Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 24
Capítulo 24. Ilvermorny


Notas iniciais do capítulo

Pensei que não ia conseguir voltar nunca, agora estou dando aulas e fazendo doutorado, então o tempo está curto, mas Carnaval veio e me deu uma chance de acabar esse capítulo aqui. Espero que o tempo de espera tenha válido a pena, porque pelo menos grandinho e crocante ele está!

Capítulo dedicado a OLBY, que fez uma linda recomendação lá em HOH (aceito aqui tb, dia 7 de março tá chegando e é o dia que fico mais velha, olha que ideia boa de presente!) e para Mircy, que fez aniversário essa semana que passou!

Agora vamos para a recapitulação, que eu sei que tem gente que nem lembra mais do próprio nome:

Albus percebe que Cassandra White e sua perda de memória podem ser a peça que falta para desvendar o mistério das ações prévias de Bradbury, o rei das trapaças com poções;

Lexa também quer saber mais sobre o laboratório secreto do professor corrupto e trouxe pistas sobre Paul Dolman, que apareceu para ela como fantasma no estoque de poções de Hogwarts;

Albus acredita que Bradbury matou Dolman e depois Haardy, forjando um suicídio, então ele precisa pôr as mãos no bilhete do garoto, agora nas mãos dos Dussel;

Ainda em Ilvermorny, o Hall da vergonha fez mais uma vítima, dessa vez o queridinho da escola, o músico Alex Lavoie;

Acho que isso é tudo que precisam relembrar, minhas queridinhas e queridinhos, bom capítulo!



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Bosque próximo a Salem, Ilvermorny, 6 de novembro (sábado)

Lexa havia se esgueirado todo o caminho para o outro lado da Biblioteca central, foi para onde ficava a escultura da mulher pegando fogo de Salem, adentrou o bosque de entrada da escola verde, então demorou um pouco para localizar Albus Potter com a festa Burning ma'am da semana acontecendo ao fundo, vista por entre as árvores.

— Ok, Potter, trouxe a torta de pêssego, minha varinha e o meu oyster bruxo carregado! – Entregou as três coisas para o outro grifinório, com sua capa escura, mochila suspeita e expressão sinistra, em frente a um monte de tranqueira em uma pilha. — Como isso vai nos ajudar a provar que tem um compartimento secreto no estoque da sala de poção de Bradbury lá na Escócia?

Havia se passado um mês inteiro cheio de desculpas de Potter sobre um suposto plano que os deixaria perto da glória de desmascarar Bradbury, mas, finalmente, o garoto havia mandando um recado avisando que seria hoje à noite toda a ação.

— Primeiro, a torta vai matar a minha fome, porque eu acabei perdendo o jantar trabalhando duro por esse plano. – O garoto disse isso enquanto dava uma mordida na dita torta, sem um pingo de arrependimento por ter enganado Lexa. — A varinha eu vou usar para sumir com as evidências e o oyster vamos usar para ir até Hogsmeade na versão mais barata do Millesoro Express.

— Que?

Incendio! – Ele falou antes de esclarecer qualquer coisa, deu outra mordida na torta, enquanto guardava a varinha discretamente em seu sobretudo e assistia a pilha de objetos não identificados a sua frente queimar.

— O que foi isso, Potter? – Lexa olhou para a pequena fogueira surpresa e desconfiada, porque aquela deveria ser a primeira vez que via ele fazendo um feitiço e ao mesmo tempo rezava para que ele não fizesse de novo.

Albus Potter era perigoso demais para fazer magia.

— Vou explicar quando Cassie chegar. – Ele disse, enquanto o recheio gostoso quase escapava do lenço onde a torta estava embrulhada. Albus capturou o pêssego caramelado a tempo e o jogou na boca.

— Cassie? Quem diabos é Cassie?

— Suponho que eu seja Cassie, Cassandra White, prazer em conhecê-la. – Uma garota saída das sombras estendeu a mão para uma Lexa assustada. A sonserina recém chegada franziu o cenho em reconhecimento. — Tenho a impressão de que já nos conhecemos...

— Essa é Lexa Prutt, Cassie, ela é do nosso ano, da Grifinória. – Albus limpou as mãos de farelo nas calças, jogando o lenço sujo na fogueira que havia criado. — Que bom que chegou, estava prestes a contar o plano.

— Sim, conte o plano! Mas o que a namoradinha nova do seu irmão está fazendo aqui mesmo? – Lexa perguntou irritada, com as mãos na cintura. Se um dos dois outros alunos embrenhados na sombra não gostou do tom da garota, eles não informaram.

— Cassie é meu álibi, para todos os efeitos, estávamos transando. – Albus respondeu displicente e a garota citada ficou calada, com uma expressão indecifrável.

— Que? – O choque de Lexa era palpável.

— E é claro que Cassie está aqui também porque é parte essencial para entendermos todo esse enigma que cerca o esconderijo do professor Bradbury! – Ele falou dramático, depois sorriu para a colega de casa confusa com sua atitude extremamente cínica. — Cassie foi afastada por Bradbury do jogo aos 12 anos, teve sua memoria apagada, então creio que se tem um jeito dela se lembrar o porquê dele não a querer por perto naquela época, esse jeito é vendo o covil dele pessoalmente!

— Então você estava falando sério quanto a irmos para a Escócia? – A garota loira, com um sobretudo escuro abotoado até o pescoço, falou levemente surpresa. — Achei que era apenas uma metáfora. Como pretende nos levar até lá?

— Com isso! – Albus tirou do seu próprio sobretudo uma garrafa de tônico capilar e Lexa percebeu que só ela não parecia uma espiã de filme americano. Parecia exatamente com a adolescente normal que era. — Uma chave de portal neutra!

— Uma o quê? – Albus soava cada vez mais absurdo e ainda assim se achou no direito de lhe olhar com impaciência.

— Lexa, se você ficar perguntando cada coisa que não entende, vamos ter uma noite muito, muito longa.

— Tá, mas então para de falar coisa que não faz sentido! Que merda é essa de chave neutra? – A artilheira perguntou ofendida com a insinuação de sua ignorância e foi prontamente respondida pela garota loira e esguia ao seu lado.

— São chaves de portal feitas para pessoas autorizadas, que nem sempre sabem para onde vão. – Cassandra falou com presteza e completou quando percebeu que a outra ainda não tinha entendido. — Antigamente os bruxos só precisavam fazer a chave e programar o tempo do feitiço, mas hoje em dia, com toda a burocratização mágica, os aurores e Inomináveis acabavam presos na papelada de justificar suas viagens de campo, então criou-se essas chaves.

— Certo... Então você roubou isso do seu pai, Potter? – Lexa perguntou acusadora e Albus só revirou os olhos.

— Eu não sou um amador, Prutt, roubei de um auror novato da MACUSA que mora na cidade, óbvio. – Ele respondeu como se não fosse grande coisa e as duas britânicas o olharam chocadas. — Mas tudo bem, porque eu fiz parecer que foi um roubo planejado de um dos investigados dele.

Apontou para a pilha de tralhas ardente a sua frente, só piorando o olhar de horror e espanto da artilheira grifinória.

— Você queimou evidências de um crime de verdade?!?! – Lexa perguntou horrorizada e Albus se desfez da acusação com a mão.

— Não, você queimou, eu estava transando com Cassie, mas isso não vem ao caso. – O tônico começou a brilhar, então o garoto ofereceu a garrafinha para uma Cassie impressionada e uma Lexa ainda processando as informações. — Vamos, garotas?

A sonserina pôs sua mão na tampa, só deixando o espaço entre sua mão e a do garoto para Lexa tocar. A grifinória finalmente entendeu o que Potter havia feito, mas mesmo assim se juntou aos outros dois para usar a chave de portal.

— Espera, então você me incriminou com... – Tarde demais, a chave foi acionada e os três rodopiaram em um vórtice mágico até a localização mentalizada pelo único garoto do trio.

Cassandra aterrissou sobre seus pés, Albus se equilibrou elegantemente entre o meio fio e a rua de pedra, já Lexa se desequilibrou e caiu por cima de uma lata de lixo velha. O garoto ofereceu a mão para ajudar ela a se levantar.

— NÃO! Eu quero a porra da minha varinha de volta! – Lexa aceitou a ajuda de Cassandra, que lhe estendeu a mão - assim que melhorou de sua leve tontura - e assistiu o garoto suspender a lata que ela havia derrubado, do jeito trouxa.

— Só um segundo. – Ele jogou a garrafinha, agora comum, de tônico dentro da lixeira e conjurou um fogomaldito lá, tampando tudo com um movimento rápido. — Aqui está, Lexa, sua varinha.

A garota pegou o objeto de volta com agressividade, colocando no seu coldre de varinhas da coleção Dussel. Albus sorriu sonso e Cassandra o olhou nervosa.

— Por que você a queimou? Era nosso caminho de volta para a escola! – Falou alarmada, já que estava confiante justamente porque contava com a segurança de uma chave neutra de portal para os levar de volta! — Você por acaso sabe fazer um feitiço Portus indefectível?

— Não, mas sei que não posso andar com uma chave de auror roubada no bolso, é pedir para ser trancado em Azkaban e ter a chave jogada fora! – Ele falou com bom humor e Lexa o fuzilou com o olhar.

— Não é como se você não merecesse, você acabou de me incriminar em um crime internacional! – Albus Potter tinha dois segundos para convencê-la a não matá-lo e conhecendo seu histórico, era capaz dele apenas conseguir irritá-la ainda mais!

— Dificilmente ligarão o crime até nós, eu fiz parecer que foi queima de arquivo e escolhi essa rua aleatória pelo simples fato de que a estação de trem bruxa está logo ali em cima! – Ele apontou para o início da rua, onde havia um entroncamento. O apito do trem soou ao longe. — E ele está saindo agora, então vamos lá!

Lexa tinha que admitir, Potter tinha que ser um grifinório legítimo mesmo, a despeito de todo o mal comportamento típico de um sonserino, porque nesse exato momento o garoto havia começado a correr rua acima, como se não tivesse medo de nada.

E nem nenhum arrependimento.

Cassandra havia seguido o exemplo de Albus, então só restou a artilheira se apressar atrás do meliante que era o líder daquela operação maluca, afinal, a outra opção era admitir para um adulto que tinha sido cúmplice de um crime internacional e não fazia ideia de como voltar para casa!

Albus usou o oyster de Lexa para pagar as três passagens na classe econômica do trem, já com aparência de barato, que fedia como o cruzamento de um estábulo e a vala coletiva de uma tribo de orcs! Cassandra conteve a ânsia de vômito e Lexa fechou a jaqueta sobre o nariz, tendo sua voz abafada com o ato.

— Por que estamos aqui? – A menina perguntou em um lamento, o fedor do vagão das criaturas mágicas era tão insuportável, que fazia seus olhos aderem e provavelmente impregnaria em seus jeans!

— Porque eles não registram as entradas no vagão das criaturas mágicas nessa pocilga e nosso rastro vai ser devidamente abafado por todo esse... – Albus gesticulou para o ambiente, sem querer falar em voz alta, já que dois centauros emburrados tinham entrado na mesma estação que eles. —  Por tudo isso.

Lexa deu uma olhada ao redor do espaço para checar seus companheiros de viagem e parou justamente no casal de ciganos que destoavam da cena: estavam limpos, com suas vestes típicas impecáveis. A moça a encarou com uma expressão arrogante, fazendo a menina olhar para baixo, envergonhada por ter encarado desse jeito.

Cassandra, que havia visto a cena toda de esguelha, pôs um lenço sobre o nariz e a boca e sussurrou para os dois colegas de escola lhe ouvirem por cima do ranger das rodas de metal no trilho e dos grunhidos dos animais a seu redor.

— Cuidado com o que falam, não somos os únicos que estão usando isso aqui como um jeito de viajar abaixo do radar. – A menina com o sotaque entre o americano e o britânico falou baixo, mas soube que fora ouvida quando ambos, Albus e Lexa, concordaram com a cabeça.

O rapaz cigano deu uma risada leve do outro lado do vagão, cochichou algo no ouvido de sua companheira, que os olhou novamente, dessa vez com deboche real e cruel estampado nos olhos.

Olhos amarelos.

Lexa se arrepiou, porque havia se dado conta que estava em um trem com dois outros adolescentes, sem saber como voltaria para a escola e sem ninguém saber de seu paradeiro! Sabia muito bem também o que olhos amarelos significavam, Albus tinha falado justamente sobre eles no Hall da vergonha no outro dia:

Lobisomens.

***

Os três fizeram a viagem até Hogsmeade tensos, porque o casal cigano seguiu viagem depois que eles já haviam descido na estação. Não haviam dito mais nada no trem, então foi com alívio que Lexa conseguiu divisar os primeiros contornos da vila, cuja estação principal era aquela que trazia os alunos de Hogwarts do outro lado da cidadezinha, não o ponto em que haviam desembarcado agora.

— Graças a Deus chegamos em um peça só! Vocês conseguiram perceber o perigo? E se aqueles lobisomens se transformassem bem no nosso vagão e estraçalhassem todo mundo? – A grifinória perguntou com alarme e Albus a olhou sem paciência.

— Não é assim que funciona e essa provavelmente foi a frase mais licantrofóbica já dita por um ser supostamente racional! – O garoto acusou e Lexa pôs as mãos para cima em defesa, se era crime ter medo de lobisomens, então podiam levar ela presa, sem problemas! — O pai do meu primo Teddy era lobisomem e de acordo com meu pai, ele foi um grande homem!

— Se refere ao pai de Edward Lupin? Eu sei a história dele, mas o cara era uma exceção que justificava a regra, porque fez um esforço enorme a vida toda para não ceder a sua natureza violenta. – Lexa argumentou e Albus a olhou irritado.

— Cala a boca, antes que eu te amarre aqui, faça o trabalho em Hogwarts e só então volte para te soltar! – Ele começou a caminhar, dando as costas para a artilheira pronta para retrucar. Cassandra a impediu com um toque no ombro.

— Não, precisamos focar no que é importante agora: Potter, qual é o plano?

Os três tinham se posto a caminhar pelas ruas largas e agora desertas da vila bruxa. Sem as atividades de Hogwarts, o comércio havia fechado cedo e haviam poucas casas com luzes acesas, iluminando as ruas de cascalho.

— Ok, o plano é simples: vamos entrar no castelo na troca de turno dos funcionários do Ministério envolvidos na obra, porque a noite eles diminuem o efetivo de trabalhadores e aurores e nessas últimas semanas não passaram de mais de um par por turno.

— Deuses, você é mesmo um meliante ardiloso, hein? – Lexa perguntou, verdadeiramente impressionada. Albus a ignorou.

— Chegando lá, vamos direto para a Sonserina, que eu suponho que você ainda saiba como entrar, certo, Cassie? – Ele perguntou a menina a sua esquerda, que lhe olhou com um sorriso malicioso.

— Como se você não soubesse também...

— Assim que entrarmos nas Masmorras, teremos que ser rápidos e enquanto eu e Lexa procuramos por qualquer evidência de um laboratório escondido, você tenta produzir alguma mistura doida o suficiente para reagir com a tal poção secreta nas paredes do estoque. – Falou olhando para Cassandra, que fez uma careta com a missão difícil. — Há uma chance real do disfarce do esconderijo ser a poção dos Dussel que Lexa falou e pelo que ouvi dizer, se tem alguém que consegue fazer uma contra-poção em um tempo tão curto, esse alguém é você!

— Vou tentar... Não deve ser tão difícil com todo um estoque de ingredientes a minha disposição. – A sonserina falou com confiança, já tentando lembrar quais combinações eram notoriamente reagentes negativas com poções antigas, como aquelas que supostamente estavam nas paredes do estoque.

— Certo, mas vocês não estão esquecendo dos construtores e dos aurores que podem estar lá embaixo na hora do nosso serviço? – Lexa perguntou em dúvida, querendo acreditar que aquele plano simples poderia dar certo. — Ou eles podem nos ouvir e chegar depois!

— Os aurores circulam apenas pela área externa do Castelo e os construtores não estão trabalhando nas Masmorras, elas foram as que receberam feitiços de reforços por último por causa do alagamento, então foi a área menos atingida pelo apagão. – Respondeu com bastante conhecimento de causa, o que deixou Lexa com a pulga atrás da orelha.

— Como sabe de tudo isso?

— Instalei um feitiço de escuta em uma caneca de melhor pai do mundo. – Albus falou sem dar importância e às duas garotas o olharam recriminadoras. — Na caneca do assistente de meu pai!

— Menos mau...

— Meu pai é esperto demais para guardar uma caneca enfeitiçada em seu escritório, mesmo que seja presente de um de seus amados filhos. – Ele completou, fazendo Lexa retirar o que disse anteriormente, o garoto não tinha nenhum escrúpulo, nem mesmo com coisas de família! – Ok, espera! Vamos por aqui.

Albus saiu da trilha que ligava Hogsmeade e Hogwarts nos fundos, próximo ao estádio de Quadribol. Escolheu um caminho íngreme em meio ao capim alto, que deveria dar em algum ponto da orla da Floresta Proibida e as duas garotas o seguiram, porque ele parecia saber o que estava fazendo.

Caminharam com dificuldade a margem do caminho seguro e bem conhecido, então Albus sacou um pergaminho velho do bolso, que iluminou com a própria varinha. Fez um aceno positivo com a cabeça para o que quer que tenha lido nele.

— Como eu pensei, só estão Vince e Trent. – Guardou o mapa de volta, apagou a varinha e se encaminhou para o topo do morro, se deitando na relva, com uma vista para o campo de Quadribol. Tirou um binóculo trouxa enorme da mochila, com lentes verdes espelhadas, como os de um espião. — Estranho...

— Você agir como um super espião? – Lexa falou, se deitando do lado esquerdo do garoto. Cassandra foi para o lado oposto. — O que estamos vendo?

— Somente as copas das árvores na borda da escola estão sem folhas e a grama parece queimada... – Albus falou de cenho franzido, tentando entender o que aquilo queria dizer. Cassandra pediu o binóculo para ver melhor.

— As coisas parecem um pouco mais macabras do que eu me lembro... Está faltando uma parte do estádio? – A menina loira apontou para a construção mais próxima de onde eles estavam, que parecia um pouco menos simétrica do que o normal. — Sim, está faltando o setor Norte, que esquisito.

Lexa pediu o binóculos dessa vez, Albus ajudou a passar o equipamento trouxa, porque estava distraído, olhando para o pergaminho. Três pares de pegadas, que não deviam estar ali, apareciam no mapa do maroto agora, mas sem identificação. Estavam chegando perto da saída que levava até o estádio.

Que estranho... O mapa geralmente conseguia identificar qualquer um nos terrenos da escola!

— Definitivamente Hogwarts não está nada bem! A impressão que dá é que eles não avançaram nada na obra, pelo contrário, parece mais deprimente do que quando a deixamos! – Lexa falou, ajustando o foco do binóculos para ver os detalhes da arquitetura. — Hey, aquele não é o... Sim, é ele! O Dussel noivo de Jweek!

Albus dessa vez tomou o objeto da mão de Lexa agressivamente, a fazendo olhar indignada. Focou na saída do castelo, que daquela distância só o deixava entrever alguns contornos, mas dava para distinguir as formas humanas. As pessoas tinham o tamanho de formiguinhas vistas daquele morro.

Porém Lexa aparentemente tinha razão! Aumentou ao máximo a ampliação das lentes, sim, era mesmo um dos Dussel, irmão mais velho de Enrique e os outros dois com ele eram...

— Precisamos ver de perto! – O grifinório se levantou sem dar maiores satisfações e as meninas se entreolharam no espaço em que ele deixou entre elas.

— Não, precisamos achar uma rota para entrar no castelo e executar o que viemos executar! – Cassandra falou enfática, levantando com certa dificuldade no terreno íngreme. — Se for mesmo um dos Dussel, não nos importa nada, porque viemos aqui atrás de provas contra Bradbury, não contra eles!

— Mas acontece que se aquele for o Dussel certo, significa dizer que o bilhete de suicídio de Haardy está no escritório dele! A gente tem que pôr as mãos nisso, para saber se Bradbury foi responsável pela morte de Dolman e dele ou não! – O garoto falou ansioso com a possibilidade, porque, quais as chances de Heitor Dussel estar na escola justo nessa noite?

— Do que você está falando? Morte? Acha que Bradbury matou duas pessoas? – Cassandra estava alarmada, aquilo não era para o que ela tinha se voluntariado! — Se esse homem é capaz de matar, eu não quero ter nenhuma parte nisso! Pra mim já chega, estou indo embora.

— Não, espera! Você tem razão, precisamos ter cuidado, mas a verdade é que Heitor Dussel pode nos ajudar a voltar, então, de qualquer forma, temos que falar com ele! – Albus tinha um bom pressentimento sobre essa mudança de planos, inclusive porque Hogwarts parecia um grande cemitério de magia, nem mesmo os subordinados de seu pai estavam se arriscando no castelo e agora ele sabia o porquê!

Queria que as mensagens sigilosas passassem pelas mãos do assistente de seu velho, mas estava claro a razão dos detalhes dessa missão terem sido discutidos apenas a portas fechadas nas últimas semanas:

Algo dera errado no conserto da escola e o pessoal do Ministério não parecia ter encontrado a resposta para o problema, pelo visto.

Na verdade... Aquilo sim poderia ser uma excelente notícia para o Ocaso publicar! A última notícia tinha sido uma nota de apoio a Lavoie e seu escândalo com o Hall e a licantropia, uma atualização da situação da greve dos alunos de Beauxbatons e algum recado bobo sobre uma competição de poções na Rússia.

Tudo muito chato, na opinião de Albus.

— Mas e quanto ao estoque? O que eu disse ainda vale! Talvez devêssemos nos separar: você ir até o Dussel e eu e Cassandra irmos até...

— Não! É muito perigoso! – Albus sé virou para as duas, a apenas alguns par de metros do muro de pedra que cercava toda a propriedade mágica do castelo. — A verdade é que a escola ainda pode ser um sumidouro e fazer magia lá poderia desencadear toda uma catástrofe novamente.

— Do que você está falando, Potter? Por que parece que ele está sempre falando de um assunto diferente do nosso? – Lexa perguntou para uma Cassandra calada, que apenas deu de ombros igualmente confusa. — Dá para você, por favor, fazer um resumo do que está pensando?

— Ok, lá vai: na última semana, meu pai diminuiu o contingente de sua equipe e eu achei que tinha sido porque as obras estavam acabando e já tinha muita gente aqui, mas muito pelo contrário, parece estar tudo parado. Meu medo é a gente entrar lá e piorar ainda mais as coisas!

— Certo, então você acha que a escola...

— Por algum motivo não está sendo consertada, por isso a nossa volta foi adiada indefinidamente e eu não estou disposto a correr o risco de piorar a situação dela ou ainda mais grave: arriscar as nossas magias em um possível sumidouro de magia ativo! – Ele concluiu com seriedade e as duas meninas pareceram compreender a gravidade da situação.

— Então abortamos o plano de Bradbury e voltamos de mãos vazias? – Cassandra perguntou em dúvida, com uma pitada de esperança, porque grifinórios eram muito intrépidos para seu próprio bem, agora ela só queria voltar para a segura e saudável Ilvermorny!

— Não necessariamente, porque Heitor Dussel pode nos levar para uma outra parte do... – O garoto se interrompeu, porque havia movimento no portão que fechava a escola para o caminho que a ligava a vila.

Três figuras sombrias saíram ao mesmo tempo e simplesmente não deu para os adolescentes se esconderem, então só ficaram parados, esperando para serem vistos, tentando pensar em uma desculpa para estarem ali, no escuro, na calada da noite.

***

Erick sorriu para Váli, ambos dois passos atrás de um Heitor muito intrigado com a presença de três adolescentes sobre a relva da orla da Floresta Proibida. Era ainda mais intrigante que uma das crianças fosse justamente um dos filhos de, ninguém mais, ninguém menos, do que Harry Potter!

— Senhor Potter, senhorita... Prutt? O que fazem aqui? — Heitor ficou em dúvida se havia acertado o nome de uma das artilheiras da Seleção de Hogwarts - o cabelo curto e colorido, como o da sua noiva, era muito familiar - mas como a garota o olhou culpada ao ser reconhecida, ele voltou a atenção para a terceira integrante do grupo. — E a senhorita seria...

— Cassandra White, senhor Dussel. É uma honra conhecer uma... Personalidade importante do nosso meio. — A sonserina cumprimentou nervosa pela escolha das palavras, a verdade é que conhecia o menos impiedoso dos Dussel apenas dos tabloides e fofocas das amigas. Elas costumavam colocar os irmãos na lista de caras famosos, maus e bonitos, daqueles para se admirar de longe.

— Prazer em conhecê-la, senhorita White. Estes são Erick Fábregas e Váli. — Ele gesticulou vagamente para as figuras discretas atrás de si, então olhou diretamente para o único garoto do trio. — E então, senhor Potter? Teremos alguma explicação para vocês estarem tão perto de uma área sob a custódia do Ministério, sem acompanhamento?

— Suponho que não posso te devolver a pergunta, já que vocês devem ter algum tipo de autorização para estar aqui, certo? — Albus sondou com falsa inocência, mas não recebeu nenhuma resposta para isso. Tentou outra abordagem. — Bem, nós estamos... Preocupados com Hogwarts, isso é tudo. Achei que poderia mostrar a escola para Cassandra, que não a vê há anos, aproveitando que as obras deveriam estar quase no final, mas aparentemente... Não estão.

— Não, não estão e certamente aqui não é lugar para crianças estarem desacompanhadas, ainda mais a essa hora. — O homem alto olhou ao redor, então novamente para os adolescentes. — Como pretendem voltar para... Qual a escola de vocês?

Três adolescentes o encararam mudos, sem saber se deviam contar que haviam cruzado todo o Oceano Atlântico até o Reino Unido apenas por conta de uma suposta saudade de uma garota. Heitor os encarou com menos paciência, então Erick respondeu por eles, com um sorrisinho suspeito no rosto.

— Estes são de Ilvermorny, Heitor. — Esclareceu, como se estivesse identificando a origem de alguma criaturinha mágica divertida. — Vieram atrás de um mistério, mas vão levar para a casa outro completamente diferente.

O parente de Cesc Fábregas olhou para os três, malicioso, vendo mais do que qualquer um gostaria que ele visse, a exceção sendo sua assistente, Váli, que parecia estar tão confortável com a situação do mesmo jeito que estaria se a floresta atrás do grupo estivesse sendo consumida por um incêndio.

Era uma figura inexpressiva da cabeça aos pés.

— Não vão levar absolutamente nada para casa, essa história de Hogwarts vai ficar por aqui, estamos entendidos? — Heitor falou com seriedade. Os três adolescentes fizeram que sim com a cabeça. Se Albus e Lexa viam um potencial de intimidação no estúpido caçula Dussel, o irmão mais velho dele certamente justificava a fama de perigosos da família com folga. — Não há motivo para alarde e alimentar fofocas e incertezas entre seus colegas só atrapalharia ainda mais o nosso trabalho.

— Mas ao menos vocês já sabem do que se trata tudo isso, senhor Dussel? — Lexa perguntou timidamente e Albus a agradeceu mentalmente, porque ela fazia parecer uma pergunta plausível e inocente.

— Sabemos, mas identificar o problema quase nunca é a parte mais trabalhosa do serviço. — Heitor respondeu com calma, tentando imprimir um certo grau de otimismo na voz, afinal, os adolescentes não tinha culpa de nada.

— Não se preocupem, crianças, vocês ainda vão aprontar muito dentro desses muros, não há o que temer. — Erick acrescentou bem humorado, recebendo um olhar de morte de seu colega de serviço, porque não era para ele fazer promessas que talvez não pudessem cumprir. O ex-djinn sorriu cínico. — Não é uma promessa vazia, disso eu tenho certeza: eles vão aprontar.

Ninguém falou nada, apenas Lexa fez menção de perguntar uma coisa, mas desistiu, constrangida. Erick respondeu a pergunta não dita mesmo assim.

— Ah sim, também posso garantir que Hogwarts ficará bem, afinal, ninguém seria louco de deixar vocês correndo por aí em um cemitério de magia, não é? — Heitor o encarou com irritação e ele se consertou, sonso. — O que não é o caso, claro!

— Sim, não é o caso e, de todo modo, temos coisas mais urgentes para nos preocupar, como o fato de eu não ter detectado nenhum meio de transporte para vocês retornarem a América. — O corvinal cruzou os braços com um olhar interrogativo para os adolescentes. — Como pretendem voltar para a escola de vocês mesmo?

— Hum... Pegando carona com vocês até o Ministério? O plano original era dar uma olhada na escola, matar a saudade e depois pedir ajuda para um dos trabalhadores da obra, mas estamos sempre abertos a mudanças positivas. — Albus sorriu cínico e Heitor o olhou com impaciência.

— Aparentemente essa é a semana de assumir as confusões alheias, espero que essa seja a terceira e última vez! — O homem resmungou cansado para o universo, sacando a varinha e fazendo um florido de feitiço não verbal. Um veículo cor de chumbo se materializou a alguns metros do grupo. — Entrem, por favor. Vou levar vocês até Ikley Moor, de lá podem usar minha lareira para o Ministério.

— Isso seria excelente, senhor, inclusive porque... — Albus começou a falar com animação, depois clareou a voz e se colocou em uma postura mais séria. — Tem algo no seu escritório que é de grande interesse para a gente.

— Tenho certeza que não, senhor Potter. — O homem mais velho - sem contar as duas criaturas milenares ao seu lado - falou em um tom de quem encerra o assunto, mas Erick sorriu com diversão, Heitor certamente não conhecia o filhote do meio do senhor Potter.

***

Chegaram sem grandes problemas às terras pantanosas ao redor de Ikley Moor. Por motivos de segurança, Heitor nunca entrava na construção com esses veículos com funções de chave de portal que Hector havia criado, porque preferia manter as configurações de proteção do estádio o mais rígidas possível.

Erick olhou ansioso para o menino Potter, que esteve calado por toda a viagem, mas ele finalmente resolveu continuar seu pedido muito interessante. O ex-djinn teria ficado decepcionado com ele, se ele tivesse desistido de sua missão assim, tão fácil.

— Senhor Dussel, eu sei que o senhor não recebe objetos de todo tipo de gente a toa, as pessoas sabem que podem confiar no senhor para guardar seus pertences preciosos, mas... — Ok, o homem parecia irritado por ele saber de tudo aquilo, mas Albus tinha que entregar alguma verdade, para poder disfarçar sua mentira seguinte. — Isso que a gente quer ver, de certa forma, tem a ver com o que estávamos indo fazer em Hogwarts!

Lexa e Cassandra se entreolharam, porque não faziam ideia do que estava acontecendo ali. Os planos de Albus eram tortuosos e aparentemente o garoto não fazia o mínimo esforço para esclarecer nada antes de colocar tudo em ação.

— Imagino que sim, mas não vejo como esse fato poderia me convencer a colaborar com sua causa. — Heitor respondeu com pouco interesse, porque havia quase nenhuma chance do garoto conseguir sua ajuda. Albus Potter estava certo, as pessoas não confiavam seus pertences a ele porque achavam que ele tinha o coração mole, mesmo com sua fama nos tabloides.

O menos impiedoso dos irmãos Dussel ainda era impiedoso o bastante para o restante do mundo.

— Os últimos meses tem sido difíceis para nós de Hogwarts, senhor Dussel, houve muitas perdas e no meu caso específico, foram perdas mais difíceis e sem explicação do que o problema estrutural da escola. — Albus falou com um pesar não de todo falso, então isso ganhou um pouco da atenção dos adultos. — Tudo que eu quero do senhor é 10 minutos com um simples bilhete de um colega que costumava ser próximo da minha família, mas agora não está mais entre nós, eu só quero... Entender o que houve com ele.

Não era mentira, Albus queria entender o que havia acontecido com Martin Haardy, então esperava que Heitor Dussel tivesse entendido do que ele estava falando, porque falar o nome em voz alta ou as circunstâncias em que o bilhete foi achado e entregue, poderiam enrolar ele no tipo de coisa sobre o qual ele não poderia falar a verdade ou ao menos mentir bem.

Ele infelizmente não era muito bom fingindo que se importava com pessoas em geral.

— Se sabe tanto sobre o tal bilhete, imagino que também saiba que não tenho permissão de mostrá-lo a terceiros, correto, senhor Potter? — O corvinal perguntou sabendo muito bem do que o garoto estava falando e que dificilmente ele poderia negar o fato, tão pouco ignorá-lo.

— Sim, eu sei disso, o senhor Haardy pediu ajuda a meu pai para solucionar o impasse em que se encontrava com o último pedido do filho, mas eu acho que ele não tomou a melhor decisão. — Albus respondeu com cuidado, porque aquele era um tema delicado, qualquer passo em falso e eles perderiam a oportunidade de pôr as mãos no bilhete misterioso de Haardy. — Martin pediu ao pai para que não se desfizesse do bilhete e eu acredito que seja porque ele quer que o pai dele encontre uma mensagem, que...

— O garoto dos Haardy apenas não queria ser esquecido, senhor Potter. — Heitor falou com conhecimento de causa, porque o medo de muito de seus colegas corvinais era o de cair no esquecimento, logo eles, com tanto potencial e coisas importantes a dizer. — Eu sei que não é fácil compreender esse tipo de situação, porém... Existem certas coisas que não precisam de explicações elaboradas, elas são o que são.

— Eu geralmente concordaria com o senhor, mas como eu conhecia Martin desde criança, sei bem que ele não era o tipo de cara que simplesmente iria sair do palco sem deixar, sabe, um grand finale! — Albus fez um gesto dramático e florido para ilustrar seu ponto. Olhou para Heitor Dussel ainda mais decidido. — Ele não precisaria pedir ao pai dele para guardar um bilhete de suicídio, porque pais não se esquecem dos filhos assim, do nada, mesmo que a pessoa em questão tenha os desapontado.

— O garoto tem um ponto. — Erick falou ao finalmente entrar no elevador do estádio, depois de caminhar alguns minutos até a entrada do local. Heitor lhe disse exatamente o que achava de sua intromissão apenas com seu olhar furioso. — Só estou constatando a verdade...

— Senhor Dussel, esse... Comportamento estranho de Martin só demonstra que havia algo no bilhete que ele deixou para trás e se o pai dele não quer saber ou não se importa com isso, nós nos importamos! — O grifinório falou com aquela rebeldia típica dos da sua casa, o que quase fez Heitor ficar inclinando a atender seu pedido. Quase. — Dez minutos, senhor Dussel, é tudo que eu peço!

O grupo agora estava subindo os andares do estádio em forma de tornado rapidamente, após um de seus donos apresentar seu anel de acesso no mostrador metálico do elevador. Assim que o aparato mágico reagiu a seu comando de herdeiro, Heitor cruzou os braços e tamborilou os dedos, se perguntando se não estava ficando mole demais ao sequer cogitar ajudar a essas crianças com cara de encrenca.

A porta do elevador se abriu e a encrenca em forma de gente - e a provável responsável por seu “amaciamento”- o olhou assustada, pois estava distraída brincando com seu aparelhinho trouxa, viciada no celular igualzinho a seu irmão mais novo.

— Oi, noivo! Oi, pessoas! Tava aqui me perguntando quanto tempo mais teria que te esperar! — Jweek Rosier, batedora dos Vratsa Vultures - e nas horas vagas futura Senhora Selwyn-Dussel  - falou animada como sempre, depois deu um sorrisinho suspeito para a comitiva pouco convencional de seu noivo. — Claro que a resposta foi deixar um bilhete te informando que eu já estava caindo fora, mas eu meio que me fiz essa pergunta mesmo, em algum momento lá atrás.

— Olá, senhorita Jweek, como está falante hoje! — Erick a cumprimentou de bom humor e carinho, porque dessa garota ele gostava. Ela havia sido uma de suas defensoras mais ferrenhas na época em que ele era só uma ex-criatura recém liberta, cujo destino o Ministério bruxo não sabia qual seria. — Aproveite o ensejo e tente convencer o seu noivo pouco piedoso aqui a permitir que três crianças realizem o desejo de seu falecido amigo.

Heitor respirou fundo para a provocação desnecessária de Erick, que, até onde ele sabia, não devia ter nenhum interesse real nessa história dos meninos. Ao menos o trio de adolescentes não aproveitou a oportunidade para se fazer de coitados, pelo que o homem foi grato.

— O que? — Jweek perguntou confusa, mas o ex-djinn e sua assistente já se direcionavam para sua sala, que Enrique, seu cunhado, gostava de chamar de “covil do fim do mundo". Tinha  quase certeza que o garoto tinha tirado isso de uma de suas conversas com o namorado meio doido que tinha.

— Erick está apenas sendo inconveniente como sempre. Na verdade, tenho que mandar esses três para o Ministério via flú. — Heitor apontou os garotos sutilmente com a cabeça, mais concentrado em pegar a mão da noiva para encostar os lábios de leve no dorso enfeitado com uma rosa ardendo em chamas. Jweek nunca imaginara que gostaria desse tipo de demonstração de carinho singela, mas assim era. — E provavelmente não vou poder voltar para Vratsa com você hoje, ainda tenho que resolver aquela coisa com o polonês...

— Ah sim, o polonês... Do que se trata mesmo? — A sonserina perguntou interessada de verdade, porque, além daquele assunto misterioso estar fazendo Heitor desistir de ir com ela para sua casa, estava deixando ele mais estressado do que o normal. O corvinal lhe deu um olhar que já dizia tudo.

— Depois falamos sobre isso, amanhã eu passo...

— Não, eu vou ficar aqui na Inglaterra hoje, pego seu carro esquisito emprestado e vou para Vratsa amanhã. — Ela lhe deu um tapinha no peito que equivalia a um “não vai me despistar dos seus assuntos assim tão fácil”, depois acenou com diversão para a garota atrás do noivo, que ainda estava com a mesma cara vermelha desde que chegou. — Hey, moça, bonito cabelo!

— Me inspirei no seu. — Lexa falou de pronto, com um sorriso de orelha a orelha. Era esperar demais que Jweek Rosier a reconhecesse, mesmo treinando vários dias com ela, então se contentou em ter mais alguns minutinhos cara a cara com seu maior ídolo de todos, recebendo um elogio ainda por cima!

— Eu imaginei que sim, adoro me elogiar indiretamente. — Jweek piscou marota, depois acompanhou o passo do noivo, que já conduzia o grupo até sua sala. — E então? Como está a vida de campeã mundial de Quadribol? Divertida? Meu sonho é ser campeã pela Irlanda algum dia, acho que o sentimento será incrível...

A batedora famosa divagou sozinha, porque Lexa nesse momento não estava mais com os pés na Terra! Rosier não só tinha se lembrado dela, como meio que disse que tinha inveja dela, por ter um título mundial!

Aquilo devia ser algum tipo de sonho, não era possível!

— Senhor Dussel, e quanto ao meu pedido? — Albus retomou o assunto de antes, que era mais importante que o flerte entre o casal a sua frente ou a tietagem da sem noção da sua colega de Casa. Lexa o fuzilou com o olhar, porque estava mais do que claro que aquilo não era um sonho, se aquela criatura odiosa estava lá— Para o senhor e para o senhor Haardy também, nada disso sequer importará, mas para a gente, isso pode ser uma chance de fazer justiça pelo nosso amigo!

— Justiça? — Heitor parou a alguns passos de sua porta, se virando para o garoto as suas costas. — Que eu saiba o senhor Haardy se suicidou após sua expulsão da escola... Está sabendo de algo que eu não sei, senhor Potter?

— Martin não era má pessoa, independente do que digam sobre ele, senhor Dussel. O senhor não acha que o que o professor Bradbury fez com ele, o colocando em uma vida de crimes sem volta, não pode ser chamado de injustiça? — Albus falou sem demonstrar nervosismo, não havia dado uma dica de seu verdadeiro motivo para querer estar ali, como o homem quis fazer parecer. — O pior é que o cara ainda está solto por aí!

Agradeceria se Lexa e Cassie parassem de parecer dois cervos encurralados por um lobisomem, assim ficava difícil fingir naturalidade!

— Creio que o jovem Haardy tenha sido punido de acordo com a gravidade de suas infrações, mas sim, lamento que ele tenha se deparado com um escroque da classe de Michael Bradbury. — Heitor respondeu sem humor, abrindo a porta para todos entrarem em seu escritório.

— O senhor conheceu o professor Bradbury, senhor Dussel? — Cassandra perguntou em um tom baixo, que fez o homem a olhar de cenho franzido. Ela repetiu a pergunta. — O senhor o conheceu? Michael Bradbury? Ouvi dizer que ele trabalhou aqui com vocês...

— Ouviu dizer onde? — Heitor perguntou mais intrigado do que irritado. Albus se fez a mesma pergunta, porque, até onde ele sabia, a parte da história sobre Bradbury ter usado os laboratórios Dussel para seus estudos em Azkaban não tinha sido mencionada por ele, nem por qualquer meio de comunicação recente, mesmo que o homem tenha se tornado assunto de muitos jornais nos últimos meses.

— Ele costumava ser meu mentor em Poções, mencionou a empresa uma ou outra vez.— Essa parte da menção aos Dussel não era verdade e se a capacidade de Cassandra mentir já estava surpreendendo seus companheiros de crimes grifinórios, a cartada final seria magistral. — Me mostrou até uma poção espelho que criou nos laboratórios Dussel e foi usada aqui, nas paredes do estádio ... Era um ótimo truque espacial, sempre quis aprender a fazer.

A garota suspirou sonhadora, como só uma sonserina de verdade - apaixonada por Poções intrigantes - poderia fazer. Heitor largou-se em sua cadeira, sem conseguir disfarçar sua indignação e ignorando completamente sua etiqueta estrita, que preconizava que não se sentasse ante a presença de damas. Jweek o encarou surpresa.

— Ele te disse que criou essa poção? Era um mentiroso da pior laia mesmo... Essa poção era uma patente compartilhada entre meu irmão e seu assistente, não houve nenhuma contribuição desse homem para a nossa empresa, muito pelo contrário, só veio aqui destruir um de nossos laboratórios, com seus experimentos absurdos! — Resmungou enquanto procurava o pote de flú que mantinha escondido em uma de suas gavetas, na tentativa de diminuir o uso de sua lareira por seu pai e irmãos intrometidos.

Albus se manteve calado, porque Cassandra parecia no controle da situação e Lexa não pôde deixar de pensar que seus colegas realmente eram como espiões, porque o truque que a garota loira e séria usou para descobrir mais sobre a poção, que ela achava que podia ter sido usada por Bradbury para disfarçar seu esconderijo secreto, tinha sido genial!

— Assistente? Ele falou de uma parceria sim, que imaginei que tivesse sido com seu irmão, mas não mencionou nenhum assistente... — A atual aluna de Pukwudgie falou adoravelmente confusa, um de seus melhores truques para disfarçar a malícia sob os olhos cinzas e frios. — Quem era?

Jweek cruzou os braços e encarou Heitor com diversão, porque para ela estava mais do que óbvio que a garotinha era muito boa em arrancar informações de marmanjos. Seu noivo a encarou de volta, porque havia percebido o mesmo.

— Bem, isso não vem ao caso. Achei o pó de flú, irei escrever uma carta para seu pai, senhor Potter, explicando as circunstâncias em que o encontrei e outra para Ilvermorny, que precisa controlar melhor seus estudantes. — O homem havia pego sua pena de tinta recarregável e já escrevia uma nota, copiada prontamente por uma pena enfeitiçada no pergaminho ao lado.

Cassandra mal conseguiu disfarçar seu desapontamento por não ter arrancado mais um pouco de informação do senhor Dussel - não era considerado um dos caras maus por nada - mas Albus estava mais do que satisfeito com os avanços da colega.

Com todas as atualizações das visitas de Scorp a escola russa e de Cesc, Enrique e Fred à Azkaban no quadro de investigação, o nome do tal assistente que havia feito a poção com Hector Dussel não podia ser outro: Jacob Thompson estava se mostrando mais e mais envolvido com toda a história confusa da profecia, era realmente uma pena que ele estivesse morto.

Mas o mais legal de tudo que Cassandra tinha descoberto era que o palpite de Lexa sobre a poção espelho para esconder o laboratório secreto no estoque da escola poderia ser mesmo real! Um feitiço era altamente detectável e teria se enfraquecido com todos os problemas de magia de Hogwarts, mas uma poção...

Albus estava mais do que confiante de que estavam realmente indo no caminho certo, então faria sua última tentativa com o lance de Haardy.

— Senhor Dussel, por favor, estou te implorando e acredite, não irá ver um Potter implorar de novo tão cedo: me dê só alguns minutos com o bilhete, por favor, pode ser só cinco minutos, se o senhor quiser! — Albus se aproximou da mesa do homem, se apoiando no tampo de madeira. Estava disposto a desistir, por hora, caso recebesse outro não, mas esperava convencer o corvinal com seu último argumento. — Tenho certeza que você tem meios de saber caso eu estrague ou tente tirar o bilhete daqui, juro que não vou tentar fazer nada disso, eu só quero ver ele com meus próprios olhos, ninguém nunca saberá!

Heitor encarou o menino Potter com seriedade, porque aqueles eram olhos verdes bastante determinados. Olhou para sua noiva ao seu lado, que deu de ombros como quem diz “parece razoável”. Suspirou pesado, porque Anne estava acabando com toda sua tão bem construída disciplina.

— Certo, senhor Potter, vocês têm exatamente cinco minutos, que é o tempo que irei levar para despachar essas duas cartas. — O homem mostrou os pergaminhos enrolados, já com seu brasão Dussel marcado em cera e Jweek sorriu achando graça, porque Heitor podia cuidar das correspondências literalmente em segundos. — Façam bom uso do seu tempo.

O corvinal se levantou e fez um gesto para sua noiva o seguir para fora do escritório, mas antes convocou a pasta dos Haardy direto para suas mãos. Era uma das pastas mais magras, com apenas um pequeno pedaço de pergaminho dentro. A entregou para o garoto a sua frente.

— Obrigado pela confiança, senhor Dussel. — Albus agradeceu tentando disfarçar sua animação, afinal era o bilhete de suicídio de alguém aquilo que tinha em mãos. Heitor não o respondeu, porque a verdade é que ele não confiava nenhum pouco nele.

Fechou a porta atrás de si, deixando os adolescentes em seu escritório. Jweek fez menção de falar suas impressões sobre toda a cena, mas o homem pediu silêncio com um gesto, abrindo magicamente a parede a sua frente para observar os jovens interagindo sem a sua presença.

A mulher sorriu para aquilo, pois, como noiva e futura Dussel, havia ganhado permissão para ver através das paredes do estádio também, só faltava receber seu próprio anel para ativar aquele feitiço tão útil.

— Muito ardiloso, senhor Dussel. — A batedora falou com um sorriso malicioso para o homem de cenho franzido assistindo os três adolescentes confabulando do outro lado da parede.

— Acho que eu nem sequer sou o mais ardiloso essa noite... — Ele concluiu, fazendo Jweek sorrir ao assistir Albus Potter dando ordens as amigas. — Harry Potter está em sérios problemas com esse filho dele.

***

Albus havia tirado de sua mochila algumas coisas que havia conseguido ao longo do mês que veio se preparando para essa missão: um detector de feitiços e maldições, pego sem permissão de Teddy, uma pena de repetição rápida surrupiada de Rose e um celular trouxa conseguido em uma aposta, semana passada. Estalou os dedos, ansioso, antes de começar a trabalhar no bilhete.

— Ok, meninas, eu vou tirar fotos e verificar se tem algum feitiço secreto no bilhete, Lexa, leia a mensagem em voz alta para a pena de repetição rápida anotar e Cassie, tem como detectar poções apenas com bile de urso vietnamita? Li em algum lugar que fava para ser feito.

— Eu odeio esse ingrediente! Essas fazendas de bile asiáticas são muito cruéis, os trouxas fizeram disso um mercado horrível, com todas as suas sandices! — Cassandra reclamou e Lexa parou de ditar calmamente o bilhete, segurando a pena, para olhar a garota, indignada.

— Hey! Essas coisas já são proibidas no mundo trouxa, a gente já produz a substância que precisa sinteticamente, então tenho certeza que Albus comprou tudo com algum bruxo sem vergonha! — Apontou para o colega de casa acusatoriamente, mas depois ficou constrangida com o olhar dos outros sobre si. — O que? Uma artilheira não pode entender de mercado de ingredientes de poções? Foi um dos meus apontamentos para o trabalho de crédito extra do final do semestre!

— Não estou surpresa com isso e sim com o fato de que você não se coloca como bruxa, mas tudo bem... — Cassandra abriu o frasco com a secreção animal, molhou o conta-gotas de leve, sem capturar nada no tubinho de vidro. Apenas esfregou um pouco do líquido cuidadosamente pela borda do bilhete. Aguardou alguns segundos, então deu de ombros. — Nada aqui, ele não usou poções nem sequer na tinta.

— Tem certeza, Cassie? — Albus parou de conferir as fotos no celular, para olhar a garota loira nos olhos.

— Absoluta, esse é um velho truque que aprendi há muitos anos, se houvesse alguma poção no pergaminho, fechando todos os lados, ela teria sido atraída pela bile. Esse pergaminho está limpo. — A sonserina concluiu confiante, ao mesmo tempo que Lexa terminava de recitar o bilhete para a pena de repetição rápida.

— Potter, só me tira uma dúvida: se você tirou foto do bilhete, por que me fez recitá-lo para a pena? — Entregou ambos, pena e pergaminho, para o garoto, que colocou tudo na mesa, com o celular ao lado.

Não respondeu de imediato, primeiro leu o bilhete de Haardy, depois a cópia de Lexa e então comparou um e outro. Finalmente sorriu para o que viu.

— Por isso. — Apontou para o pergaminho com a cópia e então para a tela do celular ampliada. A princípio nenhuma das garotas foi capaz de ver do que ele estava falando. O grifinório rasgou a parte de baixo do pergaminho que Lexa havia usado e começou a soletrar letras aleatórias para a pena de repetição rápida escrever naquele pedaço de papel.  — C-O-R-B-E-A-U-M-A-L-A-I-R.

Assim que o objeto terminou de escrever, ele guardou o recorte no bolso do casaco, só por precaução, então se pôs a explicar sua lógica em voz alta.

— Corvinais adoram enigmas, eles vivem por essas besteiras e alguns dos mistérios são bem simples, na verdade, quase primários, vejam: Martin começa com um “Me sinto como em um Ragnaroc, um fim do mundo do qual eu não posso escapar.” — Albus apontou para a letra C no Ragnaroc do bilhete original e o K da cópia de Lexa. — Ele errou a palavra de propósito.

— Ah sim, então o padrão são os... Não! Não estou vendo mais nenhuma palavra errada. — Lexa se aproximou mais da mesa, como se a proximidade dos seus olhos fosse ajudar em alguma coisa, mesmo que ela conseguisse ler perfeitamente bem da distância em que estava antes. — Tem certeza que o padrão são os erros de grafia?

— O padrão não são os erros, são as pausas. — O garoto mostrou uma, então outra e outra, o bilhete tinha pausas que não estavam ortograficamente erradas, mas tão pouco soavam naturais quando faladas em voz alta. — Os erros só mostram que ele estava nervoso e precisou pensar rápido, aqui tem mais um, olha: “Esse pesadelo parece ter saídos de um dos contos de senhor B., o bardo”, quem em sã consciência chama Bedlee, o bardo, de senhor B.?

— Ele precisava da letra C e da letra B, mas não conseguiu pensar em algo que fizesse sentido na hora... — Cassandra cogitou e Albus concordou animado.

— Exato! Agora se imagine ameaçado pelo cara que você sabe que está ali só para acabar com sua vida, você é um cara esperto, então pede para ao menos poder se despedir de seus pais decentemente, não é como se um bilhete de suicídio não fosse ajudar a deixar tudo ainda mais crível, certo? — Ele falou feliz de ter sacado tudo, colocaria uma vela em sua janela essa noite, em homenagem a Martin e sua esperteza fora do comum.

— As vírgulas passariam despercebidas e alguns errinhos bobos também, afinal, o cara estava contemplando o seu amargo fim!— Lexa se deixou contaminar pela animação de Albus, mas depois se tocou do que havia dito. Olhou novamente para a letra corrida e um pouco tremida de um dos garotos mais bonitos e espertos que já tinha conhecido na vida. Era uma pena que ele tivesse tido esse final tão infeliz. — Não sei como Haardy conseguiu se manter tão calmo e racional em um momento como esse...

— Ele era um corvinal depois de tudo, Martin sabia que ia morrer, só restava a ele engolir o medo e dar um jeito de ajudar a desvendarem sua morte no futuro. — Albus pegou o pergaminho na mão, porque estava sentindo o mesmo sentimento que havia sentido quando viu o nome da irmã de Scorp no livro de futuros alunos de Hogwarts, enquanto tentava desvendar o problema da escola com Cesc: o sentimento de que tinha que fazer alguma coisa por um bem maior. — Espero que a gente faça jus a genialidade final dele.

— Eu acho que...

— Tempo esgotado, crianças. — Heitor retornou a sala com Jweek, ambos parecendo alheios ao drama e reflexões vividos pelos três alunos de Ilvermorny. — Isso na minha mesa é uma cópia do bilhete, senhor Potter? Achei que o senhor tinha sido honesto ao dizer que não iria tentar fazer nenhum tipo de besteira com o bilhete.

— Desculpe, eu... — O garoto iria começar a se justificar, mas antes que tivesse a chance, um aceno da varinha sinistra do dono do escritório transformou em cinzas a cópia que eles haviam feito. — Pô, cara, qual é? A gente precisa disso!

— As cópias do celular também, senhor Potter. — Heitor estendeu a mão para receber o dispositivo trouxa, repassando para que Jweek cuidasse dessa parte. — Sinto muito, mas levo muito a sério meu trabalho.

— Como sabia que tínhamos as fotos? — Lexa perguntou com indignação e o homem sorriu com malícia.

— Sei muitas coisas, senhorita Prutt, sei, por exemplo, que o senhor Potter está levando uma série de letras sem sentido aí no bolso, mas como isso não nos afeta em nada, ele pode manter a suposta pista que vocês encontraram. — Respondeu com um sorriso, fazendo a garota com o cabelo igual ao de sua noiva o encarar brava.

— O senhor estava nos espionando! — Acusou, olhando para Jweek, de quem era fã, como se ela tivesse alguma parte naquele absurdo. — Você vai mesmo casar com esse cara horrível, Jweek?

— Ao que tudo indica vou sim, Prutt, mas, se te consola, ele só é horrível assim aos sábados. — A batedora sorriu malandra para a garota, depois piscou para o noivo, que a olhava de soslaio.

— Sim, aos sábados sou realmente insuportável, tanto que não vejo a hora de me livrar de vocês. — Heitor ligou a lareira com um aceno de varinha e flutuou o pote de pó de flú para perto do trio. — E então, quem será o primeiro a desaparecer do meu escritório?

Os três adolescentes o olharam indignados e Jweek riu sozinha, porque Heitor era bem aquele estereótipo do velho irritado com a bola das crianças atravessando sua cerca branca, que sempre via nos filmes trouxas.

Lexa iniciou a saída, nariz em pé e decepção nos olhos.

— Espero que saiba que pode conseguir coisa muito melhor do que esse senhor aí, Jweek. — A garota falou com pesar, fazendo a sonserina famosa, hoje de cabelo com as pontas azuis índigo, lhe sorrir em confirmação.

— Sei disso e não me esquecerei, garota. — Falou com falsa seriedade, mas assim que os três foram sugados pelas chamas verdes do pó de flú, se virou para Heitor com as mãos juntas sob o peito. — Oh, que nenês! Adolescentes não são adoráveis?

— Não. — Foi toda a resposta que recebeu do noivo. Ah bem, Heitor era mesmo intratável aos sábados.

***

Tudo havia saído exatamente como Albus havia planejado, ao menos nessa parte: seu pai estava fora da cidade para uma palestra e sua mãe estava cobrindo um jogo na França para o Profeta Diário, então não havia sobrado muitas alternativas para o assistente de seu pai, Stuart, a não ser encomendar uma chave de portal neutra para o filho do chefe.

Que o senhor Potter desce o castigo que o garoto bem merecia em terras americanas, ele lavava suas mãos em relação àquele encrenqueiro!

— E então, Albus, acha que realmente descobrimos algo com essas letras? — Cassandra perguntou sentada ao lado do garoto na recepção do QG dos aurores, com o cenho franzido, porque tinha visto as letras muito rápido e o pouco que viu, não dava muitas esperanças de tirar algum sentido delas. — Até onde sabemos, pode não ter nada ali e a gente deu crédito demais a Martin Haardy.

— Bobagem, sei reconhecer um bom código quando vejo um. — O garoto respondeu confiante, sacando o pedaço de pergaminho do bolso para olhá-lo de novo. — Agora só precisamos saber exatamente qual foi a mensagem que ele se deu ao trabalho de escrever em seus últimos momentos: um enigma dentro de outro.

— Talvez seja um anagrama, tipo aquele que o lorde das Trevas fez com o próprio nome, para chegar até o nome Voldemort, sabe? — Lexa sugeriu, depois deu de ombros. — Acho que já vi um feitiço que embaralha letras em algum lugar no meu livro de feitiços básicos...

— Ou talvez não seja nada disso, já que foi você quem sugeriu. — Albus disse com um sorriso travesso, só pelo prazer de ser implicante. Lexa rosnou para ele e Cassandra... Bem, ela cobriu parte do código na mão do garoto com um dedo de unha comprida e elegante.

Agora que a sonserina tinha tido a oportunidade de olhar as letras com mais atenção, ao menos o início delas fez sentido:

Corbeau

— Pessoal... Acho que sei o que essa parte aqui significa. — A voz de Cassandra tremia, toda ela tremia, na verdade, então Albus a olhou sem entender. — Esse... Esse é meu patrono... Corbeau... Corvo.

— Seu patrono? O que o seu patrono estaria fazendo como uma das pistas de Haardy? — Lexa perguntou confusa e Albus olhou de uma garota para outra, guardando suas divagações para si, tentando captar o máximo de informações das observações delas, por enquanto.

Cassandra parecia não ter uma resposta imediata, ou melhor, parecia estar tendo uma dificuldade grande para se manter calma.  Seus olhos acinzentados estavam brilhantes de lágrimas não derramadas, a menina estava fazendo um esforço enorme para não chorar.

— Não é apenas... Não é só o meu patrono. — Falou o final de uma vez, olhando para Albus de uma maneira que ele nunca tinha visto antes, ela parecia completamente vulnerável. — Era o patrono dele.

— De Bradbury? — O garoto verbalizou ansioso, porque podia dizer com certeza que Cassandra finalmente estava se lembrando de tudo que seu ex-mentor havia feito questão de apagar de sua memória. Mas a resposta não verbal da garota o surpreendeu, porque ela fez que não com a cabeça. — Não é de Bradbury? Então de quem é esse patrono?

Cassandra tomou fôlego, reunindo toda a coragem que faltava aos de sua Casa, porque aquilo era definitivamente muito difícil de fazer, não sabia como os grifinórios conseguiam ser corajosos todo o tempo!

— Era o patrono de... Rabastan Lestrange. — Ela engoliu em seco, com os dois olhos bem abertos, quase como se fosse uma defesa de seu corpo para mostrar ao mundo que ela estava consciente e lúcida. Lexa e Albus a encararam igualmente atônitos.

— Lestrange? Mas como é possível que você saiba disso? Você o visitou em Azkaban com Bradbury? — Albus tentou a hipótese mais lógica, afinal ele sabia que o homem confiara nela em algum momento e havia trabalhado com esse preso em específico por vários meses, a caixinha da profecia era a prova mais contumaz dessa relação.

Cassandra fez um não frenético com a cabeça, uma lágrima teimosa escapou de um seus olhos com o movimento, então a sonserina a limpou rapidamente.

— Bradbury não me fez visitar Lestrange, ele era Rabastan Lestrange. — Ela falou com tanta convicção, que a única coisa que restou para Albus dizer foi...

— Puta merda, a gente tá muito fodido!

***

A cabeça de Albus estava fervilhando de hipóteses, uma mais bizarra do que a outra. Não havia perguntado mais nada para Cassandra, que estava nervosa demais para ser útil, nem havia contado tudo que sabia para ela e Lexa, porque talvez o melhor fosse manter toda essa história apenas entre os iconoclastas.

Bradbury era Lestrange!

Merlin de ceroulas furadas, mas que confusão! Desde quando ele estava lá assumindo a vida do cara? Então esse foi o motivo que fez Cassandra ser enviada para os Estados Unidos, de alguma forma a menina tinha descoberto o segredo dele!

Tudo que Albus sabia mesmo era que Lestrange era um fugitivo de alta periculosidade, seu pai havia emitido alerta máximo para ele nos últimos anos. Todos os meses pelo menos uma publicação britânica mencionava o bruxo como forma de manter a vigilância contra ex-comensais a todo vapor.

Porém, aparentemente aquilo não tinha impedido o cara de invadir Hogwarts e assumir a vida do odioso e trapaceiro professor de Poções, Bradbury! Talvez tenha sido aí que as coisas começaram a desandar no esquema dele, quando um impostor assumiu o seu corpo.

Espera... Impostor? Albus riu, porque agora tudo começava a realmente fazer sentido! Quer dizer, estava tudo uma confusão terrível, mas tinha certeza que conseguiria juntar todas as pontas assim que expusesse os fios soltos para os outros iconoclastas.

Estava tão distraído que mal percebeu quando sua irmã o puxou pela mão, assim que colocou os pés nas terras de Ilvermorny.

— Graças a Merlin você chegou! Não vai acreditar na merda que nós nos metemos... — A garota ruiva continuou puxando o irmão pelo pulso, deixando Lexa e Cassandra para trás, sem entender nada.

— Lily, mas de que inferno você está...

— FODA-SE VOCÊ, ROBERT! A gente está do lado de Alex também, mas se você não quiser acreditar, você sempre poderá repetir o que acabou de me dizer, para eu poder enfiar suas palavras de volta na sua boca com dente e tudo!

Albus parou chocado no início do Hall dos patronos, porque poderia jurar que esse era o tipo de coisa que o estúpido do Frank  falaria para o setimanista americano, mas não, havia sido James quem tinha dito essas palavras.

O irmão e o garoto negro continuaram trocando farpas depois disso, sendo ambos contidos pelos respectivos componentes de seus grupos bem delimitados: americanos enfurecidos de um lado e britânicos ofendidos do outro. Albus desviou o olhar, para questionar sua irmã o que estava acontecendo ali.

— O que houve? Eu saí não tem nem cinco horas, porque está todo mundo aqui e não dormindo? Onde estão os professores? — O grifinório perguntou confuso e a menina ruiva apenas deu de ombros para a última pergunta, afinal, quem sabia onde estavam os professores de Ilvermorny quando se precisava deles?

— Eu não sei como começou essa bagunça, mas aparentemente foi algo lá na festa de Salem. — Lily começou, mas parou até se certificar de que James não iria mesmo partir para algo físico contra o americano que dividia o mesmo dormitório que ele. — Pelo que eu entendi, o pessoal de lá ainda se ressente por toda aquela confusão com Cesc, a perda do campeonato e o gênio louco e aí insinuaram que os problemas do Hall da vergonha começaram com a gente chegando aqui e não sei mais o que... Daí você já sabe, né? Muita bebida e pouco juízo!

— Tá, então os caras de Salem estão sendo babacas como sempre? Vou checar isso amanhã, minha cabeça hoje está cheia demais para lidar com essas besteiras agora. — O grifinório resmungou sem  dar muita importância a coisa toda. Por tufo que sabia, não era como se uma confusão naquela escola parada fosse algo ruim, talvez até conseguisse tirar alguma notícia inocente para o Ocaso publicar...

— Bem, mas o problema não é só o pessoal de Salem e sim o fato do pessoal de Ilvermorny ainda está mordido com toda aquela confusão com Alex Lavoie. — Lily fez um gesto sutil com o rosto, para o irmão se lembrar da merda que havia feito ao usar um dos queridinhos da escola em uma de suas pichações ridículas no Hall da vergonha que havia inventado.

— O que isso tem a ver com qualquer coisa? — Talvez Albus tivesse com o raciocínio mais lento do que o normal, a noite havia sido cheia, porque geralmente perguntava menos e observava mais, mas dane-se, Lily estava enrolando muito para explicar a relevância daquela situação esquisita.

— Tem a ver que alguns alunos daqui estavam com a pulga atrás da orelha ao ver que o Ocaso tinha um jeito meio parecido de dar informações com o tal Hall da vergonha, aí quando o pessoal de Salem falou que não confiava em nada que vinha da gente, o nome dos iconoclastas foi parar no meio da discussão! — Lily concluiu nervosa, trocando o peso de um pé para o outro.

— Estão achando que os iconoclastas estão por trás do Hall da vergonha? — Albus perguntou sem expressão, não queria que a irmã detectasse seu nervosismo, porque ela poderia confundir aquilo com um atestado de culpa.

— Sim e não ajudou em nada os alunos de Hogwarts saírem em no... Em defesa deles, porque agora parece que é todo mundo conivente com a crueldade que fizeram com Lavoie, quero dizer, Ilvermorny está toda do lado dele! — A garota falou com um misto de admiração e preocupação. — E, ao que parece, eles vão querer atacar qualquer um que tenha parte com esse assunto do Hall.

— O Ocaso não tem parte com o Hall, a única coisa que a gente precisa fazer é garantir que eles percebam isso. — Albus deixou de olhar a irmã, observando os últimos alunos voltarem para seus dormitórios após o professor de Herbologia chegar para pôr ordem na confusão.

Lily o olhou com irritação, porque pelo menos um dos iconoclastas - ele - tinha parte naquela merda, mas, porque as outras meninas ainda estavam ali ouvindo tudo, preferiu deixar as coisas como estavam, por hora.

Albus ainda ouviria muito, principalmente quando contasse tudo para os outros iconoclastas amanhã!

— Bem, eu espero sinceramente que a gente consiga reverter essa má impressão dos americanos ou os próximos meses serão bem difíceis... — Lily suspirou preocupada, mas depois se animou um pouquinho ao lembrar de uma coisa importante. — Ei! Falando nisso, como está Hogwarts? Pronta para nos receber no Natal?

Albus olhou para Cassandra e Lexa, ambas com um olhar desanimado, porque não, infelizmente não tinham boas notícias para dar a uma animada Lily, com um sorriso inocente e esperançoso no rosto.

— Lils... Melhor falar sobre esse assunto amanhã, ok? — Albus falou coçando os olhos com impaciência, vendo a expressão da irmã mudar aos poucos.

— Tão ruim assim? — Ela ainda tentou receber uma resposta mais otimista, mas o rosto cansado do irmão dizia tudo.

— Amanhã a gente fala sobre isso, Lily.


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Notas finais do capítulo

Ok, três coisas importantes aconteceram hoje:
Lance de Hogwarts, o bilhete de Haardy e o Hall da vergonha, vou querer saber o que acharam disso. Mas além disso, vocês perceberam quem era o casal no trem com o trio ternura?

Espero que tenham gostado e até HOH!

Bjuxxx



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