Quadras escrita por Alisson França


Capítulo 12
Moletom


Notas iniciais do capítulo

Quer logo ver o que vai rolar com a Roberta? Sinto informar que vai ter que esperar mais um pouquinho, mas se serve de consolação, tem uma leve putaria nesse capítulo.
ХЛЕБ – Сом



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A ultima semana de aula do período sempre mexia com os estudantes da UERJ. Era uma época de bastante estresse devido às provas e aos seus respectivos resultados. Era comum também nesses últimos dias a realização de chopadas no Bar da Frente, um bar que ficava de frente para a faculdade (dã!). Lune e José se arrumavam para ir para uma dessas chopadas, mas antes, o jovem se sentou na cama para verificar as suas notas finais no site da faculdade. Felizmente, Lune havia passado direto em todas as matérias, o que teoricamente o deixaria aliviado, mas não foi o que aconteceu.

Estava feliz com a aprovação é claro, mas um sentimento de desconforto o consumia e ele nem sabia porque. Ele fechou o notebook e o pôs no chão, então se encostou na cabeceira da cama e, apesar de o colchão ser confortável, não conseguiu relaxar. Lune respirou fundo e ficou ali em silêncio uns instantes, já sabia o que aconteceria a seguir. Roberta surgiu ao seu lado na cama, visivelmente desconfortável.

“Não consegue relaxar, não é?”

“Eu to tentando dormir no cimento né porra.”

Lune riu de leve “Compreensível.”

Roberta respirou fundo e ficou encarando o nada por uns segundos “Eu não consigo parar de pensar nos meus irmãos.”

“Eu sei.” Lune tentou a olhar nos olhos, mas a menina se esquivou do gesto.

“Rafael pode se cuidar sozinho, eu sei disso. Mas Baco, Miguel e Sergio? Eles estão ferrados seja lá onde estiverem. E se algum deles for visitar a mamãe e estiverem sendo perseguidos o pessoal da Cova da Moura vai saber onde ela está.”

“Vem cá.”

“O que?” Roberta trancou o olhar em Lune.

“Você precisa relaxar, vem aqui. Eu te faço um cafuné.”

A principio Roberta estranhou a proposta, mas logo viu (e sentiu) que Lune não tinha senão boas intenções naquela situação. Ele estava genuinamente preocupado com Roberta, algo que ela nunca experimentou em sua casa, pelo menos não desde que sua mãe se mudou para o hospital. Ela se arrumou meio sem jeito e Lune a acolheu com os braços de forma que ela ficasse com a nuca no peito do jovem. Nesse momento José apareceu com uma toalha amarrada na cintura e outra menor envolta na cabeça, tinha acabado de sair do banho.

“Com quem você tá falando?”

“Roberta, esse é meu melhor amigo, José.” Lune apresentou.

“Mesmo se eu disser um oi ele não vai ouvir.” Ela falou, já afundando nos braços do irmão de cluster.

“Ela disse oi.” Lune informou o amigo.

“Essa é a menina de Portugal não é?”

“A própria. Que horas é a chopada mesmo?”

“Você tem uma hora.” Ele disse indo para o próprio quarto, não antes dando um tchauzinho para Roberta, mesmo incerto de para onde olhar.

“Eu consigo sentir o seu amor por esse garoto.” Roberta apontou.

“Vai se acostumando.” Lune riu “Isso vai acontecer o tempo todo.”

Roberta riu de leve e, sem perceber, fechou os olhos. Lune lhe fez um cafuné num ritmo lento e quase dormiu junto com a irmã. Ele só ficou ali aproveitando a presença de Roberta já adormecida mais ou menos meia hora, quando José entrou no quarto novamente, agora já vestido.

“A Roberta ainda ta aí?”

“Ela tá dormindo.”

“Como é a sensação?” José não sabia exatamente como verbalizar o que tinha na cabeça.

“De estar com uma garota portuguesa no meu colo aqui e no topo de um prédio de Amadora ao mesmo tempo? Incrível!” os dois riram juntos e Lune ouviu a voz de Anna.

Depois de conversarem um pouco e até de provarem um chá russo Lune voltou para casa e se aprontou bem rapidinho. Com dez minutos de caminhada ele e José já estavam no Bar da Frente, isso sete da noite. Na esquina já era possível ouvir a musica e os dois amigos chegaram bem animados no local. O bar era pequeno, quente e barulhento, qualquer pessoa sóbria sairia de lá imediatamente. Pra sorte dos presentes, porém, ninguém estava sóbrio. Assim que chegaram, José e Lune compraram uma catuaba e dividiram.

Lune não era o tipo de pessoa que bebia muito, mas ele também não bebia pouco. Ele era o tipo de pessoa que bebia um pouco bastante. Mas estava tudo bem, pois dificilmente ficava muito bêbado, podia ficar mais solto e mais animado, mas estava sempre consciente do que estava fazendo. Tinha até orgulho de dizer que nunca deu PT! Já José não bebia tanto, gostava de ir pro bar mais para dançar e beijar na boca, duas coisas que ele fazia muito bem. Juntos os dois amigos rebolaram a raba com destreza, seguindo sempre o ritmo da musica. Não importava a ocasião, o bar sempre tocava funk, e de preferência de muita baixa qualidade. Era parte da magia do local. Enquanto Lune e José dançavam, eles foram recebidos pela organizadora da festa, a loira e rica Elô (Heloisa pros não tão íntimos assim).

 “Olá, Lune. Oi Zé!” ela os abraçou tomando cuidado para não deixar cair a sua caneca.

Elô e Lune não eram exatamente amigos, mas se conheciam bem e tinham uma relação saudável. As duas eram as pessoas mais ricas do campus, e ambas eram filhes de políticos famosos. Lune era filhe do senador Rogerinho, que era serralheiro antes de ser eleito. Já Elô era filha do senador Carlos Augusto, que antes de ser político era advogado numa firma familiar na Barra da Tijuca.

“E ai Elô? A festa ta muita maneira!” José precisou gritar para ser ouvido.

“Não tá?” ela concordou orgulhosa “Vem cá, vocês podem escolher uma musica se quiserem.”       

“Sério? Qualquer uma?” Lune perguntou.

“Claro, Lune! A gente pode fazer o que a gente quiser, a gente é rica!” ela riu.

José e Lune se entreolharam, mas resolveram ignorar o que a menina havia acabado de falar. A sua síndrome de criança rica se manifestava as vezes, mas Elô era uma boa pessoa. De qualquer forma, José pensou na musica perfeita e correu para o notebook acoplado a caixa de som. Digitou rapidamente na área de busca do spotify e logo uma musica da Lia Clark começou a tocar. Lune e os amigos aproveitaram a musica com certeza, mas, ao mesmo tempo em que ele ouviu aquela musica, uma outra parecia tocar no fundo de sua mente.

 (...)

Depois de quase uma hora de pesquisa eles guardaram notebook e o Sr. Lov serviu o almoço.  Anna notificou o tio que almoçaria na casa dos Lov por uma rápida ligação e logo se sentou na mesa com os outros dois. Durante a refeição, os três tiveram finalmente tempo para conversar dignamente sobre o que estava acontecendo. O Sr. Lov ouvia atentamente (adicionando alguns pontos aqui e ali) enquanto Aleksei fazia perguntas sobre Anna e seu cluster. A menina explicou a eles quem eram Roberta Sales, Lune Verdan e Comfrey Todd, tal como onde moravam, o que faziam e, claro, no que eram bons.

“Então o Lune sabe quando alguém está mentindo?” Aleksei perguntou.

“Sim!” Anna respondeu animada “É bizarro, ele vê pequenos gestos das pessoas que indicam que elas estão mentindo. Na verdade ele pode até dizer se alguém está com tesão!”

“Mas você só precisa perguntar oras! Vocês jovens complicam as coisas demais, depois de um tempo você só pergunta pra pessoa se ela quer transar.” O Sr. Lov apontou, fazendo Anna rir.

Aleksei ficou bem sem graça e logo tentou mudar de assunto “E a Roberta tem mãos leves, isso é bem útil.”

“E ela dança muito bem!” Anna completou.

“E Comfrey sabe fazer uma penca de coisas, essa parte eu entendi. Mas você também disse que ele sabe atirar, só não muito bem.”

“É, não é como se ele tivesse usado a pistola dele muitas vezes. Porque?”

“O Makar disse uma vez em uma carta que ele o seu cluster procuravam sempre se tornar os melhores no que eles sabiam fazer, para o caso de eles terem algum problema. O que é bem recorrente na vida deles na verdade.”

“Você ta sugerindo que eu e o meu cluster façamos isso também? É uma ótima idéia!”

Eles terminaram a refeição e Anna se despediu dos Lov, o pai de Aleksei reafirmando que eles estavam ali para ajudá-la como ela precisasse. A menina agradeceu o apoio e se pôs a correr pelas calçadas, escalando murros e pulando corrimões enquanto pensava no conselho de Aleksei. De repente, durante a corrida, a lembrança de que Danila fez aulas de auto defesa lhe atingiu a mente como um raio, a fazendo tropeçar por um segundo. Recuperando a postura ela pegou o celular no bolso, mas logo se lembrou da ultima vez que viu Danila, e como ele tentou ligar para ela e deixou mensagens pedindo explicações. Anna queria pedir aulas de auto defesa para o homem, mas, para isso, teria primeiro que se explicar.

Ela respirou fundo e fez a ligação, mesmo receosa. Danila demorou a responder, decerto estaria almoçando ou algo assim. Quando finalmente atendeu, ele ficou uns instantes em silêncio, sem saber o que esperar de Anna.

“Estou ouvindo.” Ele disse meio apreensivo.

“Ah, oi Danila! Eu queria saber se poderíamos conversar. Você está em casa?”

Ele se apressou a responder, claramente calculando mentalmente quanto tempo levaria para limpar pelo menos a sala de estar e o quarto. “Estou sim! Você pode vir pra cá em... ãhn vinte minutos?”

“Perfeito!” Anna desligou o telefone sem ouvir a resposta.

A garota alisou a testa um tanto preocupada com a situação, mas já era tarde pra arrependimentos. Anna voltou a correr, mas agora em direção a casa de Danila, chegou lá em mais ou menos em vinte minutos, aparentemente ele havia calculado bem. Ela bateu na porta e ouviu os passos de Danila andando pela casa. Ele a saudou com uma calça de moletom e uma camisa simples, e Anna nem precisou de Lune pra saber que ele estava doido pra transar. O que, se tratando de Danila, era sempre uma ótima opção. Ele a chamou para entrar enfatizando há quanto tempo eles não se falavam (dois dias) e a sentou no sofá da sala. Voltou da cozinha com uma xícara de chá e se sentou ao seu lado.

“Gelado, como você gosta.”

“Então os vinte minutos não foram pra arrumar a casa, mas pra fazer chá. Que bonito da sua parte.” Anna sorriu meio boba, as vezes esquecia como Danila era apaixonado por ela.

Anna bebericou o chá com gosto, mas não disse nada, foi Danila quem tomou a iniciativa “Agora é a hora que você explica porque saiu correndo daqui da ultima vez?”

“Ah sobre isso?” Anna riu de nervoso “Eu não sei o que aconteceu comigo, eu acho que eu bebi demais aquele dia ou sei lá...”

“Se você não quiser mais vir aqui em casa pode falar, sabe?”

“Não, não é nada disso!” Ela exclamou “Eu quero vir aqui mais vezes com certeza, é só que...” Ela parou no meio da frase quando viu a cara de Danila. Ela havia caído na armadilha, havia dito que queria vê-lo mais vezes.

“Você admitiu” Danila encostou as costas no sofá de forma relaxada e estendeu os braços na mobília.

“Tá, eu admiti.” Anna revirou os olhos. “Mas eu não vim aqui para isso. Você fez aulas de auto defesa não é?”

“Fiz sim. Porque?”

“Eu queria que você me ensinasse.” Anna se levantou determinada.

“Mas porque isso de repente?” Danila disse, já afastando os móveis para obter mais espaço na sala.

“Ora nunca se sabe, não é?” Anna deu de ombros.

“Muito bem, primeiro eu vou colocar uma musica okay? Eu treino melhor assim.” O homem acoplou o celular numa caixa de som portátil, e deu início a aula “Muito bem, eu vou te ensinar como desviar de alguns golpes, mas não vai ser suficiente. Você precisa treinar e repetir os movimentos até eles estarem cristalizados na sua cabeça, assim você vai fazer eles sem nem perceber, sabe? Mas já é um bom começo de qualquer forma.”

Juntos os dois encenavam golpes, contragolpes, Danila dando instruções que Anna seguia com certa dificuldade no início, mas logo dominava com certo esforço. Em dado momento, Danila de posicionou atrás de Anna, simulando um enforcamento, lhe dava instruções sussurrando no ouvido, seus corpos juntos. Anna deveria ter visto isso chegando. A música parecia ditar o ritmo de seus corpos que, bem juntos, começaram a se movimentar em sincronia. A respiração dos dois começou a ficar mais pesada e, por um segundo, Anna fechou os olhos.

No segundo seguinte, Anna se viu no Bar da Frente, no Brasil. Lune dançava em meio aos outros estudantes, mas assim que viu a irmã de cluster ele parou. Eles se olharam fixamente e, conduzidos por um desejo mútuo, se aproximaram a passos lentos. É bem verdade que, desde momento que o viu pela primeira vez, Anna achou Lune muito atraente, mas havia guardado a opinião para si. Agora, porém, sentia um desejo vindo de Lune em igual proporção. Eles mantiveram as duas mãos unidas e, no ritmo da musica, seus corpos entraram em contato.

“Você está sentindo isso também?” Anna perguntou no ouvido de Lune.

Lune pegou o rosto da irmã de cluster nas mãos antes de beijá-la ardentemente “É como um tsunami.”

De volta a Rússia Danila abraçava Anna por trás, os braços fortes a envolvendo, enquanto beijava o seu pescoço e roçava o corpo definido no dela. Lune surgiu a frente de Anna a beijando na boca e acariciando seus peitos, ainda por debaixo da blusa, com as mãos. Anna se sentia entorpecida por Danila e Lune tocando o seu corpo ao mesmo tempo e com tamanha paixão e estava determinada a gozar como nunca antes, mas seu sonho se despedaçou graças a Elô. A menina tropeçou e segurou Lune pelos ombros.

“Lune, pelo amor de Deus, me leva pra casa.” Ela estava claramente bêbada.

Lune então voltou a ouvir aqueles remix do Yanescudo de qualidade duvidável (não são esses os melhores?), se tornando mais uma vez alheio ao que acontecia na Russia. Ao olhar ao redor, reparou que todo mundo estava completamente bêbado, com os sentidos entorpecidos, inclusive Elô a sua frente, e rapidamente o jovem reparou na situação em que estava, pois já esteve nela muitas vezes. Como ninguém estava em sã consciência, sobrou para a única pessoa minimamente sóbria a tarefa de cuidar dos outros. Clássico. Ele olhou ao redor, mas não viu José em lugar nenhum, então achou melhor primeiro colocar Elô num Uber antes de procurar pelo amigo.

E assim ele fez. Chamou um Uber pelo celular da Menina Rica e esperou na frente do bar, ignorando os comentários nada pontuais do alter ego embriagado de Elô. Quinze minutos depois com a chegada do carro, Lune pôs Elô pra dentro e, da carteira da garota, pagou a corrida. Explicou a situação ao motorista e deu o endereço da casa de Elô na Barra da Tijuca. De missão cumprida, ele voltou para o bar a procura de José, que estava conversando aos gritos e rindo alto numa rodinha de amigos. Certificado de que José estava bem, Lune respirou fundo numa tentativa de voltar para a Rússia, mas a musica o impediu de alcançar a concentração necessária.

“Eu já consegui visitar eles antes!” Ele exclamou frustrado.

Depois de mais uns minutos tentando ele concluiu que talvez não conseguisse porque simplesmente não estava mais com tesão. Lune suspirou decepcionado e voltou para onde a festa estava concentrada, sendo recebido por um José afoito e risonho.

“Lune você não acredita no que aconteceu! Um cara vomitou enquanto beijava a Amanda, a camisa dela ta toda vomitada!” Ele riu exageradamente e Lune só soube revirar os olhos.

Ele pegou o amigo pela blusa e o carregou até o apartamento que dividiam. Lune estava realmente muito bolado, tinha sido um início de transa tão bom.


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