mostrava. Um pouco mais ao longe, eu percebia o alto relevo da serra, o modo como ela beijava o mar e as pequenas casinhas improvisadas perto da areia da praia.

I’ve missed you, Ann. — Ela me contara, para variar um pouco, encurtando ainda mais o meu nome. Eu também entendia o motivo da saudade, não nos víamos há tanto tempo! Robyn em missão significava menos uma grande amiga e ajudante na enfermaria, mas, nossa! Ela era gentil demais para dizer um não para seu treinador, sempre sacrificava o que gostava em prol dos outros. Esse era um dos traços mais lindos e admiráveis da sua personalidade. E completou em sequência: — Being the only girl on the team was about to drive me crazy! — Me segredara logo após, e eu gargalhei alto. Não deveria ser fácil lidar com o soldado e seu time de teimosos sendo a parcela mais lógica desse, e a única fêmea, eu sabia! Pobrezinha também, eu acho.

Hey, so... Thank you, by the way. You know, for saving me. — Agradeci, sabendo que era uma enrascada terrível para pokémons como ela terem penetrado daquele jeito no acampamento. Eu não entendia muito bem como ela (e sua linha evolutiva) tinha desvantagens ao veneno que me cobria em outrora, mas segui calada, me sentindo culpada pelas diversas bolhas avermelhadas que arruinavam sua pele de porcelana.

 Mas não precisei ouvir a palavra relativa ao “De nada” vindo dela, ou coisas do gênero. Logo nossos corpos já estavam juntos em um grande e afetuoso abraço, e, poxa, eu também me sentia bem por estar por perto dela outra vez.

Just... Don’t risk yourself like that never again. I was so fucking afraid I didn't make it in time! — Confidenciou, sua voz um pouco vacilante.

I won’t. — Assegurei. Mesmo sem saber exatamente o que eu havia arriscado e porquê. Ou muito menos a razão de estar com eles ali, agora. Digo, nessa linha do tempo; pois eu já cultivava a certeza de que não, nem de longe eu vivenciava um sonho.


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Notas finais do capítulo

Traduções das falas em inglês:
* Obrigado, Deus! Você está bem.
* Nos estamos com problemas? Espera... Onde nós estamos?
* Não se preocupe, amor.
* Eu estava com saudades de você, Ann. Ser a única garota no time estava parra me deixar louca!
* Hey, então... Obrigada, aliás. Você sabe, por me salvar.
* Só... Não se arrisque assim nunca mais. Eu estava com tanto medo de não fazer isso há tempo!
* Eu não vou.

Obs.: Qualquer erro, me aponta, por favorzinho! Principalmente se for nessas partes em inglês (eu tentei!).

Enfim... O que acharam? Estou contente que finalmente tive como desenvolver algumas coisas, tipo o Samuel, um pouco do Robyn e Dalila e essa história do sonho! Pq eu acho que vocês já devem ter percebido que a Jú tem controle de uma pequena parcela do que pensa nesses momentos, ou do que faz e lembra. E eu queria taaanto ter escrito mais disso que vocês não tem noção. ♥
Maaas, né? Temos que guardar mais coisa pro futuro.
E por falar em futuro, minha internet tá tirando uma com a minha cara e só roda bem o computador do meu pai. Pvfr, não me matem se eu não responder algo logo, o tempo tá arruinando mesmo a conexão e não tenho mais a senha da internet da vizinha ;v;)
Mas, de qualquer maneira, obrigada por ter lido até aqui!
Tchauzinho!