Agora Ou Nunca escrita por RaelFitch


Capítulo 2
Um Jantar Estranho




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2. Um Jantar Estranho

Quando voltei para casa, estava um pouco alterado, depois de nos encher de cerveja, Sofia pediu conhaque e vodca, o teto do meu quarto girava enquanto o mirava deitado, fechei meus olhos e torci para acordar disposto e livre de qualquer ressaca pois tinha atendimento no dia seguinte, alguém bateu na porta do meu quarto e em seguida entrou.
— você deveria ter ficado em casa! — disse Luiza naquele tom de comando
— não consegui dizer não — me sentei
— eu estou bem feliz — disse sorrindo — você vai ser um ótimo padrinho
— isso foi o convite de padrinho mais estranho que já vi — respondi
— bobo — ela me cutucou com cotovelo — eu e o Felipe queremos quatro pares de padrinhos no altar, fora nossos pais
— já tem ideia de data?— perguntei
— o plano inicial é para daqui a um ano mais ou menos — respondeu amarrando seus longos cabelos negros em um coque.
— e vocês vão morar no apartamento dele?
— sim, tem bastante espaço, três quartos.
— suas amigas vão soltar fogos!
— vão sim — ela sorriu e foi em direção a porta- até amanhã
Tranquei a porta do meu quarto e tentei dormir, afinal durante a madrugada levantei 2 vezes para vomitar.
Quando amanheceu, desci as escadas e vi minha mãe fazendo omeletes para mim.
— cadê meu pai e Luiza?
— eles foram mais cedo — ela colocou os omeletes em um prato e me entregou — chorei tanto ontem!
— por que?.
— sua irmã noivou.
— isso é normal mãe.
— escutei o Felipe e seu pai cochicharem.
— sobre o que? — perguntei curioso, afinal meu pai e Felipe cochichando não podia significar coisa boa
— não entendi direito, bom deixa pra lá — ela sorriu.
Terminei de comer, tomei banho e fui para o hospital, encontrei Gabriel e ele ainda amaldiçoava Doutor Castro a cada dois passos que dava.
— espero que esse semestre passe voando — ele reclamava — não acredito que não fiquei na turma da Aline.
— relaxa irmão — coloquei a mão em seu ombro, meu celular tocou — número desconhecido
— cara tu vai querer me matar — Gabriel começou — eu e Sofia queríamos tirar uma com a sua cara!
Recusei a chamada.
— explique-se
— enquanto eu e você íamos para o carro a Sofia disse que iria ao banheiro lembra? — perguntou, vasculhei esses detalhes em minha mente e lembrei vagamente.
— sim — disse franzindo o cenho
— então, ela deu o seu telefone pro garçom — ele estava sério, mas notava-se o esforço que ele fazia para não rir.
— vocês dois não tem limites! — falei bravo.
— era só uma brincadeira — defendeu-se — achamos que ele não ia telefonar.
— vocês têm que parar de ficar levando tudo na brincadeira — falei deixando ele sozinho no jardim e indo para a UTI.
Doutor Castro estava escrevendo um prontuário enquanto eu lavava minhas mãos, seus olhos encontraram os meus.
— bom dia — disse passando por ele.
— bom dia — ele voltou sua atenção ao prontuário.
Me sentei na cadeira a sua frente.
— cadê seu amigo tagarela? —perguntou.
— deve estar chegando — respondi bem azedo.
— problemas com a namoradinha? — ironizou.
— o que você está querendo dizer? — perguntei
— nada — ele respondeu — escutei umas alunas comentando com a Aline que você tinha terminado seu relacionamento.
— terminei sim, o povinho fofoqueiro — respondi, Castro deixou um sorriso aparecer no canto da boca, e voltou a escrever.
— é bem difícil manter um relacionamento no último ano, vocês quase não tem tempo para nada — ele olhou em direção à porta e viu Gabriel lavando as mãos- agora podemos começar.
Fomos em direção à Gabriel, não olhei em sua direção, ele e Sofia passaram dos limites.
— vamos atender os mesmo pacientes de ontem?— perguntou Gabriel
— sim — respondeu o Doutor.
Dona Maria ficou muito feliz ao me ver de novo, enquanto eu fazia os procedimentos ela me elogiava dizendo que eu era muito simpático e bonito, agradeci.
— precisa de algo?— perguntou o Doutor a mim.
— Ítalo este aqui é bom, sabe o que faz, o tempo voa quando estou com ele! — ela me elogiou e eu corei.
— ele é melhor que eu? — perguntou
Fiquei sem graça.
— cada um é cada um — ela respondeu, ele sorriu para ela, assentiu para mim e foi em direção de Gabriel.
Fui almoçar no restaurante ao lado do hospital, Doutor Castro estava lá sentado num canto sozinho, sentei-me ao seu lado.
— Leonardo, alguma dúvida? — perguntou confuso.
— achei que almoçasse com seus amigos — perguntou franzindo o cenho e arrumando a gola de sua camisa social azul marinho.
— hoje eu estou sozinho — respondi rindo.
— está gostando da UTI?
— sim — respondi
— que bom — o garçom chegou com o prato dele: arroz integral e salmão, o garçom me olhou confuso.
— quero o mesmo que ele por favor e água com gás — o garçom assentiu e retirou-se.
— também gosta de água com gás? — perguntou o Doutor.
— bastante! — respondi.
— eu costumo tomar após a refeição — ele serrou os olhos e não encostou em sua comida.
— pode comer, meu prato vai demorar.
— eu espero — ele respondeu tranquilo.
Até meu prato chegar ele ficou sabendo tudo sobre minha vida, ele fazia muitas perguntas e a cada resposta que eu dava ele respondi com “interessante” ou “agradável”, após o almoço ele voltou para o hospital e eu fui em direção à biblioteca da faculdade para estudar um pouco no sossego que apenas lá me proporcionava, meu celular tocou novamente e desta vez atendi.
— oi! — a voz disse do outro lado.
— oi, quem é? — perguntei.
—meu nome é José, sou o garçom do bar que você veio ontem à noite.
— ah, no que posso ajudar?
— hoje estou de folga, então pensei em lhe chamar pra gente tomar algo.
Eu iria matar Gabriel e Sofia, mas acho que não tinha nada demais em tomar algo e conversar com um cara a gente podia até ser amigos.
— onde? — perguntei.
— me encontre na frente do bar em que trabalho as nove horas e vamos juntos de lá.
— tudo bem — desliguei.
Voltei aos meus estudos até que Gabriel chegou a biblioteca e sentou-se ao meu lado, ele ficou me olhando com cara de arrependimento.
— ainda está com raiva de mim? — perguntou.
— não — esse era meu maior defeito: não conseguir ter raiva das pessoas por muito tempo.
— que ótimo irmão! — ele me puxou para um abraço.
A bibliotecária fez sinal pra falarmos baixo.
— só te desculpo por que você é como um irmão pra mim — disse me soltando.
— estou arrependido mesmo, mas você sabe como eu e a Sofia gostamos de mexer com você! — defendeu-se — Luiza me ligou agora disse que estava te ligando, mas seu telefone estava ocupado, então deduzi que você estava aqui.
— o que ela quer? — perguntei.
— parece que ela vai te levar pra ajudá-la com vestido — ele disse segurando-se pra não rir.
— já não bastava você é a Sofia darem meu telefone pra um cara, minha irmã agora quer minha companhia para coisas de menina.
— relaxa cara — Gabriel riu e a bibliotecária fez sinal novamente para abaixarmos o tom.
O celular de Gabriel vibrou e ele atendeu dizendo que eu já estava descendo.
— ela já está lá na frente? — perguntei.
— é melhor você ir, eu levo seu material pra sua casa pode deixar! — ele murmurou.
Cheguei ao portão da faculdade e Luiza tinha estacionado do outro lado da rua.
— porque eu? — perguntei já no carro.
— mamãe estava ocupada — vai ser legal!
...
Minha irmã provou tantos vestidos que eu já estava ficando tonto, depois de muito tempo ela colocou na cabeça que queria um vestido tomara que caia, a atendente trouxe vários vestidos, mas depois de serem analisados nenhum passou pela aprovação da minha irmã.
— você é insuportável — falei quando saímos da loja.
— eu sou perfeccionista é diferente — defendeu-se.
No caminho para casa a nossa trilha sonora era o 25 da Adele, nos dois cantávamos alto que os motoristas que passavam do lado ficavam perplexos, ao chegar em casa Luiza reclamava para meus pais o quanto era difícil achar um vestido de noiva que se prestasse na nossa cidade.
— querem pizza? — meu pai perguntou ajeitando os óculos no rosto.
— ótima ideia — disse minha mãe.
— eu tenho um compromisso, vou estudar com o Gabriel — menti.
— Ele veio aqui hoje deixar sua mochila e não disse nada — minha mãe pareceu confusa.
Luiza me lançou um olhar de que sabia que eu estava mentindo.
— ele deve ter esquecido, não conhece o Gabriel? Cabeça de vento total! — respondi subindo as escadas.
Tomei meu banho e quando entrei no meu quarto Luiza estava sentada na cama.
— vai estudar é? — perguntou cruzando os braços.
— vou! — respondi.
— engraçado por que liguei pro Gabriel e ele negou — ela sorriu.
— vou sair pra beber um pouco — falei de forma quase inaudível.
— e quem é a garota?— perguntou — porque não falou lá embaixo?
— porque é melhor nossos pais acharem que vou estudar do que sair pra tomar algo durante a semana! — respondi.
— tem razão! — ela bateu na testa — pode ir, eu te dou cobertura.
— obrigado — respondi escolhendo uma roupa — fico te devendo uma.
Ela fez positivo com a mão e saiu.
Quando cheguei ao Five For Five, José já me esperava arrumado na porta, seus óculos de grau estavam esboçados, estendi a mão para apertar, mas ele me abraçou e me deu um beijo na bochecha.
— tudo bem? — perguntou.
— estou ótimo e você? — perguntei ainda surpreso.
— isso é ótimo, vamos no meu carro ou no seu?
— pode ser no meu — respondi o levando até o carro.
— pensei de irmos até o restaurante “Lourdes Maria”.
— esse restaurante é bem fino — respondi — porque não me avisou, eu escolheria uma roupa melhor.
— você está ótimo assim — ele respondeu
Chegamos ao Lourdes Maria e fomos muito bem atendidos, José me falou sobre a vida dele: o pai tinha morrido, ele morava com a mãe, e era um ano mais velho que eu.
— nem acreditei quando sua amiga me deu seu telefone — ele disse.
— ela adora fazer brincadeiras — respondi.
— Leonardo? — escutei uma voz conhecida e quando vi quem era fiquei muito surpreso.
— Dr. Castro? — levantei-me para comprimento-lo
— este é meu irmão mais novo — ele me apresentou um rapaz que parecia ter minha idade, ele se parecia bastante com Ítalo, mas sorria muito mais e parecia ser mais simpático que o irmão — Douglas, Douglas este é Leonardo e este?
— José — levantou-se e apertou a mão dos irmãos — sou amigo do Leo.
Ítalo serrou os olhos e analisou José.
— mande minhas felicitações a sua irmã! — Ítalo respondeu me olhando com frieza.
— ela vai precisar, pelo menos até achar um vestido, ela não gostou de nenhum — respondi triste.
— você poderia levá-la ao ateliê da nossa mãe! — propôs Douglas — ela é estilista, vestidos de noiva são a especialidade dela, não é mesmo Ítalo?
— sim — respondeu o mais velho — vamos indo Douglas, bom jantar Leonardo — ele partiu sem falar com José e sentou-se em outra mesa.
Durante o jantar José perguntou sobre mim, enquanto eu falava sobre o estágio senti ele passar a perna na minha, retirei-a discretamente e ele deu um sorriso sem graça, ao olhar em outra direção vi Ítalo encarando em seguida desviando o olhar quando percebeu que eu o observava.
— já quer ir? — perguntou José.
— amanhã eu tenho aula — olhei para o relógio.
— você pode me deixar em casa? — perguntou.
— claro — Ítalo vinha em minha direção.
— você já vai? — perguntou.
— sim — respondeu José por mim.
— vai para casa? — perguntou ignorando José novamente.
— vou sim, amanhã nos vemos no hospital Doutor — respondi, ele estava agindo de forma muito estranha.
— então nos vemos amanhã — ele respondeu friamente — boa noite Leonardo.
— boa noite Doutor.
No caminho para casa de José ele tagarelava sem parar, ele parecia ser um cara legal, quando parei na frente de seu prédio ele tirou o cinto e me olhou.
— obrigado por hoje!
— não foi nada — respondi olhando em seus olhos.
— eu queria muito te beijar agora — ele disse já aproximando seus lábios dos meus.
— eu, eu não sou gay cara desculpa — disse empurrando seu tórax levemente.
— tudo bem, eu ainda vou te conquistar — ele piscou e saiu do carro.
Dirigi rapidamente até minha casa, quando cheguei em casa fugi do interrogatório de Luiza com facilidade, tomei banho e me joguei na cama de toalha mesmo, meu celular tocou ao receber uma notificação no Facebook que me deixou muito surpreso.


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