Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 3
Capítulo 3 Castelobruxo/Beauxbatons


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que postaria aqui hoje, não devia, porque eu tenho que guardar alguma coisa para evitar espaços grandes de postagem, mas eu prometi, então aqui está.

Gostaria de lembrar apenas que essa fanfic segue a ordem cronológica, então se a sua escola queridinha não aparecer nos primeiros capítulos (spoiler: será Beauxbatons até o terceiro, no quarto teremos Uagadou e Mahoutokoro), não se desespere, ela não foi esquecida no churrasco.

Aviso importanteA DE CLICHÊ!

HAHAHA

Até lá embaixo.



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Capítulo 3.

Rio Iça, Floresta Amazônica, Castelobruxo, 01 de setembro de 2021

Clara era baixinha, mas era bastante habilidosa nesse negócio de remar barcos, estava ajoelhada na pequena canoa acariciando a água com o remo, conduzindo o sonserino rio abaixo sem dificuldades.

— O que quis dizer com “vocês deixaram tudo uma bagunça”? Não havia muita coisa que pudéssemos fazer, a outra opção era aceitar a trapaça dos Ferraz e perder o jogo! - Tony tentou encontrar uma posição mais confortável na embarcação, mas como não conseguiu, encarou a garota a sua frente, irritado. — Deixamos barato, se quer saber.

— Okay, okay, você não vai me ouvir falando de novo e se disser que eu falei isso, negarei até a morte, mas lá vai: - Clara tomou um fôlego desnecessariamente dramático, colocando o remo apoiado sobre as coxas, deixando o barco seguir seu rumo com a correnteza por alguns segundos. — A culpa foi minha, eu devia ter deixado vocês denunciarem os dois bandidos para a Comissão do campeonato. Pronto, falei! Tá satisfeito?

Tony a encarou com ironia, porque Clara estava provando ser uma garota muito absurda, claro que a culpa era dela, ninguém nem tinha dúvidas disso e aquela confissão de má vontade não servia de nada.

— Sim, Clara, mas você ainda não me disse o que aconteceu! Dá para você ser mais objetiva? - Tony resmungou exasperado, então a garota apenas levantou o remo na direção de sua cabeça. — Ei! Espera, eu só...

A garota tocou a ponta do remo em uma árvore aleatória, cujo galho comprido se arrastava na água escura do rio. Uma passagem se abriu na orla, revelando um afluente estreito, que dava apenas para uma canoa passar por vez. Clara o olhou sem paciência.

— Você achou mesmo que eu ia espancar o futuro pai dos meus filhos numa canoa qualquer? - Ela questionou falsamente ofendida, recebendo uma revirada de olhos do sonserino como resposta. — Mas voltando ao assunto, achar culpados não vai ajudar ninguém!

— Isso porque você é a culpada, mas eu não vou te infernizar, porque geralmente eu que estou nessa posição. – O sonserino deu de ombros e Clara mandou um beijinho para ele, se colocando em pé para acender com a ponta da varinha uma tocha encantada, que foi acendendo todas as outras no caminho. — Uou, isso é impressionante!

Aquele trecho de Castelobruxo era um lugar de magia pura, tinha cheiro de floresta úmida - mal dava para ver o sol de fim de tarde através das copas das árvores - e as tochas enfileiradas, iluminando o caminho, faziam tudo ficar com uma atmosfera misteriosa de contos infantis.

Tony definitivamente iria gostar de estudar nesse lugar.

— Queria deixar você se encantar e tudo mais, mas eu tenho que te dizer, Iara fez o nosso pedacinho do céu virar um inferno! - Clara falou emburrada, ainda de pé, guiando o barco tocando de leve na borda para mantê-los no curso. — Ela e o idiota do irmão já se formaram, mas deixaram um monte de esporos, sabe esporos? Aquelas coisinhas nojentas, que se você deixar crescer vira o fungo novamente? Então: esporos.

— Isso quer dizer que...

— A influência daquela garota é muito grande, então no final do ano passado, ela e as amiguinhas dela deram a entender que, ao invés dos irmãos Ferraz terem trapaceado, foram vocês que trapacearam. - Ela sentenciou e Tony rosnou irritado, tentando levantar do barco para pensar nas implicações disso - ele pensava melhor andando - mas ele não tinha o equilíbrio da garota a sua frente, então sentou de novo.

— Filhos de uma nereida descamada! Quando eu colocar minhas mãos nesses dois, eu vou...

— Calma lá, sir Lancelot, não vai virar nossa canoa! - A garota falou divertida, mas depois voltou a ficar séria, ante o olhar do garoto britânico. — Desculpe, só consegui pensar nesse justiceiro da sua terra, desculpe.

— Não estou puto com isso, Clara! Eu tô furioso porque o cara que me jogou no olho d’água do estádio de vocês, que me acertou no meu joelho machucado, que tentou ganhar da minha escola com jogo sujo, saiu de herói, enquanto eu fiquei de vilão!

— Ninguém acha que você é um vilão, Tony. O plano de Castiel foi inteligente o suficiente para apenas deixar subentendido que nós fomos prejudicados de alguma forma, ele não mexeria com vocês, porque, é o que dizem, quem tem asterisco, tem medo. – Clara falou dando de ombros, mas Tony a olhou sem entender. —Asterisco, no caso, sendo o orifício rugoso por onde as fezes...

— Okay, Clara, vamos pular essa parte obscura da anatomia humana, porque o principal é: se eu não sou o vilão, quem é? - Tony questionou já sabendo a resposta, a garota fez biquinho, mas não parecia realmente chateada. — Como tem sido sua vida como pária, hum? Difícil?

— É difícil desde que eu nasci, agora está um pouco irritante... - Ela olhou para um ponto no horizonte, mediu o vento com o dedo e parou o barco. — Chegamos, Tony. Pronto para conhecer o seu novo lar?

Clara desceu primeiro, tomando cuidado para não pisar e escorregar na borda úmida da mata, estendeu a mão para ajudar o novato, mas Tony a olhou sem paciência, dando um salto que o deixou muito depois da zona molhada.

— Sabia que arrogância calculada me dá um tesão num homem? - Clara era dissimulada, mas sabia que estava lidando com um cara que não era do tipo que caia nos seus truques de distração. — Esqueça essas coisas de trapaça por hora, docinho, porque eu quero te mostrar o lugar que você vai ficar.

— Não era para eu estar com minha comitiva, recebendo as instruções e as disposições dos lugares oficialmente? - Tony perguntou cínico, mas Clara deu um sorriso simpático, porque Gui estava certo, devia ter falado com ele sobre esses “probleminhas” depois do jantar.

— Eles iriam te colocar no PD 7, lá com os outros intercambistas e primeiranistas, longe de tudo e todos! Para você ter uma ideia, a gente ri dos pobres calouros correndo para não se atrasarem para a fila do café, então você vai me agradecer depois. - Ela explicou satisfeita e Tony a olhou sem entender.

— Tem fila para o café da manhã? - Os dois adentraram no templo por uma passagem lateral que nem parecia fazer parte do mundo, de tão silenciosa e isolada que era. Havia algumas cigarras soando ao longe, mas não havia som de vivalma ali. — Clara, para onde nós estamos indo exatamente?

— Esse é um dos muitos atalhos para chegar ao PD 2, ou seja, Pavilhão Dormitório 2, sem encontrar com ninguém. - Clara falava, enquanto virava em corredores, paredes se fechavam e portas se abriam. Tony não fazia muito esforço para acompanhar seus passos, mas fazia um pouco para não pirar. Como não iria se perder nesse labirinto? — Um dos artilheiros da seleção boliviana se formou e eu meio que mexi uns pauzinhos aqui e ali para não deixar que remanejassem o quarto dele para alguém do último ano.

— Você ainda tem influência aqui? Achei que tivesse virado uma pária, não foi sobre isso que estivemos falando esse tempo todo? - Tony perguntou confuso e Clara só virou para lhe dar um olhar condescendente.

— Eu sou bem conectada e Iara não era uma figura de liderança unanime, uma boa parte da escola me apoia. - A garota falou com deboche e Tony revirou os olhos, o que era isso? Uma briga de gangue? — Não me olhe assim, você vai entender do que eu estou falando, não é tão infantil quanto parece!

— Você e uma garota já formada brigando para ver quem vai... O quê? Decidir a cor da decoração do baile de inverno? Vocês ao menos têm um baile de inverno? - Ele perguntou rindo, mas a garota o olhou irritada. — Soa infantil e eu só espero que você não... Ah, chegamos? Esse é meu novo quarto?

— É o seu novo quarto individual, não que você mereça! Sério, Tony, a primeira coisa que eu vou fazer quando nos mudarmos para a nossa casa, vai ser comprar um sofá bem estreito para você dormir quando for malcriado. - Clara deu passagem para o batedor entrar no quarto 17, do segundo dos oito dormitórios da escola.

O garoto entrou na acomodação simples, como todo quarto de internato: havia uma cama de tamanho razoável, um armário e uma escrivaninha, com uma porta para um banheiro compartilhado com outro quarto. A única coisa impressionante ali era a vista lateral do estádio da escola, que aparecia por entre as cortinas da janela em formato de trapézio.

— Como conseguiu um quarto individual? Professor Longbotton disse que os quartos seriam duplos e eu ficaria com algum aluno da escola, um que fosse da minha “Expertise”. - Ele falou fazendo aspas com as mãos e Clara só estendeu a própria para ele. — O quê?

— A varinha, docinho, você precisa oficializar o check-in para a diretora não conseguir te tirar daqui. - Ele entregou a varinha, mas depois olhou meio assustado para aquela declaração. — Se o Castelo te aceitar, não há nada que ninguém possa fazer.

— Clara, pelo amor de Merlin, eu não posso ter essas merdas agora! - Tony chiou exasperado, enquanto a garota colocava sua varinha no console ao lado do marco da porta. Todo o quarto ganhou uma luz sinistra, esverdeada. — O que é isso agora?

— Relaxa, é só a escola reconhecendo sua magia, agora me explica isso direito, de que merdas você está falando? - Clara se encostou na parede ao lado da varinha, de braços cruzados. — A magia de Castelobruxo ou...

— Toda essa parte de você e os esporos brigando e eu quebrando as regras no primeiro minuto que eu coloquei o pé aqui, quero dizer, eu vim para cá para jogar Quadribol, não para me ferrar em um idioma diferente. - Clara sorriu para um Tony passando a mão na cabeça, ansioso. Sabia como ele se sentia, era estranho ter que recomeçar uma vida num lugar diferente, longe de casa, da família e dos amigos...

O nervosismo dele não tinha nada a ver com as briguinhas do Castelo.

— Okay, esqueça isso! A gente vai voltar para o salão principal, a gente volta como se nada tivesse acontecido e... Olha! Sua bagagem chegou, significa que a escola aceitou o arranjo! Viu? Nada demais, a gente pode apenas... - Clara foi interrompida por uma turba animada, marchando para dentro do quarto.

— E aí? Falou com ele? Ele topou nos ajudar com o... Ai, misericórdia, uma coruja! SAI DA FRENTE, GUILHERME, QUE MERDA! - A garota que liderava o trio gritou em português, voltando correndo por onde havia entrado, deixando outras duas meninas com cara de espanto na porta.

— Ai, droga... Gente, péssima hora! Volta, volta! - Clara tentou espantar os amigos para fora, mas Guilherme e suas roupinhas de anime japonês e Sofia com seus grandes olhos de duas cores continuaram plantados no lugar. A garota ainda tentou sussurrar em português. — Assim vamos perder ele, Cora!

— O que você está cochichando aí, Clara, quem são essas meninas? - Tony perguntou meio desconfiado - seu pai havia lhe contado uma história sinistra sobre pessoas com dois olhos diferentes, algo sobre almas divididas - porque as garotas eram tudo, menos comuns.

— Então, docinho, esses aqui são Guilherme e Sofia Coralina, eu às vezes a chamo de Cora, mas só quando ela está sendo intrometida, exatamente como está sendo agora. -  Clara falou por entredentes, encarando a amiga com seriedade. Sofia lhe devolveu um olhar de falso desentendimento.

—Estou sendo intrometida?

—Você é intrometida. - Guilherme acrescentou com um bom humor solícito e Tony apenas olhou com estranheza para a garota com voz de garoto e, agora que tinha parado para prestar atenção, nome de garoto também.

— Guilherme não é nome de garoto? - Tony perguntou com suspeita e a garotinha baixinha e gordinha de cabelos loiros com as pontas rosas debaixo de uma tiara de gatinha o respondeu com um sorriso.

—É sim, senhor. - Dito isso, Guilherme se postou com sua melhor forma de garota inocente de anime, Sofia cruzou os braços com impaciência para a situação toda e Clara fez uma careta apreensiva, porque a forma que Antony Zabini lidaria com a diversidade que Guilherme apresentava seria um divisor de águas na parceria que firmariam com ele ou não.

O britânico avaliou a garota - provavelmente devia parar de pensar nele nesses termos, embora ainda estivesse bastante confuso - com vestes trouxas coloridas e fofas, olhou a outra com a alma dividida nos olhos de cores diferentes e por fim olhou para Clara, a wannabe rainha de Castelobruxo.

Suspirou pesado e deu as costas para os três brasileiros.

—Mas que droga, eu prometi a meu pai que iria achar amigos mais normais, que merda que eu estou fazendo com a minha vida? - Ele disse meio chateado, abrindo o malão tentando encontrar alguma roupa que não o cozinhasse de dentro para fora.

Clara sorriu para os amigos e sentenciou animada, em português.

—Ele vai nos ajudar.

Isso era certo, afinal, não dava para imaginar alguém como Antony Zabini sendo leviano em relação a quem chamaria ou não de amigo.

~AdC~

La fontaine Flamel, Beauxbatons, 01 de setembro de 2021

Fred estava satisfeito por ter saído do dormitório para ir buscar seu malão sem ninguém, porque assim ao menos poderia divagar os seus assuntos sozinho, através dos corredores bem iluminados pelas grandes janelas da escola francesa.

O que mais o irritava na não cooperação de Cesc era que o espanhol parecia ter toda a certeza do mundo que ele havia escolhido Beauxbatons como sua morada provisória apenas por um impulso estúpido - o que era verdade, mas Fred nunca admitiria em voz alta - no entanto, o grifinório fez pesquisas a respeito do lugar e constatou que seria um bom local de aprendizado para ele, para começo de conversa.

E era isso ou a América, em Salem ou Ilvermorny e Fred II tinha certeza que não teria lá muita paciência com os americanos, porque os franceses eram chatos, mas ao menos cozinhavam bem!

E ademais, tinha ficado sabendo em primeira mão que os franceses sempre faziam intercâmbio em Uagadou e em suas pesquisas sobre o interessante feitiço tradutor da escola africana, havia descoberto que eles mandavam os símbolos do feitiço desenhados com uma tinta especial para serem aplicados ainda na escola de origem do intercambista, ou seja, há mais dessas belezinhas espalhadas em algum lugar por aqui, além daquele na orelha de Cesc “Ingrato” Fábregas.

O grifinório só precisaria achar um dos feitiços Marduk, descriptografar a matriz mágica e fazer uma ou duas alterações na cópia que iria usar dali em diante, o trabalho era fácil, já tinha feito algo parecido com o Mapa dos Marotos e...

Levantou o olhar e acabou encontrando àquele mesmo par de olhos azuis julgadores de mais cedo, sua dona estando sentada muito elegante na borda da famosa fonte construída em homenagem ao casal Flamel, dois estudantes ilustres da Academia de Magia de Beauxbatons.

E também estava no exato lugar que a caixinha de música havia dito para ele estar, que coisa extraordinária! Olhou novamente para a fonte imponente, com alguns reflexos de arco-íris na água, combinando com o jardim ao redor e com a bela garota sentada em sua borda.

A cena toda parecia uma pintura impressionista.

Beaumont... Fred gostava dos nomes franceses sem a pronúncia do T no final, como em Monet, se perguntava qual seria o primeiro nome dela, talvez algo como Bella ou Brigitte, algo que pareceria de outra época, mas ainda assim combinaria perfeitamente com aquele narizinho empinado.

A caixinha podia ser uma boa amiga às vezes...

O grifinório tinha duas opções à sua frente agora: voltar por onde veio - estava bastante claro que havia virado em algum corredor errado, porque estava muito distante de onde seu malão foi deixado - ou se sentar ao lado da mademoiselle Beaumont.

Ninguém nunca poderia dizer que Fred não era um cara prático, ainda que hoje houvesse decidido pelo caminho mais agradável aos olhos...

—Deveria voltar por onde veio, senhor Weasley, tenho certeza que seus pensamentos estavam seguindo uma linha muito mais promissora do que fazem agora. - Beaumont falou no seu tom tranquilo e decidido de antes, mas agora voltara sua atenção ao livro que tinha em mãos.

Fred se inclinou de leve para ler a capa enquanto se aproximava, ignorando completamente o conselho.

— Le chevalier et le sabre... O cavaleiro e a lebre? É algum conto de princesas e fadas? - O garoto perguntou simpático, se sentando ao lado da francesa a uma distância educada.

— O cavaleiro e o sabre, não a lebre. Trata-se de um manual de esgrima, na modalidade sabre, especificamente. - Ela respondeu com calma, um pouco menos arisca do que antes. Fred sorriu para a correção feita, iria passar maus bocados na França.

— Esgrima? Ouvi dizer que vocês têm bons espadachins por aqui, você é um deles? - Dessa vez a garota sorriu abertamente, com todos os dentes branquinhos para a pergunta. Fred definitivamente não estava preparado para isso.

—Sim e pretendo me tornar a capitã da equipe esse ano. - Mais um sorriso deslumbrante e uma oferta de aperto de mãos que o garoto não soube muito bem como aceitar. — Mademoiselle Anne Beaumont, a seu dispor e o senhor é Fred Weasley II, estou certa?

O garoto piscou de leve para sair do encanto dela - já havia sentido um efeito similar com sua tia Fleur, o que significava que essa francesa também devia ter alguma parte veela em sua descendência -  e sorriu um sorriso que deveria ser pelo menos um milhão de vezes menos deslumbrante que o dela.

—Algo me diz que dificilmente você está errada, mademo... Posso chamá-la de Anne? O meu francês é tão ruim que irrita meus ouvidos. - Falou com sinceridade, o que a fez rir de leve.

—Estamos fora do dormitório, mas irei aceitar que fale em seu idioma. - Ela o olhou de lado, com um sorrisinho divertido. —Por hora. Mas por que mesmo estava vindo nessa direção?

—Estava indo pegar meu malão, mas... Não foi um erro de caminho realmente, porque eu meio que teria que vir para cá eventualmente, já que... - Fred era a favor de disfarçar uma verdade dando a ela um toque de mentira, então deu de ombros mentalmente, o deslumbramento provocado pela garota o estava deixando confuso, então era melhor seguir o caminho mais simples.

—Uma caixinha de música amaldiçoada me disse para vir e eu não consigo dizer não para uma boa música, sabe como é. - Ele falou isso no mesmo tom despreocupado que usava para contar ao pai que estava “desvendando e revolucionando o mundo bruxo, um feitiço por vez”, o fazendo rir com condescendência, já que George Weasley nunca havia visto nenhuma dessas “revoluções” do filho...

Porém Anne Beaumont apenas o olhou calmamente, como se suas palavras fossem verdade e fizessem o maior sentido.

—Posso vê-la? - Fred sorriu sem entender muito bem a pergunta, então Anne tentou se fazer mais clara, articulando melhor as palavras em inglês. — A tal caixinha, posso vê-la?

—Eu não estava falando sério...

— Claro que estava, deixa eu vê-la, adoro objetos amaldiçoados. - Ela estendeu a mão e Fred olhou como se não se tratasse de uma mão feminina muito bonita e delicada e sim como se fosse algo não identificável. — Está aí no seu bolso, no interno, do lado esquerdo, sim, bem aí...

Fred entregou a caixinha para ela - isso era muito estranho, essa era a primeira vez que alguém tocava nessa caixa além dele - porque sabia que sem o Marduk de Cesc, o máximo que poderia acontecer com a garota era ela ter algum sonho esquisito depois.

—Não se preocupe, essas inscrições na caixa são só... O que está fazendo? - Fred perguntou alarmado, já que a garota mexia nos pequenos entalhes, reorganizando eles com a unha como se soubesse o que estava fazendo. Fred nem sabia que dava para fazer isso com os enfeites do artefato!

—Os entalhes são um enigma, você já o desvendou? Pelo visto não e olha que nem sequer é difícil, parece que tudo que precisa ser feito é inverter a ordem e... Voilá! - O objeto fez um clique que soou muito errado aos ouvidos de Fred, mas ainda assim Anne entregou a pequena caixa de madeira ao seu dono, com um sorriso satisfeito no rosto. — Te darei a honra de descobrir o segredo dela, aqui, pegue.

O grifinório aceitou a caixa de volta, desconfiado, mas como antes, o artefato mágico continuou fechado, com suas extremidades bem coladas em um retângulo escuro junto a sua ampulhetinha de areia azul e chave estáticas.

— Só espero que você não tenha quebrado o mecanismo, essa é uma caixa de música, garota, não um enigma! Se bem que...  Ao invés de melodias, ela canta pistas do futuro nos sonhos, então não deixa de ser misteriosa. - Fred sorriu arrogante, porque sabia que tinha um artefato legal em mãos. Anne levantou duas sobrancelhas pálidas ante a revelação, mas continuou encarando o objeto estranho, calada, com ainda mais expectativa. —Depois não reclame se ficar com alguma frase de um futuro misterioso presa na mente.

Fred girou a chave da caixa de música três vezes, como sempre - aquilo era o suficiente para ter um sonho com a pista - então colocou o artefato entre eles, ante o olhar curioso da garota francesa. Tinha que admitir, estava um pouquinho curioso também para saber se ela havia mudado alguma coisa nas engrenagens mágicas.

Mas nenhuma melodia tocou, como sempre.

— É só isso? - Anne perguntou decepcionada, mas seu coração pulou um compasso ao perceber que sua voz havia soado diferente, muito mais grossa e completamente masculina. Levantou o olhar da caixa para encarar a si mesma, vista do ângulo errado. — Mon Dieu, que s'est-il passé?

—Mas que porra é... Ah meu Merlin, eu tenho peitos, mas que merda eu tenho peitos!!! - Fred Weasley se levantou da fonte em um salto nervoso, mas seu corpo era tão mais leve agora que quase caiu de cara no chão de pedra polida do pátio de Beauxbatons. — Caralho, garota, o que você fez?!?!?

O seu rosto tinha uma expressão assustada - com as duas mãos tapando a boca no mais completo horror - que nunca tinha visto antes, mas esse nem era o maior problema, a pior coisa mesmo era o simples e inacreditável fato de que Fred estava vendo a si mesmo, só que sem o principal:

Ele mesmo!

Respirou fundo de olhos fechados duas vezes antes de abri-los, só para constatar que ainda estava no corpo errado e o seu estava sendo ocupado por uma criatura capaz de ficar congelada na mesma expressão por minutos, aparentemente.

—Ok, Anne, não vamos surtar, tenho certeza que há uma explicação perfeitamente plausível para isso. - Seu rosto negro havia ficado pálido, tanto que suas sardas ficaram ainda mais destacadas, mas a francesa pareceu recuperar o controle de si mesma - ou do corpo dele, sei lá -  antes de falar novamente.

— Eu te disse que não era uma caixa de música.


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Notas finais do capítulo

Não sei se vocês notaram a mudança bem pequenininha no resumo da fic, mas eu resolvi acrescentar aos seis plots, em cada um deles, uma homenagem a um clichê diferente de fics em geral e o de Beauxbatons já ficou claro, algum palpite para Castelobruxo?

(Só para vocês saberem, os clichês não serão o plot principal, serão apenas ferramentas, que eu espero usar de uma forma mais criativa, juro juradinho.)

A pedidos, segue a ficha de duas personagens, as duas Annes da fic:

Anne Beaumont: https://www.notebook.ai/plan/characters/181249
Anne-Marie Simoncini Roussos: https://www.notebook.ai/plan/characters/180186

Próximo capítulo eu apresentarei devidamente as fichas de Guilherme (de Jweek), Sofia (de O lado bom do Yaoi novamente) e Alissa, a fujona (de Malyan), porque essa nota já ficou grande demais!

Bjuxxx



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