Shayera acordou meio desorientada. A TV ainda estava ligada e eles dormiam no sofá. Wally tinha o rosto virado para ela. Quando acordou, ela estava meio que abraçada a ele. Lily dormia em meio às suas asas e John dormia no outro braço de Wally, agarrado à sua camisa. Sua família, ela pensou.

Wally se mexeu quando ela mudou um pouco de posição, mas continuou a dormir. Ela sorriu diante do momento de calmaria e paz em que se encontravam. Nem parecia que quase morreram no dia anterior. Parecia uma realidade distante agora. Ainda era muito cedo, então desligou a TV. Voltou a se aconchegar em Wally e fechou os olhos. Ficaria toda dolorida depois, mas valeria a pena.

Na segunda vez que Shayera acordou, estava abraçada a Lily e John. O sol entrava pela janela e batia em seu rosto. Com cuidado, desvencilhou-se do abraço dos filhos e ficou de pé. Esticou os músculos doloridos e como esperava, estava toda quebrada. Andou um pouco pela casa e encontrou Wally na cozinha. Ela parou na entrada, observando-o trabalhar.

─Não sabia que você cozinhava...

─Bom dia, Shay. ─Sorriu para ela. ─Como está a asa?

─Melhor, embora eu esteja dolorida. Nem acredito que troquei minha cama pelo seu sofá outra vez.

─Pois é, todo mundo pegou no sono.

Ele corou um pouco, lembrando que Shayera estava próxima demais quando acordou. Tão perto que sentia a respiração dela em seu rosto. Precisou de um grande esforço para conseguir se levantar mais cedo.

─Os garotos ficaram felizes por você ter vindo. ─Disse.

─Não foi nada. Eu queria estar com minha família.

─Esta família inclui a mim?

Pegou-se sorrindo para ele.

─Não mesmo.

─Você me magoa falando assim, Shay. ─Fingiu-se de ofendido. ─Que fora!

─Você está acostumado. ─Retrucou.

─Eu sei que você me ama!

─Muito menos do que você imagina.

Eles se entreolharam e riram. Shayera gostava muito da presença dele. Sempre tiveram um bom relacionamento e Wally era um de seus maiores amigos na liga. Ainda aos risos, sentiu quando ele estava ao lado dela. Wally a puxou em um abraço apertado. Shayera fechou os olhos, apreciando o contato quase tanto quanto ele.

Ele queria muito beijá-la e abaixou o rosto para ela. Silencioso, pediu permissão, e Shayera prontamente cedeu. Seus lábios encontraram os dela. Saboreou primeiro o lábio superior, em seguida, o inferior, antes de suas línguas se tocarem. Ele queria aproveitar cada segundo, os momentos com ela sempre passavam rápido demais.

Shayera envolveu as mãos em seu cabelo, puxando-o para mais perto e o que começou suave logo se tornava um pouco mais voraz. Suas mãos vagaram pelo corpo dela. Shayera se arrepiou quando as mãos dele tocaram suas costas por baixo da blusa. Ignorou a pontada de dor quando os dedos dele delinearam um grande arranhão, contudo, não poderia ignorar quando sentiu uma mão boba apertando aonde não devia. Segurou seu pulso e quebrou o beijo.

─Não! ─Disse firme. ─Melhor a gente parar.

Ele resmungou um pouco, porém assentiu. Wally a soltou devagar, mesmo contra sua vontade. Afastou-se um pouco para não cair em tentação. Shayera ajeitava as roupas e os cabelos, sob o olhar atento do ruivo. Ela parou, com as mãos em meio aos cabelos, e seus olhos se encontraram com os de Wally.

Shayera não sabia o que acontecia com ela. Normalmente, faria de tudo, chegando ao seu limite para esconder qualquer atração que sentia. Agora, de frente a Wally, não conseguia pensar direito. Talvez aquela história toda mexesse com seus hormônios, no entanto...

─Ah, que se dane!

No instante seguinte, voltavam a se beijar. Shayera puxou-lhe, tentando trazê-lo para perto outra vez, enquanto Wally segurava firme em sua cintura. Ele lutava para manter as mãos sob controle, pois não queria que ela se afastasse uma segunda vez. Embora desejasse explorá-la um pouco mais, sabia que teria que ir com bastante calma.

Perderam a conta de quanto tempo ficaram lá. Não importa quanto tempo fosse, para ele, ainda era muito pouco. Ela parou de beijá-lo, mas se manteve próxima. Tinha os olhos fechados, sentindo a respiração dele em seu rosto. Segurou-lhe o pescoço, tentando mantê-lo próximo.

─Você é tão linda, Shay!

Ela riu um pouco, meio rouca.

─Acho que você não tem se olhado no espelho ultimamente. ─Retrucou, sem pensar. Quando percebeu as palavras que saíram de sua boca, abriu os olhos, encontrando um sorriso da parte dele.

─Isso quer dizer que você me acha bonito?

─Eu não disse isso.

Wally decidiu não discutir, nem comentar. Shayera manteve os braços ao redor de seu pescoço, mas então ouviu vozes cada vez mais próximas, e ela o empurrou com toda sua força. Wally a encarou confuso, porém antes de fazer perguntas, John apareceu na porta, seguido por Lily.

─Estamos atrapalhando? ─John indagou. Embora não fosse bobo, ele não desejava criar falsas expectativas em relação a seus pais.

─Nem um pouco.

Shayera deu a volta na cozinha, colocando-se o mais afastada possível de Wally. Os meninos sentaram nas cadeiras da pequena mesa.

─O que estavam fazendo?

─Eu estava dizendo ao Wally que vou voltar para a torre. Quero ajudar como puder lá em cima.

─Ainda está cedo. Por favor, mamãe! ─Lily suplicou. ─Fica com a gente um pouco mais...

─E fazer o quê?

─Comece pelo café da manhã, Shay.

Wally logo estava próximo dela, e abraçou Shayera de lado, porém ela deu uma cotovelada em seu estômago, obrigando-o a soltá-la.

─Quer me deixar doido com esse carinho todo? ─Ele questionou, segurando o local onde ela o acertou. Porém Shayera decidiu ignorá-lo. Aproximou-se de John, e emaranhou os dedos por seus cabelos. O garoto olhou para cima, para encontrar a expressão preocupada da mãe.

─Está melhor, John? ─Indagou. O rapaz assentiu.

─Ainda com fome, mas isso é normal na família. Não quebrei nada, e estou vivo. É o que importa.

─E você, Lily? ─Shayera segurou o rosto da filha. Ela via os hematomas em seu rosto bonito, e as marcas do que seriam mãos em seu pescoço. ─Está toda machucada.

─Vou precisar de muita maquiagem pra cobrir isso, e também minha garganta ainda dói, mas estou bem.

─Sou uma mãe muito ruim por deixar vocês passarem por esse tipo de coisa.

Mas os garotos deram de ombros. Shayera ainda se lamentou mais um pouco, mas tanto John como Lily diziam estar acostumados. Assim, a conversa foi encerrada pouco depois. Ela ainda tomou café da manhã com eles, mas achava que aquilo tudo durava mais que o necessário. Assim, embora relutasse, encerrou o tempo em família.

─Você tem mesmo que ir? ─Lily perguntou.

─Vocês estarão na torre em breve, logo nos vemos outra vez.

Ela não deu tempo para discussões. Abraçou os garotos, antes do teletransporte levá-la de volta à torre. Wally resmungou e ficou algum tempo olhando para o lugar onde ela esteve. Ela mal saiu e já sentia saudade. John se aproximou mais e colocou a mão no ombro de seu pai, que o encarou.

─Você não deveria deixá-la ir embora.

─E é pra mim que você fala?

*****

Honey abriu os olhos imaginando que a amiga ainda estivesse a seu lado. Sorriu, mas ao invés de encontrar Kira, era Jason que estava lá. Talvez fosse um sonho, afinal. O rapaz sorriu para a irmã adotiva, enquanto Honey se sentava na cama.

─Oi.

─Oi, eu tive um sonho muito louco!

Jason riu.

─Deixa eu adivinhar: você sonhou que a Kira dormiu aqui com você?

─Como sabe? ─A menina piscou. Jason agora lia mentes?

─Kira estava aqui de manhã quando eu vim te ver. Vocês dormiam abraçadas, mas ela acordou, me viu e saiu. Você sabe como a Kira é tímida...

Então não foi um sonho, pensou. Tudo que disse foi real. E ela pensando que poderia se safar. Aquela história ainda renderia, ela sabia disso.

*****

─Bom dia. ─Diana sorriu ao acordar aquela manhã. A noite foi incrível, e ela sentia-se muito bem.

Sentou na cama, observando seu amado trabalhar. Havia uma mesa de café da manhã ao lado da cama, ricamente preparada. Bruce estava muito elegante em seu roupão, ajustando os últimos detalhes na mesa. Ele queria que tudo ficasse perfeito. E para Diana, estava.

Sorriu para a amazona e sentou ao lado dela na cama. Compartilharam um beijo suave e apaixonado. Bruce sabia o quanto aquele futuro era diferente do outro, e embora se mostrasse assustador, ele sabia que também era real. Ambos os futuros eram verdadeiros, e as ações de todos moldaram aquela nova realidade. Não havia certo ou errado, era apenas novo, mas ainda real.

─Dormiu bem?

─Você sabe que sim. ─Fez uma pausa. ─Estou feliz que esteja aqui.

─Também estou.

Ele segurou as mãos dela, e também olhou em seus olhos. Diana não sabia o que o homem morcego diria, mas pela expressão, ele estava bastante sério.

─O que foi, Bruce? Estou ficando nervosa.

─Eu te amo. ─Disse e abriu um sorriso, para alívio de Diana.

─Por um momento, pensei que estivesse arrependido.

─Nunca. ─Fez uma pausa. ─Eu estive pensando e talvez devêssemos nos casar. Obviamente teria de ser discreto, e precisaríamos de alguns dias, mas...

A princesa amazona piscou diante daquelas palavras. Bruce não era um homem de brincadeiras, então a proposta era mesmo séria, embora muito rápida. Mesmo que fosse rápido demais, era tudo que ela mais queria. Assim, se jogou nos braços dele.

─Oh, Bruce! Claro que eu aceito me casar com você!

Não era necessário dizer o quanto estava feliz. Aquele era o início de algo novo. A outra versão de si mesmo foi covarde demais para tornar o relacionamento deles real, contudo, ele não cometeria os mesmos erros agora que tinham uma nova chance. Os dois se amavam e mereciam uma vida juntos.

Não seria um deus que ameaçaria seu futuro. Eles venceram uma batalha, e logo venceriam a guerra. A liga da justiça sairia vitoriosa, assim como seu amor...