WSU's: Renascida escrita por Nemo, WSU


Capítulo 5
Classe de Ataque




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— Tenho que admitir, foi um belo tiro, seu pai lhe ensinou bem. É um homem de fibra, tal qual sua filha. — diz Salazar, na passarela lateral do armazém, junto com dois homens. Um deles pergunta ao outro:

— Até que ela não é feia, né Ivan?

— Não enche, Diogo, pelo menos uma vez na vida... não dê em cima de uma colega de trabalho... — fala Ivan ríspido. Salazar, deixou os dois rapazes discutindo e se voltou para Renata.

— Creio que tenha aceitado minha oferta — conclui o homem descendo as escadas — Uma sábia escolha, no entanto, o serviço que vamos nos meter necessita de alguns componentes a mais, do que só saber atirar.

— E quais seriam? — indaga ela enquanto recarrega a arma, enfiando os cartuchos na mesma de forma tranquila.  Salazar, questiona Renata:

— Como se mata um vampiro?

— Um tiro de grosso calibre no meio da testa resolve normalmente... — Renata, responde terminando de recarregar. — Decapitação também serve, partir o corpo ao meio ou enfiar uma espada no crânio...

— Salvo a Drácula, realmente. — comenta Salazar.

— Outro ponto interessante são as armas amaldiçoadas ou santificadas. Já viu uma? — pergunta Diogo.

— Já apontaram uma para mim... — responde ela em um tom de pouca intimidade.

— A ideia é que essas armas tornam a nossa regeneração como a humana. — fala Roberta, recostada a parede.

— Vejo que está bem informada. — fala Salazar. — Mas... creio que vai ter que lutar contra um de nós.

Os olhos da vampira se estreitaram, contato físico não era uma boa ideia.

— Como foi dito, é preciso estar preparado de todas as formas para o que vamos encarar... mesmo que não seja tão boa no corpo a corpo, preciso ter uma noção do quanto você sabe, e do quanto pode avançar em nosso curto espaço de tempo.

— Normalmente eu estaria de olho em mercenários bem conceituados, como o Intangível, Hur, entre outros tipos. Mas não disponho de muito dos meus recursos, fora que o Paulo está morto e o Hur... está preso.  Malditos vigilantes... — Salazar, continuou sua explicação com o mesmo tom soberano de antes. — Vou te dar uma escolha, qualquer um de nós serve, embora o Diogo, seja um tarado, então não recomendo ele.

— Mas chefia...

— Calado. — ordena o vampiro.

— Roberta — Foi a resposta de Renata.

— Boa escolha, vocês estão bem balanceadas por serem vampiras, embora Roberta, tenha mais experiência. Por outro lado, você tem seu bônus. — conclui Salazar, para Renata.

Velho xarope... Pensou ela.

— Aposto cinquenta na Roberta. — diz Ivan, de súbito.

— Droga... tudo bem eu fico com a... qual o nome dela mesmo?

— Renata, seu idiota. — retruca Roberta, enquanto remove a blusa superior, a jogando de lado, ficando somente com a de baixo, preta de manga longa

— Não precisa ser tão chata... — Roberta, apenas lhe lança um olhar de asco, enquanto ficava de frente a Renata. 

— Não pense que vou pegar leve com você. — avisa Roberta, colocando duas luvas brancas.

— Estou querendo te dar uns cascudos faz um tempo. Você comeu minha caixa de chocolate inteira. — retira suas luvas e arregaçou as mangas.

— Olha só, você é vingativa, pensei que fosse de perdoar.

— São todos uns idiotas. — observa Mefisto, balançando seus pés sujos na passarela, desta vez ele era invisível para todos ou para quase todos.

— Veio assistir também? — indaga ele a sombra que figura na parede atrás de si. — Droga, você nunca fala nada... embora me dê boas gargalhadas.

As duas vampiras entraram em guarda. Esperavam pelo sinal de Salazar. Diogo, questiona:

— Qual é o bônus dela Chefe? Não entendi isso.

— Ela, assim como eu temos um acordo extra, o dela a torna intocável, entre em contato direto com sua pele e você vai ficando fraco a ponto de desmaiar, suspeito que um contato prolongado te mate. — A resposta de Salazar, provocou um sentimento duplo, em parte de felicidade por ter mais chances de ganhar e depois medo. Salazar, continuou:

— No entanto é uma faca de dois gumes, ela não pode ter contato físico com ninguém e está condenada a um destino pior que a maioria dos vampiros. Ela vive um inferno pior que o da Roberta, e talvez o meu, creio que ela só vive por que a morte seria um suplício eterno.

A expressão de Diogo, ficou meio triste e cabisbaixa, ele nada podia fazer, apenas se perguntar como ela tinha chegado naquele ponto, quais eram os motivos por trás desse acordo? Por que se condenar a esse destino? Já Ivan, mantinha a mesma expressão de sempre; indiferença.

— Comecem!

Renata, tentou ficar com a guarda alta, mas até um cego conseguiria determinar que sua guarda estava ruim, devido a inexperiência. Uma mão um pouco mais elevada que a outra, pés não alinhados de forma correta, corpo um pouco torto. A verdade é que ela estava ansiosa, nunca tinha participado de uma luta como aquela.

— Você é patética. — provoca Roberta. — Sua pose é uma completa porcaria, mas o que eu deveria esperar de uma caipira?

Renata, avança por instinto, mas antes de preparar o golpe, Roberta, que estava com a guarda semi-quebrada avança com um chute na boca do estômago da garota. Por conseguinte, o impacto a choca contra a parede, ela leva a mão na boca do estômago numa tentativa de aliviar a dor, mas sua distração fez com que leve outro chute na boca a mandando para o chão.

— Você pode até ser boa no tiro... agora no corpo a corpo, você é uma desgraça, confia demais na força do seu soco e em seu poder. — Roberta, a pegou pelo pescoço e a  choca contra a parede, em seguida desferindo dois tapas em seu rosto. — É irônico que a área da sua habilidade é aquela na qual você é pior. Não me entenda mal, posso até estar sendo cruel, mas um inimigo já teria acabado com você.

— Levanta Renata! Eu apostei cinquenta em tu! Na realidade não tenho nem vinte...

Ivan, retrucou com sua frieza, num misto de perversão:

— Se quiser saber tem um velho na rua quinze, que pagaria muito bem por uma rodada com você.

— Tá me estranhando? Não curto essas coisas não... — Em seguida pergunta para o chefe:

— Rola um adiantamento chefia?

— Não, agora cala a boca.

Paralelamente Renata, tenta agarrar a cara de Roberta, em um misto de ódio e de último esforço, mas Roberta, não permite. A voz de Salazar, deteve a continuidade da luta.

— Bem, creio que a luta está encerrada. Renata, você infelizmente desconhece muita coisa do corpo a corpo. Recomendo que venha treinar com Roberta a noite, para conhecer o básico pelo menos.

A loira a soltou e se levantou, logo depois lhe estendendo a mão, que foi ignorada. Renata, foi se apoiando na parede para se levantar.

— Isso não foi uma luta... foi uma surra. — diz Mefisto, para a sombra, logo depois conferindo atrás de si, para sua surpresa ela não estava mais ali — Que maravilha... a sombra me deixou... e estou falando sozinho. Vou para o inferno depois dessa.

— É melhor me pagar Diogo...

— Relaxa cara, quando fui que eu te dei o calote?

Um olhar enfurecido foi a resposta.

— Espero que não leve nada do que rolou hoje para o lado pessoal, Nat.

— Não pretendo. Foi apenas uma lição... você cumpriu bem seu papel. — A resposta foi seca.

 Roberta, sabia que no fundo, ela estava magoada, não com a surra, mas com ela. Por que agora Renata, compreendia, os laços de Roberta e Salazar, eram mais estreitos do que imaginava.

Você está me usando Roberta? Foi a pergunta que permeou sua mente. Foi até Diogo, e lhe estende um maço de notas:

— Seja esperto, não aposte em mim novamente. — Logo depois se retira do armazém, sendo acompanhada por Salazar. Diogo, não sabia o que dizer, Ivan tomou-lhe as notas e disse:

— Aprenda com ela e seja decente.

Velho... o que foi isso? Pensa Diogo, assustado e surpreso.

— Se não se importa, gostaria de lhe conceder certas informações. — fala Salazar, atrás de Renata — Começo do princípio?

— Faça como desejar. — Foi a resposta da vampira.

— Bem, eu sou o fundador do clã, sou o vampiro mais velho. Tive dois filhos, quando era humano e mais tarde os transformei em vampiros, quando eles mesmos já tinham me dado netos. O primeiro é Ruan, meu usurpador e o segundo é aquele que tirou a vida da minha esposa ao nascer, aquele que você pode ter visto morrer, Gregório.

Salazar. suspira antes de continuar para Renata:

— Por muito tempo houve um equilíbrio no clã devido as posições que cada família ocupava, mas a família de Gregório, se tornou ambiciosa e procurou o poder... encontrando o fim nas mãos de um poder tenebroso, seu melhor amigo foi como Roberta, o descreveu.

— Nós não somos amigos. — diz ela.

— Se são ou não, isso não me vem ao caso. Por causa da ambição de Gregório, o Soldado Fantasma os aniquilou. Com a morte de Gregório, e do seu lado da família, Ruan e meu neto Lorenzo tiraram de mim meu domínio, coisa que eles não fariam com meu filho vivo.

— Está dizendo indiretamente que a culpa é minha? — pergunta Renata, com os olhos faiscantes.

— É claro que não, se você tem algum papel nisso, provavelmente é o de vítima. No entanto o desequilíbrio no sistema tem gerado mortes desnecessárias, o mundo vai acabar nos notando e você e eu podemos acabar sendo dissecados quem sabe pela Phoenix Corporation... talvez até sacrificados por aquele culto de malucos...

— E se formos vitoriosos? — questiona ela.

— Detesto fazer promessas, isso é coisa de político, mas no momento é o que posso fazer. Bem, será incorporada ao clã central, dispondo da proteção do mesmo, terei recursos o suficiente para lhe dar status, um serviço melhor, moradia... e é claro alimentação. De forma que você viva tranquilamente no meio dos humanos, sem querer drená-los. Talvez até tentar renegociar seu acordo com Mefisto... embora seja improvável.

Renata, se virou para perguntar o motivo, mas Salazar, já não estava mais ali.

 

 

Uma semana depois

 

Era uma noite enluarada sobre a indústria Spaniola, uma das muitas que funcionava como extensão das empresas de Salazar. A diferença é que Spaniola é uma indústria química e seus novos empregados tinham um interesse diferente de produzir fertilizante.

O novo chefe diferente de Salazar, divergia altamente de seus métodos, ele desejava agradar outras pessoas e conseguir mais espaço, pelas ruas da cidade. Salazar, obviamente, não gostou nada de saber que décadas de seus investimentos e esforços, foram pervertidos para agradar um grupo de mafiosos.

Como os fins da indústria são agrícolas, fica bem afastada da cidade, ninguém iria desconfiar se começassem a fazer drogas numa renomada companhia. Muito menos iriam investigar sacos de fertilizante... uma sacada inteligente. Pensa Renata, fitando a cerca metálica que a separava de seu objetivo.

— Eu odeio esse pessoal da zona leste. — comenta Diogo, acendendo um cigarro com seu isqueiro. — Eles operam com contrabando de drogas, armas, as vezes pessoas.

— Por qual motivo está me contando isso? — indaga ela.

— Por que, as raízes podres deles se estendem até no departamento de polícia. Provavelmente, até na prefeitura, são estruturados e fazem parte de uma estrutura maior, poucas coisas são ao acaso. O que fizermos aqui e mais a frente, trará consequências.

Ela continua em silêncio, ambos esperando pelo último integrante. As estrelas estão lindas hoje, mas mesmo assim, algo não está certo, mesmo fora da cidade, elas ainda não me parecem... vivas. É como se elas não estivessem naturais aos meus olhos. Acho que é pela poluição noturna dessa empresa...

Ao menos o ar agrícola me é agradável, sentir o sereno da noite. A umidade que só as plantas a minha volta têm, o farfalhar do mato quando eu piso, mesmo que calçada.

— Você parece bem contente, é uma noite bem agradável. Quisera eu poder estar no cinema ou em algum restaurante... — comenta Diogo, tentando ser simpático, ao mesmo tempo que reclamava. Ela nada respondeu.

— Chata e mal-humorada como sempre... poxa, por que vocês vivem me esculachando?

— Fica quieto e eu vou tentar gostar de você.

— Sério?

— Não. — responde ela enjoada, mas logo depois assumindo outra expressão — Estou zoando, você é legal só que não é meu tipo sanguíneo favorito.

Diogo, não sabia se ficava grato, com medo ou ofendido.

— Que lindo casal, vocês terminaram de trocar farpas? — questiona Ivan, enquanto surge do matagal atrás de ambos.

— Você está atrasado. — disseram os dois companheiros em uníssono, logo depois ficando espantados com isso.

— Legal, agora vamos logo com isso. Faça as honras, Diogo. — fala Ivan, enquanto recarregava as pistolas. Renata, abaixou o capuz e retirou sua Nighthank do coldre e ajeitou sua Benelli nas costas. Diogo, removeu suas mãos do bolso e as esticou até que tanto dedos quanto unhas se tornassem afiados. Renata, refletia:

O foco da missão não é essencialmente eliminar os criminosos, é adquirir informação. Salazar, poderia facilmente acionar seus contatos na polícia, mas tomaria prejuízo por que essa empresa se coliga a dele. As ações de ambas iriam cair bastante, além da de serem investigadas e fechadas dependendo das circunstâncias.

Ele aproxima as mãos da cerca, a ponta das garras vai ficando vermelha, não por uma simples coloração, mas indicando calor.

Diogo, pode até parecer idiota, mas ele sabe das coisas, talvez até mais do que eu. Dependendo de como agirmos, vamos abalar o sistema de uma forma e a reação será diferente. Na pior das hipóteses as ações de ambas caem não tanto quanto na primeira hipótese, e a Spaniola fecha suas portas, mas a empresa de Salazar, se mantém. Na melhor, a Spaniola é investigada e teremos a quem culpar... Salazar sairá ileso.

As grades de aço vão adquirindo a cor avermelhada conforme os toques dos dedos de Diogo, e vão esquentando, até ele cortar a tela da cerca em golpes precisos. A grande de tela cai, deixando um buraco disforme

— As damas primeiro. Se inclinou ele como se fizesse uma referência, enquanto gesticulava com as mãos para que ela passasse. A vampira não deu nenhum passo, ao olhar sua face, Diogo, contemplou uma expressão enraivecida.

— Ué... por que essa cara?  — indaga o rapaz sem compreender. Dela não houve nenhuma resposta, Ivan, foi primeiro e explicou:

— Se ela fosse primeiro, nós teríamos uma visão bem avantajada, você não acha?

— Porra é verdade... — Diogo, cai em si. — Me desculpe, eu não me dei conta disso.

Não houve resposta e Diogo, atravessa o buraco, Renata, for por último. A fábrica se dividia em várias áreas, desde a fábrica em si, ao prédio da administração e, aos cinco depósitos. Apesar de tudo, a segurança não era tão rígida. Provavelmente não haveria nenhum guarda ali, dado ao uso noturno da fábrica, se houvesse, ele já estaria ciente de tudo.

— Estão no número 4. — murmura Renata.

— Como você sabe disso? — questiona Diogo, um pouco incrédulo e ao mesmo tempo curioso.

— Estou com sede. — responde Renata, livre de qualquer emoção. Mesmo por debaixo do capuz Diogo, podia notar que seus olhos vibravam, suas presas estavam crescidas.

Se ela se descontrolar... isso vai dar problema, chefe eu sei o que você quer fazer. Você quer que ela se deixe guiar pelo instinto assassino de um vampiro. Pensa o detetive de roupa azul, seus olhos se entristeceram. Mas... ela não conhece o sentimento de matar alguém, claro que isso afeta cada um de forma diferente, eu sei que ela ainda não fez isso, ela ainda vibra, tem aquela luz que não vou saber explicar... Eu realmente sou um idiota, ela é uma vampira Diogo...

— Quantos inimigos?  — indaga Ivan, a ela.

— 14.

— Você vai por cima. Renata, será a primeira. Eu entro pela porta da frente depois e o Diogo, vai pela porta de trás do armazém. Sejam rápidos e precisos.

Renata, coloca um pé sobre a superfície da parede, e depois o outro, começa a caminhar, antigamente ela se sentiria estranha, mas já estava se habituando. Ficou sobre uma telha de ternite cinzenta, já velha e coberta de musgo. O cheiro que a vampira sentia era do sereno noturno, suave com a brisa gélida. Se agachando mais, ela consegue sentir outros cheiros. De mofo do armazém, juntamente com o do fertilizante que outrora ali fora guardado. Da fumaça de cigarro que um dos homens abaixo de si solta, além do suor dos outros dois companheiros ao seu lado. Seus instintos e audição estavam a mil, conseguia ouvir a respiração deles e, até mesmo o toque de seus pés sobre a plataforma de ferro.

A vampira se levanta novamente, desfere uma pisada forte sobre a telha, que se quebrou acima dos três oponentes. Um deles consegue rolar para o lado, os outros dois tiveram as costas golpeadas pelos pés da atacante, que pula sobre o homem lhe aplicando uma joelhada no peito. Tiros a acompanham em seu recente golpe, ela rola e alveja dois dos homens que estão sobre a plataforma, o primeiro no peito e segundo no ombro.  

Outro surge com uma faca em punho e a crava em suas costas, apesar da dor, a raiva, fez com que ela instintivamente agarrasse a cara do oponente e a arranha com ferocidade. Depois lhe concedendo uma cotovelada na virilha e um gancho no queixo lançando-o contra a parede.

Com o alvoroço os outros homens se armaram e se preparavam para alvejar a inimiga, mas simultaneamente, tanto Ivan, quanto Diogo, romperam as portas e alvejaram os sete homens armados ali, trucidando-os. Restou apenas um inimigo, um que subira a plataforma pouco antes dos sete serem baleados. Um vampiro.

Compreendo a situação que estava, cercado por baixo, e tendo a sua frente uma oponente, Renata, não estava de pé, com uma mão se apoiava na grade, e a outra apalpava o meio das costas, ou pelo menos foi essa a impressão que o vampiro teve. Ele decidiu enfrentá-la, afinal para ele...

Ela é só uma mulher, passar por ela não será tão difícil, depois disso salto pela janela e pulo a grade... na escuridão do matagal, ninguém vai me achar.

Começou a correr contra a oponente convicto de sua vitória, mas um tiro em seu ombro o desequilibrou e o fez bater a cara contra a grade de ferro.

Mas como? De onde? Não... ela não estava apalpando as costas... ela estava encenando... não foi golpeada, estava escondendo sua arma graças a inclinação de seu corpo, apenas aguardou o momento certo de sacar a pistola.

Renata, trocou de arma, pega sua Benelli em mãos, e avança efetuando mais dois disparos, um na perna e outro na mão esquerda, o oponente foi inutilizado. Seus membros estavam destroçados. Ela o pega pelos cabelos e joga na sala que, de certo, servira como um escritório de contabilização.

— Por favor não... olha eu digo o que você quiser, até trabalho para o senhor Salazar, novamente.

Um tiro de grosso calibre no outro ombro foi a resposta.

— Onde está Ruan? — indaga a voz feminina.

— MORTO. — grita o vampiro exasperado, logo depois revelando os detalhes. — Pelo próprio filho. Lorenzo, assumiu os negócios, e acredite em mim... ele tem métodos questionáveis... ao invés de cooperar com os criminosos, ele quer comandá-los.

Seus batimentos, indicam que está dizendo a verdade.

— Tire sua carcaça imunda dessa cidade, se eu te ver de novo... vou te drenar.

— Obrigado... agradeço pelo seu voto de confian... — Um tiro interrompe a fala do rapaz, que cai morto com um buraco no lugar de cara. Sangue e cérebro começam a vazar no chão, tornando o ambiente da fábrica ainda mais sinistro.

— Não fazemos prisioneiros Renata, nem deixamos vivos os traidores. Salazar, foi alto e claro. — diz Ivan. — Essa sua compaixão tola por esses sanguessugas ainda vai lhe ceifar a vida. Desta vez vou fingir que não vi, mas se o chefe ficar sabendo desse desvio... sua cabeça pode rolar, e creio que o mundo ficaria menos interessante se isso acontecesse.

O rapaz sai do cômodo com a mesma seriedade, da qual tinha adentrado, a primeira missão tinha sido um sucesso. Informações adquiridas, inimigos eliminados.

 

 

 

Nos arredores da mata

 

Eu pensei que seria fácil terminar o serviço, matar um traidor, mas não é. Algo me impede de puxar o gatilho, acho que no fundo eu tenho medo. Medo de não ser eu mesma depois disso, ou talvez de me converter em algo parecido com ele. Às vezes, eu acho que deveria conversar com Karen Maximus, ela certamente saberia me ajudar, agora que me lembro dela... sua presença era tão agradável.

— Terra chamando Chanata. — Um peteleco atingiu sua cabeça, Roberta, era a autora — E então, quantos você matou?  

— Zero, esses miseráveis roubaram meus alvos...

— A vida é dos espertos, minha cara. — fala Salazar, enquanto colocava as armas no carro.

— Como dizia minha avó, quem não aproveita, só chora. — diz Diogo, sendo silenciado por Ivan, que arremessou uma bala enquanto ele estava de boca aberta. 

— Isso evita que lixo entre na minha mente... — comenta ele, enquanto Diogo, cuspia o projétil e tentava tirar o gosto ruim da boca.

— Bem rapazes, o certo é irmos para o armazém, trocarmos de roupa e ir comemorar nossa pequena vitória no bar do Salgadão, ele abriu uma filial aqui. Tenho esperanças que os salgados dele aqui, sejam como os de SP...— explica Salazar.

 

Bar do Wesley Salgadão

 

 

 

— BOA NOITE FREGUESIA SEJAM BEM VINDOS! O QUE VÃO QUERER?

— O único inconveniente desse cara é falar gritando... — fala Salazar — Mas os salgados dele são quase divinos, não são engordurados, bem temperados e com a quantidade de recheio certo, e a bebida aqui é bem barata.

— É QUE ABRIMOS CHEFIA, ESTOU USANDO PARTE DO ESTOQUE LÁ DE ITABERÁ,... MAS ESTÁ BOM, PRINCIPALMENTE O VINHO.

— Imagino, bem vou querer uma 51. — pede Salazar, se referindo a cachaça.

— Uma cerveja, Skol. — fala Roberta.

— Me dá o vinho aí. — pede Diogo, sendo observado por todos — O que é? Faz bem para o coração.

— Coração de soldado ferido? — pergunta Ivan, com ironia.

— Não cara, sai... me refiro ao físico... — responde Diogo, irritado.

— PARECE QUE TEMOS UM DRAX AQUI! — fala Wesley.

— Quero uma Heineken. — pede Ivan. — Se vou beber que seja algo de qualidade...

— E VOCÊ, MOÇA?

— Me dá uma coxinha aí. — pede a garota.

— Alguém não gosta de álcool... — comenta Roberta.

— É que eu acho que vou ter que carregar uma pinguça para casa hoje, então é melhor não tomar nada... fora que sou pobre, sorry. — Wesley, retira o salgado da estufa e dá a ela, envolto num guardanapo, em companhia de um Ketchup

— Essa aí é bem antissocial. — fala Roberta. — Sad Girl.

Renata, não se deu ao trabalho de responder, apenas fita o salgado cabisbaixa no balcão.

— Moça, por acaso, você não é de Itaberá? — pergunta Wesley com a voz mais branda, provavelmente era algo privado, enquanto passava um pano no balcão para limpar.

— Talvez eu seja, por que a pergunta? — questiona ela.

— É que eu acho que seu pai e você compravam de mim a pouco tempo, uns anos atrás, dá última vez que o encontrei ele estava igual a você, triste.

Renata, nada disse de imediato, apenas deu uma mordida no salgado. Ele está triste? Será por minha causa?  Olhou em volta, Roberta, Ivan, Salazar e Diogo, ou melhor zoando o Diogo.

— Desculpe a pergunta estranha, mas como é meu pai para você? — questiona ela.

— Seu Cardoso? Ótima pessoa, trabalhador, honesto, uma beleza de freguês, lembro que ele sempre trazia você e seus irmãos para comerem algo na lanchonete.  — Wesley, para um pouco e pergunta — A propósito, você casou, não é?

— Que? — Aquela frase pegou ela completamente despreparada, já tinha imaginado muitas coisas sobre si, só que essa não. Para ela no máximo tinha namorado.

— Você estava noiva, uai. — acusa Wesley.

Berro!!! Socorro! Eu casar? É ruim hein? Pensa Renata.

— Não deu certo, aquele cara era um babaca. — desculpa ela olhando para o lado.

— Se me permite dizer. — fala Wesley com seu r arrastado.— Seu noivo era muito estranho, o miserável nunca comprou nada meu e você sabe como são meus salgados não sabe? Irresistíveis.

— Me lembrei de uma coisa dona, a última vez que eu te vi foi numa foto. — fala ele.

Danou-se... será que estou numa foto de procurada?

— Foi numa bússola de um rapaz. Na minha filial lá em São Paulo. Ele estava do jeito que você está, sozinho. Na hora eu pensei em perguntar o motivo, mas tinha uns caras me dando trabalho, sabe como é... um deles até esqueceu de lavar umas louças lá.

— Quero mais umas três latas, Seu Salgadão — fala Roberta, meio zonza.

— É PRA JÁ, MOÇA!!

— Por que você fala gritando? — pergunta Diogo.

— É POR QUE EU NÃO FUI MUITO BEM EDUCADO! MAS TAMBÉM POSSO DIZER QUE É MEU TOQUE ARTÍSTICO!!

Obrigada, senhor Wesley, você ajudou a confirmar as peças do quebra cabeça. E me deu uma peça a mais... eu ia me casar. Mas por qual motivo? Tudo me leva a crer que era com Henrique Alves... Salazar, se referiu a mim como uma vítima, será que eu estava sendo forçada a me casar? Será que meu pai está assim por minha causa? Será que se sente culpado por ter me forçado a casar? Ou será só a tristeza de não saber onde estou ou se estou viva? Maldição... quanto mais respostas eu tenho... mais confusas as coisas ficam.

Diogo, coloca um copo sobre a mesa, e empurra para o lado dela. O cheiro era de refrigerante. Embora ela sentisse mais o do cigarro que Diogo, tragava.

— Sei que tu não gosta de se enturmar, nem sei se gosta de álcool, mas dizem que coxinha fica melhor com refrigerante.

— É melhor parar. — avisa ela.

— Mas eu só estou sendo gentil...

— Geralmente quando homens são gentis, eles querem algo mais. — Um pequeno sorriso se formou depois do “algo mais”.

— Relaxa... não é o que você está imaginando. — diz ele constrangido.

— E o que seria?

— Sua amizade. — fala ele.— Eu andei te observando, e para falar a verdade você é uma das poucas que não me zoa.

— E por que você acha que eu seria sua amiga? — Essa indagação foi feita com desprezo mordaz. Talvez ela não desejasse ser tão bruta, mas a angústia pela confusão que sua vida era, a fizeram falar sem pensar nas implicações de suas palavras.

— E assim, o soldado ferido vai pra UTI. — fala Roberta rindo. O rapaz por sua vez sai pela porta limpando o rosto com a mão. Renata, olha para o lado, suas notas estavam lá. Juntas com as moedas do refrigerante.  

 

 

 

Localização Desconhecida

 

— ... está juntando um exército — diz uma moça ao outro em sua caminhada calma pela rua. 

— Que tipo de gente são os escolhidos? — pergunta Isaque, enquanto tinha seus cabelos castanhos iluminados pela luz uma última vez, pouco antes do casal entrar num beco mal iluminado. Ela respondeu:

— Qualquer pessoa que tenha ambição e aceite os riscos. A maioria são criminosos, gente comum, mas ele também precisa de crânios como nós, para administrar tudo depois do rombo, mas é preciso algo como prova de nossa verdadeira lealdade.

— E o que seria Manoela?

A moça se aproxima e o beija, ao mesmo tempo que enterra uma faca no coração do rapaz.

— Matar seu melhor amigo. — diz ela, logo depois limpando a boca — Me desculpe Isaque, mas quero uma vida melhor, sei que como meu amigo você iria querer o mesmo para mim.

Ela guardou a faca no bolso da blusa cinza e olha para cima, procurando aprovação. A figura encapuzada sorri por debaixo da sua máscara meia face. Logo depois dizendo:

— Você escolheu bem, para fazer parte do que estou criando é preciso cortar todos os seus laços humanos. Sua lealdade deve ser minha e somente minha, você servira ao clã da Meia-noite. Não o clã fundado por Salazar, nem este comandado por Lorenzo. Mas o meu.

Ele salta do prédio para o beco, sem grandes dificuldades, a pouca luz que adentrava no beco ainda era capaz de reluzir suas vestes escarlates. Ele arregaça as mangas, desembainhou a espada que trazia consigo e fez um corte superficial sobre o braço direito. O sangue verteu, mas a ferida não durou muito, a moça se aproxima, enquanto ele abriu os braços, a envolvendo, ela traga seu sangue.

Ele abocanha seu pescoço com sutiliza, mas não tragando muito, os olhos dos dois se encontram, e depois seus lábios também. Nessa noite, mais um acordo foi feito. Mefistófeles, provavelmente trabalhou arduamente nesta noite. O louco agora esclarecido reafirma sua crença, seu plano. Seus subordinados são vários, ricos, pobres, a proposta do vampiro não depende de classe, mas da ambição humana:

— Por muito tempo estive perdido, vagando faminto na minha própria irracionalidade, desesperado e apavorado, com medo de um fantasma, mas o fantasma está morto. E tomarei o que é meu por direito. Por hora, deixemos que os jogadores joguem, mas serei eu a dar o cheque mate.


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