Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 8
Capítulo 8 Durmstrang/Beauxbatons


Notas iniciais do capítulo

Hoje tem uma parte maior do funcionamento de Durmstrang, mas não temos ninguém para conhecer, os personagens citados terão as fichas apresentadas quando aparecerem de verdade.



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Capítulo 8.

Sala de troféus, títulos e ranking de Durmstrang, 05 de setembro de 2021

Assim que a garota Durm começou a seguir pelos corredores determinada a mostrar a ordem natural da escola para os dois alunos de Hogwarts, Rebeca e Scorp se entreolharam confusos, porque haviam dito há menos de dois dias para Tony que essa coisa de lidar com abelhas rainhas era ridículo, como Castelobruxo se prestava a esse papel?

Aparentemente Durmstrang também tinha esse problema...

— Como assim “quem manda”? Não vai me dizer que tem uma turminha popular que a gente precisa puxar o saco! - Scorp acompanhou o passo da garota eslava a sua frente, deixando Rebeca um pouco para trás para fazer o aluguel do livro com o bibliotecário mal-humorado. – Se sim, quanto eles pagam? Eu quero muito valores, então estou aceitando quase tudo, até puxa-saquismo!

Assim que a sonserina morena os alcançou, a Durm se virou para olha-los de frente, os medindo de cima a baixo. Não iria responder a essa idiotice de Malfoy - a família sangue-puro britânica não era completamente desconhecida naquelas bandas - porque não estava ali para isso e finalmente haviam chegado ao seu destino.

— Meu nome é Svetlana Khodchenkova, sou do terceiro ano, número 17 no ranking dos duelos marciais e esse aqui é o livro que vai dirigir a vida de vocês nessa escola. - A garota eslava havia conduzido o casal de Hogwarts até uma sala lotada de troféus dos mais distintos esportes, com retratos de vencedores de nariz empinado, os olhando do alto de suas molduras arrogantes. – Leiam, entendam e respeitem.

— Número 17 de quantos, senhorita Svetlana? - Scorp perguntou, olhando com interesse para o livro de capa negra e filigranas de ouro com o número 2021 estampado, mas sem nenhuma reverência muito perceptível como pedia o discurso da terceiranista. Já Rebeca apenas começou a folhear o volume que estava em um pedestal impressionante, inexpressiva.

— De 152 alunos participantes na modalidade. Vê? Esses são os rankings atualizados de todos os esportes de Durmstrang: duelos marciais, esgrima, falcoaria, quadribol, xadrez bruxo e até mesmo poções na natureza, o esporte científico que vocês querem. Tudo devidamente atualizado, para ninguém esquecer o seu lugar. - A garota abriu em uma página no meio da publicação, onde havia sua posição, uma foto pomposa de sobrancelha arqueada e dados sobre suas notas nas classes, habilidades no esporte e combates lutados.

Scorp olhou impressionado para o livro, ainda mais ao ver a cifra ao lado do número 18 no ranking do esporte na página seguinte. Aquilo não podia estar certo, o garoto tinha mais de 15 mil valores de saldo? O sonserino apontou para o número com um olhar questionador.

— Como esse cara conseguiu isso tudo de valores? - O sonserino não podia acreditar na desigualdade econômica incentivada pela escola. Ele só tinha patéticos 70 valores!

— Garvik? Ah, ele é bem conhecido por estar em vários rankings diferentes... A melhor posição dele é 12° em falcoaria, o que não o faz um dos cinco mais poderosos em nada, mas isso de estar em vários rankings lhe rende bons ganhos. - A terceiranista falou como se não fosse nada demais, para ela não devia ser mesmo, tinha mais de 4 mil valores para gastar à vontade!

— Ok, Svetlana, é o seguinte, tem como você nos explicar as regras desse negócio de duelos? Porque vocês de Durmstrang adoram colocar coisas absurdas na nossa vida: sistema de valores, ranking... - Rebeca fez o sinal universal de “que diabos vocês querem da vida?” para a garota de olhos verdes gatunos.

A menina eslava suspirou cansada, como se carregasse um fardo muito pesado nas costas, mas na verdade Svetlana estava se divertindo irritando e informando os alunos de Hogwarts, adorava tirar a paz alheia, se houvesse um ranking para isso, seria a campeã!

— Espero que isso conte como a boa ação de uns 10 anos... Vejamos... Por onde começar? O ranking de duelos marciais é muito simples: quanto mais vitórias, mais à frente você fica na tabela. - Sabia que estava sendo simplista, mas pelo olhar do casal a sua frente, essa era a melhor estratégia. – Quanto mais ganhar de pessoas em posições acima da sua, mais você sobe.

— Tá, até agora faz sentido, então se eu ganhar de você, por exemplo, eu vou começar bem, porque você está no livro, certo? - A garota olhou com desdém para a pergunta da sonserina, porque, aquela franguinha de unhas compridas ganhar dela? Só nos sonhos.

— Se esse milagre acontecesse, você assumiria o meu lugar e eu o seu, ou seja, você seria a décima sétima colocada e eu seria... Um nada. - Svetlana deu um sorriso falso e Rebeca retribuiu o gesto “simpático”.

— E os valores... - Scorp apontou para a cifra ao lado do nome da garota. Ela estendeu a sua varinha e disse algo na sua língua estranha, tocando a madeira nos dedos compridos do loiro. – O que você fez?

— Te dei 20 valores, para ver se você para de chorar. - A garota falou debochada e, de fato, o número de valores na página dela diminuiu em 20. Scorp sorriu verdadeiramente agradecido, porque a essa altura não estava podendo ficar com essa bobagem de orgulho inflado que os Durms cultivavam com tanto prazer, ele queria dinheiro!

— Corta a bobagem, Svetlana, explica esse negócio de ganhar valores mesmo perdendo, porque isso sim nos interessa. O que precisamos fazer? - A garota Durm revirou os olhos para a britânica, porque estava na cara que ela não tinha gostado de seu presente para o namorado dela.

— Primeira coisa, você só ganha valores se desafiar alguém do livro e se o campeão aceitar o desafio, nesse caso você ganha 10% da renda diária dele na hora, cedida pelo Instituto. - Svetlana falou prática, pronta para o segundo ponto, mas foi interrompida.

— Renda diária? - Scorp questionou sem esconder o quanto aquilo o interessava. Seria perfeito ter valores surgindo na sua conta diariamente apenas por estar em um livro estúpido!

— Cada vencedor ganha uma pequena renda por sua posição, a partir da vigésima posição e sobe de 20 em 20 valores, é algo mais simbólico do que qualquer coisa, eu por exemplo ganho diariamente apenas 80 valores. - Svetlana falou aquilo dando de ombros, porque não era grande coisa, dava para pagar pelas poções energizantes e melhores equipamentos de proteção nos treinos e só.

Sua renda principal, na verdade, vinha da destilação de essências que fazia junto a equipe interdisciplinar de Herbologia e Poções do Instituto. Havia herdado do pai o talento para retirar extratos perfeitos das mais diversas plantas e animais, mesmo que os usos posteriores não a interessassem realmente.

A única pessoa que era melhor do que ela na extração, destilação e redução de substâncias orgânicas, era o estúpido do seu irmão mais velho, Milen.

— Você ganha 80 valores todos os dias? Eu poderia viver com isso! Quer dizer que se eu te desafiar, e você aceitar, eu ganho 8 valores automaticamente? Simples assim? - Rebeca perguntou divertida, porque aquilo era bem interessante, se desafiasse o primeiro colocado, por exemplo, fazendo as contas de cabeça, 10% de 400 valores... Ela ganharia 40 valores sem nem suar! – Desafia o campeão, amor! É um campeão ou uma campeã?

Svetlana revirou os olhos, logo depois foi até o pedestal do ranking para mostrar uma dura realidade para esses dois idiotas inocentes. Foi até o livro dos campeões de 2021 e colocou na página dos dois primeiros colocados dos duelos marciais.

— Esses são os irmãos Arrhenius, eles são os atuais líderes na arte e ambos são letais em um duelo. O primeiro colocado, Alec Hans, é especialista em feitiços e suas combinações são as coisas mais sinistras que eu já vi. - Svetlana apontou para o primeiro garoto de maxilar quadrado e sobrancelhas grossas e escuras. Nem mesmo as sardas atenuavam sua dureza. – Já esse aqui é Thomas Peter, ele é o mais velho dos dois e não se enganem com a cara de bonzinho, ele não está em segundo lugar por acaso, sem varinhas ele é o último inimigo que você gostaria de ter pela frente.

Pela fotografia do garoto, ele parecia do tipo que sorria muito e distribuía simpatia por aí, tinha até um início de ruguinhas ao redor dos olhos, indicativo de seu bom humor. Scorp deu uma olhada nos seus principais golpes - chutes altos e imobilizações - e concluiu que ele provavelmente ria enquanto estava matando suas vítimas.

— Páginas douradas para os dois primeiros? Imagino que eles façam parte de alguma dinastia tradicional de duelistas, ou algo assim... - O loiro sugeriu, impressionado como os gêmeos de 17 anos poderiam ser tão parecidos e ao mesmo tempo tão distintos.

— O pai deles é simplesmente James S. Arrhenius! Ele é o maior instrutor de artes marciais para combates mágicos da Europa! Dez em cada dez quartéis generais de aurores fazem consultoria com ele, por isso a família está o tempo todo mudando de endereço! - Svetlana falou bastante empolgada, então Rebeca sorriu simpática para ela.

— Temos uma fã do clã aqui? - A garota eslava corou irritada para a pergunta da britânica, porque ela não era fã de ninguém!

— Nada disso! Só sei dessas coisas porque eu sou meio que amiga de Arthuria, a caçula da família. - A terceiranista cruzou os braços, fazendo um bico sem perceber. – Ela é legal, embora metade do tempo você não saiba se ela está rindo de você ou com você.

— Arthuria? Nome interessante... Qual é a classificação dela no ranking? - Scorp fez menção de folhear o livro, mas nem sabia se a garota era duelista ou se tinha decidido seguir outra área. Desistiu do ato.

—Arthuria Arrhenius não dá a mínima para essas coisas, todo mundo sabe que ela é genial nas artes marciais, mas ela não pisa na arena, então não tem como aparecer no livro. - Svetlana falou séria, até soou um pouco decepcionada com o fato. – Ela é genial e geniosa, eu acho.

— Bem, se ela não está no livro, é irrelevante para gente! O que acontece se Scorp desafiar esse garoto aqui? - Rebeca apontou para Alec Hans Arrhenius e toda a sua expressão macabra. Scorp fez uma careta só de imaginar levar um soco desse cara, que dirás levar uma das tais combinações sinistras nas fuças...

— Se Hans se dignar a aceitar uma oferta ridícula dessas, seu namorado ganha 80 valores e uma passagem só de ida para o necrotério mais próximo. - Svetlana riu da sua própria piada, mas os britânicos permaneceram sérios. Bem, não dá para agradar todo mundo!

— 80 valores, não deveria ser 40? O campeão não recebe 400 diariamente? - Scorp perguntou sem entender a conta da garota, porque pela progressão matemática, o primeiro colocado deveria receber 400 valores, o segundo 380 valores, o terceiro 360 e assim por diante!

Ele era bom em cálculos de cabeça, não seria um bom pocionista se não fosse.

— O campeão ganha mais 400 porque ele é o campeão, são 800 valores diários, porque não é fácil manter a posição! Não é só ficar lá recusando todos os desafios, se ele bobear, os outros vencedores passam ele no número de vitórias consecutivas! - Svetlana falou como se precisasse defender seu estilo de vida para selvagens! – Não é nada fácil ser o melhor!

— Bem, se é esse o caso, não sei se vale a pena, Scorp, quero dizer, ele não é um cara arrogante que se mantém no topo só dizendo não e vivendo da fama! Ele está na ativa e pode te estraçalhar com um só golpe! - Rebeca falou alarmada, como se Scorp tivesse se voluntariado para o abate em algum momento dessa conversa esquisita.

— O cara tem 17 anos, Rebeca, você achou que ele era um velho decrépito que vive das glórias do passado? - O loiro perguntou beirando a histeria, porque nem por um milhão de valores ele entraria na arena contra um brucutu daqueles! – Ele definitivamente lutaria comigo só para se banhar no meu sangue...

— Bem, se você durasse 5 minutos com ele na arena, pelo menos ganharia 400 valores todos os dias por uma semana, fora os 80 valores anteriores, os do aceite. - Os alunos de Hogwarts a olharam sem entender e Svetlana bufou impaciente, porque eram um bando de lesados!

— Vocês não estavam prestando atenção? Vocês ganham metade dos ganhos do desafiado por uma semana, se conseguirem ficar 5 minutos na arena com eles, é por isso que todos os desafios acabam muito antes disso, porque os desafiados lentos perdem metade de seus ganhos diários mesmo que ganhem no final e nenhum deles quer isso, acreditem, ao menos sua morte seria rápida, cara.

Novamente Svetlana riu sozinha, deu um pequeno ronco nada feminino, porque as caras dos dois britânicos eram impagáveis, provavelmente deixariam o piso da arena todo borrado de marrom na primeira luta.

— Quer dizer que se eu ganhasse de você, a décima sétima colocada, eu ganharia 8 valores do aceite, mais 40 valores diários, totalizando 288 valores de prêmio? - Rebeca olhou de olhos arregalados para Scorp, como quem diz “essa é nossa oportunidade de ouro!” e Svetlana apenas encarou um e depois o outro, porque eles estavam loucos se achavam que tinham alguma chance na arena.

— Eu acho que se você vencesse ela, você assumiria o lugar dela e os rendimentos, essa é a vantagem de se desafiar um grande: roubar o lugar dele sem ter que duelar com um monte de gente! - Scorp explicou o que havia entendido para a namorada lendo o livro rapidamente e depois pediu confirmação com o olhar para uma Svetlana com cara de “mas esse povo tem poeira no lugar do cérebro?”.

— Deixa eu esclarecer uma coisa aqui: algum de vocês já fez um duelo marcial antes? - Svetlana perguntou calmamente e recebeu dois nãos sincronizados dos britânicos. – Vocês entendem que, nesse exato momento, uma luta com o número 152 levaria vocês para a enfermaria, sem nenhuma sombra de dúvidas, correto?

— Olha, eu acho que a gente poderia supreen...

— Não, garota, não foi uma pergunta real, vocês perderiam para qualquer um, ponto. - Svetlana foi categórica, segurou e sacudiu um dos braços de Rebeca com certa violência. – Olha esses músculos ridículos! Bracinho macio, acho até que vai ficar roxo só com meu toque!

Rebeca tirou o braço das mãos dela e massageou o local do aperto discretamente. Provavelmente ficaria a marca dos dedos da garota, mas ela não precisava saber disso, já era muito convencida sem ter provas.

— E quanto a você, garoto, olha... - Scorp estava distraído tentando ver pela expressão da namorada se aquela menina estranha tinha machucado ela, mas ainda assim conseguiu desviar o toque de Svetlana com um movimento reflexo. Acabou imobilizando a mão da garota com a sua. – Você até que tem um bom reflexo, para ser sincera...

A Durm falou meio impressionada, porque reflexos aguçados eram metade do caminho andado em duelos. Olhou o britânico com mais atenção dessa vez, de cima a baixo: ele era alto, tinha um porte longilíneo como o dela, não era estabanado, nem excessivamente magro... Talvez se fosse rápido com a varinha...

— Claro que tenho bons reflexos, eu fui goleiro da seleção de Quadribol de Hogwarts! Acabei de ganhar um campeonato, se não sabe lê os jornais! - Scorp sabia que estava exagerando um pouco suas habilidades, afinal ele foi reserva de Fred Weasley II pela maior parte do campeonato, mas isso não precisava ser dito, né?

— Vocês estão falando sério quanto a isso? Quero dizer, vocês querem mesmo desafiar um dos top 20 em duelos marciais algum dia? - A garota eslava perguntou levemente alarmada, porque aquilo era uma péssima ideia, mas ao mesmo tempo a deixava meio empolgada, porque tinha uma chance remota de dar certo.

— Algum dia não, tem que ser até a terceira semana de novembro, para dar tempo de ganhar o dinheiro para comprar os materiais do campeonato de poções e pagar pelas inscrições. - Rebeca falou sem enrolação, porque aquele era um plano e dessa vez não ficaria apenas na torcida do seu namorado, ela iria tentar fazer o mesmo também.

— Acha que temos alguma chance real? Talvez com esse Garvik aí, que atira para todos os lados... - Scorp apontou o livro com a cabeça, fazendo menção ao décimo oitavo colocado do ranking.

— Precisariam de alguém acima de mim para conseguir o valor para os dois irem para o campeonato... - Rebeca olhou para Scorp, que parecia levemente mais pálido com o tom de voz interessado da Durm, ela parecia começar a gostar da ideia de vê-lo duelando na arena. – Ok, garoto, acho que temos... Desculpe, qual o seu primeiro nome mesmo?

— Scorpius, Scorpius Malfoy e essa é minha namorada, Rebeca Wainz. Mas o que você quis dizer com...

— Temos pouco tempo, muita ignorância e trabalho pela frente, mas... - Svetlana sorriu para o casalzinho limpinho e arrumadinho, os dois pareciam que haviam saído de uma vitrine. – Por sorte eu conheço a pessoa certa para nos ajudar com isso.

— E o que você ganharia nessa história toda, garota? - Rebeca perguntou desconfiada e a menina apenas lhe deu um encolher de ombros e um sorriso travesso.

— A chance de moer os ossos de vocês nos treinos, acredite, eu vou me divertir muito tentando ensinar um pouco de técnica para vocês. - Svetlana foi sincera, porque esse era o melhor projeto extraclasse que poderia arrumar! Estava muito, muito feliz.

Rebeca e Scorp se entreolharam, porque só sabiam de uma coisa: iriam suar muito para atingir seus objetivos dessa vez.

~AdC~

Sala comunal de Dépayser, 05 de setembro de 2021

Anne o olhava comprimindo os lábios e Fred supôs que não devia ser fácil ter o seu maior segredo jogado na cara, como se estivesse as claras para todos. Resolveu esclarecer da melhor forma possível a atipicidade da coisa toda.

— Não acho que você possa ler toda a mente, mas tenho a impressão que capta alguns pensamentos aleatórios... Cheguei à conclusão ao perceber que você não parecia afetada por aquelas visões que te falei quando fizemos a troca, mas sabia lidar com elas, logo é algo seu, não do processo.

Anne sorriu de um jeito meio triste, porque ele era inteligente demais para seu próprio bem. Fechou o bloquinho de notas com a pena dentro, para não perder a página que estava escrevendo e o olhou com sinceridade.

— Não é algo que eu queira ou saiba controlar, é uma espécie de legimência natural que algumas pessoas tem. - Ela deu de ombros tímida e subitamente vulnerável. – Não posso evitar, então, por favor, não se sinta ofendido se...

— Tudo bem, eu só queria esclarecer esse ponto, podemos voltar para onde estávamos? O show de Carl Dolus, certo? Deixa eu me lembrar... Sim, teve uma pessoa que não parecia envolvida. - Fred cortou a desculpa de Anne e fez questão que ela percebesse que seu dom natural não era um problema para ele. Ela sorriu agradecida e voltou a abrir o bloco. – Enrique Dussel, ele foi apanhador do nosso time e é namorado do nosso capitão, que estuda aqui, inclusive.

— Dussel como nas empresas Dussel? Ele estuda em que escola agora? - Anne anotou o nome e fez uma nuvenzinha ao redor com sua pena de tinta azul turquesa, porque aquilo poderia ser muito importante no futuro.

— Ele já é formado, já era formado antes, mas fazia algumas dependências para prestar os NIEM's com mais seriedade... Pelo que soube ele foi desleixado com os estudos. - Fred falou sem nenhum conhecimento de causa, porque Dussel era pedante, mas não saia por aí falando suas coisas a torto e a direito. – Posso entrar em contato com ele, se quiser.

— Isso seria bom. Precisamos esclarecer dois pontos: o que ele achou estranho no show e se ele tem alguma habilidade diferente, como eu ou você. - Fred franziu o cenho e Anne se consertou rapidamente. – Hipoteticamente falando, porque pode ser que você tenha apenas uma leve predisposição a sonhos premonitórios.

— Ou uma leve predisposição para nada. No caso de Dussel, eu posso te adiantar que ele apenas não pareceu impressionado com o show e em um dado momento, ele ficou até mesmo na defensiva e olha que ele não é o cara mais cuidadoso de todos. - Fred falou, tentando se lembrar daquela tarde estranha.

— E os outros pareciam muito deslumbrados? - Anne perguntou vendo algumas expressões hipnotizadas dançando na mente de Fred. – Diria que estavam sob algum encanto?

— Não me atreveria a ir tão longe, mas pareciam eufóricos, até quem geralmente não tem esse comportamento. - Fred se lembrou de sua prima Rose, Tony Zabini e até mesmo de Cesc, que parecia uma criança pequena animada.

— Ok, vamos deixar assim por hora. Que outras premonições você teve? - Fred olhou para Anne enfezado, porque ela estava projetando nele sua necessidade de ter alguém com alguma habilidade esquisita como a dela. – Desculpe, quis dizer a caixinha.

— Ela me disse para aguentar firme e foi o que eu fiz quando teve um jogo de Quadribol em que fiquei doente, depois falou “cinco dias” e nesse prazo Hogwarts ruiu, o que foi péssimo, porque não adiantou nada eu saber com antecedência e por fim, me disse para estar na Fonte Flamel, que foi onde te encontrei. - Fred sorriu e Anne sorriu em retorno, mas logo voltou o olhar para sua anotação.

— Então temos “Carl Dolus, o insectologista”, um “aguente firme”, outro “cinco dias” e por fim, “a fonte Flamel” mais alguma coisa? - Anne perguntou concentrada, tentando ver algum padrão de linguagem ou algo que o valesse nas mensagens.

— Ah sim, teve a palavra “impostor”, essa e a mensagem da fonte foram ditas em francês, o resto em inglês, por isso mesmo eu escolhi vir para Beauxbatons, atrás desse tal fulaninho trapaceiro. - Fred falou divertido, mas Anne continuou a encará-lo com seriedade.

— As duas últimas mensagens foram em francês? - Ela falou com ênfase, então Fred a olhou um pouco confuso, fez que sim com a cabeça, porque, ao contrário dela, não podia ler mentes para saber o que a tinha deixado assim. – E você fala francês?

— Você sabe que eu não falo. Acha que a mudança de idioma foi por sua causa ou por... Eu não sei, não tenho outra hipótese. Talvez a mudança de escola? - Fred perguntou igualmente perturbado, porque esse foi um detalhe no qual não se debruçou muito, achou que era um indicativo para ir para Beauxbatons e só, não se atentou a mensagem nova, estava muito deslumbrado com o resto dos acontecimentos para lembrar disso.

— Você ouviu a palavra em francês antes de vir para cá, então eu não acho que tenha sido uma mudança sua... - Anne falou baixinho, mas para ela do que para ele. Olhou novamente as palavras que havia anotado. – Isso é estranho...

— O que é estranho? - Fred se aproximou do caderno, vendo as observações da garota escritas em francês em uma letra bonita.

— Eu não sei, não parece ter um padrão, pelo contrário, é completamente sem padrão, veja: - Ela apontou para as palavras sublinhadas e Fred tentou acompanhar seu raciocínio. Geralmente era o contrário, as pessoas tinham dificuldades de acompanhar o dele. – Temos um nome e uma profissão, uma ordem, um período de tempo, um adjetivo e um lugar.

Sim, Fred podia ver com clareza o que ela estava falando. Havia aprendido em todos os seus anos de estudos mágicos que a magia trabalhava sempre com um padrão e a falta de um, podia significar algo também, só que em um plano maior e mais complexo.

— Nenhuma função se repete, nenhuma... Como eu não vi isso antes? - Ele olhou para os olhos de Anne, que o encarava igualmente intrigada.

— Não foi falta de atenção, você disse que as pistas se encaixavam na sua realidade uma a uma, não fazia sentido tentar vê-las juntas. - Anne olhou para frente, passando a língua nos lábios. – Sinceramente, não acho que faça o menor sentido agora...

— Como pode ser um quadro complexo, se quase tudo se encaixou certinho? O caso de Hogwarts, por exemplo, cinco dias depois da mensagem, a escola estava em crise! - Fred falou exasperado, olhando para Anne como se ela pudesse explicar àquela situação toda. – Eu nunca consegui entender para quê ter uma dica do futuro, se não podemos mudá-lo!

— Você não fez nada quando ouviu sobre os cinco dias? Por que? Não soube por onde começar? - Anne perguntou com cuidado, tentando sondar a mente de Fred superficialmente, mas ele tinha um raciocínio muito acima do padrão que ela estava acostumada.

Talvez fosse apenas questão de se acostumar com o ritmo dele, estava enferrujada, fazia tempo que não se concentrava em uma só mente, a última havia sido a de Sebastian, que era adepto das imagens com pouco som e outras sensações.

Ele era um cara basicamente visual, diferente de Fred, cuja mente era uma grande colcha de retalhos, parecia aquele trabalho de patchwork, com vários pedaços de pensamento de cores, tamanhos e texturas diferentes.

— Na verdade eu não estava sozinho nisso, Cesc e Tony inventaram de fazer um amistoso de Quadribol no dia, para levantar a moral da comunidade de Hogwarts e a gente viu no que deu... - Ele falou irônico e Anne tentou se lembrar do que leu sobre a escola escocesa naquela época.

— Soube que a presença de adultos no jogo ajudou na evacuação segura de todos os alunos e na contenção do problema... - Ela tentou, mas o garoto deu de ombros.

— Não é lá uma grande ajuda, mas imagino que signifique algo. Sinceramente, não sei se é melhor pensar que foi uma premonição e eu que não tive capacidade para entender ou se não tem nada a ver com minha vida e tudo não passou de uma coincidência.

— Não vamos nos precipitar, até segunda ordem foram premonições e você fez o melhor que pôde com as informações que tinha. - Anne sorriu para Fred, marcou um asterisco na hipótese mais provável e depois fechou o bloquinho. – Vamos focar nos mistérios não solucionados então.

— Basicamente tudo! - Ele deu risada e ela o acompanhou.

— Não exatamente! Você disse que houve algumas coisas que não foram resolvidas... - Ela disse com um sorriso paciente e Fred a olhou com um sorrisinho irônico.

— Provavelmente eu apenas pensei isso.

— Tanto faz! - Ela fez um gesto de dispensa com a mão, o olhando sério agora. – Vamos focar nos dois enigmas sem solução: Carl Dolus e o imposteur.

— Que podem ser a mesma pessoa, a gente pode sempre trabalhar com essa hipótese. - Fred apontou o óbvio e Anne o olhou com o cenho franzido, porque esse era um trabalho de dedução muito preguiçoso. – Okay, okay, por qual você quer começar?

— Você fica com o senhor Dolus e checa com o monsieur Dussel aquilo que discutimos antes e eu vou sondar algumas mentes, para ver se encontro algo fora do comum, alguém que possa ser um “impostor” nas cercanias. - Ela falou a última palavra de um jeito engraçado, levantando do lugar.

— Bem, acho que temos muitas coisas para trabalhar, coisas em que pensar... - Fred falou enigmático para Anne, que o encarou atenta. – O que significa dizer que não faremos nenhuma viagem até... Não, não diga nada, você sabe que eu estou certo!

A garota francesa o encarou brava, mas sabia que ele estava certo. Havia muitas coisas nessa caixa que não faziam sentido, seria loucura se eles a usassem sem saber mais sobre os seus mistérios.

Fez biquinho para ele, queria tanto trocar de corpo outra vez...

 


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Notas finais do capítulo

Anne e Fred são dois espertinhos, hein? E vocês? Alguém já havia percebido a estranheza nas palavras ditas pela caixinha?

Animados para ver Scorp e Rebeca apanhando na arena?

Bjuxxx



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