WSU's: Renascida escrita por Nemo, WSU


Capítulo 4
A Escolha




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— Aonde está me levando? — indaga Daniel.

— Voltando para sua casa. — responde Renata, com o garoto nas suas costas — Você teve um desmaio, enquanto conversávamos, evitei uma rota apressada para não topar com seus valentões. Agora estamos quase chegando.

— Obrigado, senhorita Renata. — O garoto ia falar algo quando foi interrompido.

— Não me agradeça, como eu disse, essa é a primeira e última vez que irei te ajudar, a partir de amanhã, você é quem vai se virar.  — Após dizer essas palavras ela o solta de suas costas, e o garoto cai um tombo no chão.

Lamento garoto, mas não sou sua mãe, nem tenho intenção de cuidar de você. Pensa a vampira, enquanto caminha rumo a sua casa, pelas ruas cinzentas e vazias da cidade.

Obrigado mesmo assim... você fez o que poucos fizeram por mim. Reflete Daniel, os caminhos de ambos se separaram novamente naquela noite.

 

 

 

******

 

— Roberta? Você está aí? — Renata, pergunta, enquanto ligava a luz, mas o silêncio foi sua única resposta. Desanimada, foi até o banheiro, removeu as luvas pretas, abre a torneira e mergulha suas mãos na água gélida da pia, em seguida molhando o rosto. Talvez para remover a poeira, a gordura da pele? Ou remover o tom levemente roseado em torno de sua boca. Mas talvez, ela desejasse se encontrar.

Observa o rosto molhado pelas finas gotículas de água diante do espelho. Nada, nem um nuance, nenhuma memória nova, nem uma pergunta respondida. Tranca a porta e decide tomar um banho. Mil pensamentos percorrem sua mente, mas por mais que pensasse, sempre acabava do mesmo jeito, sem resposta, nem motivação.

Serei eu, uma pessoa vazia? Eu quero entender ás coisas, quero saber porque estou aqui, por que sou o que sou, porque eu fiz esse pacto... de onde eu vim, tenho pai e mãe? Irmãos? Droga... como fui acabar assim?

Suas lágrimas quentes se misturam a água fria que percorria seu corpo. Depois de um tempo, saiu do banheiro e foi se trocar, iria sair, arejar a mente e pensar no que sabia. Veste uma calça jeans, uma camisa azul escura e uma blusa marrom com touca, afinal a noite estava fria e ela poderia encontrar surpresas desagradáveis.

Já nas ruas, iluminadas pelas luzes laranjas dos postes, ela reflete:

Vejamos, meu nome é Renata Cardoso... meu sobrenome é bem caipira, eu sou caipira, nasci em 1998, dia 21 de Maio. Tenho, portanto 18. Me lembro de viver em um sítio com... Não lembro.

Ela respirou bem fundo amargurada. Mais perguntas, nada de respostas. Então foi pensar em outra coisa.

Estudei em uma escola primária e depois fui para o colégio Tomé... e Barbará... alguma coisa. E eu era uma boa estudante, tirava ótimas notas no Tomé... mas não lembro das notas do colégio. Do colégio só consigo lembrar de... um garoto, magro, cabisbaixo com livros... mas por quê O mesmo garoto do primário. Por que você é tão importante?

Espera, o rapaz da floresta, com minha foto, são a mesma pessoa. O garoto, e o rapaz são o Soldado Fantasma... é você quem tem minhas respostas. Você é aquele que sabe de tudo. E seu nome é Tales, Tales Victor de Sousa. Talvez através desse nome eu consiga algo. 

Ao sair de seus pensamentos, olha em volta. Logo depois avista uma Lan House. Remexe os bolsos: Uma nota de cinco e duas moedas de um real.

Até que estou rica.

— E então o que está tramando? — indaga Mefisto, recostado contra um dos postes de luz.

A garota chegou perto dele e sussurrou:

— Estou na rua agora, seu doido, não vou te responder. Senão vão pensar que sou drogada. — E retoma sua caminhada.

— Que pena, eu aprecio tanto sua voz... só que não. Sabe, o melhor de você não poder me responder, é que posso encher o seu saco o quanto quiser.

— Mas e aí, como vai a vida? — pergunta o demônio. — Ah é verdade, vai ter que ficar em silêncio. Mas presumo que esteja como sempre... uma perfeita droga.

 

 

****** 

 

Após pagar a taxa necessária, ela vai para o computador mais afastado, tendo como companhia Mefistófeles. Senta-se numa cadeira com o tecido rasgado, e riscada, com nomes e pequenas obscenidades.

— E então o que está procurando?

— Meu passado. — sussurra ela.

— Vai ser interessante. Ou não, sua antiga vida pode ser muito chata e tediosa.

— Se continuar desse jeito... vou enfiar um desentupidor de pia na sua boca. — diz ela enquanto analisava a tela a sua frente.

—D-ú-v-i-do. — sorri ele, em seguida fica perplexo — Espere, se quer saber sobre você, por que está digitando esse nome?

— Acredite, já procurei pelo meu nome, tem várias Renatas Cardosos por aí, minha esperança é que esse nome não seja tão popular e me mostre de onde eu vim...

— Mas sua companheira não lhe disse nada?

— Um curto resumo, depois disso, ela evita o assunto. Me disse que eu era uma garota que caiu nas garras de um vampiro chamado Henrique, mas graças ao envolvimento do Soldado Fantasma e Karen Maximus, eu escapei.

— Que porcaria de resumo... — diz Mefisto, em tom de deboche — Mas posso presumir que Roberta, lhe acolheu, não?

— Sim. — murmura a garota enquanto efetua um clique, uma nova página se abria diante dos dois. Formatura do 4 ano 2009, E.E. São Tomé. Leu mentalmente. Seus olhos castanhos oscilaram curiosidade sobre as fotos e os vários rostos juvenis. Em meio a tantos ela pôde reconhecer alguns, ainda que não reconhecesse os nomes, reconheceu o seu ali, uma garota um pouco alta e magra, vestindo um beca azul.

— Você era feia. — ri Mefisto. 

— Olha quem fala... — Renata, olha para a foto novamente, no lado oposto ao seu dá fileira de formandos, ela pode identificar o garoto magro e esguio do qual ela se lembrava. Ele ostentava um pequeno sorriso.  

Acho que não éramos chegados Tales.

— Bem, ao que parece, estudei numa escola no interior de São Paulo, na região de Itaberá. Já é um bom passo.

— Esse passo é bem tedioso... — comenta Mefisto, em seguida indagando — O que vai fazer?

— Acho que você ainda não entendeu meu propósito aqui, não quero apenas para ver se descubro meu passado, quero ver se confirmo minhas memórias, até agora tudo faz sentido.

Formatura de dezembro de 2012. E.E. Barbara César. Dessa vez não havia becas, eram roupas comuns, cada qual ia com o que tinha de melhor. Renata, em sua foto trajava um vestido preto, cabelos longos e negros penteados para trás.            

  Ao seu lado esquerdo havia um rapaz, cujo rosto não constava na foto de 2009. E ao lado dele estava Tales, com um semblante sério e, ao mesmo tempo, amigável.  

Então era verdade... estudamos juntos... Mas ainda tenho que confirmar tudo.

Formatura de dezembro 2015. Novamente ela, trajando um vestido vermelho, ao seu lado jazia Tales, e ao lado dele... Rodrigo...vocês dois... são melhores amigos.

  Ela sorriu, finalmente tinha se lembrado de algo, ainda que não fosse extremamente relevante, os dizeres do rapaz estavam corretos e ela tinha certeza disso. Suas memórias eram verídicas. E agora não tardaria para descobrir a verdade sobre si.

Sai do site da escola, e foi clicar no botão de fechar, mas uma notícia abaixo chamou sua atenção: Adolescente desaparecido. Ela ali clica. A notícia era de dezembro de 2015.

Aparentemente, seu companheiro de sala, tinha desaparecido, a suspeita era de que ao fugir de um animal selvagem na mata na propriedade de seu colega, ele acabou desaparecendo no rio. Dessa forma, subentendiam que ele tinha se afogado. Ao olhar as fotos de busca, uma surpresa. Ela, agachada na margem do rio, olhando tristemente.

— É, isso está ficando curioso. — comenta Mefisto. — Vai querer seguir a diante com a pesquisa? Por que eu acho que se for continuar, é melhor colocar aquele outro nome.

Ela abriu outra aba e então pesquisou duas palavras: Soldado Fantasma. Aparentemente ele tinha começado a atuar em 2016, com sua primeira aparição confirmada em Corsário, BA. Outra em: Recife, PE e a última em Rio de Janeiro - RJ, lutando ao lado da Frente Unida, mas depois disso... nada. Ele simplesmente desapareceu.

Havia um misto de medo e angústia em seu coração, o medo se devia à lista de possíveis vítimas que ele havia eliminado, fora as confirmadas.

Você é um monstro, nada muda esse fato. Na verdade, a pergunta que eu me faço agora é... Por que você, e como você se tornou isso? Por que, eu não consigo ver como... Bem não importa...  Mas, por que estou triste com a possibilidade de você estar morto?

O tempo de uso da máquina se excede. Com isso ela se retira do estabelecimento. Após se encontrar em um trecho deserto ela indaga ao demônio:

— Por que dentre tantas pessoas que fizeram contrato com você, você fica de olho justo em mim?

— Bem a maioria das pessoas que fazem os contratos, tem quase sempre as mesmas propensões, e muito provavelmente fins parecidos. Não são envolventes. Mas existem certas exceções, não se engane. Não quero te ajudar, só quero ver onde tudo isso vai dar e me beneficiar ao máximo desse caminho.

— E por que eu sou tão “envolvente”? Para você?

— Bem, você tem amigos estranhos, um futuro incerto, e muitas coisas obscuras lhe rondando. Em seu caminho, tudo é uma questão de quem vai dar o cheque mate. — Ele olha Renata por inteiro, havia algo engraçado ali. Em seguida vai desaparecendo — A propósito aquele vestido preto te deixava gorda, vermelho fica bem melhor em você.

— Seu desgraçado...

 

 

******

 

— Onde esteve? — questiona Roberta, enquanto Renata, abre a porta.

— Ela parece irritada. — comentou Mefisto recostado na parede branca da sala.

— Numa Lan House. — responde ela despreocupada, fechando a porta calmamente. — Fui me distrair um pouco e conhecer mais sobre ele.

— E o que a levou a essa inesperada curiosidade? — Ela se senta no sofá marrom e se aconchega — Que eu saiba você o odeia...

— Ele é a porta para meu passado. — responde ela, mas com uma sutil alfinetada, enquanto se sentava no outro canto do sofá — E eu não o odeio, só não gosto dele.  

— Um homem me contatou hoje, ele se chama Salazar, é um vampiro. — conta Renata, friamente. — Ele me quer para o grupo dele, aparentemente a cidade está cheia de vampiros. Ele tem seus próprios interesses, mas deseja me livrar de problemas futuros.

— Sei quem é. Ele me ajudou muito no passado, é confiável, se ele acha que você tem capacidade, então sinta-se honrada. — fala a vampira loira. — Ele me fez a mesma oferta, estou pensando em aceitar. Acredite ou não, quanto menos vampiros melhor. O que vai decidir?

— Eu não sei. Não vejo motivos fortes para apoiá-lo, sendo que o risco é muito mais forte, na verdade não tenho nem motivos, nem perícia para ajudá-lo.

— Já considerou que ele pode se voltar contra nós duas se não o apoiarmos? Que talvez, a influência e prestígio do mesmo possam nos beneficiar, e manter o seu demônio longe?

— Me manter longe é impossível. — diz Mefisto, satisfeito. — Mas não é a mim que ela se refere.

— Estou considerando, mas eu não sei lutar, não sei disparar nenhuma arma, nem tenho estômago para entrar numa luta, quanto mais sair viva de uma...

— Duvido. — diz ela — Henrique Alves, não te escolheu por acaso, baseado no tempo que fiquei o observando... ele só escolheria uma guerreira para ajudá-lo em suas ambições. Além disso você é muito forte.

Henrique Alves... eu odeio esse nome, por que sinto frio toda vez que o ouço? Aquela insegurança... qual o motivo? Talvez haja certas coisas que é melhor não lembrar...

— Se quiser posso te testar. — Roberta, se levantou.

— Me testar? — Renata, não parecia compreender.

— Vamos ver se você tem a garra, ou se é apenas... — Roberta, parou fez uma pausa curta, acumulando uma expressão e um tom de fala que se assemelhavam ao deboche — Um fantoche

Fantoche... o que diabos você quer me dizer com fantoche?

— Você se unirá a Salazar, ou não. Renata? — pergunta Roberta, numa expressão séria e pouco amistosa, sua mão esquerda acaricia um objeto escondido atrás de si. Renata, por sua vez se levantou e ficou em frente à TV desligada.

Esse tom dela... é de interrogatório, pelo menos a impressão que eu tenho é que estou sendo pressionada, há algo estranho com ela. E se eu disser não?

Mefisto, apenas ri, ele sabe de boa parte dos motivos, não iria interferir nas ações de Roberta, ou Renata, mas tinha algo o cutucando a algum tempo. Ele desligou a luz da sala, ficando apenas a da cozinha acessa.

— Preciso de tempo, eu não sei. — diz a vampira sem entender os motivos de Roberta. Por que está fazendo isso?

A expressão fria de Roberta, mudou drasticamente, sua respiração ganhou mais peso, seus olhos se arregalaram, seus batimentos se aceleram e Renata, percebeu isso. Ela recuou num misto de medo e pura incompreensão.

Mefisto, por sua vez, apenas ri da situação. Enquanto a própria Renata, não compreende o motivo.

— Por que... — falou Roberta, trêmula. — Você tem duas sombras?

 Foi como se algo estalasse dentro da garota, suas pernas tremeram por um momento. Haviam duas sombras. A sua ia para o lado oposto da luz, permeando o chão e parte da parede, já a outra, tinha diferenças bruscas com a sua sombra. Era como se fosse de outra pessoa, e diferentemente da primeira ou de qualquer outra sombra, ela convergia para a luz, tremulando como uma imagem destoada, não fixa. Renata, piscou, no mesmo instante a coisa desapareceu.

Mefisto, por sua vez gargalhava com o terror de ambas.

— A cara de medo de macacos e vampiros é realmente impagável. É isso aí, Renata, é essa cara aí mesmo. — gargalha o demônio, em seguida ficando ereto, estava satisfeito — Ah, chega de vocês por hoje.

O demônio desapareceu deixando as vampiras sozinhas e inquietas. A frieza de Roberta, cedia lugar ao medo, e a dúvida de Renata, só ficava maior.

 

 

 

Localização desconhecida

 

— Está uma delícia Natália. — comenta Mauricio, enquanto abocanhava o lanche mais uma vez.

— Eu te falei, os lanches dela são os melhores. — fala Gabriel — Só não como sempre, por que iria prejudicar na academia.

— Obrigada, rapazes. — diz Natália, logo depois comentando — Vocês viram as notícias sobre os desaparecimentos? Estão ficando frequentes.

— Sim. — fala o homem alto e de roupas surradas — Pode ser um assassino em série, algum corrompido ou um doido qualquer.

— Provavelmente um corrompido, aquelas aberrações têm truques bem estranhos. — responde Gabriel.

— Se eu não me engano... uma cidade chamada Itaberá esteve com os mesmos problemas, nunca acharam nenhum corpo. — aponta Natália — Mas depois...  pararam, completamente.

— Há quem diga que foi aquele lunático do tal Soldado que parou o negócio. — fala Mauricio, mordendo o lanche mais uma vez.

— Há quem diga que ele era o responsável. — rebate Gabriel.

— Improvável. — responde Natália — Essas porcarias vinham rolando desde dezembro de 2015 e pararam em agosto de 2016. Se prestarem atenção o Soldado Fantasma, não estava na cidade o tempo todo, afinal, ele esteve em Corsário e naquela outra cidade que esqueci o nome, vagando por aí.

— Ele pune os vagabundos... não inocentes. — complementa Mauricio — Embora seja um maluco também, na moral... ele me dá arrepios.

— O governo não faz porcaria nenhuma contra esses tipos... — fala Gabriel indignado — Eles deveriam estar na cadeia, ou num manicômio.

— Bem, e se estivessem? — pergunta Mauricio. — Eles podem ser insanos, mas existe gente mais perigosa, se prendessem os vigilantes, e deixassem os mais doidos soltos, quem nos protegeria?

— Não tô dizendo que eu concorde com vigilantes — fala Natália, complementando — Mas, ele tem sua dose de razão. Com tanta gente pior por aí, prefiro ter esses caras livres.

Após se despedirem, os dois rapazes foram caminhando, abandonando a mulher e seu carro de lanches. Pouco tempo depois um rapaz de touca chega. Seu andar era calmo e solitário.

— O que posso oferecer a você, senhor?

— Tudo. — Em seguida removeu a touca da blusa preta. — Estou tão faminto.

Um sorriso se forma em sua face enquanto uma gargalhada toma sua voz, já a mulher apenas ficou sem compreender. Ele foi se aproximando e ela logo compreende que ele não desejava apenas um lanche.

 

 

 

*********

 

— O mundo está ficando cada vez mais louco. — comenta Gabriel.

— Eu acho que ele sempre foi, só que sempre se escondeu de uma forma distorcida. As bizarrices e estranhezas se ocultaram com facilidade, mas os tempos mudaram e a quantidade de coisas anormais só aumentou, chega uma hora, Gab, que não tem mais espaço embaixo do tapete.

— Acho que posso concordar. — fala um rapaz atrás de ambos.

— Parece que tem alguém com pés leves aqui. — diz Gabriel.

O rapaz apenas se contenta em devorar o lanche de uma forma tão voraz e intensa que assustou o pobre rapaz, logo depois comendo sua refeição, tudo em questão de segundos.

— Viu só? É isso que não devemos fazer. — fala Gabriel — A digestão não vai ser legal. Embora seja tentador, se guardar pode durar o dia todo.

— Quero mais... com queijo, hambúrguer, molho e mais carne. Costeletas gordurosas, pedações de carne vermelha. — diz o rapaz, como se fosse em um delírio.

— Que bom para você chapa. Gab vamos indo...

— Não posso mais me esconder, aquele monstro pode me ver, me farejar. — Em seguida fitou o papel que outrora segurava o lanche e passou a esfregá-lo na própria face enquanto repetia em sua própria loucura:

— Tenho que parar o cheiro! Me esconder na sujeira!

Os rapazes apenas se entreolharam e se levantaram do banco. Sendo detidos por sua fala:

— Talvez o fedor do sangue de vocês possa me ajudar...

Os dois correram em direção ao carro de lanches, olhando para trás repetidas vezes, o inimigo apenas os fita rindo como louco.

— Natália, precisa nos ajudar!! — grita Mauricio — Tem um homem que...

Mas sua voz se cala ao contemplar o horror do corpo drenado e quase caído da sua carroça de lanches. Uma voz atrás dos dois sussurra em seus ouvidos:

— Adoro o tipo O+.

Ninguém ouviu seus gritos.

 

 

 

******

 

— O que você sabe sobre essa coisa? — indaga Roberta, ainda chocada.

— Nada. — Foi a resposta da vampira renascida. — Não sei o que é, ou suas intenções. Mefisto, parece se divertir muito com ele...

— Ele aparece para você e para mim não? Que inveja...

— Ele é um maluco e tarado. Agradeça a Deus, por ele não aparecer para você. — respondeu Renata, insólita.

— Vai aceitar a proposta? — pergunta Roberta.

— Quem sabe... — responde a vampira evasiva — Pode ser que sim, ou pode ser que não, não tenho motivos lá muito consistentes para me envolver numa luta que não é minha, ou seja o que eu ganho com isso em um nível pessoal?

Ela sabe... que estou escondendo seu passado, mas como? Ah não ser que... a Lan House, ela disse que foi confirmar algumas coisas. Ela confirmou suas memórias atuais, quer dizer que ou se lembrou de mim, com Karen Maximus, naquela tarde... ou confirmou esse fato, ela sabe que sei das coisas e me recuso a revelar. Calcula Roberta.

Nível pessoal... você não se importa com a riqueza ou com o prestígio, não é? Você quer sua identidade confirmada, vai ter isso Nat. Dane-se o protocolo... vou falar a verdade, de todas as pessoas a minha volta, você é quem mais chegou perto de me entender. Você, Renata Cardoso, é alguém que realmente considero minha amiga.

Roberta, por sua vez, fica frente a frente com ela.

— Se disser sim, deixo você beber aquela garrafa inteira hoje. E te dou uma coisa que vai te ajudar com seu passado. Concluída a missão eu vou lhe dizer tudo o que deseja e vou te ajudar com a pior parte de si.

— Pior parte de mim?

— Existem certas coisas Nat, que eu gostaria que você nunca lembrasse.

— O que quer dizer?

— Um dia você saberá, mas estarei ao seu lado. — Roberta, toca levemente seu rosto, sabia as consequências de tocá-la, mas não se importava, foi apenas por um instante.

— Por que se importa tanto com essa missão? — indaga Renata.

— Porque... é pessoal. — refuta Roberta, com olhar vacilante.

— Eu aceito.

— Obrigada Nat, eu realmente não mereço você.

— Não, não merece.

— Tome a garrafa inteira, drene tudo. — Retira um papel do bolso e colocou virado sobre a mesa — Depois dê uma olhada nisso. 

Roberta, saiu pela porta, parecia estar enxugando o rosto. Renata, por sua vez abriu a geladeira e encarou seu prêmio. Uma garrafa de vidro marrom. Para um leigo aquilo seria cerveja, vinho ou até refrigerante. Mas para aquela vampira, aquilo era vida, afinal o sangue é vida, como dizem alguns.

Renata, remove a rolha sem muito esforço, em seguida lambe suavemente a mesma.

É simplesmente delicioso.

Pega a garrafa e encarou a boca.

Será isso pecado?

Traga uma longa golada.

Por que se for...

Mais duas.

Eu não me importo.

Mais três, seu corpo parecia ter entrado em um choque, o sabor e a textura eram perfeitas, muito diferentemente dos animais que ela provou ou daquele bandido.

É de primeira linha, tenho certeza.

A garrafa estava vazia, Renata, a colocou sobre a mesa, aliviada e ao mesmo tempo ansiando por mais. Ela foi até a mesa e virou o papel, que na verdade era uma velha fotografia. Duas gotas pingaram sobre a mesma, e depois duas lágrimas. O sentimento? Talvez fosse tristeza, talvez fosse alegria, ou talvez fosse reconfortante saber que ela tinha família.

 

 

 

Armazém Abandonado

 

— O que viermos fazer aqui Roberta? — indaga Renata.

A loira, abre a maleta que trazia consigo e olha inquisitiva para Renata.

— Já usou uma arma antes?

— E como diabos eu vou saber? Nem lembro de nada. Provavelmente não.

— Bem você vai ter que aprender a usar, para o seu próprio bem.

Da mala, Roberta tira 3 opções. Uma pistola tática, uma escopeta e uma submetralhadora.

— Tem duas aqui que são bem utilizadas no CS.

— CS?

Conter-Striker, um jogo de tiro em primeira pessoa. Vai me dizer que nunca jogou? Droga esquece o que eu disse.

— O que vai ser? A pistola Desert Eagle .50 AE? A Doze de oito tiros, Benelli XM1014 ou a Thompson?

Renata, foi pegar a pistola de alto calibre, por ser mais dinâmica, mas estranhamente a espingarda chamava sua atenção, ela a pega e a empunha. Sabia que seria uma arma pesada, mas não era, não para ela.

Ela ficou em frente com a mira pintada na parede cinzenta do armazém.

— Quer ajuda? — pergunta Roberta — Embora eu seja melhor com o ....

Renata não responde, apenas fita o alvo. E algo veio.

 

 

******

 

— Eu não queria que você aprendesse isso... — Os dois estavam em meio a mata, o chão recheado de folhas marrons e verdes, com uma tábua pintada, no centro um alvo.

— Mas já estou velho minha filha, sua mãe também, não sei quanto vamos durar. Ou o que pode nos acontecer, mas você... você é a mais velha, tem uma cabeça boa e um bom coração também. Você deve proteger seus irmãos, minha filha. Sua família

A garota segurou a espingarda com cuidado, mirou e apertou o gatilho.

 

 

******

 

— Puta a merda... Tiro perfeito... ou melhor, tiros, já que você descarregou a porra da arma na parede. — comenta Roberta, pasma.

Renata, continuou a olhar a parede, um enorme buraco ficou no centro da pintura, em meio a poeira, que o choque das balas com o concreto fizeram. Havia um sorriso de satisfação, não com o resultado dos disparos, mas consigo mesma:

— Foi meu pai que ensinou.


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Notas finais do capítulo

Próximo cap dia 10/02, obrigado pela leitura e não se esqueça de comentar ♥



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