50 Tons de Fanfiction escrita por Nymeria


Capítulo 18
[SUPERNATURAL] Funeralia


Notas iniciais do capítulo

Tema 35: Sobre desastre.

Fandom: SPN
Ship: Destiel.
Avisos: Spoilers do episódio 13x19 (Funeralia).

Oie! Demorei muito para atualizar dessa vez, me desculpem! Tentei terminá-la antes do dia do orgulho, mas não deu certo. Espero que esta fic compense de alguma forma. Feliz dia do orgulho (atrasado) pra todos que fazem parte da comunidade LGBT+! =D

Quero agradecer à Carol pela ajuda e pelas opiniões sobre a história enquanto eu ainda estava no processo de escrevê-la.

Apesar da fic ser sobre desastre, o Ministério da Saúde adverte aos diabéticos que ler esta fic pode fazer mal à saúde, pois o comfort desse hurt/comfort é cheio de açúcar. Temo que Dean ficou meio ooc em algumas partes, mas isso é uma fanfic, então relevem, por favor. No mais, boa leitura! o/



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Dean Winchester acordou naquela manhã sentindo-se mais cansado do que nunca. Mais uma vez, tivera pesadelos e Castiel era o protagonista deles. Ele sonhara que o anjo havia ido ao céu pedir a ajuda dos irmãos, entretanto, quando chegara lá, os outros seres alados sequer o escutaram e o executaram, atravessando seu peito com uma adaga angelical. Enquanto isso, o caçador estava na Terra, sem nenhuma noção do que acontecera, orando para que o anjo voltasse, mas ele nunca retornaria.

O homem de olhos verdes acordou num sobressalto, sentindo a respiração pesada e o coração descompassado. Olhou ao redor, tudo estava escuro. Havia sido apenas um pesadelo. Este repetira-se várias vezes ao longo da madrugada, contudo, de modo que quando o dia amanhecera, Dean estava exausto.

Para deixá-lo ainda pior, o Winchester mais velho percebera que o serafim não estava no bunker na manhã seguinte. Dean sabia onde o anjo havia ido, pois quando Castiel fora ao céu, diferentemente da última vez, não fora sem aviso prévio, muito pelo contrário, ele e Dean estavam em comum acordo de que aquela era a melhor opção, ainda que o segundo se sentisse relutante quanto a ida do anjo, pois sempre que ele ia lá, nunca nada de bom acontecia depois.

Entretanto, saber onde o amigo estava só o fazia ficar pior, pois era o mesmo lugar dos seus pesadelos: o céu. Sorriu secamente pensando que a vida que eles levavam era tão maluca que sonhar com o céu virara um pesadelo. O céu, pelo amor de Deus! O maldito paraíso! Ninguém normal tem pesadelos com o paraíso.

“Só tente não morrer.” O Winchester lembrava de ter dito isso ao amigo, antes dele partir. Dean confiava no anjo, sabia que o serafim era forte. Porém parte de si temia que alguém lá em cima ainda quisesse fazer mal à ele. No entanto, acreditava que, depois de tudo o que passaram juntos, o anjo pediria sua ajuda, se precisasse, e tentou ter fé de que tudo daria certo no final.

Dean tentou acalmar-se pensando no quanto notícias ruins chegam rápido e que se tivesse acontecido algo com Cass, ele provavelmente já estaria sabendo àquela altura, mas depois lembrou que os demais anjos não eram exatamente seus amigos, então se eles tivessem se livrado de Cass, era capaz de talvez ele nunca saber.

Sam via o irmão pouco a pouco ficando cheio de olheiras e afogando-se em bebida, como ele sempre fazia quando havia algum problema o qual ele não conseguia resolver e não precisava de muito esforço para saber que isso tinha a ver com o fato de que Cass havia ido para o céu e estava incontactável desde então.

O Winchester mais novo também não era cego para não notar que, apesar de Dean e Cass serem amigos, havia uma palpável tensão sempre que eles estavam no mesmo ambiente ou que Dean ficava rabugento e até um tanto auto-destrutivo quando Cass desaparecia dessa maneira. Ele só se perguntava até quando Dean pretendia continuar negando o que sentia pelo anjo. Logo Dean, que dentre os dois era o que menos sonhara em ter uma vida normal, quieta e doméstica, era o irmão que estava mais próximo de conseguir isso e não dava-se conta disso. Sam esperava que seu irmão mais velho percebesse o mais breve possível que sua felicidade estava mais perto do que ele imaginava e veio voando, literalmente, em sua direção.

“Dean, Cass está bem.” comentou Sam. Dean queria dizer que ninguém perguntou, mas a verdade é que ele apreciava saber que Sam preocupava-se com ele, embora no fundo desejasse que seu irmãozinho não fosse tão perceptivo. “Logo ele estará de volta.”

Sam tinha toda razão, pois o anjo regressou alguns dias depois, aparentemente ileso. Dean, entretanto, o conhecia melhor do que ninguém para saber que havia algo sob a superfície. “Sabia que não deveria ter deixado ele ir lá.” Pensou o caçador. Deixar? Desde quando ele conseguia impedir Cass de fazer qualquer coisa que ele colocasse na cabeça? Mas, ele não conseguia deixar de se responsabilizar porque havia concordado com a ida do anjo, que consequentemente deixou-o naquele estado.

A quem ele queria enganar? Esse não era o único motivo pelo qual ele se sentia responsável por Cass, mesmo sabendo que o anjo sabia cuidar de si. Dean sempre sentia-se responsável pelas pessoas que ele amava e ele amava Cass, negar isso era inútil.

O tempo passou e o Winchester mais velho começou a ponderar se seria possível que não houvesse ocorrido nada no céu e a preocupação dele fosse apenas ele sendo super protetor quando, naquele mesmo dia, seu irmão o chamou e disse:

“Dean, eu acho que aconteceu alguma coisa que Cass não está nos contando, lá no céu.”

“Por que você acha isso?” Dean tentou soar casual, mas suas preocupações de outrora estavam mais afloradas do que nunca.

“Não sei… Outro dia eu o peguei na biblioteca, folheando um livro…”

“Esse aí é o Cass normal.” respondeu Dean.

“Exceto que ele não estava lendo, somente passando às páginas.” replicou Sam.

“Como você sabe?”

“Ele não tava nem olhando pro livro, Dean. Ele só ficava passando as páginas, enquanto olhava para o nada com uma expressão triste no rosto. Eu disse: ‘Hey, Cass. Tá tudo bem aí?’ e ele disse: ‘Está tudo bem, Sam. Eu só estava aqui dando uma olhada nesse livro sobre…’ aí, ele olhou para a capa do livro, ele não sabia nem o título, e disse: ‘Aves migratórias. Elas são bastante interessantes.’ Claramente, ele não queria falar comigo sobre o assunto, o que quer que fosse. Mas acho que ele falaria com você.”

Dean normalmente responderia: “Então o cara gosta de aves, e daí?”, mas todos os sinais vermelhos estavam ligados na cabeça do caçador mais velho. Havia alguma coisa corroendo Cass e, visto que ele escolheu um livro sobre pássaros, de todos os livros que poderia escolher na vasta biblioteca dos Homens das Letras, Dean ponderava se isso não seria sobre não poder voar como antes ou sobre a aparência de suas asas. Ele havia voado para a Síria recentemente, em busca do fruto da Árvore da Vida, mas será que ele já podia mesmo sobrevoar grandes distâncias, sem nenhum dano? Ou, de repente, suas asas não pareciam tão maravilhosas quanto antes e os anjos fizeram chacota delas ou algo do tipo. Dean iria acabar com a raça de cada um daqueles macacos alados, se esse fosse o caso.

“Ok, eu vou falar com ele.” prometeu Dean. “Onde ele está?”

“Biblioteca. De novo.”

Ambos foram para a biblioteca e encontraram Cass da mesma forma que Sam descrevera anteriormente. A coisa era mais séria do que parecia. Dean respirou e, sentando-se a frente de Cass à mesa, chamou o anjo gentilmente.

“Cass?” O anjo parecia absorto em pensamentos. “Cass!!”

Castiel piscou e olhou para o caçador mais velho. Sam estava em pé, a alguma distância de ambos.

“O que houve?” perguntou o serafim, com ar de preocupado.

“Nós é quem perguntamos: o que houve?” retrucou Dean.

“Como assim?”

“Cass, você tem estado diferente desde que voltou do céu.” disse Dean. “Mais aéreo, desatento e o pior de tudo: você parece mais triste. Estamos preocupados com você. O que aconteceu lá  no céu? Algum idiota fez alguma piada de mau gosto sobre suas asas ou-”

“Por que está falando sobre minhas asas?” perguntou Castiel, Dean notou que o anjo estava autoconsciente sobre o próprio corpo. Talvez ele estivesse indo na direção certa, afinal.

“Você tava lendo um livro sobre aves migratórias, que são basicamente pássaros que cobrem largas distâncias voando.” respondeu Sam.

“Você tá se recuperando, mas sabemos que não está  cem por cento ainda.” completou Dean. “Independente disso, Cass, suas asas são maravilhosas.”

“Você nunca as viu.” constatou o anjo.

“Mas já vi a sombra delas e ela me indicou que você tem um belo par de asas aí… Cass, se algum idiota lá em cima te disse o contrário-”

“Nenhum deles me disse nada sobre minhas asas, Dean.” retrucou Cass, levemente sem jeito por conta do elogio anterior. “As asas deles não estão muito melhores que as minhas, afinal.”

“Então por que você tá assim? E não venha me dizer que não é nada ou que está tudo bem.”

O anjo olhou para o livro em sua mão e comentou:

“Você sabia que as aves migratórias costumam manter-se juntas e em formação para poupar energia, afastar predadores e manter a sobrevivência da espécie? Se elas migrarem sozinhas, as chances delas morrerem antes de chegar ao destino seriam muito mais altas.”

“Eu não tô perguntando sobre isso, Cass. Pare de evadir a pergunta.”

“Eu encontrei Naomi no céu.” suspirou o anjo.

“Naomi?” perguntou Sammy, pego de surpresa. Ele lembrava muito bem dos problemas que ela causara a todos ali, especialmente a Castiel.

“A vadia ainda está viva?” Dean parecia igualmente surpreso. “Ela machucou você?”

“Sim e não.” respondeu Cass e, ao olhar intrigado dos Winchester, ele completou: “Sim, ela está viva ainda e não, ela não me machucou. Nós… Conversamos. Foi estranho. A princípio, eu queria matá-la, mas no final, acho que nos entendemos.”

“Se entenderam?” Dean estava levemente irritado com a notícia. “Cass, você por acaso não fez nenhum acordo com ela, fez?”

O anjo suspirou.

“Dean, eu sei melhor do que ninguém do que Naomi é capaz.” Havia um tom sombrio na voz do anjo que provocou arrepios em Dean. Cass nunca havia contado detalhes sobre o que Naomi fizera com ele no céu, anos atrás, mas Dean sabia que envolvia tortura e tinha pesadelos só de pensar nisso. “Se eu tivesse escolha na questão, preferia que ela estivesse mesmo morta. Mas agora não é o momento de contender com ela ou com qualquer anjo que seja.”

“Porque se você fizer isso, eles vão voltar a querer sua cabeça?” perguntou Dean. “E se eles quiserem te usar novamente?”

“Não vai acontecer. Os anjos têm maiores preocupações no momento do que minhas ações em prol da humanidade.”

“Você não sabe se eles estão mentindo pra você.”

“Eles não estão.”

“Porque, de repente, eles viraram o poço da sinceridade…” ironizou Dean.

“Você não entende…” comentou o anjo.

“Então me ajude a entender!” exclamou o caçador. Depois, mais suavemente, acrescentou: “Por favor… O que aconteceu, Cass?”

O anjo ficou em silêncio por alguns segundos, o que fez com que os Winchester ponderasse se ele iria responder, porém ele suspirou pesadamente e finalmente as palavras saíram da sua boca:

“Um desastre…” As palavras do anjo só trouxeram aos caçadores mais preocupação, porém eles não atreveram-se a falar nada, agora que o anjo estava finalmente se abrindo com eles. Eles esperaram, até que o anjo recomeçou: “Eu…”  Castiel interrompeu-se no meio do caminho. Era evidente para eles que aquilo era difícil para Cass, então eles esperaram o tempo do serafim, o que pareceu-lhes horas. Dean inclinou-se em direção ao de olhos azuis e pôs a mão no joelho dele, fazendo movimentos circulares com o polegar e tentando dizer pra ele, sem utilizar palavras, que estava tudo bem e que o anjo podia contar qualquer coisa para ele.

“Eu agora faço parte de uma espécie ameaçada de extinção.” disse, por fim, o anjo. “Eu sabia que nossos números eram poucos, eu mal ouço mais os anjos falando na frequência angelical, mas eu não sabia que estávamos com números tão baixos… Naomi me disse que há um total de nove anjos no céu, incluindo ela. E eu sou um dos poucos ainda na Terra…”

“Cass, eu sinto muito.” disse Sam. Dean apenas apertou o joelho de Cass, que ainda segurava, sem saber o que dizer ante aquela notícia. Ele nunca fora fã dos anjos, mas sabia que eles eram a família de Cass e que o anjo se importava profundamente com eles.

“Mas, o mais urgente agora é salvarmos Jack e Mary.” disse Cass em tom de fim de conversa. “Se Miguel vier com seu exército, aí teremos duas espécies em risco de extinção.”

Dean queria dizer que não, que aquele assunto também era urgente. Que se aquilo era importante para Cass, também era para eles porque eles eram uma família, mas as palavras não saíram de sua boca. Dean praguejou mentalmente a sua falta de tato com esses assuntos. Graças a Chuck, seu irmão era o contrário.

“Nós vamos salvá-los.” disse Sam. “Mas isso também é importante, Cass. Não há nada que possa ser feito sobre isso?”

“Se Deus tivesse aqui, ele poderia criar novos anjos, mas isso não é uma opção no momento.” respondeu o anjo. “Acredito que, no momento, o melhor a fazer seria reunir todos os nossos que estão na Terra para ajudar a manter o poder celestial. Gabriel, como arcanjo, poderia ajudar muito também… Agora entendo porque os anjos queriam Jack. Ele é o anjo mais poderoso.”

“Ok, então ter o Jack aqui pode ajudar vocês.” concluiu Sam. “Vamos então focar em salvá-los. E quando ele estiver aqui conosco, sentamos e decidimos o que fazer sobre os anjos, ok?”

“Okay. Obrigado, Sam.”

“É para isso que serve a família, irmão.” Dean conseguiu articular.

Eles fizeram então como planejaram, focaram em resgatar Mary e Jack, entretanto, Dean sabia que havia ainda algo incomodando o ser celestial. Será possível que ele estivesse escondendo algo ainda? Ou ele teria fingido estar tudo bem, mas a notícia sobre seus irmãos alados ainda o afetava? Dean desconhecia as respostas para aquelas perguntas, mas pensou que ele deveria tentar tirar a mente do anjo daquele lugar sombrio. Decidiu chamar o anjo para pescar com ele. Sam achou uma boa ideia.

“Você vem?” perguntou Dean.

“Não, não.” respondeu o caçula. “Preciso continuar a pesquisa sobre o portal. Além disso, acho que se o Cass estiver escondendo mais alguma coisa, é mais provável que ele te conte se eu não estiver por perto.”

Dean não tinha o que argumentar nesse sentido. Sabia que apesar do anjo ser amigo tanto dele quanto de Sam e se importar com ambos, Cass era claramente mais próximo dele do que de Sam, talvez pelo fato de tê-lo conhecido primeiro ou talvez porque o anjo sentia por ele coisas que não sentia por Sam. Não, moreno nunca dissera isso, mas um homem pode sonhar. De qualquer forma, Dean ficava feliz de ser o irmão mais próximo de Cass.

Ambos entraram no impala e Dean começou a dirigir em direção ao lago onde pescariam, conversando sobre amenidades no caminho. Após Dean estacionar, os dois seguiram a pé até o local e prepararam suas iscas e varas de pesca, bem como a caixa com cervejas que trouxeram do bunker.

Dean não estava com muita sorte, entretanto, pois não conseguiram fisgar nada e, após algumas horas, mesmo as piadas do caçador não pareciam animar mais o anjo. Ele decidiu então que deveria conversar com o amigo. Dean não era muito de conversar sobre sentimentos e toda a merda que isso envolvia para ele, mas se Cass precisava disso para sair do fundo do poço, era exatamente isso que Dean iria fazer.

“Cass, amigão…” ele começou, prendendo sua vara de pescar num suporte na cadeira e virando-se para o amigo. Cass imitou o gesto.

“Está tudo bem?” perguntou o anjo, visto que o Winchester mais velho parecia sério sobre o que quer que fosse.

“Eu estava pra te fazer a mesma pergunta.” respondeu o mais novo. “Eu sei que você ta abatido por conta da sua espécie e tudo mais, por isso que eu te trouxe aqui: para que você tentasse esquecer um pouco os problemas. Mas, obviamente, não ta funcionando, então converse comigo. Me diz o que tá passando pela sua cabeça.”

“O mundo não gira em torno dos meus problemas, Dean.” respondeu Cass. “E no momento, temos outros problemas com os quais nos preocupar.”

“Mas os seus problemas são importantes também, droga!” Dean estava cansado de ver o anjo sempre se colocando em segundo plano. “E se isso ta te corroendo por dentro, você pode - e deve - falar sobre isso, especialmente com seu melhor amigo.” O caçador apontou para si mesmo, de forma convencida.

O serafim respirou fundo e inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nas pernas e o rosto nas mãos.

“Você sabe que não é sua culpa, não sabe?” perguntou Dean, tentando ler o comportamento do anjo.

“Como não seria?” respondeu Cass, suspirando novamente. “Muitos dos meus irmãos morreram em batalhas que eu causei e que se eu não tivesse dizimado tantos deles, talvez não estivéssemos nessa situação agora… Para uma espécie em extinção, cada membro faz diferença. Céus! Se todos anjos que matei estivessem vivos - foram centenas -, a gente nem estaria correndo risco de extinção, pra começar.”

“Cass, os anjos que você matou foram ou aqueles que eram filhos da puta e mau caráter, ou os que matou quando estava com aqueles malditos Leviatãs dentro de você, te controlando. A morte deles não é culpa sua.” disse Dean, lembrando da época em que o anjo lhe confessara que tinha pensamentos suicidas e temendo que isso estivesse acontecendo novamente. “Além disso, não tem como saber se eles não teriam sido dizimados com toda a merda que enfrentamos depois e ainda estamos enfrentando.”

“Eu sei que muitos irmãos meus fizeram coisas terríveis e precisavam ser impedidos, mas estamos à beira da extinção, isso é um desastre…” O anjo passou a mão pelos cabelos, tentando permanecer calmo. “Se todos nós morremos, o mundo entrará em colapso. Como se não bastasse a quantidade de demônios sem ninguém para impedir suas ações, teremos milhares e milhares de almas vagando sobre a Terra, sem ter para onde ir ou onde repousar…”

“Além desse lance de Deus fazer novos anjos, quais são as outras cartas que podemos pôr na mesa?”

“Procriação, talvez.” respondeu Cass. Dean tentou não pensar em Cass indo para os finalmentes com alguma ‘anja’ por aí. “Mas anjos não procriam de forma convencional há séculos, exceto por Lúcifer. No entanto, Jack é um nefilim. Contudo, de repente, termos nefilins no céu seja melhor do que sermos completamente aniquilados, eu não sei… Eu sei que se não tivesse vaporizado milhares dos meus irmãos, não estaríamos passando por isso.”

“Você não sabe…”

“Sim, sei.” retrucou o anjo. “Eles deveriam ter me matado quando tiveram a chance.”

“Cass!!” O tom de Dean foi reprovador, mas ele tentou acalmar-se ao ver a expressão sofrida de Cass. “Cass, se você tivesse morrido, haveria um número ainda menor de anjos agora.”

“Seria fácil demais apagar meu erros apenas morrendo, não é?” o anjo sorriu amargamente, como se aquele pensamento já tivesse passado por sua cabeça muitas vezes antes. Dean não suportava vê-lo assim, cabisbaixo e sentindo-se sem valor algum. O caçador estava preocupado com aquilo. Quer dizer, ele não exatamente se importava com os anjos, mas ele sabia que Cass se importava e isso bastava pra ele.

“Cass…”

“Estou destruído, Dean…”

“Me diz como ajudar.” disse Dean, com o coração em frangalhos após ouvir a última frase do anjo. Cass não respondeu. Ele provavelmente não achava que houvesse nada que o humano pudesse fazer para ajudá-lo. Dean não o culpava. Ele mesmo sentia-se de mãos atadas.

“Talvez essa seja a minha punição. Eu matei meus irmãos, então agora serei condenado a ficar sozinho por toda a eternidade.” disse o anjo. “Dean… Eu não quero ficar sozinho.” O tom suplicante e vulnerável do amigo terminou de fragmentar o que ainda restava do coração do caçador.

“Cass, você nunca vai ficar sozinho, ta me ouvindo?” retrucou o Winchester. “Eu não vou deixar. Lembre-se que a gente ta aqui por você, tá bem? Eu to aqui por você.”

“Eventualmente, você também vai me deixar.” respondeu Cass, cansado. “Eu não consigo suportar sequer pensar nisso.”

“Não pense nisso, então.” disse Dean. “Cass, a gente não conhece o futuro, muita coisa pode acontecer daqui pra lá. Vai que eu viro imortal ou sei lá…”

“Às vezes, eu queria que você fosse mesmo…” comentou o anjo, sem perceber que o comentário anterior do caçador fora uma tentativa de melhorar seu humor. “Mas imortalidade é mais uma maldição. Você veria todos os que ama partindo.”

“Nem todos.” respondeu Dean automaticamente.

“Dean, o que você ta dizendo?” perguntou o anjo, sem entender se seus ouvidos o estavam enganando ou se Dean havia mesmo implicado que o amava.

O caçador sentiu-se constrangido por ter se exposto daquela maneira, mas no momento fazer Cass sentir-se querido e evitar possíveis tentativas de suicídio era mais importante que sua vergonha de falar demais. Tomou coragem então e explicou-se:

“Viver ao seu lado por toda eternidade não soa nem de longe como uma maldição pra mim, Cass, é isso o que eu quis dizer.”

Castiel sorriu pela primeira vez desde que voltara do céu. Dean não pode deixar de notar como aquele sorriso era lindo.

“Isso não soa como uma maldição pra mim também.” respondeu o anjo. O coração de Dean pode ou não ter disparado ao ouvir isso.

“Cass, eu…”

“Você…?” perguntou Castiel, vendo que o caçador hesitara. Dean olhou nos olhos azuis do moreno, seu coração ansiava tanto por ele que chega doía. Como Cass podia não notar o quanto Dean o amava? Como ele podia sequer pensar que não era importante e que estaria melhor morto? “Dean?” O anjo estava começando a ficar preocupado com o caçador.

“Foda-se essa merda.” disse Dean, abraçando Cass tão forte, que o ar teria escapado dos pulmões do anjo, se ele o necessitasse. O serafim o abraçou de volta.

“Dean, ta tudo bem?” perguntou o anjo, sem entender muito do comportamento recente do amigo.

“Eu preciso de você, Cass.” comentou o mais novo, tão baixo que o anjo provavelmente não teria ouvido se fosse um humano. “Não… Eu amo você.” corrigiu-se o caçador. “Você é parte de mim, então por favor… por favor, não se feche quando as coisas ficarem sombrias. Venha conversar comigo e desabafe… Ok?”

“Okay.” Aos ouvidos de Dean, a voz do serafim soara um tanto tremida. Ele mexeu-se um pouco em seu abraço, mas Dean não o permitiu afastar-se.

“Eu to falando sério.” disse Dean. Ele achava que não teria coragem para falar essas coisas se tivesse de olhar nos olhos do amigo. “Você é importante e não é só por causa do seu mojo e tudo o mais. Você é família. Eu sei que não sou um anjo e não entendo todas as coisas pelas quais você passa, mas você não está sozinho e eu farei o que puder pra te ajudar.”

“Obrigado.” respondeu Cass com sinceridade. “Na verdade, não me importa de qual espécie você é. Você me compreende mais do que qualquer um da minha espécie, de qualquer forma…” Dean sorriu com o reconhecimento. “E eu amo você do jeito que você é. Mas você já sabe disso.”

Dean sabia, de fato. No ano anterior, numa das vezes em que o anjo esteve à beira da morte, Cass confessou que o amava. O que ele não sabia era se esse amor era como o que ele sentia pelo serafim ou se o caçador era apenas um amigo para Cass. Na época, Dean não teve coragem de perguntar, entretanto, aquela dúvida continuava martelando-o, especialmente porque Dean sabia que Cass não ficava com ninguém há anos e parte de si tinha esperanças de que ele fosse o motivo, assim como Cass era o motivo dele ter aposentado seu lado pegador também.

Aquele abraço já estava durando mais do que um abraço entre amigos deveria durar, mas Dean não encontrava em si vontade nem forças para apartar-se do amigo ou lembrá-lo sobre espaço pessoal. O homem de olhos azuis parecia não estar com pressa de desvencilhar-se dele tampouco. Somado à isso, algo lhe dizia que o serafim precisava daquele abraço mais do que nunca.

Foi nessa hora, contudo, que o anjo pareceu ponderar sobre o assunto.

“Dean, você pode me soltar agora.” comentou o ser alado. “Eu sei que você não gosta muito de demonstrações de afeto.”

“Eu estava mentindo.” retrucou Dean, mas antes que Cass pudesse reagir ao comentário, ele acrescentou: “Além disso, hoje não é sobre mim. É sobre você… Sério, qual foi a última vez que você abraçou alguém?”

“Acho que foi quando eu voltei do Vazio.” respondeu o anjo. “Mas acho que nunca fui abraçado por tanto tempo.”

Dean afastou-se o suficiente para olhar nos olhos azuis do serafim.

“Isso te deixa desconfortável?”

“Nem um pouco…” respondeu o anjo. “Mas achei que você, talvez, ficaria. Você sempre reclama quando eu invado seu espaço pessoal.”

“Eu sei.” disse o Winchester. “Mas eu fazia isso porque é difícil me concentrar com você tão perto. E eu tinha medo que você pudesse descobrir...“

Dean praguejou-se mentalmente. Legal. Ele estava falando demais de novo.

“Descobrir o que?”

Hoje não devia ser sobre isso, devia ser sobre Cass. Mas agora que ele já tinha aberto a porta de passagem, parecia apenas lógico deixar o gato sair.

“Que eu me apaixonei por você.”

“Dean…”

O caçador começou a ter segundos pensamentos sobre o que acabara de dizer. Cass, obviamente, já tinha muita coisa para lidar no momento e não precisava de uma confissão do melhor amigo para acrescentar às suas preocupações.

“Cass, desculpa. Eu fui egoísta. Você não precisa se preocupar com o que eu disse, tudo bem? Eu juro que não to esperando nada de você.”

“Bom, isso é uma pena…” respondeu o anjo.

“Pena?” Dean não estava acreditando no que estava ouvindo. Novamente, seu coração disparou sem pedir permissão.

“Sim.” confirmou o anjo. “Porque eu estava prestes a dizer que também me apaixonei por você. Na verdade, eu estou apaixonado por você há muito tempo.”

“Sério?” Dean sorriu, mal podendo se conter de tanta felicidade, mas ao mesmo tempo sem querer acreditar que aquilo era verdade. “Quanto tempo?”

“Uns oito anos…” respondeu Cass. Dean arrregalou os olhos.

“Mas isso foi quando nos conhecemos, tá me dizendo que foi amor à primeira vista?”

“Não, obviamente. Mas naquele mesmo ano que nos conhecemos, eu comecei a desenvolver sentimentos por você. É claro que na época eu não sabia do que se tratavam, eu acho que só realmente me dei conta disso quando tive minha graça roubada. Ter virado humano me fez perceber as coisas que normalmente meu lado angelical ignoram.”

“Se você já gostava de mim naquela época, porque transou com April?” perguntou o caçador, sentindo uma pontada de ciúmes.

“Você tinha me mandado embora do bunker, eu estava na rua, como um humano, sozinho, cansado, com fome, carente e emocionalmente machucado…” Ok. Agora ele sentia-se culpado. Não que ele já não tenha se culpado o suficiente sobre o episódio em questão.

“Desuculpe, eu-”

“Você já me pediu desculpas antes e eu já perdoei. Já passou.” interrompeu Cass. “Eu só quis dizer que estava vulnerável, procurando qualquer tipo de conexão, então April apareceu e me deu apoio.”

“E outras coisas.”

“Sério que vamos fazer isso agora?” questionou o anjo. “Porque eu me lembro bem que no ano passado, no caso de Ramiel, você quis jogar aquela garçonete pra mim, nem notando que eu não estava remotamente interessado, mas ta me julgando porque eu copulei com alguém anos atrás. Cadê o sentido disso? E aliás, quando você começou a gostar de mim, afinal? Foi quando parou de sair todo o dia com uma mulher diferente?”

“Ok, você tem razão.” concedeu o caçador. “Eu não tenho o direito de te julgar, especialmente quando eu nunca te dei indícios de corresponder os seus sentimentos. Mas você ta errado, eu não estava jogando a garçonete pra cima de você. Eu estava agindo de forma esquisita porque eu tava com ciúmes e não sabia como lidar. Não é como se eu pudesse mandá-la se afastar.”

“Oh.” respondeu Cass, surpreso.

“Eu não sei dizer se me apaixonei à primeira vista também, mas quando eu realmente me dei conta disso, foi quando eu achei que tinha te perdido pelos leviatãs. Eu… Eu estava puto com você porque você tinha mentido pra mim, mas quando você desapareceu naquele lago, eu me dei conta de que eu estava realmente puto porque você não estava mais comigo. E depois, teve o purgatório… Eu percebi que não poderia sair dali sem você porque eu o amava demais para deixá-lo sozinho. Ainda assim, não pude fazer nada para ajudá-lo.”

“Não foi culpa sua, eu queria ficar lá.”

“Eu sei, eu não percebi que você estava num abismo… Quando você disse que poderia se matar, eu fiquei tão chocado que não tive reação. Eu deveria ter te abraçado daquela vez.”

“Ta tudo bem, Dean.”

“Você… Ainda pensa em…?” Dean não conseguia terminar aquela frase.

“Me matar?” completou Cass.

“S-sim.”

“Não.” respondeu Cass, para alívio do de olhos verdes. “Eu ainda tenho dúvidas sobre mim mesmo de vez em quando, mas eu não tenho como tentar consertar meus erros morto. Além disso, o tempo me fez perceber que eu tenho uma família maravilhosa, que se importa comigo.” O anjo deu uma batidinha no ombro do caçador, indicando que estava falando dele (e possivelmente de Sam e Mary). Dean sorriu.

“Claro que tem!” Dean pôs a mão sobre a do moreno.

“Dean, estaria ok pra você se eu te beijasse agora?” Dean teria engasgado se tivesse bebendo alguma coisa naquele momento. Desfazendo-se o mais rápido possível da expressão de surpresa que tomara seu rosto, o mais novo respondeu:

“Mais do que ok. Vem cá!”

Mas, ao contrário do que Castiel pensou, Dean não esperou ele ir e colou os lábios no dele. O anjo não se deu ao trabalho de protestar, contudo. Dean desejou que Cass estivesse tão feliz quanto ele estava naquele momento, apesar dos pesares, e prometeu a si mesmo que cuidaria para que ele em breve estivesse, caso contrário. Cass merecia ser feliz. E Dean asseguraria-se de proteger a felicidade dele enquanto vivesse.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da one. Amanhã eu devo postar outra fic, mas dessa vez é de um fandom menos conhecido: My Love From Another Star. Mas não se preocupem, logo logo terão mais fics de SPN. Até o próximo capítulo! =)



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