Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 22
Capítulo 22 Durmstrang


Notas iniciais do capítulo

Voltamos das férias, feliz ano novo, bombons!

Agora vamos recaptular as coisas, para ninguém se perder na bagunça de hoje:

— Os iconoclastas descobriram possíveis novas pistas sobre a profecia na casa de Carl Dolus;
— Descobriram que o insectologista estará na escola de magia russa e acharam trechos de poções misteriosas em seu quarto;
— Rebeca e Scorp entraram nos duelos marciais para conseguirem valores para entrar na equipe das Poções na Natureza;
— Os dois sonserinos agora são pupilos de Arthuria Arrhenius, caçula do clã mais poderoso em duelos;

Fiquem agora com nossa querida Durmstrang:



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Ancoradouro do Lago Scandza, Durmstrang, 25 de outubro de 2021

Scorp estava com uma dor irritante nas costas, fruto daquela imobilização de quase quatro minutos que teve que aplicar naquele garoto do terceiro ano estúpido, devia ter ficado ofendido por Svetlana achar que ele poderia perder para um idiota como aquele!

Tentou estalar as costas enquanto assistia Cameron e Marco competindo para ver qual dos dois conseguia terminar de esculpir um remo primeiro. Habermas parecia algumas machadadas a frente de seu oponente, mas não dava para saber ao certo, Scorp não entendia absolutamente nada dessas coisas de madeira, embora entendesse um pouco de remos.

— Por que vocês não podem usar a varinha mesmo? — O herdeiro dos Malfoy perguntou meio alarmado, Cameron Mitchell parecia muito capaz de arrancar a cabeça de alguém com aquele machado assustador.

Ninguém lhe respondeu, os dois ex-jogadores prodígios da escolinha de voo, Quadribol e selvageria de Cesc estavam muito interessados em agredir aqueles pobres pedaços de madeira.

Scorp ouviu um último estalar e até pensou que tinha acabado de quebrar a coluna de tanto se alongar, mas Marco urrou de alegria, machado para cima, como se realmente tivesse feito algo relevante.

O loiro olhou curioso para o resultado do colega de casa do sexto ano, mas Cameron continuou sua incessante série de golpes aleatórios do outro lado, até que meio minuto depois se deu por satisfeito também, pondo o machado para baixo, limpando o suor da testa com o dorso da mão. O goleiro troglodita finalmente se pronunciou.

— Está vendo, Mitchell, o que quer que seja o material de que é feito um grifinório, não dá para competir com isso aqui! — Marco falou arrogante, apontando para seu bíceps, soando um pouco como o primo, ex-artilheiro da Sonserina e da Seleção de Hogwarts.

— O desafio nunca foi sobre terminar de partir um tronco ao meio mais rápido e sim sobre terminar de fazer um remo! — O grifinório retrucou desdenhoso, se apoiando no longo cabo de seu machado. — E então, Malfoy, qual dos dois remos você escolheria para seu barco, o meu ou essa armadilha de farpas que Habermas fez aí?

Ah sim, o momento para o qual foi chamado chegou.

Scorp levantou de seu privilegiado tronco caído na beira do lago, de costas para o bosque macabro que rodeava todo o terreno do lado leste da propriedade do Instituto escandinavo de bruxaria.

Colocou as mãos nas costas numa postura de avaliador e foi checar os trabalhos, começou pelo de Cameron.

— Boas proporções de cabo e pá, mas a pá está um pouco maior no lado direito. — Scorp apontou o defeito, mas Cameron dispensou a crítica com um balançar de mão.

— A minha é uma pá de remo tipo cutelo, ela realmente é maior de um lado do que do outro. — O grifinório falou confiante, mas Scorp sorriu cínico.

— Boa tentativa, Mitchell, mas eu sei o que é um remo cutelo: a extremidade deveria ser duas vezes maior de um lado do que do outro e o cabo deveria ser mais curto. — Scorp falou com segurança, porque todos os alunos tinha aulas práticas de navegação básica, querendo ou não e ele era do tipo que lia todos os livros indicados pelo professor finlandês.

— Se ferrou, otário! — Marco comemorou, mas ficou sério quando Scorp trouxe seu olhar aguçado e cara de quem tinha detectado algo podre no ar para o seu pobre remo.

— O que é isso, Habermas?

— É um remo macon, senhor... Quero dizer, qual é, Malfoy? As proporções estão todas certas, pode conferir! — O sextanista falou na defensiva, cruzando os braços de uma maneira que a lâmina do seu machado ficou praticamente descansando prestes a cortar seu tendão de Aquiles.

Scorp aceitou o desafio e usou o feitiço de medição que aprenderam provavelmente no primeiro ano, na aula de Transfiguração. Sim, as medidas batiam com as especificações do manual, mas o acabamento era provavelmente a coisa mais medonha em que o loiro já tinha posto os olhos, parecia que estava vendo o graveto que o cão de Hades tinha usado para espalitar os dentes no Tártaro!

— As medidas conferem, mas você usaria essa coisa para remar? Sério? Ia colocar essa madeira cheia de ranhura e porosa na água, para absorver toda a umidade do mundo e sua pele em contato com essa alfineteira, para ser arranhada e furada? — Scorp usou o mesmo tom que Cesc usava quando queria fazer um dos jogadores da seleção pedir desculpas pela audácia de ser estúpido em sua presença.

Era um excelente tom de voz.

— Todo mundo sabe que um remo não está completo até ser lixado e polido, Malfoy! — Marco falou sem se intimidar, afinal tinha quase a mesma altura - e era mais largo - que o quintanista e estava certo. — Pelo menos o meu tem o tamanho certo.

— Tamanho não é documento, ainda mais se a coisa grande for inútil... — Cameron sussurrou desdenhoso, mas calou a boca assim que Scorp o ameaçou com o olhar.

— O remo dos dois é uma desgraça, não, melhor: vocês dois são uma desgraça para o nome de Hogwarts! — O loiro falou isso apontando para os dois garotos mais velhos. Marco fez uma careta para agressão gratuita e Cameron só revirou os olhos para a idiotice toda. — Como ousam me tirar do meu descanso para ver essa vergonha? Eu sou o número 52 dos duelos marciais, qual posição vocês acham que vão conseguir no ranking de navegação com essas “obras de arte”?

Os dois sextanistas encararam Scorp com olhares confusos, mas o garoto estava muito chateado, afinal, a maioria dos alunos de Hogwarts estava sendo alvos de chacotas por serem considerados fracos e pouco aptos para, bem, viver no mundo real, segundo os Durm.

Não precisavam de mais evidências do fracasso da sua delegação!

— Malfoy, não tem um ranking de navegação. — Marco apontou ainda de cenho franzido, duvidando da sanidade mental do garoto que eles haviam convidado para ser o juiz de uma simples competição entre amigos.

— Não tem?

— Não, cara, como se rankearia algo assim? Tipo “quem fez o remo mais bonito?” ou “qual dos dois tem melhor resultado na água?”? Ganhar uma corrida de barco vai além de ter um bom remo e não é o que a gente faz em navegação avançada, de qualquer jeito. — Cameron explicou com paciência.

— Como vocês fazem para ganhar valores nisso aí então? — Scorp perguntou com um toque de “ew, que perda de tempo!” e os dois garotos se entreolharam antes de responder.

— Os professores dão valores para quem faz as coisas certo, responde as perguntas e essas coisas, é muito parecido com os pontos que a gente ganha e perde lá em Hogwarts, na verdade. — O grifinório respondeu calmamente e Scorp respirou fundo - talvez Rebeca estivesse certa, ele estava ficando obsessivo com essa coisa de ranking e valores - mas ele não admitiu em voz alta, claro.

— Certo... De qualquer forma, não posso declarar um vencedor antes de ver o resultado final, porque essas duas porcarias que vocês apresentaram são apenas um desperdício de uma boa madeira. — Os sextanistas resmungaram e estavam prontos para jogar aquele moleque convencido na água gelada do lago, mas Scorp ainda tinha uma cartada final. — Vocês não queriam saber qual dos dois era o melhor?

Pronto, relembrar a competição Grifinória versus Sonserina ou melhor, Mitchell versus Habermas foi mais do que o suficiente para fazer os dois garotos mais velhos correrem até o barracão de ferramentas atrás da melhor lixadeira de todas!

Scorp suspirou aliviado, até ouvir uma voz conhecida atrás de si.

— Se eu fosse você, faria eles prometerem que o vencedor irá impedir o derrotado de ir atrás de uma retaliação para cima do juiz. — O setimanista da Sonserina esperou o herdeiro Malfoy se virar completamente antes de terminar o raciocínio com um sorriso inocente. — A água do Lago é bastante gelada, ouvi dizer.

— Macmillan. — Scorp cumprimentou uma das lendas de sua casa, um metamorfomago com fama de perigoso, que hoje usava uns olhos felinos amarelos, em fendas por causa da claridade do sol refletida no lago. — Há quanto tempo está aqui?

— Acabei de chegar. — Ele ampliou ainda mais o sorriso ante o olhar de desconfiança de Scorp. — O quê? Acha que eu adquiri a maravilhosa habilidade de ficar invisível? Estou lisonjeado com o elogio implícito, mas não, ainda sou um mero mortal.

Scorp fingiu que acreditava no garoto de 17 anos, porque a outra alternativa era crer que Christopher Elliot Macmillan tinha finalmente conseguido usar suas habilidades de metamorfomago fã de Animagia para seus esquemas pouco respeitáveis.

— Certo... Mas no que posso ajudá-lo? — Scorp perguntou educado e Chris - como o sonserino gostava de ser chamado por sua vítimas, ou melhor, colegas de escola - acompanhou Malfoy até o conjunto de tocos de madeira de meio metro de altura.

Ambos se sentaram como se fossem tratar de negócios importantes em um escritório elegante e não na borda de um bosque sombrio e assustador, provavelmente infestado de criaturas das trevas.

— Então, Malfoy, ouvi dizer que você está indo muito bem lá na arena de duelos... Dizem que uma boa parte se deve ao seu grande esforço... Parabéns por isso. — O garoto gesticulou teatralmente para o seu ouvinte, mas depois continuou o monólogo. — E que os outros 90% se devem a sua brilhante treinadora: Arthuria Arrhenius.

Ah, aí estava, o novo interesse de Macmillan, Arthuria, afinal, em todos esse anos estudando na mesma escola e dividindo os mesmos aposentos comunais na Sonserina, o setimanista nunca tinha dado um segundo olhar para Scorp ou para qualquer um de seus amigos, na verdade.

— Arthuria não está aceitando outros pupilos, ela meio que abriu uma exceção para mim e para Rebeca, então boa sorte tentando convencê-la a te treinar... — Scorp falou com uma diversão perversa, afinal, uma serpente venenosa como Macmillan podia muito bem lidar com a frustração de vez em quando.

— Eu sei disso, Malfoy. Ela não liga para dinheiro, fama, favores sexuais... Ela é muito difícil de agradar. — O garoto mais velho falou tudo isso enquanto brincava de transformar seus dedos em chaves de diferentes tamanhos, formas e materiais.

Chris adorava contextualizar a conversa com sua magia impressionante.

— Se você tiver chegado em Arthuria prometendo dinheiro, fama e sexo, não devia ficar surpreso dela ter te dito um belo não! — Scorp agora estava realmente se divertindo, embora Macmillan agisse como se tudo ainda estivesse correndo dentro do plano.

— Eu nunca troquei uma palavra com a garota! — O metamorfomago respondeu ofendido com a insinuação deselegante, mas depois voltou a sorrir charmoso. — Há mais de uma maneira de descobrir o que eu quero e é por isso que eu estou aqui falando com você nessa aprazível manhã: como eu me aproximo da caçulinha dos Arrhenius?

— Como uma pessoa normal, imagino.

— Que chato.

— Desculpe mas é tudo que tenho a dizer para te ajudar. — O garoto mais novo deu de ombros, não verdadeiramente interessado em dar qualquer alento que fosse ao outro. Macmillian que se virasse - e de preferência fracassasse - sozinho. — Mas boa sorte com sua missão impossível aí.

Deu as costas para o meliante, sem esperar para ver sua reação e também sem espera os dois brutamontes que achavam que podiam produzir remos de qualidade sem ter algum vestígio de sanidade no cérebro.

Se a equipe de navegação tinha algum lema ou ditado, deveria ser algo como “uma lixadeira, por melhor que seja, não pode salvar um remo malfeito” e isso se aplicava ali:

Um plano, por melhor objetivo que esteja por trás, não pode salvar crianças insanas do fracasso. E o pior de tudo é que o plano de Macmillian de conquistar Arthuria nem tinha bons objetivos, para começar!

Scorp pôs as mãos no bolso da calça de corte militar por força do hábito. Essa tarde ele usava a túnica de Durmstrang debaixo de um casaco pesado, porque os ventos do inverno nórdico já começavam a varrer as ruas da pacata vila que rodeava as instalações da escola.

Entrou na vila pelo portão Leste, onde ficavam os boticários e agricultores em geral. Era a zona mais movimentada e barulhenta, porque os feirantes da região se aglomeravam ali para vender suas ervas, verduras e flores mágicas, mas o sonserino gostava, porque também era o local onde se encontravam os melhores ingredientes para poções.

Parou em uma das lojas ao avistar Svetlana saindo com uma pequena cesta de ervas, cheirando um raminho de alecrim fresco, de cenho franzido em concentração. Esperou até que ela o alcançasse, para voltarem para a escola juntos.

— Achou alguma coisa boa? — Perguntou interessado. A menina do terceiro ano recolocou o raminho de volta na cesta, antes de responder.

— Estão esperando um bom carregamento de ervas para a semana que vem, então peguei apenas algumas bases. Vou começar meu processo de extração do inverno com alecrim e melissa, que de certa forma são a assinatura da minha família no mundo das essências.

— Seu irmão também usa essas duas ervas? — Scorp perguntou só metade interessado, vendo uma das criaturas mágicas postas a venda fugindo de sua jaula tão rápido, que nem dava para ver do que se tratava.

— Ele usa, mas a minha proporção de óleos é diferente e eu evito os minerais, então... — Ela deu de ombros, com superioridade, Scorp sorriu para o convencimento da garota, que realmente se achava melhor do que o irmão. — Mas falando em base, soube que as cartas de aceite do time oficial de Poções na natureza chegam hoje.

— Sim, chegam hoje, mas como você sabe disso? — O garoto perguntou desconfiado, colocando uma mecha do cabelo muito claro de volta no lugar, o vento estava vindo forte agora que tinham passado pela rua principal do Portão Oeste.

Haviam cruzado a vila toda, em direção a arena, do lado oposto do lago Scandza.

— Eu me inscrevi como escudeira, você sabe, aquela pessoa que a equipe pode acionar ao longo da competição. — A garota falou como se não fosse nada demais, mas era uma boa notícia.

— Espero que eles te aceitem, porque você é uma especialista em extratos bem melhor do que aquela Vronsky estranha, do sexto ano. — Falou com uma careta, lembrando da garota que parecia fazer seus extratos base somente para poções das Trevas.

— Cuidado com o que diz, a loja do pai dela fica nessa esquina. — Svetlana apontou para um letreiro em runas antigas, que logo se transformaram em um sombrio “Empório do nevoeiro”. Talvez fosse algum feitiço da placa, mas Scorp sempre sentia arrepios quando olhava para ela. — Vocês caipiras são engraçados... Não gosta de coisas das Trevas, Malfoy?

— Minha família já teve sua cota de artefatos dessa linhagem, mas a gente tem tentado se manter no lado da Luz agora, sabe como é, né? — Ele falou divertido, mas a terceiranista o olhou com o cenho franzido.

— Não, não sei não.

Scorp deixou o vento assobiar pela entrada com canos e tubos, que simulavam a saída sonora de instrumentos primitivos, da taberna mais animada da vila.

Já tinha ido beber uma ou duas cervejas amanteigados batizadas com vodka ali, nas “Nuvens de Valhala”, depois de uma aula particularmente difícil.

E as aulas de Artes das Trevas estavam no topo do ranking de aulas que mais davam dor de cabeça para os alunos de Hogwarts em Durmstrang, porque a escola tratava tudo com normalidade.

Como ele poderia começar a explicar a Svetlana os significados negativos que as artes das Trevas tinham em Hogwarts?

— Artes das Trevas não são bem vindas lá no Reino Unido, mas de qualquer forma, há muito tempo minha família não se envolve com isso. — Não fazia tanto tempo assim, mas a fama dos Malfoy chegara diluída em Durmstrang e Scorp preferia desse jeito. — Mas não vem ao caso, porque nesse exato momento a gente precisa saber o que a família Arrhenius está aprontando.

— Como assim?

— Deixei Rebeca treinando com eles, mas talvez ela já tenha pego as correspondências, visto o resultado da seleção de Poções e... — Ele falou, deixando o resto do palpite no ar. Achava que o currículo dele e da namorada eram bons o suficiente para lhes garantir duas vagas na equipe, mas nunca se sabe.

— Às vezes você não faz o menor sentido, caipira, mas vamos para a arena ver os Arrhenius. — Svetlana falou com condescendência, assobiando para um par de garotinhos briguentos mais a frente. Eles a atenderam com curiosidade nos olhos infantis. — Levem esse cesto para a estufa de extração, bancada de Khodchenkova.

Ela transferiu alguns valores para a dupla, que agarrou o cesto de ervas e correram vila acima. Svetlana liderou o caminho até a arena, cujo telhado com pé direito alto se destacava orgulhoso, em direção aos campos de lavanda no oeste da sede de Durmstrang.

A arena estava cheia, como sempre, zunindo com aquela energia de muitos lutadores aglomerados no mesmo ambiente. O ranking ainda brilhava majestoso em seu lugar e alguns feitiços cronômetros brilhavam sobre as cabeças dos duelistas nos tablados oficiais.

Alguns espectadores cumprimentaram Scorp com respeito e Svetlana com reverência, afinal, eles eram protegidos do clã mais poderoso dos tablados e a garota fazia parte do top 20 do ranking.

Aquela deferência fazia bem para o ego de Malfoy, mas ele preferia fingir que não estava se acostumando com os olhares de admiração dos colegas Durm, porque seria algo a mais para sentir falta quando voltasse a Hogwarts.

Finalmente avistou Rebeca em posição tradicional de duelo mágico, com a varinha a postos. O grandalhão Alec Hans a circundava com um olhar avaliativo. Ele murmurou algo, fazendo a menina assumir uma posição de guarda, mas a chegada do namorado a distraiu um pouco do exercício.

Alec Hans cruzou os braços, esperando os forasteiros alcançarem seu campo de treino, com uma expressão indecifrável. Svetlana demonstrou desconforto com a interrupção causada por sua chegada, mas Scorp não parecia afetado pelo humor taciturno do campeão da arena.

— Suas posições de feitiço estão cada vez mais afiadas, Beca, acho que Arthuria está certa, esse é seu forte. — Ele falou a título de cumprimento, dando um selinho na namorada. Alec o olhou com seriedade.

— Onde está seu traje de treino, Malfoy? Minha irmã deu a entender que eu iria dar lição de feitiços para os dois. — O rapaz era intimidador, mas fora da arena Scorp até que se garantia, então sorriu com menos cuidado do que o usual.

— Não vou participar dos exercícios de hoje, estou ocupado resolvendo alguns assuntos de casa. — Ele se virou para uma Rebeca desconfiada, porque aquilo cheirava a desculpa esfarrapada. — Falando nisso, as cartas de aceite chegaram, Beca?

Dessa vez a garota sorriu radiante, colocando a varinha no coldre da coxa, buscando algo na bolsa que havia deixado junto ao tablado. De lá puxou um pequeno maço de cartas, duas idênticas, com o selo azul celeste da equipe de Poções na Natureza de Durmstrang e uma terceira sem remetente.

— Não tive coragem de abrir as cartas, mas elas parecem pesadas, então devem trazer boas notícias. — Rebeca falou ansiosa, empurrando tudo nas mãos de Scorp. — Abre logo, vê aí o que diz!

— Ficarei satisfeito caso seus objetivos com as Poções finalmente se realizem, mas o meu tempo não é tão disponível quanto parece. — Alec os lembrou, dando vida a um boneco de treino, o convocando para si. — Vocês têm três minutos, depois disso, qualquer um que ficar neste tablado vai ter que estar disposto a levar uma saraivada de feitiços, ok?

— Vou trocar de roupa, já volto! — Svetlana falou muito além da animação, já que aquilo era o mais próximo de um convite que Alec Hans faria para ela. Correu para os vestiários, deixando os dois alunos de Hogwarts a olhando com diversão.

— Certo, vamos ser rápidos então... Abre o meu envelope, que eu abro o seu. — Scorp devolveu a carta que tinha seu nome para Rebeca, equilibrando o terceiro e misterioso pacote debaixo do braço, pronto para ler a carta endereçada a garota. — Preparada?

Ela fez que sim com a cabeça, então ambos abriram o lacre de cera azul juntos, tiraram as cartas dos envelopes e começaram uma busca pela palavra mágica, que esperavam a quase um mês. Rebeca foi primeira a abrir um sorriso espetacular.

— Solicitação de Scorpius Hyperion Malfoy aceita, integrante número 15 da equipe reserva de Poções na Natureza do Instituto de Aprendizagem Mágica Durmstrang! — Ela falou e sacudiu a carta na frente dele, empolgada. Ele ainda estava lendo a sua, concentrado. — E a minha? O que diz a minha, Scorp?

— Sinto muito, amor... Eles viram aquela sua demonstração de improviso em Poções e acharam que você era digna apenas... Da sexta posição da equipe titular! — Depois do suspense, Scorp praticamente gritou a boa notícia para a namorada. A garota pulou empolgada, porque não esperava entrar na equipe titular assim, de primeira. — Parabéns, Beca! Eles te colocaram no top 10 do ranking, você tem noção do que isso significa?

Ela ainda estava abobalhada pelo reconhecimento dos Durm, porque no dia que ela e Scorp tiveram que apresentar suas habilidades para os cinco melhores colocados do ranking, todos eles haviam feito expressões de entojo diante de sua demonstração.

Ao que parecia, essa era a forma deles de demonstrar admiração, porque ela havia sido colocada na primeira posição fora da realeza de Poções da escola, dentro da equipe titular provisória, que poderia ser aquela que iria enfrentar os adversários no campeonato internacional!

— Vocês têm mais um minuto de conversa, Malfoy. Recomendo que saia do meu tablado, se não vai participar do treino, com ou sem uniforme. — Alec disse com tranquilidade, enquanto enrolava os punhos em tiras de pano escuro, com alguns símbolos desenhados. Rebeca o olhou alarmada, reconhecendo os preparativos e ele lhe deu um sorriso mínimo. — Não se preocupe, não é tão ruim quanto dizem os boatos.

— Pelos lobos de Odin, você vai trazer os fantoches para a arena?!?! — Svetlana surgiu do nada e parecia que estava diante da aurora boreal, tamanho era seu encantamento com a notícia.

— Trarei apenas um e não será tão perigoso quanto os de meu pai. — O setimanista falou, com simplicidade. Agora ele estava prendendo a base de sua varinha a uma corrente, que passou pela cabeça, até o objeto pender sombriamente sobre o peito, próximo do coração. — Mas eu não esperaria clemência de um fantoche.

O sarcasmo de Alec finalmente fez Scorp dar alguns passos para trás, fora do tablado do garoto. Rebeca e Svetlana se entreolharam assustadas, a terceiranista estava empolgada também, então o mais velho dos quatro se colocou em posição de ataque, sendo imitado pelo grande boneco, com algumas marcas de feitiços espalhados pelo corpo.

— Isso não tem como acabar bem...

Scorp resmungou para si mesmo, assistindo as duas garotas se colocarem em posição de defesa, começando a receber ataques de um boneco feito de metal com revestimentos de espuma e talismãs mágicos, que rebatiam feitiços e aumentavam o poder de ataque do fantoche.

Alec agia como o mestre titereiro, embora seus movimentos fossem simples e nem de longe dessem pistas sobre quais golpes sua marionete iria usar. As meninas desviaram de um feitiço de repulsão, que quase atingiu o garoto loiro fora do tablado.

Essa foi a deixa para Scorp sair das proximidades do campo de treino, onde alguns colegas menos cautelosos já se aglomeravam para ver o espetáculo que era um treino liderado por Alec Hans.

O garoto do último ano não costumava liderar treinos, ponto, então até mesmo uma série de abdominais seria interessante para os colegas, logo uma demonstração da técnica de fantoches desenvolvida pelo patriarca do clã Arrhenius era um presente de Natal antecipado para todos.

Scorp se sentou na arquibancada mais próxima, de frente para um dos duelos marciais oficiais que aconteciam, agora com bem menos público.

Iria esperar Rebeca acabar de sair da beira da morte antes de irem comemorar a classificação para a equipe de Poções. Alec deveria se cansar de torturar as menina em uma ou duas horas.

Resolveu abrir a terceira carta, aquela sem remetente, porém já sabendo bem do que se tratava. Cesc havia avisado que iria enviar algumas evidências novas sobre o mistério da profecia de Uagadou, então o garoto olhou ao redor, para ver se não tinha algum colega bisbilhoteiro de Hogwarts por ali.

Puxou o primeiro maço de folhas com algumas fotos trouxas de trechos de poções. Iria investigar os ingredientes, enquanto Rebeca avaliava o passo a passo das preparações, provavelmente  juntos conseguiriam determinar ao menos a categoria daquelas poções.

A terceira foto que ele viu,  no entanto, confirmou a suspeita de Enrique, porque Scorp tinha que concordar, aquela era mesmo uma poção de sangue. Os sinais eram óbvios, não precisava de muito estudo para ver.

Começaria a investigar por aquela, já que os indícios sugeriam um enfraquecimento de laços sanguíneos, ao invés de fortalecimento, mas não tinha como ter certeza só com aquele trecho e sem investigar a fundo todos os ingredientes.

Alguns eram desconhecidos até para ele, o que significava dizer que não faziam parte da tabela NIIP e isso geralmente indicava poções das Trevas ou de águas internacionais.

Não era um bom prelúdio, afinal haviam encontrado isso na casa de um insectologista francês, que não tinha motivos aparentes para ter algo com essa complexidade em suas mãos.

Colocou as fotos ao seu lado no banco, aplicando um feitiço para que elas não voassem com o vento cheirando a lavanda que dominava a arena, então se pôs a investigar o restante dos itens que Cesc havia enviado.

Havia ainda um papel dobrado, que deveria ter quase um metro de altura e largura, Scorp só precisou desdobrar um pouco para saber que se tratava de uma réplica do quadro de Weasley, com todas as ligações e informações que tinham colhido sobre a profecia até agora.

Deixaria para analisar tudo quando estivesse com Rebeca e longe de olhos curiosos, então acrescentou a dobradura a pilha de papéis ao seu lado. O último item era um pergaminho enrolado, que, pela grossura, devia ter mais de 45 centímetros de carta, cheias de instrução.

Cesc não quis adiantar o conteúdo da missiva, então Scorp estava bem curioso para saber do que se tratava. Pulou a parte que explicava as fotos, porque não havia nenhuma informação relevante, só palpites tão válidos quanto qualquer coisa sem comprovação que ele pudesse pensar, depois se deteve na explicação do quadro.

Aquela era um cópia enfeitiçada, que iria se atualizar a cada item adicionado por Segundo ao quadro original. Scorp olhou para o papel dobrado com renovado interesse, porque esse tipo de feitiço era muito poderoso, Weasley tinha uma capacidade incrível de usar a transfiguração de formas bem criativas, tinha que admitir.

Por fim, leu as instruções de Cesc sobre a pista que haviam descoberto com os pais de Carl “Dolus" Sagan, sobre sua apresentação de circo em alguns dias na escola de magia russa. O pessoal da França queria que ele e Rebeca dessem um jeito de ir até Koldovstoretz, ignorando o fato de que eles não tinham permissão para sair da vila!

O sonserino passou a mão pelos cabelos claros, exasperado. Concordava com Cesc que ele e Rebeca estavam um pouco distantes da ação, mas não tinha como simplesmente dar um jeito de sair da escola, afinal os escandinavos não eram exatamente conhecidos por serem tolerantes e compreensivos, as regras aqui eram severas e deviam ser cumpridas.

Apoiou os braços nos joelhos em uma posição derrotista, porque Cesc tinha razão, ele e Rebeca precisavam dar um jeito de conseguir ir até a Rússia, bem próximo de Durmstrang de trem, já que o espanhol tinha invadido uma casa na França, mesmo com sua ficha já suja internacionamente.

Inconveniência por inconveniência, nenhum dos amigos nunca colocavam dificuldades quando tinham que realizar um trabalho importante, não seria ele que teria permissão para começar com isso.

Scorp suspirou pesado, porque Cesc daria seu jeito - louco e potencialmente perigoso - e Tony não perderia seu tempo temendo e se apegando às dificuldades, já estaria planejando algum plano terrível para solucionar o impasse.

Às vezes gostaria muito de ser mais como os amigos...

— Senhor Malfoy, espero que esses ombros caídos e essa expressão desolada tenha algo a ver com o fato de ter me deixado falando sozinho há alguns minutos. — Macmillian havia sentado preguiçosamente ao seu lado, de uma forma que o garoto nem tinha se dado conta, até que o outro abriu a boca. — Já mudou de ideia quanto a me ajudar?

— Por que acha que eu mudei de ideia? Você continua sendo você e Arthuria continua sendo Arthuria, ela não vai te dar abertura só porque eu falei em seu favor. — Scorp falou irritado, já sem paciência para Chris, que era tão inconveniente quanto o gênio da lâmpada de Cesc quando queria alguma coisa.

— E quanto aquele grandalhão ali? Ele me daria abertura? — O metamorfomago falou com um sorriso malicioso, então Scorp levantou uma sobrancelha suspeita para ele, percebendo a quem ele se referia.

— Já mudou o alvo? Nossa, você é bastante volúvel mesmo, hein? — Scorp falou com crueldade. O sonserino mais velho o olhou ainda ostentando um sorrisinho arteiro, mas então cruzou as pernas e assistiu Alec Hans orquestrar mais um ataque perigoso de longe.

— Não iria depor contra mim mudar o favoritismo, todos os Arrhenius parecem extremamente satisfatórios na cama, mas não, dessa vez só estou propondo um caminho mais tortuoso para atingir o mesmo objetivo. — Ele concluiu charmosamente, dando de ombros. — Ainda quero Arthuria.

— E eu ainda quero ir para a Rússia, então já que nenhum de nós pode ter o que quer, melhor você dar o fora daqui, antes que eu te mostre o quão boa é a técnica de treinamento de sua musa inspiradora. — Scorp ameaçou, mas sabia muito bem que sujeitos como Chris Macmillian não se intimidavam tão facilmente.

— Por que você não pode ir a Rússia? — Chris ignorou a ameaça, fazendo uma pergunta que chamou a atenção de Scorp de um jeito estranho. O garoto não havia perguntado “por que quer ir a Rússia?” ou um "quem disse que não posso ter Arthuria?", que era o esperado nesse caso.

O metamorfomago não era conhecido por fazer o que era esperado, verdade fosse dita.

— Essa é a pergunta mais idiota que você poderia fazer! Não posso ir a Rússia, porque não tenho permissão dos meus pais para sair da escola! — O garoto loiro falou com impaciência e resolveu acrescentar mais informações, antes que o outro perguntasse. — E não, não dá para pedir autorização a meus pais, não que seja da sua conta, de todo modo.

— Draco Malfoy... — Macmillian saboreou o nome na língua, como se pessoas tivessem gosto e ele aprovasse o sabor do pai de seu colega de casa. Scorp o encarou com o cenho franzido, porque aquela reação do outro não fazia o menor sentido. De novo. — Dá para ser feito.

— O que dá para ser feito, seu doido? Do que inferno você está falando? — O garoto loiro olhou para o metamorfomago como se ele tivesse perdido o juízo de vez, mas ele abriu um sorriso radiante mesmo assim.

Sorriso que tinha mais dentes do que o esperado para uma boca humana, claro.

— Você não precisa de uma permissão de seu pai, se ele vier aqui pessoalmente te buscar, correto? — Chris falou bem empolgado e Scorp o olhou sem entender, quando estava prestes a mandá-lo sumir de sua frente, o ex-goleiro da seleção e atual duelista mágico percebeu a implicação daquelas palavras.

— Você está insinuando que pode...

— Não estou insinuando nada, estou afirmando: me coloque entre os Arrhenius e eu te levo para a Rússia, Malfoy. — Dessa vez o herdeiro improvável de uma família de lufa-lufas falou sério, com um olhar de quem havia conseguido um trunfo infalível brilhando nos olhos de felino.

Aquilo não era justo, Scorp pensou inconformado, porque habilidades como metamorfomagia não deveriam ser dadas a pessoas tão maliciosas quanto Chris Macmillian, mas ali estava ele, sendo obrigado a apertar a mão em um acordo potencialmente problemático com aquela criatura que fazia jus a fama dos sonserinos mais implacáveis.

— Te darei uma chance com os Arrhenius, mas esse é todo o acordo que teremos na vida, Macmillian, ok? — Scorp disse mal-humorado e o garoto apertou sua mão com um sorriso malicioso novamente.

— Hum... Nah! A vida é muito longa e o mundo é muito pequeno para fazermos promessas definitivas, Malfoy. Te darei o que você quer e você me dará o que eu quero e o futuro... Pertencerá somente ao futuro. Que tal?

Scorp preferiu não argumentar com essa lógica ridícula, afinal tinha conseguido uma forma de sair da escola para cumprir sua parte dos trabalhos do Ocaso, depois veria como lidaria com aquela serpente de sua casa.

— Feito.


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Notas finais do capítulo

Opiniões apresentadas nesse capítulo não refletem a realidade ou o que a autora acha sobre os personagens, ou seja, toda vez que Scorp xinga um amiguinho - Marco, Cameron ou Chris - não significa que é a única versão deles que existe, baixem as varinhas, Jweek e Mircy!

Bjuxxx



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