Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 5
Capítulo 5 Mahoutokoro/Uagadou


Notas iniciais do capítulo

Finalmente mudamos de data e de escolas, com o aparecimento de novatos e uma veterana muito especial.



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Capítulo 5.

Casa dos Hataya, província de Shiga, Japão, 04 de setembro de 2021

Aidan estava a exatos 20 minutos esperando o lento processo do vapor de seu banho quente passar as suas vestes de Mahoutokoro até que se tornassem um belo conjunto de tecidos rosa claro alinhados, do jeito que sua avó disse que ficariam.

Era um truque muito bom esse, melhor do que o feitiço passador.

O garoto nissei sabia que tinha ficado ali tanto tempo, porque a maior parte desses preciosos minutos ele usou para curtir fotos de filhotes no Instagram alheio. Era isso ou vídeos de comida e com o problema sério de gula que estava tendo, era melhor evitar.

Ouviu passos lá fora, o que significava que Akira finalmente havia terminado de acordar - o garoto de 12 anos passava meia hora para abrir os olhos completamente - então agora estava batendo na porta como se só a sua falta de modos e insistência fossem o suficiente para mudar uma montanha de lugar.

— Já estou acabando. – Aidan não estava acabando, porque, apesar de já ter tomado banho e estar de cueca e meias sentado na tampa do vaso sanitário olhando o celular, o lufa-lufa não estava nem um pouco afim de começar o seu dia ainda.

— Eu vou contar tudo para o vovô! - “Eu vou contar tudo para o vovô”, Aidan repetiu imitando a criancice do irmão, sem emitir nenhum som. Pegou a varinha em cima da pia, fez o feitiço para vestir o uniforme da escola, se olhou no espelho, deu uns tapas na bochecha e... — Eu estou falando sério, Dan.

Aidan abriu a porta e Akira o encarou com raiva, porque o mais velho sempre fazia isso, na Inglaterra ou no Japão, Aidan sempre ficava jogado na sua frente, pronto para fazê-lo tropeçar e se atrasar, parecendo uma trouxa de roupa suja largada no chão do seu quarto!

O garoto mais velho aproveitou a paz temporária que era o irmão no banho mal tomado de cinco minutos, para caminhar pela casa oriental dos seus avós com tranquilidade.

Havia se mudado com a família durante o verão para aquele pequeno sítio hibrido dos seus avós na província de Shiga, a alguns quilômetros de Kyoto, uma propriedade rural perto o suficiente de uma vila trouxa para que sua avó pudesse encontrar as amigas e isolada o bastante para seu avô não ter que lidar com aquele mundo inconveniente dos trouxas.

O lufa-lufa nunca entendeu como aquele casal de velhinhos deu certo por tanto tempo, ele sendo um bruxo tão turrão e ela uma trouxa amorzinho que gostava de saracotear pela rua cumprimentando velhas amizades... Eles eram um casal legal.

Tinha sido divertido observar a dinâmica dos dois, principalmente porque seu pai pontuava casos de sua juventude naquele lugar, enquanto fazia adaptações tecnológicas para a estadia dos filhos ser o mais confortável possível ali.

Para a alegria de sua avó, os dois ganharam uma televisão no quarto para os jogos e filmes, internet rápida para seus aparelhinhos tecnológicos e ela havia ganhado uma torradeira e aquela adorável máquina de fritar sem usar nenhum tipo de gordura que suas amigas tanto falaram!

Infelizmente, por causa do trabalho, Kei e Judith Hataya tiveram que voltar para a Inglaterra no fim das férias e os dois irmãos, Aidan e Akira, continuaram morando com os avós no Japão para o ano letivo na escola de magia Mahoutokoro.

Aidan encerrou seu breve momento de contemplação e cumprimentou pela janela do corredor, o avô que chegava do campo com uma pequena cesta de vime a tiracolo. O senhorzinho apenas fez uma leve reverência para o neto, depois deu a volta para entrar pela porta da frente, naquele ritual diário de:

Tirar os sapatos, cumprimentar o pequeno santuário dos ancestrais - fazendo todo o ritual do Butsudan, que o lufa-lufa quase havia pegado o jeito - pegar alguma flor pequena, mas bonitinha na cesta para a esposa e resmungar algo em um japonês estranho enquanto fechava a porta de correr do seu escritório.

O avô gostava de seguir uma rotina estrita, já havia tomado seu café e feito um sem fim de coisas antes de qualquer um dos netos acordar, o que justificava o silêncio que deveria ser feito após o anoitecer, hora em que ele já estava dormindo.

Já sua avó parecia não ligar muito para mudanças na rotina, pelo contrário, as incentivava sempre que podia. 

— Olha só, querido, fiz seu asagohan com tamagoyaki. - Aidan sorriu para avó, porque ela falava em um inglês com sotaque e sempre fazia questão de apontar cada coisa em japonês, alongando as sílabas, como se ele tivesse dois anos de idade.

O garoto inglês sabia que o “asagohan” era o café da manhã e o tamagoyaki era aquela ótima omelete quadrada tradicional e cheia de camadas desde o segundo dia aqui, então sorriu para avó e agradeceu a refeição em japonês -  itadakimasu— com as mãos juntas e um leve aceno de cabeça, do jeito que ela gostava.

— Fiz ozoni, mas há bacon e... Linguiça também. - Ela falou satisfeita por se lembrar da palavra em inglês. estava tentando ocidentalizar um pouco as refeições em sua casa, como já era comum nas cidades, embora o marido fosse veementemente contra. Piscou para o neto, cúmplice.

Aidan já se servia de oyakodon, que era basicamente cubinhos de frango e ovos no arroz - sempre arroz, muito arroz, arroz e arroz - enquanto a avó servia seu de suco de laranja. Usou os hashis para pegar um pouco da comida em sua tigela, colocou na boca e então um pouco de tamagoyaki molhado no shoyo, na boca novamente e uma fatia de bacon comprida, o que era sempre um desafio com aqueles palitinhos.

Conseguiu colocar tudo na boca de uma vez e ainda sorrir de bochechas cheias para uma avó com o olhar levemente repreendedor. Ele estava começando a ficar bom nisso.

Depois de já ter comido quase todo o seu café farto - vantagens de se morar com aposentados, ele tinha praticamente um rodízio japonês a sua disposição - o lufa-lufa viu seu irmão cumprimentar a avó desajeitadamente e sentar sobre os pés na mesa baixa de café da manhã.

O garoto mais novo começou a se servir com um pouco de tudo na tigela, com muita habilidade com os hashis, mas zero de paladar. Akira estava fazendo uma massaroca de arroz, omelete, molho e sopa que não se parecia com nada que um japonês pudesse colocar na boca voluntariamente.

O sonserino estava atrasado, como sempre.

— Não tem porco frito dessa vez? - O garotinho finalmente havia parado para olhar o que estava comendo, bebendo um gole grande de suco antes de continuar. — Aquele com gengibre?

— Não tem e não é como se você tivesse tempo para isso... - Aidan respondeu distraído, recolhendo suas louças com um feitiço e enviando direto para a pia. Sua avó agradeceu a ajuda com palminhas animadas, ela gostava de ver como o neto estava melhorando nos feitiços domésticos.

E Aidan adorava poder fazer feitiços todo o tempo, o Japão era ótimo nesse aspecto.

Akira estava comendo agora numa velocidade assustadora, mas como mandava a etiqueta, hashi na mão direita, tigela na mão esquerda, enquanto seu irmão seguia tranquilamente pelo corredor.

Aidan foi escovar os dentes, pegar seus materiais de estudos, cumprimentar a avó... Revirou os olhos quando viu o irmão caçula largar os hashis de marfim da família na mesa e tomar o caldo diretamente da tigela.

Era um ogro mirim.

Ainda teve tempo de responder um gif engraçadinho de Cesc, vindo diretamente de Beauxbatons - era uma fada dançando valsa com um graveto queimado - com risos e uma foto de um tubarão banguelo, antes de chamar Akira uma última vez.

— O petrel já está aqui! - Aidan guardou o celular nas dobras internas do uniforme, fez uma reverência para uma das grandes criaturas milenares de Mahoutokoro - uma espécie de ave da família dos pelicanos que havia atingido o tamanho de um carro popular por arte de algum encantamento - e subiu no assento da frente, como sempre.

Akira veio todo estabanado, enfiando um par de pergaminhos de última hora na mochila, subindo no petrel sem modos, o que fez a ave sacodir as asas incomodada. O menino tossiu um pouco, depois segurou nas correias da criatura com as duas mãos.

— Tudo certo aí atrás? - Aidan perguntou paciente, mas Akira continuou tossindo, fazendo careta.

— Acho que engoli um mosquito, será que... — O petrel levantou voo antes mesmo do caçula dos Hataya completar sua reclamação. Aidan ainda olhou com divertimento para o irmão, que tinha adicionado um pouco mais de proteína no estômago.

— Ai, Akira... Eu não faço ideia de como você vai sobreviver mais quatro meses no Japão. - Ele não falou com a intenção de ser ouvido, já que o vento levava as palavras para longe e seu irmão parecia mais interessado em gritar coisas para os trouxas a centenas de metros abaixo deles.

Aidan riu novamente, porque o irmão não tinha jeito, era doido mesmo.

Quando a criatura se aproximou o suficiente da costa de Minami Iwo Jima, um caça da base militar da ilha ao lado fez um rasante, forçando o petrel a executar uma manobra evasiva de disfarce, exibindo sua parte de baixo coberta por um feitiço de camuflagem.

Akira vibrou no assento do fundo, mas o barulho do avião era tanto, que não tinha como ele ser ouvido. Assim que o transporte trouxa se foi, a criatura pousou em segurança, deixando os irmãos Hataya ao lado de uma cerejeira florida no topo de um dos muitos montes da ilha vulcânica.

— Honestamente, os voos são a melhor parte dessa escola... Olha, Dan, sua namoradinha vem vindo! - Akira falou malicioso, fazendo Aidan virar rapidamente. — A gente se vê depois, mané, tchau!

O garoto saiu em disparada morro abaixo, só diminuindo o ritmo ao chegar a pequena ponte que adornava o riacho que costurava a escola de ponta a ponta. Akira havia encontrado um colega de classe e os dois já estavam tagarelando animados, deixando o lufa-lufa para lidar com seus problemas sozinho.

— Olá, Aidan-san, fez um voo tranquilo? - A menina chinesa perguntou simpática em inglês, como sempre e o garoto ficou sem ação, o que infelizmente também era uma rotina. Ela ampliou ainda mais o sorriso. — Está indo para sua aula de Pepakura agora?

— Isso! Aula de papel e essas coisas, você sabe, é tudo muito... - Aidan calou a boca um segundo antes de falar a palavra “papelzístico”. Deus, quem inventa palavras ridículas desse jeito? Hui Ying o olhou levemente confusa, parecendo ainda mais encantadora. — É melhor eu ir andando, para não me atrasar, você sabe, isso não seria... Bom.

O lufa-lufa deu as costas a garota de vestes em um tom bonito de vermelho, se xingando mentalmente por ser o cara mais patético que já pisou na face da terra. A menina ainda o chamou e ele se voltou para ela, fingindo que não era um completo desperdício de espaço.

— Nos vemos no almoço? - As vestes vermelhas dela salientavam o tom rosado das bochechas, combinando perfeitamente com as flores de cerejeira levantadas pelo vento, que a emolduravam nesse exato segundo. Aidan balbuciou qualquer coisa, porque Deus só podia estar brincando com a cara dele, não é possível!

Por tudo que é mais sagrado, por que justo ele tinha que gostar da garota mais legal da escola?

~AdC~

Lagoa dos ancestrais, Crescente, Uagadou, 04 de setembro de 2021

Lia Thiollent havia cruzado todo o corredor até a sala de aula favorita da professora Aurier com sua melhor expressão de tédio sonserino, ignorando os assobios irritantes dos alunos antigos de Uagadou, que tentavam tirá-la do sério.

Aparentemente havia feito um “dodói” no ego dos garotos vice-campeões receber em sua adorável escola simplesmente uma das artilheiras carrascas do campeonato mundial de Quadribol intercolegial.

Lia estava feliz com a vitória de Hogwarts e estava satisfeita com o pouco que já havia conhecido da nova escola, mas ainda se pegava rilhando os dentes e contando até 10 para não azarar seus novos colegas irritantes.

Finalmente chegou a seu destino. Se estivesse em Hogwarts, teria batido na porta antes de entrar, mas a sala de aula “lagoa dos ancestrais” era conhecida pelo silêncio absoluto, então apenas colocou seus calçados no nicho próximo a porta e caminhou - com água pelos tornozelos - para o pequeno semicírculo flutuante que abrigava a professora e dois alunos na frente da classe vazia.

A mulher negra, com uma tatuagem dourada na cabeça raspada, continuou analisando pacientemente a lição de um garotinho de óculos grandes, enquanto o outro aluno - igualmente de óculos, mas azuis e de rosto muito mais familiar - levantou o olhar para encará-la.

— Olá, Westhampton, que surpresa vê-lo aqui. - A garota do último ano falou com seu tom mais sinuoso, cumprimentando o irmão caçula de um dos seus antigos amigos de festa. — Hugh mencionou algo sobre você escolhendo Uagadou no lugar de Durmstrang, mas acho que a informação ficou perdida em algum lugar da minha mente, é de fato uma surpresa te ver por aqui.

John Westhampton deu uma olhada pedindo permissão a professora para falar no meio de uma sessão de estudos e como a mulher continuou orientando Zaki em um tom de voz tranquilo e baixo, o garoto respondeu o cumprimento da sonserina.

— Já havia estudado em Uagadou antes e senti que era a oportunidade perfeita para terminar meus projetos inacabados. - Jonh assistiu Lia subir no tablado e se ajoelhar ao lado da professora, que esboçou um sorriso benevolente para a garota de cabelos compridos. — E você, o que te traz aqui?

— Aqui nessa sala especificamente? Vim falar sobre aquela vaga de preceptora em Adivinhação. Ainda está disponível, professora Aurier? - Lia havia utilizado seu tom mais obediente e educado para fazer a pergunta direcionada a professora.

A mulher negra de olhos perscrutadores finalmente resolveu dar atenção a garota de 17 anos, agora que ela havia lhe dirigido a palavra diretamente. Collete sabia muito bem que a ex-aluna de Hogwarts cumpria todos os pré-requisitos para a vaga e notara o brilho ambicioso nos olhos escuros dela quando mencionou o assunto na última aula.

— Sente-se conosco, senhorita Thiollent, porque não nos conta um pouco da sua história com a adivinhação? - Collete sinalizou uma das almofadas impermeáveis da sala, junto a John e foi para lá que Lia se dirigiu. — Ouvi dizer que veio de uma bela linhagem de advinhas...

— Ouviu dizer? - Lia perguntou impressionada e Collete apenas ampliou o sorriso.

— Estudei com uma Thiollent na verdade. Moça bonita, era bastante dedicada as artes da adivinhação, embora adorasse dizer aos quatro cantos que só lia o futuro por hobby. - Lia sabia a quem a mulher se referia, sorriu levemente constrangida, porque tia Lâmia adorava chamar atenção indevida para si, todos sabiam disso. — Tinha um bom coração apesar de tudo.

— Minha mãe adora dizer que tia Lâmia fazia jus ao nome e sempre tentava brilhar mais do que tudo ao seu redor. - Lia passou a língua de leve nos lábios, porque não sabia muito bem como informar o que havia acontecido com ela. — Na verdade, ela...

— Sim, eu sei, querida, mas me fale de você. Quais métodos de adivinhação praticou em Hogwarts? - A mulher mudou de assunto delicadamente, com um sorriso bondoso no rosto. — Sei que os europeus gostam muito de estrelas e chás...

— Sim, mas eu fui um pouco mais longe, estudei cafeomancia e quiromancia, mas eu queria algo um pouco mais abrangente, então cheguei a folhear um ou dois livros sobre Harupscia. - A sonserina olhou por sob os cílios para a professora, porque sabia muito bem que aquela não era uma arte muito bem vista, até mesmo considerada das trevas. — Não fui muito longe e ainda recebi uma advertência por isso, então eu aprendi minha lição.

Lia falou cinicamente, fazendo John franzir o cenho, porque era óbvio que ela recebera advertência, havia usado leitura de órgãos de animais para adivinhar o futuro! O que ela esperava? Por isso os sonserinos tinham essa fama de vilões, sempre adoram flertar com as artes das trevas!

— O que quer dizer com uma adivinhação mais abrangente, querida? - Collete fechou o livro que tinha no colo, que estava usando para orientar os estudos de Zaki ao seu lado. O menino olhou curioso para a mudança de postura da professora.

— Não queria mais ler o futuro das pessoas, porque isso é como um trabalho de formiguinha! Eu quero ver grandes profecias e prever acontecimentos que mudem alguma coisa! - A garota falou empolgada e então subitamente tímida deixando os ombros encolherem de leve. — Todas as mulheres da minha família sempre previram apenas coisas pequenas, eram espertas o suficiente para se associarem com figurões da época, mas ainda assim, até mesmo as naturais desperdiçaram seus talentos!

— Haviam naturais na sua família? - O garoto de 12 anos, de grandes óculos e cachinhos angelicais perguntou animado, fazendo Lia sorrir para ele.

— Não era nada muito impressionante, minha bisa, por exemplo, podia sentir o cheiro da morte de uma visita quando cozinhava para ela. - Lia falou divertida, piscando para Zaki, que riu com cumplicidade para o bom humor da garota. — Não preciso dizer que sempre tinha alguém a visitando, não é?

— E ela acertava todas as premonições? Conseguiu evitar alguma morte? - O secundarista perguntou animado e até mesmo John demonstrou interesse. Collete sorriu para a animação de Zaki, ele geralmente era muito tímido.

— Ah sim! Ela previu que um amigo do meu bisavô morreria com algo relacionado a peixes... Ele não levou a sério e uma semana depois, um grupo de agiotas o matou atrás da peixaria! - Dessa vez até John teve que rir do jeito afetado que a sonserina tinha concluído seu conto.

Zaki foi o único que a olhou confuso.

— As premonições dela não serviram para ajudá-lo? - Ele parecia decepcionado, então Lia deu de ombros.

— Não a ele, que não lhe deu ouvidos... Mas ela salvou o prefeito de morrer soterrado por moedas de ouro na inauguração do banco da cidade, ganhou até uma medalha por isso. - Lia falou displicente, mas Zaki abriu um sorriso radiante. — O homem jantava uma vez por semana na casa dela, mas naquela noite da inauguração, minha bisa sentiu um cheiro forte de metal ao cozinhar o seu ensopado de carneiro cheio de condimento e conseguiu avisá-lo a tempo.

— O que acha disso, John? Tem algo que possa relacionar com seus estudos sobre linhas temporais? - A professora Aurier questionou e o corvinal apenas piscou surpreso com a pergunta. Não sabia que esse intervalo faria parte dos estudos!

— Ãhm... Acho que a morte é um evento básico, está presente em quase todas as premonições e grandes profecias, o risco a vida é o cerne da arte e é o que dá sentido a nossa existência efêmera, então... - John tentou organizar seu raciocínio, empurrando os óculos azul mais firmemente no rosto.

— Agora está me dando uma aula de filosofia, John? - Collete perguntou divertida, porque o adolescente galês adorava aumentar suas respostas com contextualizações desnecessárias. Até o final de seu tempo juntos esperava fazer ele parar de subestimar o conhecimento alheio.

— Não, eu só estava... Quando ela falou que a avó, a bisavó, na verdade, só previu a morte do prefeito quando estava prestes a acontecer, demonstrou que o acesso as linhas temporais, ainda que natural, só pode ser feito quando a cadeia de eventos já está mais ou menos definida.

John parecia satisfeito com sua resposta e a professora o parabenizou com o olhar. Zaki olhou de um para outro, esperando que alguém acrescentasse mais alguma coisa.

— Mas, pró e aquelas premonições com muito tempo de antecedência, como elas podem acontecer? - O garoto tinha particular interesse nesses casos, porque dialogava diretamente com o seu “problema”.

— John? - Collete jogou a pergunta para seu mais novo pupilo, que havia lhe implorado para ajudá-lo com seu projeto de linhas temporais. John Westhampton tinha demonstrado uma bela veia investigadora e um raciocínio apurado e a divertia desafiá-lo intelectualmente.

— Creio que... Esse tipo de premonição são o que chamamos de alteradores de futuro, quando ditas, elas são tão abrangentes, enfáticas e definitivas, que se forem levadas em consideração, acabam sendo as precursoras dos fatos que previram. - Essa era uma resposta bastante adequada, pena que era a padrão. Collete Aurier preferia quando seus alunos respondiam por si mesmos...

— Elas causam o futuro ao invés de prever? Como assim? - Zaki parecia impressionado e confuso, pensando que talvez o silêncio pudesse ser a melhor arma do adivinho em casos de premonições ruins. Talvez o futuro devesse ser um mistério, no fim das contas.

— Eu acho que... - John não estava muito certo do que responder, porque aquelas grandes profecias, as relações de causa e efeito delas, analisadas pelo ponto de vista dos estudiosos mais céticos, davam um nó na sua cabeça.

— Acredita-se que nesses casos o acesso as linhas temporais acontecem porque o evento causará um rompimento tão intenso no curso da história, que o sensitivo consegue captá-lo, ainda que não seja uma realidade concreta. - Os três alunos encararam a mestre em magia elementar como se ela tivesse acabado de lhes falar a próxima profecia apocalíptica. Lia foi quem tomou a palavra dessa vez.

— Ele ou ela capta a mera possibilidade? - A garota de 17 anos perguntou confusa, com sua arrogância natural posta de lado. A professora sorriu para os três alunos, todos eram completamente diferentes entre si, mas tinha uma coisa em comum: a curiosidade aguçada.

— Digamos que existam três caminhos diferentes e que podemos escolher qualquer um deles, vários pequenos eventos nos levando a pender mais para um do que para os outros... Se você recebesse uma pista lhe avisando que poderia estar trilhando um percurso sombrio, o que você faria? - Ela perguntou especialmente para Lia, pelo que John foi grato, ele não saberia o que responder dessa vez.

— Escolheria um dos outros dois percursos, claro! - Lia falou exasperada e Collete sorriu enigmática.

— Mas você não sabe qual o caminho está percorrendo, nem qual dos três caminhos é o sombrio, você apenas sabe que há uma possibilidade do seu destino ser algo ruim. - Lia fez uma careta, porque basicamente ela não sabia de nada, como poderia tomar qualquer decisão?

— Então talvez o futuro não devesse ser desvendado e... E... A gente devesse só viver sem ficar ansioso com uma coisa que a gente nem sabe se vai acontecer mesmo! - Zaki falou ansioso agora, porque aquela parecia ser a escolha perfeita, onde todos sairiam felizes!

— A maioria das pessoas vivem assim. - Collete lembrou-lhe calmamente, mas depois acrescentou mais um questionamento a cabeça já confusa do garoto botswano. — Porém quando temos um vislumbre do futuro, podemos decidir se vamos abraça-lo ou rejeita-lo. Ganhamos uma chance de fazer escolhas conscientes.

— Mas as linhas temporais são muito complexas, para se ter uma noção de quais eventos vão levar a um destino, não basta apenas saber do acontecimento principal! - John resmungou contrariado, porque a professora fazia tudo parecer muito simples.

— Recomendo que estude um pouco sobre a profecia de Sibila Trelawney a respeito de Harry Potter e Voldemort, John, ela pode te ajudar a entender melhor o conceito. - A mulher falou em um tom sereno, fazendo John franzir o cenho.

— Eu já conheço essa profecia, todo mundo conhece! - O garoto falou com arrogância, depois se arrependeu ao ver o olhar da professora.

— Se todo mundo conhece, o mais provável é que ninguém conheça realmente. - Ela falou sabiamente e John fez uma careta para isso. — Quero que me traga uma lista das ações de Voldemort que levaram a profecia a acontecer, justificando a sua resposta para a pergunta: Harry Potter seria “o Escolhido” se não tivesse sido escolhido por Voldemort?

John tomou nota rapidamente para não esquecer os detalhes da tarefa e assim que terminou de anotar, olhou para a professora levemente nervoso, porque não sabia se aquilo se tratava de uma pegadinha ou não.

— Só para saber, existe uma resposta certa para essa pergunta? - Ele sondou interessado, recebendo uma piscada marota da professora.

— Existe sim, mas só saberíamos com certeza se pudéssemos voltar no tempo, por isso quero uma boa argumentação. - Ela falou com bom humor e depois olhou para Lia. — Quanto a você, querida, me procure amanhã depois da aula para discutirmos os seus novos horários como preceptora.

Lia sorriu radiante, porque agora sim seus estudos em Uagadou começariam de verdade!


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Notas finais do capítulo

Quais são os clichês aqui? Vou logo avisando, o de Mahoutokoro não é o q parece, tem a ver com algo do passado de Aidan, mais especificamente do capítulo 92 de HOH.

Os personagens de hoje são todos de Jweek!

MAGORO Zaki - https://www.notebook.ai/plan/characters/313900
HU Hui Ying - https://www.notebook.ai/plan/characters/192619

Coloquei os nomes assim pq eu sou cheia de graça mesmo! E digo mais, pq eu sou a louca das pequenas pistas, tem uma coisinha na fala da professora Collete que é exatamente a resposta do clichê de Mahoutokoro, socorro, eu sou muito besta, simplesmente não resisto a esses Easter Eggs!

Bjuxxx



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