Alguns dias se passaram desde o ataque na torre de vigia. Os heróis ainda estavam apreensivos, contudo, sem sinal do inimigo. Nenhum deles tinha esperança de ter se livrado de Caos, e a calmaria era também preocupante, como imaginavam que o inimigo recuperava suas forças para uma nova aparição. Nesse meio tempo, eles tentavam levar suas vidas normais, o melhor que podiam. Tudo que lhes restava era se preparar e aguardar.

Mesmo com a ameaça de um deus, eles não fugiam de seus outros compromissos como heróis. Os vilões rotineiros ainda estavam soltos, e seu dever ainda era prendê-los. Shayera acabava de voltar de uma missão, e tudo que ela queria era um bom banho e um pouco de descanso. Mas ela sabia que isso não iria acontecer quando Batman veio caminhando em sua direção. Pela expressão dele, se tratava de algo sério.

─Precisamos conversar. ─Foi direto.

Começou a andar e Shayera o seguiu.

─Tudo bem, mas pode adiantar o assunto da conversa?

─Não aqui, e ainda falta alguém.

Os dois heróis foram para a sala de reuniões, que estava vazia àquela hora. Shayera cruzou os braços, esperando. Os minutos foram passando e nada dos outros chegarem. Estava a ponto de desistir quando a porta se abriu e o Lanterna Verde entrou.

─Agora só faltam os outros. ─Ela disse.

─Não. ─Era Batman. Lanterna se aproximou mais, tão confuso quanto Shayera. ─Estão todos os envolvidos aqui.

O ex-casal se entreolhou, silenciosamente se perguntando o porquê de tudo aquilo.

─Eu andei relutando, mas acho que vocês têm o direito de saber, não expus minhas idéias ao outros, por receio de comprometer não apenas nós três, mas aquelas crianças...

─Acha que nós temos algo com tudo isso? ─Lanterna Verde questionou.

Batman deu de ombros.

─Não tenho certeza, as memórias de quando estive na mente de Caos ainda são confusas. ─Fez uma pausa. ─As realidades se chocaram neste ponto do tempo porque foi quando tudo começou. Tudo que sei é que em algum momento neste tempo, nós fizemos escolhas, e essas escolhas foram diferentes da outra linha do tempo. O universo se reiniciou, e despertou um deus adormecido.

─Então nós somos culpados. ─Shayera cruzou os braços.

─Energia não pode ser criada, apenas transformada. Coube a cada um a parte que lhes era de direito.

Lanterna Verde fitou Shayera, e era fácil perceber que ambos tinham questionamentos parecidos. Foi o Lanterna quem teve a coragem de transformar suas indagações em palavras.

─Qual dos futuros é o certo?

─O que fizermos ser o certo. Eu fiz a minha escolha, cabe a vocês decidirem por vocês.

Batman era um homem direto, e como não tinha mais o que falar, saiu em seguida. Sozinho do lado de fora, ele tirou uma caixinha de seu cinto de utilidades. Deu um meio sorriso, admirando o anel que comprou para Diana. Havia feito sua escolha, e não pensava em mudar. Só esperava que fosse a melhor decisão. Mas então, quando pensava em Diana, sabia que era a decisão correta. Assim, foi atrás da mulher que amava, e ela logo seria sua esposa.

*****

Shayera ainda pensava em tudo que Batman lhe disse, e imaginava se não seria a única dos três. Por que para ela tudo parecia tão mais difícil?

Absorta em pensamentos, não percebeu a companhia dos filhos até Lily tocar seu ombro. Olhou para os garotos e deu um meio sorriso. Ela os amava, sem dúvida, mas não se sentia pronta para tomar uma decisão.

─Tudo bem?

─Sim, sim, estou ótima.

─Tem certeza?

─Tenho. Não há nada para vocês se preocuparem.

Tanto Lily quanto John conheciam a mãe que tinham, e por isso mesmo sabiam quando ela não gostava de se abrir. Este parecia ser um desses momentos. Assim decidiram deixar pra lá. Mas Lily tinha outras idéias. Abriu um enorme sorriso para a mãe.

─Vai fazer alguma coisa na sexta?

A ruiva balançou a cabeça.

─Nem pense que vou dormir no sofá do Wally outra vez.

─Não é isso, o meu aniversário tá chegando.

─Aniversário? ─Shayera piscou.

─É, vou fazer dezesseis.

John riu e balançou a cabeça.

─Você ainda nem nasceu, Kiwi.

─Mas a data conta! E eu quero um bolo!

─Se minha princesa quer um bolo, a gente consegue.

Flash sentou ao lado de Lily e a abraçou. Shayera encarou John.

─Será que eu consigo me safar?

─Bom, é que você prometeu, e vocês ensinaram a nunca quebrar uma promessa...

Lily parecia tão ansiosa, que Shayera não se via no direito de negar-lhe nada. E John também parecia gostar da idéia. Eram três contra uma. Assim, soltou um suspiro de concordância.

─Tudo bem, pirralha, você venceu. Vamos conseguir um bolo pra você.

─E vamos sair para dançar? Vocês tinham prometido...

─Claro, princesa. Tudo para você.

*****

─Hey, Lily! Espera!

A menina ruiva se virou na direção da voz. Rex Stewart vinha em sua direção, o que era estranho porque o rapaz quase nunca falava com ela, e ela menos ainda falava com ele, por causa de seu irmão. Mas como era uma pessoa educada, decidiu esperar. O moreno chegou mais perto instantes depois, e ele parecia um tanto envergonhado, o que tornava tudo mais estranho ainda.

─Soube que vocês vão sair sexta à noite... ─Começou.

─É, meus pais vão levar a gente pra dançar. Se estivéssemos no meu tempo, seria meu aniversário. Por quê?

─Será que eu posso ir? Quer dizer, sei que não nos falamos muito, mas eu gostei de jogar boliche aquele dia com vocês, então pensei se não poderia sair com vocês de novo. Além disso, você chamou todo mundo...

Lily olhou para os lados, e não havia ninguém para salvá-la no momento. Ela não queria muito convidá-lo, com medo que seu irmão e ele se estranhassem, mas também não seria certo deixar apenas Rex de fora. Assim, concordou, embora um pouco receosa.

─Você não vai brigar com o John, né? Senão...

─Prometo me comportar. Palavra de Lanterna Verde.

─Tudo bem, então. Ah, e por que não chama o tio John e a tia Vixen também? Assim a mamãe não vai se sentir a única adulta.

─Beleza. ─Rex abriu um sorriso luminoso. Talvez ele e John não voltassem a ser amigos, mas a convivência pacífica era um começo. E ele queria sair, sentia-se entediado n torre. ─Até sexta.

─Até.

O rapaz saiu pouco depois. Lily fez o que achou certo. Só esperava que tudo corresse bem.

******

J’onn se voltou para a menina ruiva. Lily tinha um grande sorriso, e pela expressão dela, não era preciso ler sua mente para saber que ela queria alguma coisa.

─O que quer, Lily?

─Sabe, tio J’onn. Sábado é meu aniversário e eu estive pensando se a gente não pode comemorar aqui na torre. Não vai ser nada demais, só um bolo...

O marciano encarou a ruiva alguns instantes. Ela fazia uma expressão de cãozinho sem dono, e embora gostasse muito dela, não era apropriado para a torre de vigia.

─Não sei, não.

─Por favor... ─Ela suplicou. ─Eu estou longe de casa, dos meus pais de verdade, e o senhor não pode me deixar curtir meu aniversário? Pra esquecer os problemas?

─Quanto isso vai custar?

─Nada, o papai vai conseguir um bolo pra mim.

Ele sabia que iria se arrepender, contudo, não se sentia no direito de negar o pedido de Lily. Ela, assim como os outros, estavam longe de suas famílias e talvez merecessem um pouco de normalidade. Soltou um suspiro pesado.

─Tudo bem, você venceu. Mas até as onze, e nada de bebidas.

Lily pulou em seus braços e beijou a bochecha de J’onn.

─Obrigada, tio J’onn. Você é o melhor!

─Pode chamar seus amigos.

Lily coçou a cabeça.

─Na verdade, eu já chamei.

─Então por que veio me pedir permissão?

─Pra você ter a sensação de que a última palavra é sua. Mas obrigada, de qualquer maneira.

A menina acenou para J’onn e saiu logo em seguida. Tinha que começar a planejar sua festa.