Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 26
Capítulo 26. Uagadou


Notas iniciais do capítulo

Ok, vamos recapitular as negoças, enquanto ainda temos notas do capítulo:

— Lia, John, Bella e Zaki fazem parte de um grupo de estudos e foram eles que souberam da profecia primeiro - Zaki "fez" a profecia e Lia está se aproveitando de sua informação privilegiada para conseguir fama em Uagadou.

— A profecia agora definitivamente parece colocar Rabastan Lestrange como inimigo da moral e bons costumes, mas os iconoclastas ainda precisam entender melhor como Bradbury e Jacob Thompson se encaixam nessa história.

— Precisam descobrir também como impedir Lestrange de conseguir outra caixa de música mágica, já que agora sabem que ele roubou a caixa dos Aizemberg (muito obrigada, Samuel!), Fred continua com a dos Lestrange originais e Kaleb Bertrand possuiu a última.

— As três caixas juntas poderão dar um poder bem perigoso para nosso querido tio Rabastan, principalmente se ele conseguir desvendar os estudos misteriosos de Jacob Thompson, o falecido.

(Tô me divertindo tanto com essa retrospectiva brega, cês não tem noção, rsrsrs)

— Para além disso, Aidan ainda não conseguiu avançar muito na resolução do seu probleminha de duplicata causada pela ruptura das linhas temporais. Ark e Dood, clã dos Yakuza, patati, patata... Já sabem, Tracy Harmond agora diz que é boazinha e quer ajudar.

— Mas o lufano talvez tenha, pelo menos isso, descoberto a resposta para o mistério do outro lado do mundo: será que foi Albus Potter quem criou o infame Hall da vergonha lá em Ilvermorny?

Nós já sabemos que sim, mas para vocês refrescarem mesmo a memória, eu recomendo fortemente que releiam os dois últimos capítulos de HOH.

Isso é tudo por hoje, abiguinhes!



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Sala do grupo de pesquisa da professora Aurier, Crescente, Montanhas da Lua, Uagadou, 18 de novembro de 2021 (quinta)

Bella estava com a testa doendo de tanto franzir o cenho em concentração. A professora tinha finalmente deixado ela e Zaki em paz e a sós para desenharem algumas possibilidades de esquemas de linearidade de uma profecia antiga sobre a escola, então ela estava aproveitando todo o tempo que tinha.

Zaki até queria fazer os desenhos, mas foi cooptado pela grifinória a burlar as orientações da professora, porque ela mesma tinha que cumprir outra tarefa dada por John.

— Não me leve a mal, Bella, mas se a intenção é parecer com a velhinha enrugada do refeitório, você está... — O garoto botsuano começou, mas assim que o olhar concentrado da terceiranista virou algo mais raivoso em sua direção, se consertou. — Desculpa, não quis dizer que...

— Não me peça desculpas ainda, espere seu rosto atingir minha pobre mão diversas vezes em um futuro bem breve. — A garota ameaçou e Zaki a levou a sério por dois segundos, depois ela fez um biquinho frustrado, distraída de sua irritação. — Por que eu não consigo mais fazer a minha parada especial, Zaki? Era suposto que eu já estivesse muito boa nesse negócio!

— De vender poções alucinógenas? — Não havia sido Zaki que havia lhe perguntado com um tom de deboche. Bella assistiu Lia entrar na sala como a rainha que achava que era e se sentar na frente da classe vazia. — Já chega de ficar tentando ser boa nessas suas “paradas especiais”, garota, presta atenção aqui. Os dois pufosinhos já acabaram as atividades ou estão aí vendo quem vai ter a orelha transformada em alça de bule pela professora Aurier?

Ela perguntou animada, porque embora desse um pouco de trabalho ser monitora das disciplinas da professora e ainda ter que dar atenção às atividades do grupo de pesquisa dela com os alunos mais velhos, Lia gostava de trabalhar com os dois terceiranistas.

John Westhampton, por outro lado...

— A gente estava discutindo se era melhor um esquema de árvore ou uma trança espinha de peixe para a profecia... — Zaki disse tentando disfarçar a verdadeira atividade que Bella estava resolvendo, mas Lia o olhou com os olhos em fenda.

— Não vou te dar a resposta, senhor Magoro, se é isso que espera que vá acontecer. Use a lógica e percorra o caminho da profecia nas linhas como foi ensinado, vai ver que os desenhos derivam da profecia e não o contrário. — Lia disse didaticamente, depois o olhou com curiosidade. — Por falar em profecias, você já teve outros flashes de memória sobre a sua, Zaki? Sabe que tem que se esforçar, se quiser ser um grande adivinho...

— Eu não quero ser um grande adivinho, estou bem sendo só o Zaki, que estuda profecias mortas e tudo mais. — O menino respondeu cabisbaixo, fazendo caracóis com o lápis no caderno ainda em branco na página da lição. Lia revirou os olhos para a falta de ambição.

— E você, penadinha, teve avanços com esse seu olho bizarro? — A sonserina perguntou sem olhar realmente para a outra, porque estava focada em encontrar os textos que iriam discutir hoje na reunião.

— Na verdade tive, inclusive sonhei que um vampiro arrancava sua cabeça a dentadas e tomava seu sangue diretamente dessa artéria que pulsa no pescoço, sabe? — Bella respondeu sonsa, apontando para o lugar onde sua própria pulsação vibrava mais forte na garganta. — Espero que não seja um sinal...

— Todos nós esperamos que não seja, ficaria arrasado se um pobre vampiro fosse forçado a beber o seu sangue, Thiollent. — John falou a título de cumprimento, se aproximando do grupo e se sentando ao lado de Zaki. — O que eu perdi?

— A noção do perigo e o sarcasmo, porque os corvinais já foram melhores em ambas as coisas, esse tempo fora de Hogwarts está te fazendo mal, Jo-jo. — Lia sorriu cínica enquanto via o outro se acomodar no lugar.

O grupo de pesquisa mais jovem estava completo agora, de vez em quando tinham contato com os universitários de Aurier, que se encontravam no alvorecer, mas normalmente eram só eles quatro no fim da tarde, coisa que dava fama de exclusividade ao grupo, de certa forma.

Lia gostava muito disso.

— Não tentei ser sarcástico, às vezes a gente só quer ser sincero mesmo. — O corvinal respondeu contente de fazer a sonserina o olhar com ódio. Não gostava dela e sabia que o sentimento era recíproco, por que perderia seu tempo fingindo que era algo diferente? — Você leu os textos dessa vez ou prefere que eu inicie a discussão, Thiollent?

— Zaki vai iniciar, não precisa vir com seu monólogo travestido de discussão hoje, Westhampton, ninguém aqui quer dormir agora e ficar com insônia a noite. — A monitora terminou de arrumar o texto no colo, organizando as folhas, então sorriu na direção de Zaki. — Pode começar, Z.

— Err... Então a gente primeiro tem o, tipo, o moço que fez a adivinhação, o nome dele era...

Antes que Lia o interrompesse para ele começar do jeito certo – pelo título da profecia, data e só então o adivinho – o garoto parou de falar ao ver uma movimentação na entrada da sala repleta de água e almofadas flutuantes ao redor do tablado de madeira.

Uma dupla de garotas risonhas entraram se fazendo de tímidas, mas todo mundo sabia o porquê delas estarem ali. John revirou os olhos e Lia deu um sorrisinho de canto de boca, porque geralmente aquilo era irritante, mas se Westhampton não gostava...

— Em que posso ajudá-las, senhoritas? — A monitora esperou que ambas as meninas alcançassem o tablado através da água, então finalmente a de tranças presas em um coque falou em um tom respeitoso.

— Senhorita Thiollent, a senhorita poderia nos ajudar a ler essas runas que nosso pai mandou para a gente? — A garota, que não devia ter mais do que 14 anos, passou o conjunto de pedras finamente gravadas com símbolos mágicos para a britânica. — Ele disse que eram poderosas e, na presença de uma ouvinte importante, poderiam revelar alguma pista do nosso futuro.

— O pai de vocês é um homem sábio e essas parecem ser runas muito boas... Qual de vocês aprendeu a nobre arte da leitura? — Lia olhou de uma para outra curiosa, então Bella se jogou impaciente nas almofadas, porque toda reunião era a mesma coisa:

Começavam a discutir alguma coisa importante, mas então um dos muitos fãs da “grande ouvinte de profecias”, Lia Thiollent, os interrompia e ela os tratava com tamanha simpatia, que não sobrava nada para o resto do grupo, reles mortais.

Era no mínimo irônico o fato de que ninguém se importava com os outros três presentes na sala, que tinham igual ou maior papel na misteriosa profecia de que tanto a sonserina se gabava de ter ouvido.

A diferença é que algumas pessoas tinham dignidade e guardavam a língua na boca, pensou Bella, desgostosa.

Conseguiram avançar um pouco mais na reunião assim que as irmãs foram embora, satisfeitas com a promessa de que seriam ouvidas no final da semana pela monitora ocupadíssima -  requisitada até mesmo pelos professores! - mas igualmente generosa.

A discussão acabou e assim que Lia saiu da sala e Zaki estava prestes a terminar de arrumar suas coisas de volta na bolsa com um pequeno gestual mágico de arrumação, Bella encarou John com enfado.

— Por que estamos mesmo deixando Lia levar todo o crédito pela profecia? — A garota perguntou levemente irritada, então John apenas sorriu, deixando Zaki respondê-la com sua expressão assustada.

— Porque não queremos que as pessoas associem isso a gente! Lia tem dado cada vez mais pistas sobre a profecia e até mesmo os professores estão curiosos para saber se é tão perigoso quanto ela dar a entender, mas enquanto ela estiver de bico fechado no que realmente importa... — Zaki não terminou a frase, então John se pronunciou.

— Ela não está de bico fechado, ouvi algo sobre “trocador de almas” no corredor de Nova outro dia. É um equivalente da profecia sendo cochichado por aí, mudou vida por alma, mas para alguns Lia está começando a dar mais informações do que é prudente. — John falou sem demonstrar muito incômodo com isso.

— Ainda acha que isso pode ser positivo para gente? — Bella perguntou curiosa, então o corvinal deu de ombros.

— Profecias são verdadeiros enigmas, mas o bom delas é que nem sempre é necessário que tomemos atitudes drásticas para as coisas seguirem o curso que devem seguir. — O garoto galês agora estava de pé, então ofereceu uma mão para Bella e outra para Zaki se levantarem, já que estava usando sua nova mochila, presente da namorada, que o deixava com as mãos livres. — Não sei como parar Lia, então talvez seja para ela fazer exatamente o que está fazendo.

— Mas e se... Mas e se for perigoso para ela? — Zaki perguntou incomodado, porque Bella tinha lhe dito – contra sua vontade, havia tentado tapar os ouvidos com as mãos e tudo – sobre a profecia e não lhe parecia seguro uma história que começava com alguém que destruía tudo que tocava.

— Thiollent é maior de idade, se alguém precisa se encarregar de sua segurança, além dela mesma, que ao menos seja alguém portador de uma licença para usar varinha livremente e que saiba aparatar. — John sorriu tranquilo, caminhando para fora da sala acompanhado pelos terceiranistas. — Somos legalmente crianças aos olhos do mundo, não vamos ser arrogantes a ponto de achar que podemos ou devemos protegê-la. Respeitemos nossa juventude.

— Que jeito poético de dizer que não tá nem aí para a morte dela! — Bella disse divertida, porque também era toda a favor de deixar aquela garota estúpida se ferrar sozinha. — Mas falando em morte, ainda tive zero avanços com meu poder desde aquela tarde no campo de Quadribol...

— Sério? Isso é estranho... Se tratando de espíritos, era suposto que houvessem mais aqui dentro dessas paredes seculares, do que lá fora, ao ar livre. — John falou intrigado, porque ainda não tinham descoberto a chave que ativava o estranho poder da grifinória ao seu lado, nem sequer tinha entendido muito bem do que se tratava. — Bella, seu poder é uma parte de você, tem certeza que está puxando as alavancas corretas nesse seu cérebro estranho?

— Claro que não! Se eu soubesse o que estou fazendo, não estaríamos nesse beco sem saída! John, eu não sei como ativar meu olho amarelo e mesmo que eu soubesse, ainda não achamos um jeito de usar isso a nosso favor! — Ela choramingou frustrada, esfregando as mãos no rosto com agressividade. — Mas que bosta de vida!

— Uma coisa de cada vez, Bella, a gente já chegou a conclusão que esse não é o ambiente em que seu irmão está, mesmo que ele tenha estudado um tempo aqui. Seu poder só vai fazer sentido quando voltarmos para casa, até lá você precisa focar em descobrir o gatilho que ativa o seu olho. — O galês ponderou com calma, então encarou Zaki com algo próximo da compaixão. — Suponho que não seja fácil descobrir como usar algo que não existe para a maioria, é como ter que aprender a andar com pernas invisíveis, não? 

— Invisíveis ou não, se fazem parte da gente, a gente deveria saber como usar, né? — O garoto botsuano colocou um dos seus cachos de um tom de loiro queimado atrás da orelha. A mistura de que descendia o fazia lembrar uma versão menor de Fred II e isso sempre divertia John.

— Em um mundo ideal sim, mas parte de nós é construção social, então se o mundo diz que não existe, sua mente se condiciona a pensar que não existe também. — John concluiu tranquilamente. Atravessaram o portal para Cheia, lugar onde ele e Bella tinham que ir para se prepararem para o jantar. — Agora me diga, Bella, você tentou fazer os exercicios de esvaziamento da mente que eu te ensinei?

— Sim, esvaziei tudo, mas tenho a impressão que isso de não pensar em nada é tecnicamente impossível, porque se você está pensando em não pensar em nada, então você está pensando em alguma coisa. — Ela apontou espertamente, então John sorriu para ela com condescendência.

— Obviamente você não esvaziou sua mente direito, se pensou em todo esse labirinto filosófico. — Ele piscou com diversão para ela, que só revirou os olhos, então continuou. — Tenho um tempo livre mais tarde, me lembre, que eu te ajudo a pelo menos iniciar o processo de esvaziamento.

— Sinceramente não sei como isso vai me ajudar em alguma coisa, tentar me acalmar nunca falha em me deixar ainda mais nervosa! — A grifinória falou exasperada, arrancando um riso dos dois garotos ao seu lado. — Isso não é engraçado, gente! É muito triste que alguém tenha que viver desse jeito, deve até ser um mal catalogado!

Ela falou fazendo drama, mas antes que pudesse continuar, John interrompeu seus passos ao ver uma mensagem rápida arranhada de leve em seu pulso. Aparentemente Cesc tinha aderido à sua técnica de chamar atenção usando a pena do Ocaso.

— O que diz aí? — Bella se esticou na ponta dos pés para tentar enxergar o braço do galês, mas ele não estava fazendo um esforço real para esconder as coisas dela.

— Cesc quer que eu cheque sua mensagem, ele diz que é urgente. — O tom de voz de John havia sido tranquilo, mas estava com o cenho franzido, fazendo Bella ficar em dúvida.

— Ele costuma exagerar na urgência das coisas? — A garota perguntou intrigada.

— Geralmente não por escrito. — O corvinal respondeu, porque uma coisa era Cesc fazendo um escândalo pessoalmente e outra bem diferente era ele se dando ao trabalho de escrever uma mensagem para ilustrar sua necessidade de atenção. — Vou checar isso logo, vocês querem ver do que se trata?

John não tinha certeza quanto ao interesse de Zaki em participar de uma possível célula do Ocaso em Uagadou, mas a verdade era que seu tempo estava acabando e não havia muitos alunos da escola africana em quem confiasse para compartilhar a responsabilidade do Ocaso Mundi.

Bella obviamente havia aceitado o convite implícito para ir até o dormitório do garoto, mas o trio só começou a se mover mesmo quando Zaki topou ler a mensagem, sua curiosidade levando a melhor sobre seu senso de preservação.

Assim que chegaram, John abriu uma folha em branco de pergaminho e se sentou em sua cama, com Bella de uma lado e Zaki do outro, ambos empoleirados sobre seus ombros, para ler o início do que parecia que seria uma longa mensagem de Cesc:

Conseguimos, John, chegamos num nível de merda nas nossas vidas que eu vou ter que dividir essa, meio que carta, vai, em partes, porque você é incapaz de adentrar no século XXI e comprar um celular! Nunca me ressenti tanto com a sua falta de noção!

O galês esperou que Cesc continuasse a mensagem, mas quando viu que isso não iria acontecer tão cedo, convocou sua pena do Ocaso para redigir uma resposta a esse desabafo desnecessário do sonserino.

Sinto muito, Cesc, a essa altura eu já devo ter te informado que tanto Bella quanto Sharam possuem celulares e eles simplesmente não funcionam bem em Uagadou, eu adquirir um seria apenas inútil.

Ah sim, tinha esquecido. Desculpas esfarrapadas a parte, vamos a exposição dos nossos novos e melhorados problemas, fresquinhos, saídos da fábrica com cheirinho de eucalipito:

John não conseguiu resistir, revirou os olhos para o drama sonserino, mas tanto Bella quanto Zaki pareciam estar se divertindo com o estilo doido de Cesc de escrever uma carta, ou melhor, de encarar qualquer coisa em sua vida!

Primeiro, Scorp não vai mais te enviar o diário de Thompson que ele conseguiu com Dolus/Lestrange na Rússia. Eu tive uma conversa recente com meu tio, tipo, não foi literalmente ontem, foi no final de semana, mas o que conta é que eu falei com Scorp a tempo, porque seria uma merda cancelar a entrega depois que a coruja dele já estivesse voando, né?

Espera, o que? Cesc cancelou um plano dos iconoclastas sem falar com ninguém antes? O corvinal não podia acreditar na cara de pau do colega ao admitir uma falta dessas, sem nem mesmo parecer culpado ou arrependido!

Não cabe a você decidir sobre uma alteração nos planos do grupo sem informar a ninguém, Cesc! Isso é explicitamente contra as regras do Ocaso!

Eu informei a Scorp e a Rebeca e Louise e Enrique estavam aqui e concordaram também, então contando comigo e com Fred que sempre concorda com tudo que eu falo, acho que atingimos o quórum.

John fez uma conta mental para ver se aquilo era verdade: ele, Bella - Zaki e Sharam não, nenhum dos dois havia concordado em fazer parte do Ocaso - as duas garotas francesas novas, Albus, Lily e sua amiga, Katherine, Aidan e Tony não haviam votado.

Não, você não tinha quórum, primeiro porque Scorp e Rebeca foram forçados a aceitar e segundo que Fred não concorda nunca com você e terceiro que, com a entrada dos novos recrutas, o número necessário para atingir dois terços dos iconoclastas mudou radicalmente, você não passou nem da metade do número anterior, quanto mais dois terços!

Eu só mencionei o quórum para acalmar o seu coração, John, porque o que está feito está feito. Eu não quero ser o tipo de pessoa que quebra as regras do grupo sem mais nem menos, mas dada a urgência da situação, eu tive que tomar essa decisão arbitrária. Sinto muito, mas não totalmente, você já sabe.

Sim, John sabia.

Certo, Cesc, você tem razão, a entrega foi cancelada, o que está feito está feito, mas não é como se eu não pudesse desautorizar sua ordem e mandar Scorp enviar o diário. Eu vou querer um excelente motivo para não fazer isso agora mesmo.

Eu te dou um excelente motivo: você não pode mandar em Scorpius Hyperion Malfoy e muito menos desautorizar Cesc Silas Fábregas!

John olhou raivoso para o pergaminho, ignorando os olhares divertidos que os dois garotos mais novos estavam trocando ao seu lado. Respirou fundo, porque sabia exatamente como responder a isso, estava ficando muito bom em irritar sonserinos.

Você quis dizer Francesc Silas Fábregas, não?

Vai se foder, Google! Eu quis dizer o que eu disse!

John não entendeu a referência provavelmente trouxa e Bella até parecia disposta a explicar o que era, mas Cesc continuou a conversa com mais calma.

Tá, mas isso não vem ao caso mais, porque eu tenho um motivo melhor do que esse que eu falei agora. Como eu disse, meu tio Erick conversou comigo e foi bem enfático ao afirmar que colocar o diário de Thompson no mesmo lugar da irmã dele e em uma escola que já foi invadida por Lestrange, é pedir para se foder. Palavras minhas, não dele, que não tem coragem para dizer o que tem que ser dito.

John ignorou a baixaria escrita para considerar a informação com cuidado, porque o homem que Cesc agora parecia confortável em chamar de tio, na verdade era um ex-djinn, uma criatura que já teve acesso irrestrito aos tecidos do tempo, então um pressentimento ruim dele poderia significar um claro sinal para não seguir um determinado caminho.

Porém o corvinal estava ao lado do espanhol quando ele libertou o gênio da lâmpada há tanto tempo e sabia bem que, mais do que atenção ao que “Erick" dizia, eles deviam tentar compreender melhor a intenção do bruxo por trás de suas palavras prestativas.

Você acha mesmo que podemos confiar no seu tio?

Deixou de fora, propositalmente, sua opinião sobre a facilidade com a qual Cesc havia aceitado a criatura na família, tinha coisas mais importantes para focar agora.

Eu não confio em Erick, não totalmente, mas ele parecia estar sendo sincero e há uma lógica por trás do pedido. Ele tem estado preocupado com a profecia, porque de alguma maneira ela agora está nublando futuros conectados aos planos dele, o que já deveria ser alarmante por si só, Erick não devia estar planejando nada!

Mas mais do que isso, se a profecia de Lestrange está chegando a ele, ao futuro dele, me deixa realmente preocupado, porque, o quão longe nossas escolhas e ações estão influenciando nos futuros alheios?

Teoricamente ainda não muito longe, já que ele está dentro do seu círculo familiar, Cesc, não devemos nos desesperar ainda. Pelo menos não nesse sentido. Mas eu preciso perguntar, por que Erick acredita que o diário de Thompson ficando no mesmo lugar que Bella poderia ser algo perigoso? Ele acha que ela pode influenciar em alguma coisa?

John trocou um olhar tranquilizador com a grifinória, que havia começado a ficar tensa ante a menção do nome de seu irmão. Não era lá muito bom que ela tivesse entrado no radar de Erick Fábregas de repente, mas ao menos podia contar com a honestidade de Cesc para lhe deixar a par de tudo.

Bem, isso é uma das outras coisas que eu tenho que falar especificamente com você e não com os outros. Erick está muito incomodado com a situação de Thompson, muito mesmo, ele diz que não tem nada contra o cara, nem o conheceu, mas Erick não consegue entender o papel dele na trama, o que para mim pouco importa, mas ele tem dado a entender que talvez Bella saiba de algo mais que não está nos contando. Agora eu devolvo a mesma pergunta que você me fez: você acha mesmo que essa garota é confiável?

Cesc não tinha como saber que ela estava lendo tudo simultaneamente, mas poderia ao menos ter desconfiado, isso pouparia John do constrangimento de ver a terceiranista se mover desconfortável ao seu lado.

— Ele não te conhece e é uma pergunta perfeitamente lógica, não se ofenda. — O corvinal tentou melhorar as coisas, mas a garota só deu de ombros, inexpressiva.

— Ele está no direito de perguntar. — Bella não iria falar mais nada sobre isso, porque a pergunta de Fábregas não era o importante ali, ele era um iconoclasta e mesmo sendo idiota na maior parte do tempo, era esperto, não podia culpá-lo por desconfiar de tudo e todos.

O que era importante mesmo era a resposta de John e ele parecia hesitante ao responder.

Bella era muito nova quando tudo aconteceu, o irmão não falava de trabalho com ela, mas quando ele foi dado como morto e suas coisas foram tiradas de casa, ela conseguiu resgatar um diário que não hesitou em me mostrar. Sinto dizer que este diário, diferente do que está com Scorp e Rebeca, não tem muita coisa escrita, tinha mais rabiscos dela e desenhos dele do que qualquer coisa, mas ao menos demonstra que ela não está tentando esconder nada.

John sorriu para a garota, porque realmente queria dizer tudo aquilo. A grifinória era irritante na maior parte do tempo, mas em nenhum momento ele havia sentido que não podia confiar nela. Zaki sorriu em acordo, mesmo que ninguém ligasse muito para a opinião dele.

Os desenhos dele não poderiam ser alguma coisa importante? Tipo um esquema?

Um esquema sem instruções não vale de nada e realmente são desenhos, sem nada escrito ou com símbolos que façam sentido, quero dizer, eu e Sharam nos debruçamos sobre eles por algum tempo e não tem nada que se assemelhe com os feitiços africanos que ele poderia ter aprendido aqui. O Marduk também não identificou nada, com certeza são só desenhos de um cara passando um tempo com sua irmãzinha.

Tá, vou ignorar sua pieguice, porque você só tem aquela praga que chama de irmão e deve estar, nesse exato segundo romantizando a relação entre irmãos e irmãs, porque eu tenho mais uma pergunta sobre Bella: Erick não falou abertamente, mas ele tem dado a entender, não que ela sabe mais do que está falando, mas que ela é mais do que está falando, o que é estranho, já que tanto ela quanto o irmão são nascidos-trouxas, você sabe o que pode ser isso que a esfinge do meu tio está insinuando sobre ela?

Nossa, a pergunta havia sido direta!

John encarou a garota, que estava com o olhar preso na carta, ainda sem expressão. Zaki fez uma careta, porque sabia que podia até ser ok omitir uma ou outra informação, mas mentir de verdade... Isso nunca falhava em deixar uma pessoa tão ética quanto John incomodada.

— Não quero que conte para ele... — A menina resmungou quase em um sussurro, mas tanto John quanto Zaki a escutaram.

— Te prometi que não iria falar, mas preciso responder algo a Cesc. O que sugere que eu fale? — Ele não estava pressionando realmente, mas John não queria a terrível responsabilidade de criar sozinho uma mentira que talvez não fosse capaz de sustentar, ainda mais se a verdade tivesse algum papel na resolução da profecia.

— Diga que... Diga uma meia verdade. — Ela falou olhando nos olhos do galês, que mesmo por trás das estranhas lentes azuis de seus óculos, transbordavam sinceridade e uma certa medida de preocupação. — Diga que eu sou diferente, mas que eu sou inofensiva.

— Isso não é uma meia verdade, é tudo que ele precisa saber. — John piscou para ela, segurando com mais firmeza a pena, porque finalmente poderia escreve algo que lhe era confortável. Não gostava de mentir, mesmo quando necessário.

Bella é especial, não creio que Jacob compartilhasse do talento dela, então não vamos falar sobre isso. O que te importa saber agora é que eu sei do que se trata e que eu confio nela, qualquer alteração nesse quadro, eu te informo imediatamente.

Ela está aí com você, não está?

Os três riram de leve da pergunta, porque mesmo não conhecendo Cesc tão bem ou sem poder ver seu rosto, estava claro que o espanhol dramático devia estar nesse exato momento se crucificando por não ter cogitado essa possibilidade antes.

Quer saber? Não me diga! Eu prefiro ficar na ignorância! Tá, eu vou dar isso por encerrado, mesmo que seja muito irritante que você não tenha me contado o que diabos essa garota pode fazer! Ok, tá, deixa eu olhar aqui na minha lista de coisas para contar o que vem agora.

Ah sim, vou pular para a história de Aidan, porque meio que é engraçada e tem a ver com o fato de eu ser bem hipócrita, porque sei disso há meses e não contei, logo não tenho direito de te pedir que me conte nada sobre Bella, apesar de que a Aidan eu devo mais lealdade do que você deve a essa garota que conheceu ontem, só dizendo!

Se é para dizer, diga logo, porque nesse exato momento você está apenas enrolando.

Estou mesmo, porque a gente fez disso um segredo, Aidan fez disso um segredo, na verdade e agora as coisas ficaram tão complicadas, que eu vou precisar enviar uma carta de verdade explicando os detalhes.

Mas agora você vai ter que se contentar com o básico: Aidan usou o sonuit para voltar no tempo e desfazer uma merda que o irmão caçula fez, mas como o esperado, ele só piorou a situação e agora tem dois Aidans, um que chamamos de Ark e o outro de Dood.

John fechou os olhos, tanto para tentar assimilar bem tudo o que Cesc havia dito e já tinha desaparecido do pergaminho, quanto para se acalmar e não enviar uma daquelas azarações por correio que estavam na moda.

— O que é um “Sol e nuit”? — Zaki perguntou intrigado e seu Marduk meio que traduziu o que ele tinha acabado de dizer. — Sol em português e noite em francês?

— Deve ser algo poderoso do tipo, porque foi capaz de voltar no tempo e criar uma cópia do carinha lá! Tipo, tempo e cópia de corpo não são coisas nem sequer próximas, como esse garoto conseguiu isso? — Bella perguntou confusa, mas de certa forma também soou encantada com a ideia. Encantada demais, para o gosto de John.

— Não vamos obter respostas aqui, então é melhor eu perguntar a Cesc, não acham? — O corvinal perguntou com um leve toque de sarcasmo na voz. Os terceiranistas se calaram, fingindo que iriam ficar quietos a partir de agora.

Cesc, eu tenho a impressão de que já ouvir falar nesse tal sonuit e definitivamente me lembro de Hataya brincando com o tempo no Natal, sendo processado por Inomináveis, mas o que eu não entendo é como ele rescindiu no crime e ainda por cima conseguiu uma consequência ainda mais nefasta!

Olha, estaria mentindo se dissesse que entendo todos os pormenores da situação, mas o pouco que a gente conseguiu esclarecer, parece que Aidan, ao voltar no tempo, quebrou a lógica do nosso universo, que só passou a ser possível com a presença do Aidan da outra linha do tempo aqui.

John podenrou a nova informação, enquanto a dupla mais nova, cada um de um lado, se entreolhava confusa. O corvinal resolveu escrever algo antes mesmo de chegar a uma conclusão sobre o assunto.

Faz sentido, se ele alterou algo muito importante na linha do tempo, manter a versão de Aidan que se arriscou e se colocou nessa posição de não existência, mesmo que por um breve momento, era a coisa mais lógica que as linhas temporais poderiam fazer para consertar a falha.

Heitor meio que nos disse isso, embora ele não tenha falado nada sobre não existência.

— Isso sequer é possível? — Bella perguntou para o galês, antes que ele voltasse a escrever no pergaminho. — Sair da sua linha de tempo para um... Não lugar e mexer com o futuro?

— Estamos estudando linhas temporais por tempo suficiente para saber que o universo é feito de possibilidades, por isso nem sempre as profecias se cumprem. Então se Aidan foi capaz de acessar, de alguma forma, o campo das possibilidades e colocar duas lado a lado, de uma maneira tal que elas não se excluem, mas se complementam... Ele rachou o tecido do espaço-tempo!

Enquanto Bella e Zaki tentavam acompanhar aquele raciocínio complexo, resgatando tudo que haviam lido sobre o assunto em suas mentes, John escreveu para Cesc exatamente o que havia acabado de falar. O sonserino respondeu imediatamente.

Sabia que devia ter te falado na hora, uma mente corvinal sempre entende essas merdas complicadas mais rápido! Mas agora que você já sabe, o que acha que pode ajudar a consertar essa rachadura que você falou?

O que tem para ser consertado? O destino, ou como quer que você chame, já consertou tudo, é provável que as coisas sigam agora em um rumo mais ou menos equilibrado e que mexer com isso de novo só piore as coisas!

Você percebe que basicamente está sugerindo que a gente aceite ficar com dois Aidans, o que tá tudo bem por mim, mas a gente nem sabe o que isso significa para ele, né?

Ah sim, John não havia pensado nesse detalhe, ter dois Aidans separados não era lá muito... prático.

Como ele está? Quero dizer, de verdade, como ele está? Nas nossas conversas ele parece estar ok, mas obviamente ele omitiu várias coisas, então... Como está a mente dele? A magia? Os dois Aidans são a mesma pessoa ou possuem desejos e comportamentos diferentes?

Eles estão bem, na medida do possível e digo eles, porque não dá para fazer como os pais fazem com filhos, não tem um Aidan favorito! Ark é o Aidan que usou o sonuit e agora está com a vida oficial, frequentando a escola e morando com a família. Ele tem evoluído rápido com o sonuit, tipo, bem rápido, o artefato tem respondido bem a ele, mas ele ainda é o nosso Aidan, só um pouquinho mais... Habilidoso. Já o

Desculpe te interromper, mas não sei se isso me tranquiliza, essa versão está aprendendo a usar o artefato que causou toda essa confusão para início de conversa? Isso não é nada bom. Há alguma chance, mesmo que remota, dele não ser inteiramente o Aidan que conhecemos?

O nome Ark veio de Dark, porque Akira cogitou que esse Aidan fosse um viajante do tempo do mal querendo usurpar o lugar do irmão verdadeiro dele, mas nós meio que descartamos a ideia. Só que se você achar que a gente deve dar um segundo pensamento a isso, por favor, nos avise!

Um viajante do tempo que é exatamente igual a sua versão? Não faz o menor sentido! Só se ele fosse um viajante de outra dimensão, o que justificaria a demora para tomar logo o lugar do outro. De outra dimensão ou não, ele ainda é Aidan e Aidan não é o cara mais eficiente de todos, duvido que seja diferente em outra realidade.

Então a gente está mesmo cogitando a hipótese dele ser do mal?

Não, estava apenas te zoando. Cogitar um Aidan de uma dimensão tão diferente da nossa a ponto de criar um plano maligno para usurpar o lugar de sua outra versão, seria uma admissão de que não trabalhamos apenas com linhas temporais repletas de possibilidades e sim com um plano de concretudes, onde cada destino não só é possível, como real e o universo está permeado de versões infinitas do futuro!

Não entendi porra nenhuma.

John riu, mas parou ao ver que Zaki e Bella o encaravam com um olhar que deveria ser igual ao de Cesc lá na França. Ele revirou os olhos.

A hipótese de que temos dois Aidans com a mesma origem, mas ligeiramente diferentes devido às influências de suas novas vivências e entornos, deve ser o mais plausível.

Certo, isso faz sentido, o que é incrível, já que você soube disso há dois minutos e já parece saber mais do que a gente, sendo assim, responde essa, senhor sabe-tudo: como a gente faz para juntar os dois Aidans? E não, manter ambos aqui ainda não é aceitável, porque Dood, o Aidan dessa linha do tempo, está longe da família e sem estudar, morando com os Yakuza!

Eu deveria saber quem eles são?

John perguntou confuso, porque pela forma que Cesc escreveu, parecia que quem quer que fossem essas pessoas que acolheram Aidan, não eram lá uma coisa muito boa. Bella franziu o cenho para o pergaminho, depois para John.

— Tenho a impressão de que eles são famosos no mundo trouxa, mas não consigo lembrar muito bem de onde eu os conheço... — A garota tentou forçar a informação que parecia escorregadia dentro de sua memória. Será que eles tinha alguma coisa a ver com alguma banda de k-pop? O nome soava oriental...

Yakuza é a máfia japonesa trouxa, eles são tipo gente da pesada e atualmente o herdeiro deles é bruxo, então eles estão bem interessados em magia. Tipo, eles começaram a pedir favores para Aidan e eu honestamente não quero ele se envolvendo nessas coisas, a gente precisa tirar ele de lá rápido!

John tentou pintar a imagem de uma família trouxa mafiosa em sua mente, falhou na tentativa, mas ao menos conseguiu perceber que talvez o nível de preocupação de Cesc com a situação não fosse completamente injustificado.

Certo, eu preciso pensar melhor sobre isso.

Acha que consegue ver algo aí na biblioteca de Uagadou que consiga juntar duas pessoas em uma? Porque Enrique testou os dois, ambos tem as memórias, ambos tem a magia e ambos estão, como você disse, se afastando cada vez mais, estão cada vez mais diferentes! O nosso plano atual envolve usar um catalisador mágico, uma pedra associada a feitiços que possam facilitar a junção dos dois em um só corpo, mas estamos andando a passos lentos.

Fico feliz de ver que vocês já estão cogitando a hipótese mais do que clara desse processo ser condicionado, talvez até mesmo provisório.

O que isso supostamente quer dizer? A gente não quer que seja provisório!

Ora, usar uma pedra como catalisador significa que Aidan teria que carregar o amuleto por toda a vida para garantir que a fusão permaneça, essa seria a condição que faria a solução possível! Não se trata de um Aidan separado em dois, Cesc, são dois Aidans, duas pessoas diferentes, de linhas diferentes. Já superamos toda a improbabilidade de duas versões coexistirem para partirmos para a ideia de, agora que ambos existem e têm vida própria, ser antinatural mantê-los em um só corpo!

Mas eles definitivamente são a mesma pessoa!

Se eles realmente possuem magias próprias, eles não são mais a mesma pessoa, você mesmo acabou de falar isso! A diferença entre juntar nós dois no mesmo corpo, por exemplo e juntar eles dois, agora é mera questão de semântica, estamos juntando duas pessoas diferentes do mesmo jeito, a diferença é que eles tem o mesmo nome, basicamente.

O corvinal concluiu, se sentindo meio mal de estar animado por ter sua mente estimulada com um desafio tão interessante como esse. Sim, Aidan devia estar sofrendo, os dois Aidans, mas ainda sim essa era provavelmente uma das coisas mais extraordinárias que alguém poderia testemunhar e raciocinar sobre!

Ele mal podia esperar para correr para a biblioteca para estudar as possibilidades, para listar quantas teorias de linearidade temporal eles descartaram apenas com a mera presença de uma versão de uma pessoa vinda de uma outra...

— John, Cesc está escrevendo, você devia ler a mensagem dele, antes de sair dançando feliz da vida pelo quarto! — Bella apontou acusadora, percebendo bem o estado de animação do corvinal.

— Ah sim, claro, vamos ver o que ele está dizendo. — O garoto consertou os óculos, tentando disfarçar seu constrangimento por ter sido pego no flagra.

John, a gente precisa achar uma solução definitiva então! Aidan não pode viver preso a uma maldita pedra! A gente tá aqui simplesmente pensando na versão em que dá tudo certo e as duas mentes convivem pacificamente, mas e se esse amuleto não for o suficiente e ele ficar com dupla personalidade ou algo do tipo? A solução tem que ser definitiva!

Porém essa é a hipótese mais plausível, infelizmente. Independente do método, não acho que haja uma solução que envolva uma fusão completa de mentes, algum tipo de sobrecarga mental eles vão ter, então eu sugiro que o que quer que eles forem fazer para se tornarem um, que façam logo, porque quanto mais o tempo passa, mais distantes eles vão ficar.

Digamos que se passem anos, quando eles se juntarem, terão o dobro de memórias, a mente dele vai deteriorar mais rápido do que a nossa e as decisões se tornarão mais difíceis de serem tomadas, porque ele vai ter literalmente duas personalidades construídas atuando na mesma vida!

Isso vai causar, além de confusão mental, provavelmente agressividade e comportamentos pouco lógicos e sociáveis, a depender da gravidade das discordâncias de opinião. Imagina você  com raiva de você mesmo e das suas próprias escolhas? Que lado teria mais força? Mais controle sobre o corpo?

John, para de falar, só para, por favor.

O corvinal encarou o pergaminho confuso, Bella e Zaki pareciam não ter muito o que dizer sobre o assunto, desviaram o olhar quando ele tentou buscar por uma segunda e terceira opinião sobre as estranhezas de Cesc.

Achei que queria minha ajuda para achar um jeito de devolver alguma normalidade a vida de Aidan.

E é exatamente o que eu quero, mas não é isso que você está fazendo! O que você está dando é argumentos lógicos para o que antes eram só meus piores medos infudados! Por favor, não faz isso, eu preciso que você nos ajude, eu não posso falar absolutamente nada disso que você me falou agora para Aidan! Para nenhum deles!

Cesc, eles precisam estar cientes que

John, Enrique comentou que um dos Aidans, ele não quis me dizer qual, para eu não tentar me meter e acabar piorando as coisas, disse a ele que tinha cogitado se matar para acabar com a confusão e que só não tinha feito, porque aparentemente o destino precisava dos dois Aidans para se manter equilibrado.

É desse tipo de desespero que estamos falando! Eu não quero você levantando ainda mais ideias de como tudo isso pode dar horrivelmente errado, acredite, Aidan não precisa de mais motivos para pensar em desistir!

Dessa vez o corvinal respirou fundo, entendo de verdade a gravidade. Bella colocou uma mão no ombro do colega de escola, apertando de leve em sinal de apoio, mas também querendo chamar a atenção dele para si.

— John, Cesc não está dizendo para você não pensar nas possibilidades, mas ele precisa que você não pense nisso como um enigma divertido e sim como uma vida em risco. — Ela falou com seriedade, o que era completamente distante de sua personalidade efusiva típica de uma garota de 13 anos. — Eles precisam de sua ajuda para achar uma solução, acho que eles conseguem ver os riscos por si mesmo ou talvez nem precisem ver.

— Eu vou ajudá-los, só não sei bem como, principalmente se isso envolve ser otimista em um cenário que claramente não é um dos mais promissores. — O galês brincou com a pena rapidamente, antes de olhar de novo para a garota ao seu lado.

— Não é simplesmente ser otimista, é apenas ser... Gentil. — Zaki falou tímido, porque não sabia muito bem com o que mais poderia ajudar nesse caso.

 — Não posso mentir para eles, simples assim. Vão haver consequências sérias, independente do que eu queira ou faça. Algo assim não é consertado perfeitamente só porque a gente merece um final feliz e acredite, Aidan merece. Mas acontece que... Olha meus olhos, por exemplo: eu mantive a visão, minha doença foi contida e eliminada, mas não sem um preço, eu preciso cuidar deles pelo resto da minha vida. Não é divertido e é para sempre, mas é possível viver assim.

— Então é isso que você precisa dizer a ele agora. — Bella incentivou, com um sorriso gentil. — Pense em tudo, mas fale apenas o que pode ser útil e não me refiro apenas às soluções para os problemas e sim as informações que vão dar esperança a eles, coisas que vão motiva-los a continuar.

— Ok, acho que entendi. — John olhou de um para o outro, com um sorriso triste. Ser “humano" não era lá um de seus fortes, mas não custava tentar, sabia que já tinha progredindo bastante nesse último ano, muito por conta de Sharam, então podia dar mais esse passo.

Irei pesquisar imediatamente algumas opções mais interessantes para o problema, inclusive porque eliminar um dos Aidans, especialmente o que causou toda a situação, seria a pior decisão. Seguirei fazendo minha lista de riscos, porque riscos são importantes para calcularmos se uma alternativa é viável ou não, mas não farei disso meu principal objetivo e nem ficarei enviando para vocês, apenas quando for extremamente necessário.

Mas para começar o trabalho, vou precisar saber o máximo de informações sobre o sonuit, sobre o evento de ruptura do tecido do espaço-tempo, das assinaturas mágicas de ambos os Aidans e dos procedimentos que vocês já estão dando andamento. Porém preciso fazer uma última pergunta prática: manter os dois Aidans separados é realmente uma opção descartada?

— Seria a opção mais simples, teria uma série de burocracias para registrar o segundo Aidan, claro, mas não seria impossível e, dependendo do estado de saúde físico e  mental dos dois, com certeza é a opção mais segura também. — O garoto explicou para os dois mais novos sentados ao seu lado.

Não foi descartado, mas estamos deixando como última opção, porque implicaria na expulsão de Aidan de Mahoutokoro, assim como a de Akira e Kurai, que foram expulsos de verdade, para início de conversa, já que foi esse fato que Ark tentou mudar.

Isso sem falar nas punições que as garotas que estão ajudando eles sofreriam também e os processos legais contra os guardiões de todos eles. O avô Hataya é bastante respeitado no Japão e isso seria ruim para ele, particularmente.

Suponho que não pior do que perder o neto para algum ritual mágico amador. Precisamos ao menos cogitar incluir alguns adultos mais experientes no processo, Cesc, pessoas que se apeguem menos às leis e mais as possibilidades científicas dessa experiência. Farei uma lista de nomes.

Na verdade a gente meio que fez isso, tipo, Heitor Dussel foi a primeira opção, por conta de todo o trabalho dele no meu caso, ele parecia saber muito sobre o assunto e até tem fama de trabalhar por baixo dos panos, mas não sei se faria isso por Aidan, então preferimos apenas perguntar a ele questões hipotéticas.

Dood lembrou recentemente do professor misterioso que Scorp citou na carta dele sobre a aventura na Rússia, o cara parece estar foragido da polícia com todo aquele mistério, mas também parecia usar um sonuit no lugar da varinha. Se isso for verdade, Dood vai tentar descobrir mais sobre o artefato e se não for, ao menos ele vai sair um pouco do Japão e vai ver caras conhecidas, Scorp e Rebeca, que estarão lá para a competição de Poções deles.

John sopesou as informações e mesmo ante o olhar curioso dos terceiranistas, não disse nada, apenas respondeu a carta com uma concentração extra.

Isso é bom, trabalhar com situações hipotéticas pode funcionar até um certo ponto, com a devida rede de mentiras bem tecida, acho que vou adotar a estratégia com algumas pessoas da minha lista. Quanto a viagem a Rússia, encontrar alguém que domine o artefato será importante, porque se é poderoso o suficiente para fazer um feitiço como esse tão facilmente, pode ser poderoso o suficiente para reverter as consequências.

— Você não acredita nisso. — Bella não havia falado em tom de questionamento, mas o garoto deu de ombros, respondendo mesmo assim.

— Não, mas conhecimento nunca é demais. Eu não sei muito sobre esse artefato, nem sequer sei pouco, mas talvez ele ajude realmente no problema ou pelo menos ajude Aidan nos anos mais difíceis, eu não sei... — John esfregou os dedos da mão livre em uma das têmporas, vendo sua letra ser absorvida rapidamente pelas fibras do pergaminho que estava em seu colo. — Estou tentando ser otimista.

— Não está sendo otimista, mas pelo menos está soando como um, então isso deve bastar por agora, não se cobre tanto. — Zaki deu tapinhas condescendente nas costas de seu colega de grupo de pesquisa.

— Eu sou tão ruim assim, a ponto de qualquer esforço valer um elogio? — O galês perguntou divertido e os dois terceiranistas não responderam logo, essa sendo toda a resposta que ele precisava. — Por Circe, agora ser realista virou crime!

O tom dele não era de uma real chateação, então os garotos riram antes de voltar a ler a resposta de Cesc.

Bem, acho que podemos dar isso como resolvido, por hora. Vou pedir a Aidan que te envie todas as anotações, aliás, já até pedi, por mensagem de texto no celular, que, você sabe, você se recusa a ter!

Aidan voltou no tempo de novo e apagou a conversa que acabamos de ter? Eu já disse que celulares não funcionam aqui, Cesc!

Tá, tá, chega dessas desculpinhas, preciso passar para o próximo tópico e veja você que hoje eu só estou escrevendo tanto porque Louise, abençoada seja a fada maravilhosa que é a minha irmã, conseguiu replicar um feitiço de repetição rápida na minha pena, então minha mão está livre de qualquer dor, não é uma ótima notícia?

Bem que eu devia ter desconfiado, Tony faz mais isso do que você, porém, a essa altura da conversa, já devia ter aparecido pelo menos umas oito reclamações sobre sua mão dolorida. Cesc, você não pode ficar acrescentando feitiços à pena como se ela fosse um receptáculo vazio, ela tem funções específicas e você ficar sobrecarregando um artefato que já tem feitiços de origem, feitiços que nós acrescentamos e por aí vai, pode fazer com que ela perca funções vitais!

John terminou de escrever furiosamente, ele mesmo começando a sentir os efeitos de uma escrita prolongada, embora tivesse bem mais experiência nisso do que Tony e Cesc, porque, de fato, ele gostava de escrever enquanto estudava, duas coisas que os sonserinos não gostavam de fazer: escrever e estudar.

Quanto drama, penas não tem funções vitais, elas não são seres vivos, tolinho, de qualquer forma, tive que colocar esse feitiço por questões de qualidade de vida. A Organização Mundial da Saúde estaria ao meu lado, se ela soubesse do mundo mágico e se importasse com coisas tão pequenas quanto a mão de um adolescente.

John olhou desconfiado para o pergaminho e resolveu ser sucinto e efetivo, sem alimentar as maluquices de seu colega de Ocaso dessa vez.

Agora você só está enrolando e a essa altura do campeonato, eu só consigo pensar no que foi que você aprontou dessa vez, para não querer falar sobre o assunto depois de já ter desabafado sobre a catastrófica situação de Aidan!

Me permita te enrolar só mais um pouquinho, por favor. Como está o recrutamento do Ocaso Mundi em Uagadou ? Alguma alma inocente aceitou o pacto? Teremos um sacrifício de virgem na próxima lua cheia? Um sacrifício de qualquer um, já que nem você, nerd até o último fio de cabelo, é mais virgem nesse mundo perdido?

Isso tem alguma relevância para o que você vai falar agora ou você só está sendo naturalmente desagradável?

Tem relevância.

John olhou para Bella, que voltaria para Hogwarts em janeiro, e para Zaki, que em nenhum momento havia dado certeza se iria participar ou não do grupo. O garoto botsuano devolveu o olhar, incerto.

— Eu poderia participar, mas sei lá, vocês parecem estar lidando com coisas tão difíceis e eu só... Sei lá, não sei se devo me envolver em algo tão... — Ele fez um gesto aleatório, que deveria representar algo como “grandioso” ou talvez perigoso, John não era bom interpretando gestos.

— Na maior parte do tempo fazemos trabalhos burocráticos e divertidos e você não teria que fazer nada sozinho, sério, as vezes é irritante, porque você não pode fazer nada sozinho, literalmente! — John empurrou o óculos com mais força sobre a ponte do nariz, porque era verdade, ter que submeter a um coletivo a todo momento podia ser exaustivo.

— Não acredito que usou burocrático e divertido na mesma sentença e que essa é sua melhor descrição do trabalho! Achei que você estava querendo, você sabe, que ele se junte a gente! — Bella falou exasperada com a touperice de seu colega, depois olhou para Zaki com seriedade. — Olha aqui, garoto, a maior parte dos iconoclastas é composta por gente que não faz a menor ideia do que fazer com a própria vida, admito, mas juntos eles realmente fazem umas coisas bem legais, não acho que você vai se arrepender de entrar!

John, você ainda está aí?

Só um minuto.

John encarou o garoto ao seu lado com cuidado.

— Não precisa aceitar só para nos agradar, você pode continuar como um membro consultor pelo tempo que se sentir confortável, sem pressão. A falha foi toda minha, eu que não me envolvi em nenhum tipo de processo de recrutamento quando tive a chance e agora não tenho ninguém para apresentar a Cesc. — O quintanista voltou ao pergaminho, antes que o colega começasse a dar um chilique.

Zaki segurou o pulso do garoto antes que ele começasse a escrever, arrancando olhares curiosos dos iconoclastas presentes. O menino parecia estar tentando encontrar alguma coragem perdida, então John deu mais alguns segundos a ele, que pareceram suficientes para a missão.

— Ok, pode dizer a ele que você tem um recruta para o... Para a iniciativa de vocês. Diga a ele que seu recruta é um adivinho e que, err... Está pronto para o trabalho! — Zaki completou o raciocínio com um pouco mais de confiança e John apenas manteve sua surpresa abaixo da superfície, porque não esperava que o garoto fosse aceitar também partilhar seu poder com o Ocaso.

Zaki parecia odiar seus poderes premonitórios e isso sim era uma notícia no mínimo estranha.

— Tem certeza, Zaki? Novamente, você não precisa se sentir...

— CALA BOCA, JOHN! O que você tá fazendo, cara? Ele já disse que sim! Você já disse que sim, Zaki, não ouse voltar atrás ou eu vou torcer seu pescoço até você voltar a frente! — Bella demonstrou o que faria com as mãos no pobre lençol de John, que a encarou em reprimenda. — Mas sem pressão, é claro, a escolha é sua.

Zaki riu e isso fez com que John ficasse mais aliviado, pelo menos a loucura de Bella já não era mais tão tóxica para o garoto, ele devia ter desenvolvido defesas contra ela nessas últimas semanas.

— Não vou voltar atrás, já tomei minha decisão e, eu posso até ser inseguro antes delas, mas quando eu faço a minha cabeça... — O garoto levantou as mãos, em um outro gesto que John não sabia ao certo o que significava, depois sorriu divertido. — Vocês vão ter que me aguentar, querendo ou não.

— E a gente quer! — Bella ofereceu a mão para um “toca aqui" prontamente correspondido pelo seu colega de classe, por cima do colo de John. Na volta a garota sussurrou para o quintanista alto o suficiente para Zaki entender que era apenas uma piada. — Agora amarra ele para a gente conseguir o sangue do sacrifício!

Os meninos riram e John se limitou a revirar os olhos com divertimento, antes de responder, finalmente, a pergunta de Cesc.

Certo, temos Bella, que você já conhece e irá voltar comigo para Hogwarts, o que não é tão promissor para o objetivo do recrutamento. Temos Sharam, que infelizmente se forma esse ano, então pode nos ganhar algum tempo após a nossa saída da escola, mas não muito. E temos Zaki, que de certa forma você já conhece, porque foi ele quem acessou a profecia que hoje ocupa a maior parte da nossa atenção.

Você vai me dar um adivinho de presente de Natal, John? Eu eu eu eu eu eu TO TÃO EMOCIONADO!

O galês olhou para o tal presente de Natal ao seu lado, que parecia estar começando a pensar melhor no buraco sem fundo em que havia se metido. Bem, Bella tinha razão, não havia mais volta agora.

Ele é um adivinho natural, Cesc, então nem adianta ficar querendo que ele leia seu futuro, ele só vê o que precisa ser visto, Zaki ainda está em treinamento.

Poxa, mas nós já temos uma leitora de mentes, um mimetista, um cara cheio de sorte, outro dividido em dois, dois lutadores... Deixa eu ficar animado, ter  um adivinho coloca a gente em um outro nível de poder sem limites, meu queridinho!

Quem são essas pessoas, Cesc? Leitora de mentes? Mimetista? O cara sortudo seria um ditoso? Quem são essas pessoas, Cesc?

Ditoso? O que diabos é isso?

É uma pessoa cuja a magia é sintonizada com o plano das possibilidades e que sempre é levada pelos caminhos que lhe beneficiarão de alguma forma. Não é uma habilidade certificada pelo Estatuto do Dom, mas vários estudiosos afirmam que é real.

Mas não mude de assunto, quem são essas pessoas e por que a gente não sabe nada sobre elas? Eu quero nomes!

Não sabem, porque isso não importa, o que importa é que agora temos um adivinho e, pobre Lestrange, tenho pena dele, coitado. Ele não sabe com quem está se metendo!

Zaki olhou para John confuso, o garoto mais velho estava pinçando a ponte do nariz em um gesto clássico de impaciência. Bella sorriu divertida, Cesc provavelmente ficaria louco se soubesse o quão esquisito era o seu poder, ele devia estar pensando que ela era, sei lá, uma boa desenhista ou algo bobo do tipo.

Ok, Cesc, eu não vou insistir nessa coisa de habilidades secretas, por hora, agora fale logo o que isso tem a ver com o próximo tópico de sua conversa sem fim.

Bem, tem tudo a ver, porque enquanto você ficou aí se aproveitando das belas curvas africanas de dona... Uagadou, claro, porque temos crianças no recinto, eu estive trabalhando duro, então temos candidatos e não candidatos a iconoclastas novinhos em folha!

Como assim não candidatos?

Foi tudo o que você gravou da minha mensagem? Eu até joguei uma distração mencionando as belas curvas da sua namorada! Você é o que? Um ogro sem sentimentos?

Cesc, para de enrolar e vai direto ao assunto!

Ok, então talvez as coisas tenham ficado meio que difíceis lá na reunião das Annes com Kaleb Bertrand, como você bem viu no relatório e talvez Juliet, a irmã do cara e Samuel Aizemberg, a capivara de estimação da família tenham vindo me confrontar.

Juliet sabe sobre o Ocaso, mas tudo bem, porque ela é uma Sombra que nem Sev e supostamente eles sabem de tudo, me lembre de falar mais sobre isso depois, mas o chato é que Aizemberg também sabe e ele não é exatamente o número um na minha lista de pessoas confiáveis.

Ok, não é a situação ideal, tenho certeza que Segundo já te aborreceu o suficiente com isso, então eu vou seguir em frente, já que, eu espero, ele esteja tomando as medidas necessárias para conter esse vazamento, não vamos esquecer que essa foi justamente a proposta que o fez entrar nos iconoclastas, para início de conversa.

— Precisamos de uma proposta para entrar? — Zaki perguntou preocupado e John sorriu para ele o que deveria ser um sorriso tranquilizador.

— Você é o grande adivinho da profecia da gente, ninguém votaria contra você, não se preocupe. — O galês falou voltando a olhar para o pergaminho em suas mãos, mas o menino ao seu lado continuou preocupado.

Bem, ele não tomou as medidas rápido o suficiente, porque Juliet abriu o bocão dela na frente de Heidi Lowen, Dominique e Roxanne Weasley e agora as três querem fazer parte do Ocaso.

Não, isso não é nada bom.

Ao menos elas juraram segredo enquanto seus pedidos são avaliados?

Juraram, mas devo te avisar logo que Fred meio que conta com você para negar o pedido, pelo menos os da irmã e prima dele. O que é bem injusto, elas são bem legais e Nique aumentaria a representatividade lufana tão em falta esses dias, o segundo Aidan não conta.

Para ser sincero eu não tenho muitos argumentos contra as Weasley, com exceção de achar que o núcleo escocês está ficando muito inflado, mas com a formatura de Fred e a ausência de Enrique na maior parte do tempo, isso não é necessariamente algo ruim, a matriz do Ocaso precisa ser forte.

Fred não vai gostar nada disso, ele contava com sua rabugice para manter a família dele em segurança, já basta Bella, que ele ainda não engoliu completamente, só está deixando ela em paz porque ela tem ligação direta com o Thompson misterioso da profecia.

Bella fez uma careta ofendida, mas John agradeceu a todas as divindades existentes por ela ter permanecido calada. Ele respirou fundo, se dando por vencido.

Se Fred precisa mesmo disso, diga a todos que sou a favor de manter as três em estágio probatório e longe dos assuntos da profecia. Elas podem ficar sob a supervisão de Louise, buscando discussões relevantes para serem publicadas. Confesso que compartilho do sentimento de Fred de não querer colocar mais ninguém em perigo, faria o mesmo por Hugh, se esse fosse o caso.

Significa dizer que você está mantendo Sharam longe do perigo também?

Ela me ajuda nas pesquisas e a colocar as peças do quebra-cabeças no lugar, mas se chegar ao ponto de precisarmos encarar o problema de frente, eu tenho uma lista de pessoas que eu vou querer ver de fora do confronto, Sharam inclusa.

John olhou para os dois terceiranistas, cada um de um lado de seus ombros com um olhar de quem não aceitaria discussões. Zaki parecia aliviado, mas Bella o encarou em desafio, o deixando ciente de que talvez não fosse assim tão fácil deixar quem ele queria de fora do perigo eminente.

Sharam não seria fácil de convencer também.

Não chegamos a esse nível de desespero, mas finalmente chegamos ao fim da minha discussão. Eu poderia te perguntar o que você acha da carta que recebemos de Hogwarts avisando que já estamos prontos para voltar para a escola, mas isso seria forçar a barra, a gente não precisa se envolver em tudo, até precisar se envolver realmente. A reconstrução de Hogwarts não é um problema nosso, ainda.

Entretanto, confesso que estou curioso para saber o que aconteceu, o último relatório de Albus deu a entender que o problema era sério e não tinha perspectivas de melhora tão cedo. Juro que se tivesse mais tempo disponível, eu iria me aprofundar no assunto e talvez precisemos fazer isso, pelo Ocaso, eventualmente. Esse é um assunto de relevância, mas estando tão distantes, vamos ter que esperar o nosso retorno a escola para investigar melhor.

Sim, o que nos leva ao verdadeiro final da conversa: o Hall da Vergonha de Ilvermorny.

John suspirou com exasperação, porque aquilo já estava se prolongando mais do que era esperado. Supostamente não deveria ser assim tão difícil para Albus e Lily descobrirem quem estava por trás das fofocas cruéis nos Estados Unidos, mas dessa vez as cartas do jogo não estavam a favor dos iconoclastas, aparentemente.

Por que os Potter estão demorando tanto em fechar isso? Confesso que deveria estar investigando mais o assunto, sinto que vai nos dar uma dor de cabeça a longo prazo, mas era suposto que Lily e Albus, estando lá, já tivessem mais informações do que têm até agora!

Bem, meu queridinho, este é precisamente o problema. A dor de cabeça não é mais a longo prazo, já está acontecendo agora. Os americanos acham que estamos por trás do Hall e o pior, parece que eles estão certos, porque Aidan levantou a hipótese de que talvez, mas é algo que eu e Louise concordamos que tem grandes chances de ser verdade, Albus e Lily, em alguma medida, estejam por trás do Hall.

John não reagiu imediatamente, mas Bella fez uma cara de surpresa, depois olhou para o garoto ao seu lado, cobrando por uma reação. Zaki resolveu nesse momento tirar suas dúvidas, já que estava perdido desde que esse assunto de hall havia começado.

— Alguém pode me explicar o que é um Hall da Vergonha? — O garoto perguntou tímido, mas Bella o respondeu cheia de sentimento.

— Não um, mas O Hall da Vergonha. É simplesmente algumas frases em escarlate escrevendo segredos sujos dos estudantes no meio do Hall de entrada de Ilvermorny! — Bella disse tentando dar a ênfase devida àquele pedaço de informação crocante. — O negócio é tão sério que até mesmo acusou Alex Lavoie de ser um lobisomem e aparentemente é verdade, porque agora ele tem sido visto saindo com certa frequência da MACUSA em sessões secretas com aurores.

— Lavoie? Eu adoro as músicas dele! Quem diria que ele era um lobisomem... — Zaki agora parecia devidamente chocado, porque o cantor canadense era meio que uma sensação entre as meninas mais velhas de Uagadou e bom o suficiente para ser um sucesso entre todo o resto.

Ele usava dreads e tinha uma pele negra combinando com olhos claros, que eram todo o necessário para colocá-lo na lista de artistas mais desejados de todo o mundo bruxo, inclusive na seletiva comunidade africana. A notícia que o garoto era na verdade uma criatura amaldiçoada devia ter caído como um bombarda na América.

— Estamos perdendo de vista o ponto, Cesc acabou de dizer que está desconfiando de um dos nossos por trás dessa... Desse hall infame, então a gente precisa focar nisso. — John voltou a escrever no pergaminho, dessa vez com cuidado, porque precisava extrair o máximo de informações da tagarelice de Cesc. Aquela era uma acusação muito seria que Aidan estava fazendo.

O que Albus disse quando vocês questionaram a integridade moral dele e da irmã?

Aí é que está o problema, eu pedi a Kath para localizar Lily para ela e Sev esclareceram melhor toda a situação em Ilvermorny, mas nenhum dos dois está retornando as minhas mensagens e agora até mesmo Kath está ignorando minhas ligações! Se isso não é um atestado de culpa, eu não sei mais o que é!

John tentou disfarçar a sensação ruim que estava sentido no estômago, porque de certa forma sempre soube que a única coisa que impedia qualquer um dos iconoclastas de usar os recursos que eles haviam desenvolvido para algo que não fosse bom, era o código moral de cada um. E agora que os Potter haviam quebrado essa confiança...

Cesc, continue tentando falar com eles, peça a Aidan para tentar também, principalmente com Lily, já que eles parecem ser bons amigos. Eu não quero acreditar que os dois seriam capazes de fazer algo tão estúpido e cruel quanto isso, então vamos dar a eles todas as chances para se defenderem, ok?

Claro, não tinha pensado em fazer nada diferente, mas e se os dois realmente tiverem feito isso, John? Se eles tiverem criado toda essa fofoca sem se importar com os sentimentos alheios? Louise aqui na França ficou chateada ao saber de uma notícia que a envolvia indiretamente, imagina quem foi um alvo direto do Hall? Alex Lavoie, por exemplo? O que a gente vai fazer com Lily e Sev, John?

A última pergunta pareceu pairar no pergaminho por mais tempo do que qualquer uma das frases anteriores. John evitou olhar para os terceiranistas em seu quarto, porque eles não tinham como saber o que era o peso de descobrir que dois dos seus colegas de Ocaso, dois dos seus amigos, podiam ter traído a sua confiança desse jeito.

Resolveu escrever as palavras, mesmo que não tivesse tanta certeza quanto deixou transparecer através da pena enfeitiçada do Ocaso.

Se Albus e Lily tiverem mesmo criado o Hall da Vergonha, eles estão fora do Ocaso, Cesc e mais do que isso, vão ter que assumir a culpa publicamente, afim de tirar as suspeitas de cima dos iconoclastas.

Esperava que você não dissesse isso, John.

Eu também, mas não sei que o mais poderemos fazer.

 


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Notas finais do capítulo

Tá, escrevi o que estava previsto para esse capítulo? Não, então ainda teremos uma parte II antes de HOH, mas pelo menos teremos Sharam, mais Bella e Lia, olha só, todas as lindas reunidas, prontas para causar!

Beijas!



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