Três dias se passaram desde a confusão no aniversário de Lily. Embora um ou outro ainda comentasse na torre, não era algo tão grande para se manter uma fofoca por muito tempo. Logo tudo seria esquecido.

Para John, aqueles foram os melhores três dias desde que pararam naquela realidade, porque finalmente ele e Martha estavam juntos. Ainda era algo apenas entre eles, encontros escondidos pelos cantos da torre, mas estavam muito felizes. Eles poderiam estar juntos há um ano, no entanto, John sabia que aquele era o momento certo. Nem antes, nem depois. Mas ainda queria fazer alguma coisa legal para a agora namorada, para compensar por todos os desencontros.

─Pode abrir os olhos.

Martha assim o fez. Ela olhou ao redor e era fácil perceber que estavam em algum lugar de Central City. Encontravam-se em um local pouco iluminado, mas ao longe ela via as luzes da cidade. Acima deles, deslumbrava um céu muito estrelado. E, abaixo de seus pés, ela ouvia o mar furioso batendo contra as pedras. Mais a frente havia uma mesa preparada para um jantar romântico, num lugar todo iluminado por velas.

John a avisara para não usar salto alto, e agora entendia o porquê. O terreno era um tanto acidentado, e seria difícil para caminhar se estivesse de salto. Então ela usava sapatilhas, que combinavam com o vestido preto de renda. Seus cabelos estavam presos, e usava o casaco de John. Já ele usava calça jeans e camisa branca e seus cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo. Martha fitou o céu mais uma vez, encantada. Era difícil ver as estrelas quando estavam na cidade.

─Nunca vi tantas estrelas, John! É lindo!

O rapaz deu de ombros e colocou as mãos nos bolsos das calças.

─O papai me ajudou. É o lugar mais bonito de Central City.

Mais uma olhada ao redor, e então ela reconheceu onde estavam. Lembrava-se de inúmeras fotos daquele lugar na casa dos West. Acrescentando uma tenda, velas, muitas flores coloridas e ela estaria no local do casamento dos pais de John. John amava aquele lugar, era quase seu santuário particular. Passado ou presente, continuava o mesmo. Martha sorriu e o abraçou.

─Espero que não traga outras garotas aqui, West. ─Provocou.

─Você é a única, Martha! A única.

Os dois compartilharam um beijo apaixonado, e então voltaram a olhar para cima quando o primeiro raio luminoso cortou os céus. Seguiram-se outros, mas tão rápido quanto começou, o fenômeno terminou. Aos poucos, aqueles pontos luminosos que brilhavam uns com mais intensidade que outros, iam se apagando e desaparecendo. Uma a uma, as estrelas desapareciam do céu. Até não restar nada, apenas...

Vazio...

Os garotos se entreolharam.

─Temos que voltar e alertar os outros.

Martha concordou e se apressaram em sair. A noite romântica teria que esperar.

*****

─Tio J’onn e eu analisamos, e vocês têm razão. Detectamos a ausência de ao menos vinte e sete galáxias.

Honey digitou alguns comandos, e um holograma surgiu no meio da sala de reuniões. Os membros fundadores e seus filhos se aproximaram, enquanto Honey apontava as galáxias ausentes, em diferentes pontos do universo.

─Como uma galáxia some? ─Lily indagou, e era a questão na mente de todos.

─Se fosse um fato isolado, eu diria se tratar de um gigantesco buraco negro, mas vinte e sete? Não é natural.

─Caos está de volta. ─Falou Superman.

─Não sei, não, tio Clark. Acho que ele nunca foi. ─Kira se intrometeu. Todos os olhares se voltaram para ela. A menina marciana engoliu em seco com a repentina importância, porém continuou. ─Eu posso sentir a presença dele. É a mesma energia em todas as vezes que Caos aparece.

─Ele já começou. ─Todos se voltaram para Diana. A Mulher Maravilha continuou. ─As lendas dizem que, se Caos retornasse ao mundo dos homens, tomaria tudo para si. Tudo que ele imagina que lhe pertence por direito.

─Estaremos preparados. ─Era Batman. ─Conhecemos nosso inimigo, sabemos como ele age.

Shayera balançou a cabeça.

─Por que eu acho que não será tão fácil?

─Nunca disse que seria fácil. Mas tem que ser feito.

Superman concordou.

─Vamos detê-lo. ─Fez uma pausa. ─Já está tarde. Sugiro que descansem enquanto ainda temos tempo.

Os heróis concordaram, e pouco depois a reunião foi dada como encerrada. Os jovens saíram primeiro, e aos poucos, seus pais também seguiam para tentar descansar. Shayera ficou do lado de fora, apenas encostada na porta. Pouco depois ela viu quando Flash saía. Ele parou por dois segundos, e a encarou. Ela lhe lançou um sorriso sem jeito, mas o velocista ruivo simplesmente passou por ela.

─Como ele é sensível! ─Exclamou.

─Acho que o Flash tem os motivos dele. ─Shayera se virou e Diana estava lá, com os braços cruzados. ─Todos sabem que ele sempre foi apaixonado por você. Você brincou com os sentimentos dele.

─Eu não brinquei com os sentimentos dele. Eu estava confusa com os meus!

─Isso não é motivo suficiente para magoá-lo. ─Retrucou.

Shayera balançou a cabeça, concordando. Diana estava certa, e ela sabia. Ela magoou o único em toda a liga, talvez no mundo que a aceitava por completo. Era indigna do amor e da amizade do Flash. Despediu-se de Diana e seguiu o caminho para seu quarto.

Mal Shayera sumiu pelo corredor e Diana sentiu uma mão em seu ombro. Ela sorriu, sem precisar se virar para saber quem era.

─Bruce... ─Seu nome saiu como um sussurro apaixonado.

A princesa amazona se virou, e seu amado cavalheiro das trevas estava lá. Deu-lhe um meio sorriso. Mesmo que estivessem sozinhos naquele momento, a torre estava cheia de heróis, e eles nunca ficavam completamente a sós na torre de vigia. Mas ela ao menos podia fingir que teriam um momento a sós naquela noite.

Aproximou-se mais, ansiosa pelo toque de seus lábios macios. Diana logo estava em seus braços, e compartilharam beijos e toques carinhosos, como se não houvesse amanhã. Batman bem que queria levá-la para sua casa, contudo, todos os heróis ficariam em guarda na torre. Então, os beijos seriam tudo que teriam aquela noite.

Afastaram-se quando foi preciso respirar, continuando abraçados. Diana sorriu, como sentia uma mão de Batman passeando por sua bochecha. Mal podia esperar para serem enfim marido e mulher, assim como mal podia esperar para se descobrir grávida.

Voltaram a se beijar pouco depois, ainda mais apaixonado que antes. No fundo de sua mente, lembrou-se de onde estavam, e sabia que teriam que parar. Levou muito de seu autocontrole, e mesmo contra sua vontade, tiveram que se separar. Batman afastou Diana, e instantes depois Kira passou por eles.

A menina marciana não diminuiu sua marcha, mas sorriu para o casal, envergonhada por atrapalhar o momento de carinho. Diana sorriu e suspirou, sabendo que cada um teria de seguir um caminho.

Começou a andar, no entanto, Batman segurou sua mão. Seguiram juntos e de mãos dadas por alguns metros, até precisarem se separar ao estarem próximos do salão principal. Sorriu mais uma vez, deu-lhe um beijo na bochecha e saiu. Batman observou seu andar, acompanhando seus passos até ela desaparecer por uma das muitas passagens da torre.

Quando se encontrava sozinho, soltou um suspiro. Mal se separaram e já estava com saudade. Por muito tempo lutou contra os próprios sentimentos, mas agora tinha que admitir. Estava apaixonado por Diana.

*****

John entrou em seu quarto na torre. Combinaram de dormirem todos na liga, caso Caos aparecesse. Assim que fechou a porta, a luz do quarto acendeu e ele viu Lily sentada em sua cama.

─Você me assustou, Kiwi.

─Nada de Kiwi! Eu quero saber o que você e Martha faziam na noite.

─Estávamos conversando.

─Eu não sou boba, John! Estou morrendo de curiosidade.

─Pois vai ficar na curiosidade. ─Empurrou a irmã para fora do quarto. ─Não vou falar nada.

─Mas!

A porta se fechou em sua cara. John não queria falar no relacionamento com Martha, não até tudo se acalmar por completo. Jogou-se na cama e fechou os olhos, cansado demais para pensar. Ele só queria dormir um pouco, e se preparar o melhor que podia para o que viria a seguir.

*****

Para os heróis que conseguiram dormir, acordar com os alarmes da torre soando como loucos não foi uma boa maneira de começar o dia. Superman e Kira foram os primeiros a chegar nos controles. O homem de aço digitou alguns comandos, e uma nova anomalia pairava sobre Metrópolis.

Honey, Terry e Re chegaram pouco depois, vestidos em seus uniformes. Em instantes, os heróis formavam uma multidão ao redor dos monitores, tentando desvendar o que acontecia.

─Tenho imagens. ─Senhor Incrível gritou, e jogou as imagens que obteve nos monitores.

Os poucos segundos de imagens de algum canal de televisão mostravam Caos caminhando livremente pelas ruas. O vilão olhou diretamente para a câmera, e com um movimento de sua mão direita, as imagens paravam. Os heróis se entreolharam. Mesmo sem estarem completamente preparados, tinham que impedir Caos.