Interlúdio escrita por darling violetta


Capítulo 24
Encontros e Desencontros


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que queria terminar essa história ainda esse ano, mas ainda faltam alguns capítulos. Esse deve ser o último capítulo que vou postar esse ano, e vou tentar não prometer muito, só escrever o quanto for possível.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/752288/chapter/24

A noite foi bem diferente do que imaginaram. Eles só queriam se divertir, mas tiveram que salvar a cidade de uma força invisível. Por sorte, nem toda a cidade foi afetada, e a casa de Wally estava inteira para eles. John e Lily já haviam tomado banho e se livrado da poeira com a qual ficaram cobertos. Wally também estava limpo, restando apenas Shayera.

Ela bem que poderia ter voltado para a torre e dormir no conforto de sua cama, contudo, sentiu-se tocada quando Wally disse que a levaria para casa. Aquelas duas palavras tinham um significado enorme, e ela gostou, embora não soubesse ainda como agir diante delas.

Estava encostada contra a porta do banheiro, tendo apenas uma toalha em volta do se corpo. Ouviu bater do outro lado, o que a acordou de seus pensamentos. Abriu parcialmente a porta, então a voz de Wally veio do outro lado.

─Eu mandei seu vestido para a lavanderia, junto com... a outra coisa...

─Minha calcinha?

─Essa coisa aí. ─Shayera riu baixo, então ele estendeu-lhe um par de roupas. ─Achei que ficaria mais confortável com uma de minhas camisas.

Shayera aceitou as roupas, trancando a porta em seguida. Minutos depois ela saiu, já limpa e com as roupas de Wally. Usava uma camisa azul escuro, grande demais para ela, onde se lia “Central City Crime Lab”, e calças de moletom cinza. A ruiva deu um sorriso envergonhado para Wally, que a esperava ainda na porta.

─Desculpe, mas tive que fazer buracos para minhas asas. Tinha até me esquecido delas.

─Tudo bem. Esta camisa ficou melhor em você que em mim.

Wally observou-a um pouco mais. Os cabelos molhados caiam em seus ombros e rosto. Mesmo com roupas grandes demais, ela continuava linda.

─Wally... ─Chamou. O ruivo piscou algumas vezes, acordando finalmente. ─Tudo bem?

─Sim, sim. A “cama” está arrumada, se você já quiser se deitar.

─Vou me deitar quando você for.

─Como quiser, Shay.

*****

Embora não fosse tão tarde, estavam todos exaustos da noite e decidiram assim ir se deitar. Como sempre, John e Lily dormiam no quarto de Wally, e Shayera dividia a sala com o ruivo, como das outras vezes em que dormiu naquela casa. Wally apagou as luzes, e foi se deitar ao lado de Shayera.

Ela sentia o movimento nas cobertas ao lado dela, então soube quando o ruivo havia se deitado. Seu coração bateu mais forte, esperando Wally se aproximar mais, ou mesmo tocá-la, como imaginou. Contudo, ele não o fez.

─Boa noite, Shay. ─Disse apenas.

Shayera se virou para ele. No escuro, conseguia apenas enxergar a silhueta dele. Wally estava quieto, lutando para manter as mãos sob controle. Ela não queria acreditar. Depois de tudo que passaram, depois de tudo que ele disse, e de tê-la levado para casa, Shayera esperava um pouco mais de atitude. Ela sentia seu corpo vibrar, e sabia que ele queria tanto quanto ela.

─Eu estou aqui do seu lado e não vai tentar nada? ─Sua voz saiu baixa.

─Não sei se meu coração agüenta. Ter uma noite incrível com você e ser só isso, uma noite. Não quero ficar com você até que tenha certeza do que sente.

─Wally, minha única certeza no momento é que eu quero passar essa noite com você. Eu evitei chegar a esse ponto, mas... ─Ela suspirou. ─Eu preciso de você!

─Deve ser difícil para você admitir isso.

─Você nem imagina o quanto.

Levou alguns instantes, mas ela sentiu o cobertor se mexer, e logo Wally estava mais perto. Ouviu sua risada baixa e sentia uma mão tocando seu rosto. Como da primeira vez em que se beijaram, ele a tocava com carinho, no entanto, sem o receio de antes.

─Eu sabia que você sentia saudade.

Shayera sorriu e antes que pudesse dizer qualquer coisa, os lábios dele estavam contra os dela. Sentia o coração dele pulsando acelerado dentro do peito, e era como se ela própria tivesse dois corações, tamanha a proximidade. Seu coração também batia mais forte, acompanhando o dele. Por um instante, sentia como se fossem um só. E ela mal podia esperar para realmente serem um só, ao menos por aquela noite...

*****

Shayera suspirou e sorriu antes mesmo de abrir os olhos, como as lembranças da noite retornavam à sua mente. Dois braços quentes a mantinham junto de uma presença sólida, igualmente quente. Metade dela estava ao lado, e metade sobre ele. Sentir seu peito subir e descer era tão bom quanto o contato de sua pele contra a dele. Estar com Wally foi incrível, muito mais do que imaginou.

─Bom dia, Shay. ─Disse.

─Bom dia. Está acordado há muito tempo?

Ele deu de ombros. Na verdade, ele mal dormiu aquela noite, com medo de acordar e ter sido apenas um sonho. Wally a puxou para um beijo, mas ouviu seu estômago roncar. Com um resmungo, teve que afastá-la um pouco.

─Vou fazer café porque eu estou com fome, e imagino que você também esteja. ─Ele sorriu orgulhoso, mas ela apenas revirou os olhos.

Vestiram as roupas, trocaram um beijo breve e ele ficou de pé. Wally segurou a mão de Shayera o quanto foi possível, porém uma hora teve que soltá-la. Com um sorriso, ela se jogou de volta no leito improvisado enquanto Wally foi para a cozinha.

O travesseiro e os lençóis ainda guardavam o cheiro dele, e Shayera se pegou fechando os olhos, apenas para apreciar um pouco mais. Lembrava-se perfeitamente de cada toque, do atrito entre seus corpos, dos suspiros e gemidos, assim como das palavras perdidas no escuro. Realmente sentia falta do velocista, e ele estava a poucos metros de distância dela. Mas Shayera sabia que ainda não era o momento de se comprometer, e, mesmo com saudade, não percorreria os poucos metros que os separavam. Assim, os lençóis eram tudo que tinha naquela manhã.

─Que bom que você dormiu aqui, mamãe.

Ela olhou para cima, e mostrou a língua para a menina de pé ao seu lado. Lily se jogou ao lado dela, e as duas se abraçaram.

─Feliz aniversário, pirralha.

─Obrigada, mamãe. Cadê o papai?

─Acho que na cozinha.

As duas ficaram de pé, e foram juntas na direção da cozinha. Wally se virou para elas, e abriu um grande sorriso na direção de Shayera. Dizer que ele estava feliz era pouco.

─Bom dia, mulheres da minha vida. Feliz aniversário, princesa.

─Obrigada, papai. Posso comer meu bolo agora?

─Pensei que queria comemorar na torre, com os outros.

─Não sou tão egoísta assim. Não acho que o clima seja para uma festa.

─Nós conversamos com o Supes e ele disse que tudo bem. Você merece, querida.

─Mesmo? ─A menina pulava de alegria. Todos sabiam que ela abriria mão de sua festa, mas ninguém queria negar-lhes aquele pequeno momento de felicidade.

─Claro, por que não?

*****

Os quatro estavam na torre, assim como os demais heróis. Estavam todos cansados do dia anterior, ainda assim, tinham que estar na torre para suas obrigações. Por isso, aquela pequena pausa era mais que bem vinda. O refeitório havia sido decorado com balões coloridos e fitas, além dos cartazes desejando felicidades à aniversariante. Lily sabia que aquilo era obra de John quando leu “Feliz aniversário, Kiwi” em cima do bolo.

─Acho que meus pirralhos dão mais trabalho que os outros garotos. ─Shayera comentou enquanto conversava com Superman. Só mesmo sua filha para parar a torre de vigia daquela maneira.

─Eu não diria que John e Lily dão trabalho. Eles são... agitados...

─Até demais. ─Ela riu. ─Essas crianças vão me deixar maluca!

─Tenho certeza que você os ama.

─Mas é claro que eu...

Shayera ouviu a voz do Flash. Num gesto involuntário de sua parte, ela virou o rosto para observá-lo melhor. Estava com Jason e Lily, conversando animadamente. Eles riam de alguma coisa que ela não sabia o que era. Num dado momento, Flash percebeu o olhar e piscou para ela. Shayera retribuiu com um sorriso e voltou a fitar o Superman, que a encarava com uma expressão engraçada.

─Os amo... ─Sussurrou, mais para si que qualquer outro. De repente, a implicância daquelas palavras se tornou maior do que ela queria. Balançou a cabeça, livrando dos pensamentos e sentimentos indesejados. Depois, deu uma desculpa qualquer ao escoteiro azul e tratou de fugir.

*****

─Não deveria estar comemorando com seus filhos?

Shayera se virou na direção da voz. O Lanterna Verde John Stewart estava no corredor, caminhando na direção dela. A ruiva deu de ombros e voltou a se apoiar na parede de vidro, olhando para o espaço.

─Só queria ficar um pouco sozinha.

─Então acho melhor eu procurar outro lugar.

─Tudo bem, John. Pode ficar se quiser.

Ele concordou, e se aproximou mais dela. Apoiou-se a seu lado, fitando na mesma direção que ela. Ficaram algum tempo em silêncio, mas quando este silêncio ficou grande demais, o Lanterna tratou de quebrá-lo.

─Como está a vida sendo mãe?

Eles não tiveram muito tempo para conversar nos últimos dias, e mesmo que o destino lhes separasse, ainda tinha um sentimento de cuidado para ela. Shayera deu de ombros diante da pergunta.

─É difícil ter dois adolescentes me chamando de mamãe. Eles sabem tudo sobre mim e eu não sei nada sobre eles.

─É complicado para todos nós.

─Alguns mais que outros.

─Você está bem?

Ela assentiu.

─Sim, sim, estou ótima. Eu só... estive pensando. E ainda lembro quando disse que viu nosso filho no futuro.

─Aquele futuro desmoronava, e não temos certeza do que era real.

─Gostaria de tê-lo conhecido. ─Ela soou pesarosa. ─Mas agora me parece impossível.

John colocou a mão em seu ombro, tentando confortá-la.

─Pelo que vejo, você ainda terá seus próprios filhos.

Shayera pensou em tudo que viveu com ele, tudo que perderam, tudo que ela deixou de acreditar. Mas então, as últimas semanas vieram à sua mente. Lembrou-se dos beijos do Flash, dos momentos em família e também da noite que passaram juntos. Por mais estranho que alguns daqueles momentos fosse, ela amava todos eles.

─Eu adoro aquelas crianças, e não é com isso que estou preocupada. O problema está no pai delas.

─O Flash? ─Ela assentiu. ─Não tem que fazer nada que não queira, Shayera.

─Talvez uma parte de mim queira, e esse é o problema.

─Tem medo de se apaixonar por ele? ─Ela desviou o olhas. Foi então que ele percebeu. ─Está apaixonada por ele.

─Não estou apaixonada pelo Flash. ─Cruzou os braços.

─Deixa de ser teimosa, Shayera. O que te impede?

Desta vez, não havia um dever com o seu planeta. Ela não estava dividida entre o coração e o dever, então o Lanterna não entendia porque ela continuava a negar os sentimentos. Quando percebeu o tamanho do que sentia, tratou de fugir. Não que ela não quisesse amá-lo, mas as pessoas com quem se importava sempre terminavam feridas por culpa dela.

Encarou o ex, o olhar culpado em seu rosto. Cobriu a pequena distância entre eles, pegando-o de surpresa com um beijo. Tentou sentir algo, e nada. Ela já o amou tanto, traiu seu povo por causa dele e da terra, e hoje, ele não tinha a mesma importância. John a afastou. Ele não poderia fazer aquilo nem com Shayera, muito menos Mari.

─Foi estranho, não foi? ─Shayera questionou.

─Muito. ─Ele concordou. ─Por que me beijou, Shayera?

Ela tentou entender porque fez aquilo, e nenhuma resposta valia o esforço. Sentia-se estranha com John, enquanto se sentia tão bem com o Flash. Tentou uma outra vez, sem menos sorte que da primeira vez. Revirou os olhos, enquanto tentava sentir algo com aquele beijo. Perguntava-se se John sentia o mesmo nada que ela, afinal, ele nem se dava ao trabalho de corresponder. Afastou-se.

─Nada mesmo.

─Ai. ─John riu, quase divertido com a situação. Beijou-lhe a bochecha, então se afastou. ─Boa sorte com o Flash.

A ruiva piscou algumas vezes. John entendia seus sentimentos melhor que ela mesma. Estava apaixonada pelo Flash, mesmo que quisesse negar os sentimentos. Talvez fosse a hora de procurá-lo. Lançou um envergonhado sorriso de desculpas ao Lanterna Verde, e quando se virou para voltar para a festa, eles perceberam seus garotos parados no corredor.

O ex-casal se entreolhou, questionando o quanto seus filhos presenciaram, mas pelas expressões confusas deles, viram mais que o necessário. Aquilo não acabaria bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como talvez não vou postar mais esse ano, desejo a todos boas festas.
Gratidão e até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Interlúdio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.