WSU's: Renascida escrita por Nemo, WSU


Capítulo 10
Digna?




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7 dias depois, Chácara de Asami

 

— Ótimo golpe. — aponta Asami, para a aprendiz que acabara de efetuar um corte limpo numa árvore pequena e já morta.

 O interessante é que ela primeiramente entenda o que é, e como manejar uma espada de verdade, para depois aprender a rebater ataques, lidar com um alvo em movimento e posteriormente agressivo.

— Continue praticando o manejo da arma, você tem uma noção, mas é uma questão de entender sobre o peso, e como a arma faz parte de você. — diz ela se virando pensativa:

Apesar dos bons avanços... ela precisa de um pouco mais de tempo, além disso, mesmo que ela vença, se ela deixar levar pela espada... eu temo pela vida neste lugar.

Ela observa a garota mais uma vez, agora estava tão serena, meditando com a espada a sua frente, embainhada e colocada sobre o suporte. Nem parecia aquela pessoa inquieta, ou mesmo uma vampira sedenta por sangue.

A sensei suspira aliviada. No fim, há um pouco de esperança. Para ela, para mim e meu clã, nosso sacrifício não pode ser em vão. Pensa ela, olhando para o céu nebuloso, daquela manhã, a brisa fria permeia ambas, balançando suas vestes.

Após três horas, Asami, a chama para o almoço, contudo a vampira não foi a única a participar dele, afinal Ivan, Diogo e Roberta, se uniram as duas. Eles almoçaram na varanda, tanto Renata, quanto Asami, tinham feito a refeição, um bom e velho arroz com frango, acompanhado de uma feijoada de lamber os beiços, essa última obra de Renata.

Os cinco estam dispostos a mesa. Haviam três cadeiras vazias, duas do lado da aprendiz, e uma a frente de Asami. Todos comem silenciosos, aguardam Salazar naquela tarde, e talvez sua possível companhia, além do outro Soldado.

Todos estavam ansiosos, principalmente pela chance de conhecer a Drácula em pessoa, e pelo Supersoldado. Embora a esmagadora maioria estivesse com muito medo de ambos. A história da Drácula era recheada de boatos medonhos, e a descrição que Renata, deu sobre seu amigo, não era das mais animadoras.

Quando o som de um carro chega aos ouvidos de todos, que a inquietação aumenta, levando todos os presentes imediatamente para fora da casa, somente Asami, fica almoçando, enquanto prova a feijoada de Renata: Até que essa menina faz uma feijoada bem temperada. Ter ela como aprendiz não é tão ruim.

Lá fora, os quatro observavam um táxi parar na frente da casa, Salazar, desce, indo com o motorista até o porta-malas, paralelamente da porta de trás uma mulher sai, seus olhos verde-escuros pairam sobre o grupo, não era exatamente animador.

Salazar, se aproxima de Lucy, com as malas de ambos:

— Obrigado mais uma vez.

— São esses os membros do grupo? — Ela pergunta

— Sim, a loirinha é a Roberta, o Ivan, é o cara apático, o Diogo, é o que está babando, aquela com o avental é a Renata, a senhora na varanda é a Asami.

— É... Vocês precisam de ajuda. — responde em um suspiro.

Lucy Iordache. Sua história era conturbada, e a idade exata, era um mistério, algo em torno de quinhentos anos. Ela teria sido a primeira esposa de Drácula, de fato herdando seu cargo. Desde então, Lucy, travou uma luta e fuga constante contra Dorian, o usurpador que soube manipular as pessoas a sua volta para atingir o poder.

Ele conseguiu por séculos atormentar a vida de Lucy, era obcecado por ela. Contudo, Dorian foi morto e o maior pesadelo de Lucy por fim acabou, mas suas ações torpes e hediondas, seus passos, agora eram seguidos por outro.

Seus cabelos negros e ondulados balançam ao vento, enquanto ela avançava rumo ao grupo, trajava uma camisa social cinza, com por cima, uma calça de alfaiataria preta e para finalizar sapatos finos. Salazar, retira suas malas e as de Lucy, agradecendo ao taxista.

Os membros tinham reações diversificadas, Ivan esta indiferente, Diogo pensa em como ela era gostosa, Roberta esperava mais. Já Renata tinha medo, não um medo de horror, mas certo receio. Afinal, se ela tinha vindo era por que era uma aliada, porém não iria menosprezar o pouco que sabia sobre ela.

Após a dupla atravessar o portão, uma caminhonete 4x4 estaciona frente à casa. Hoje é o dia das visitas. Pensa Salazar. Dirigindo sua atenção para o homem que acabara de descer. Entendo, esse é o Supersoldado. Acho que nossas chances estão melhorando.

Rodrigo, tranca o carro, e também vai em direção a casa, suas roupas eram de as um empresário, até mesmo carregava uma maleta. Mas a presença de Rodrigo, não teve o mesmo impacto de Lucy, pois pouco sabiam dele, e isso pouco importava. Por fim, após as devidas apresentações, todos se reúnem na varanda, haveria uma discussão.

— E então, Roberta, quão ruim é a situação? — questiona Salazar, acomodado em seu lugar.

— O número deles triplicou, começaram com 50... agora são cerca de 200, mas pode haver mais. Praticamente dominaram a zona sul e oeste da cidade. E estão tentando tomar a norte e a leste. — explica ela.

— O que os impede? — questiona Lucy.

— O prefeito da cidade, pediu ajuda para o governo, como alguns aqui desconhecem... essa cidade é um ponto econômico importante...

— Por causa do plantio de açúcar aqui produzido e todo o blá, blá, blá. — resume Diogo, a interrompendo, enquanto Roberta range os dentes. — Eles formaram uma tríplice aliança para vocês terem noção, com policiais e alguns poucos militares, para não chamar a atenção e se uniram ao resto dos criminosos da região.

— Por que não convocam o exército de vez? Ou sei lá, a Frente Unida? — indaga Rodrigo.

— Por causa do pânico. — responde Asami — Se a mídia resolver divulgar os acontecimentos, haverá pânico em massa, e os vampiros também vão escapar. Imagino que vocês tenham tido problemas para entrar na cidade?

— Me exigiram uma papelada completa. — responde Rodrigo. — É praticamente uma medida de contenção. Talvez eles pensem que o vampirismo seja algum tipo de patógeno ou simplesmente acham que se o inimigo se espalhar... vai ser ainda pior.

Salazar, fita Renata, por um tempo, ela estava pensativa e quieta, mas seu coração acelerava cada vez mais.

— O que foi?

Ela por sua vez baixou o olhar:

— Ele está seguindo com o plano. Ainda que de forma alterada...

— Ele te contou? — questiona Roberta. — Porra, ele não falava disso nem com o pai e a mãe.

— Mais vezes do que pode imaginar... Henrique quer ser enfrentado. É assim que ele vai concluir o plano.

— Ué, mas se ele fizer isso a cidade não será mais dele... irá perder o clã. — fala Diogo.

— É aí que você se engana. — responde ela. — Ele quer ser esmagado, quer fazer buracos no processo, quer que acreditem que venceram, quer que comemorem. Mas com o tempo o sistema vai se reajustar, os buracos serão tapados só que com ele dentro, tomando ás rédeas de tudo. Henrique, só precisa saber esperar.

— E enquanto ele espera... ele caça cada um de nós. — fala Salazar. — Até mesmo a senhorita Lucy, que é a maior ameaça a seu domínio, mas não creio que ele desejasse importuná-la agora. Primeiro ele daria conta de nós.

— Certo, mas voltando ao principal. — Lucy, retoma a conversa — Como nosso inimigo está armado?

— Estão fracos nesse quesito. — diz Ivan — Imagino que boa parte deles sejam inexperientes, além disso o exército cresceu rápido demais, logo nem todos tem armas... e mesmo que tenham não serão de qualidade.

Diogo aponta:

— O problema é esse, eles vencem em qualidade e você sabe que não é exatamente fácil matar um vampiro.

— Quanto a isso. — fala Salazar, com calma — Pode haver um jeito...

 

 

 

Mais tarde

 

— Nervosa? — questiona Mefisto, recostado em baixo da árvore.

— Seria impossível não estar. — retruca Renata, golpeando a torrente, novamente só que desta vez, com uma verdadeira catana. O golpe produzia uma ação ainda mais fascinante sobre a água.

— Tem ótimas razões para estar, a propósito eu apostei contra você. — Ele sorri.

Ela nada disse, ele brinca:

— Desistir também é uma outra opção interessante.

— Não posso, tenho que terminar isso, quero ter paz, Mefisto.

— Então terá que ir até o fim. — rebate ele.

— Você quer que eu o mate?

— Eu? Eu nada quero, senão ver onde tudo vai dar. — Ele dá uma breve pausa. — Mas sua estratégia atual não é das melhores.

Ela guarda a espada na bainha.

— E qual seria ela?

— Desmembrar ele com a catana amaldiçoada e entregá-lo as autoridades. Quer seguir com isso mesmo?

— É a única saída que encontro. Ou outra pessoa faz isso...

— Os outros estarão ocupados cuidando da horda, você sabe muito bem que ele vai mirar em você. Sua saída é razoável e compreensível, funciona a curto prazo, mas vou te contar algo.

Ele continua ficando em frente a cachoeira, olhando diretamente em seus olhos

— Lucy, em seu primeiro confronto com Dorian, acabou decepando sua mão. E o quadro de loucura e obsessão só piorou, a perseguiu por séculos e por causa dele, muitas pessoas de quem ela gostava morreram. Além disso, consegue perceber o quão doentio é seu plano? Aleijar uma pessoa? Manda ele pro inferno logo.

— E você está tentando me livrar desse destino? — Ela indaga.

— Renata. — Ele ri enquanto uma névoa verde vai se formando aos poucos a sua volta. — Não me importo com suas escolhas, ou mesmo se você vive ou morre, eventualmente você vai morrer também. Tudo o que desejo é apimentar esse final.

Ele desaparece e aos poucos na névoa verde se dissipa, deixando uma vampira pensativa.

 

 

 

******

 

— O que faz da vida? — pergunta Lucy, para o rapaz sentado à sua frente na mesa. Salazar, Diogo, Ivan e Roberta, tinham ido fazer o reconhecimento, deixando tanto, ele quanto Lucy para trás. É claro que nenhum dos dois gostou disso, então ficar olhando para a cara um do outro, era algo muito entediante. Asami, por sua vez estava meditando em seu quarto.

— Sou empresário, trabalho no ramo da mecânica e da saúde, próteses, remédios e outras coisas. InterLight. — resume ele.

— Acredito que comprei uma prótese de mão, de você, não tem muito tempo.

— Modelo XXI?

— Acho que sim.

— Saíram poucos exemplares nesse ano, infelizmente o produto é caro, mas pretendo doar algumas para hospitais. Meu pai vivia me dizendo que a empresa deveria ter como obrigação o bem-estar da humanidade, pena que alguns executivos não pensavam como ele...  —   Ele a olha percebendo que estava falando demais.— Era para um amigo?

— Sim, um bom amigo.

Rodrigo, ia dizer que lamentava muito, mas seu celular vibra o obrigando a dar uma olhada. Era uma mensagem de sua esposa, estava preocupada. Ele responde a tranquilizando e então coloca o telefone em cima da mesa. A imagem de tela, era de um recém-nascido em seus braços.

— Menino ou menina?

— Menino. — diz ele, não conseguindo conter o sorriso de orgulho. — Você trabalha com que área?

— Enóloga.

— Crítica de vinhos, é interessante, imagino que em sua longa existência você tenha aprendido sobre mais coisas.

— De fato, já fui parteira, guarda costas, mercenária, caçadora e outras demais áreas

O papo iria continuar, até Asami, sair do quarto. Usando uma roupa ligeiramente diferente, mais tática, trazia consigo duas catanas e se direciona para fora. Os dois se entreolharam e decidindo segui-la. Afinal, era curioso ver o que uma idosa japonesa ia aprontar, além disso, eles não tinham nada melhor para fazer.

 

 

 

******

 

— Você aprendeu muito, no pouco tempo que lhe foi dado. — diz Asami frente a frente com sua aprendiz, ambas em frente a cachoeira, e portando suas catanas embainhadas. — Está na hora de descobrir se você serve ou não.

— Eu servirei. — responde Renata, resoluta.

A mestra e aprendiz se cumprimentam. Recuam alguns passos para trás, e então removem as catanas da bainha, sem qualquer barulho audível. Juntas as lâminas cintilaram frente aos poucos raios de sol.

— Não acho que isso vá durar muito. — fala Lucy.

— Lutas com catanas costumam ser curtas. — emenda Rodrigo. — Já usou uma?

— Já e já fui morta, algumas vezes.

— Inesperado. — comenta ele assustado e meio sem jeito.

As oponentes se analisam calmas, a tranquilidade deveria persistir, uma mente equilibrada trabalha melhor que uma embrenhada por sentimentos. Uma lição que Renata, aprendeu com Asami. Esta por sua vez avança com um corte lateral, queria testar a capacidade de reação da aluna.

Renata, bloqueia o golpe com as costas da espada, como lhe tinha sido instruído, afinal catanas não são como ás outras espadas, sua única função é o ataque, chocar ás lâminas danificaria o corte, e não seria uma defesa eficaz.

Asami, volta a uma posição defensiva, agora seu ataque seria mais intenso. A vitória nesse caso dependia do desarmamento, ela queria pressionar sua aprendiz para saber se ela resistiria numa situação de combate verdadeiro. Esse não era um combate entre samurais, Asami, simula os movimentos que um conhecedor da esgrima faria, e adapta isso no combate de catanas. Se fosse usar sua técnica, Renata, já estaria derrotada.

Desta vez ela ludibria, finge um ataque perfurante, mas no percurso transforma isso num corte vertical para cima, Renata, viu a armadilha e se defende, mas mesmo assim acaba tendo parte do peito cortado, a espada de Asami, se curva para a direita e tenta nova investida, desta vez bloqueada.

Paralelamente, a conversa de Lucy e Rodrigo, seguia:

 — Ela está muito na defensiva. — comenta ele.

— Ela tem medo. — diz a Drácula. — De machucar a mestra ou mesmo matá-la, esse medo está restringindo sua capacidade ofensiva. Fora isso, um movimento errado e ela perde.

Renata, procura espaço, dando passos para trás, a conversa a incomoda, tanto quanto a dor que sente em seu peito, dele o sangue lateja pelo rasgo, embebendo suas roupas. Se controla e mantém a calma, refez o mesmo pensamento que andava fazendo:

Calma, foco, tudo vai dar certo. Eu e a lâmina somos uma só parte, tenho que aguçar meus sentidos, me concentrar e lutar com fé na vitória. A vampira renascida, fita a mestra com seriedade, avançando com firmeza. Asami, barra esse avanço com um corte horizontal, que é prontamente bloqueado. Mas Renata, não apenas bloqueia, desta vez, ela gira o corpo e ataca Asami, com um corte lateral.

A idosa bloqueia com tenacidade, mas sua aprendiz não se deteve, ataca novamente só que com um golpe vertical, bloqueado. Gira o corpo para a esquerda e ataca com um horizontal, também bloqueado. A velocidade dos ataques começa a aumentar, e a defesa de Asami, também. Até Renata, dar um passo em falso e abrindo sua guarda.

A vampira cai sobre a grama, o corte tinha sido horizontal, e atinge sua barriga, sua sorte é que a sensei tinha contido o ataque, mas isso não impediu que alguns de seus órgãos vazassem pelo ferimento. Asami, por sua vez olha com pesar sobre a aprendiz.

— Ela vai se regenerar, não vai? — indaga Rodrigo, altamente preocupado.

— Vai, a não ser que essa espada seja amaldiçoada. — responde Lucy

Renata, por sua vez se reergue com dificuldades, tremendo e fazendo o máximo de esforço para ali permanecer, mas o fez, mesmo que no fundo ela desejasse permanecer caída e gritar de dor, se manteve firme.

— Está acabado, não vê? — diz Asami. — Se eu fosse seu verdadeiro oponente já estaria morta.

— Eu sei, sensei...

— Você falhou. — interrompe a idosa.

A garota se ajoelha com uma dificuldade menor, mas ainda sim problemática, e pede perdão, com um olhar cabisbaixo. A face de decepção de Asami, era clara. E Renata, só conseguia se sentir mal, fraca e incapaz, não era digna da espada. Não era digna de ser aprendiz de Asami, agora na certa iria perder sua família, e futuramente seria morta por Henrique.

— Você me envergonha Renata, eu acreditei que poderia carregar meu fardo, mas você é apenas uma menina. — fala a idosa inquisidora. — Embora não posso culpá-la totalmente, coloquei minhas fichas em você, eu criei a expectativa.

Ela suspira percebendo o erro que cometeu, esperava demais da pessoa errada, mas continuou:

— E você teve apenas duas semanas de treino, e já avançou muito, conseguiu lutar com facilidade contra mim, se tivesse mais tempo certamente iria conseguir ir mais longe.

— Então quer dizer...

— Quer dizer que você é uma desonra justificável. — responde a idosa lhe dando ás costas — Agora venha, o último teste é agora.

Ela se dirigi a Lucy e Rodrigo:

— Agora peço a vocês privacidade. — Os dois concordaram e se retiraram com tranquilidade

— Agora Renata, irei te contar uma história.

Naquela tarde, Renata, conheceu a macabra origem da espada que talvez seria sua. E todo o mal que ela representava.

 

 

 

******

 

Ambas caminhavam em direção a moradia.

— Senhora Asami, eu não sei se consigo fazer isso. — diz Renata, após ter ouvido a história do clã Takeda e da espada amaldiçoada.

— Olhe para mim, você acha que eu consigo continuar? — questiona Asami, parando e a fitando cansada. — A cada dia, ela se torna mais e mais pesada, me tenta cada vez mais, sinto minha força se esvaindo e a fraqueza fica cada vez maior.

A samurai continua retomando a caminhada:

— Você é inexperiente apenas, com o tempo suas habilidades vão florescer e você será extraordinária, só é preciso de tempo. Hoje você deu o melhor que poderia ter dado nas suas condições...

— Obrigada, sensei. — Renata, queria lhe dar um abraço, se sentir grata com Asami, mas duas coisas a impediam, o fato de não poder ser tocada, e de ainda estar com vestes ensanguentadas.

— Sensei, como a senhora consegue lutar desse jeito? Tipo, eu sou uma vampira, e não estou mal alimentada.

— A chave disso é o equilíbrio interno. — rebate a japonês com calma — Você pode ter ouvido a história, mas há mais um detalhe que você desconhece. Irei te contar sobre isso mais tarde, agora tome um banho, vista a roupa que te deixei em cima da cama e venha até a cachoeira.

 

 

 

******

— Até que você está bem arrumada — comenta Rodrigo para Renata.

Ela vestia uma variação de sua roupa tática, o mesmo casaco negro, uma calça tática preta, com botas militares, mas a parte que mais contratava era o colete por dentro do casaco negro. O interior era vermelho escuro, com um morcego no centro, contudo lembrava mais uma tatuagem por possuir muitos traços de prata, mas não era uma figura concreta, era algo mais “etéreo” e bem detalhado.

Isso foi obra de Salazar, afim de identificar seus membros vampíricos durante o combate afim de evitar mal-entendidos e mortes. Fora que alguns do grupo de Henrique, usavam seu emblema de lobo, então era preciso renascer para sobreviver.

— Você também não está nada mal.

 Rodrigo, também estava uniformizado, botas, calças militares, um colete a prova de balas, e na mão esquerda um pano branco. Talvez uma futura máscara improvisada. O interessante era que suas vestes tinham uma variação de branco para prata, algo bem peculiar, isso demonstrava talvez que ele desejasse ser notado.

— Por que essa coloração de roupas? — questiona ela — Não são nada furtivas.

— Eu não sou furtivo Nat, não sou um assassino, sou um guerreiro. — replica ele. — Minha função era ser notado, afinal eu era sempre o líder, e assim eu devastava meus inimigos e toda a sua moral e coragem. Era um serviço digno, enfrentei seres preparados para morrerem. Hoje a noite vai ser a mesma coisa.

— E você não teme as replicações? Matar é errado.

— Eu sei, inclusive disse isso a ele. Eu sei que é errado, e sei que eu não tenho qualquer direito de julgar quem vive ou morre, eu não sou um vigilante, nem tenho o interesse de ser. A única coisa que desejo é que minha família fique segura, não irei esperar passivamente até um pelotão de vampiros bater a minha porta.

Renata, olha novamente para ele, que ia caminhando na frente, Rodrigo, a assustava, não parecia o garoto que conheceu no ensino médio, estava bem mais sinistro. Mas talvez fosse o efeito de Ocultgard nele, além disso, ele era pai, um bom pai, sua atitude era compreensível. Ainda que condenável.

Dois aspectos curiosos que Renata, notou sobre Rodrigo: ele detinha dois braceletes medievais nos pulsos. E nada de armas de fogo, apenas duas espadas cruzadas em x, em suas costas. Você não sabe usar armas de fogo? Questiona ela mentalmente.

Enfim chegaram em frente a cachoeira, e lá estava Asami e Lucy, aparentemente elas conversavam sobre o período que Lucy, ficou na China, quando houve a primeira guerra sino-japonesa. Asami, veste o seu clássico vestido de flores de cerejeira.

— Eu lamento por seu marido, Lucy. — diz Asami. — Esse conflito com a China, foi desnecessário, tanto quanto o que ocorreu na década de 40. Esse último rendeu experimentos humanos se não me falha a memória, uma verdadeira abominação... fora o que fizeram com o Bushido, incentivando jovens japoneses a se tornarem Kamikazes.

Ela continua inicialmente saudosista, mas depois melancólica:

— O Japão é um belo lugar, e existem ótimas pessoas também. Mas onde existe o bem, também existe o degenerado, e meus familiares, pagaram o preço, assassinados, enforcados e mutilados... Nós os protegemos e fomos pagos com morte e destruição.

— A algum tempo aprendi a não odiar todos os japoneses. — diz Lucy.  — Na verdade agora, talvez eu tenha uma dívida com uma família japonesa.

— Qual? — questiona Asami.

Ambas pararam a conversa quando os dois chegaram. Renata, se curva cordialmente para sua sensei. Então Asami, se vira em direção a cachoeira, e Renata, também. Em cima de uma pedra, havia um suporte e sobre ele jazia a fatídica espada Kitsune, a perdição do clã Takeda.

Asami, caminha solenemente até lá, se ajoelha e fez algumas preces a seus antepassados, pedindo força e aprovação pelo que estava por vir.  Levanta-se e pega a catana embainhada com cuidado, se vira e foi até Renata. Naquele momento, entre Renata e Asami, o sol ia sumindo, e tanto o barulho da cachoeira, quanto do próprio ambiente tornou aquele momento ínfimo sereno.

Uma leve brisa gélida envolve mestre e aprendiz, seus olhos se encontraram. Asami, exibia uma expressão séria, mas não conseguiu se conter, e a seriedade dá lugar a um sorriso orgulhoso e de satisfação.

— Renata Cardoso, apesar de ainda estar aprendendo, se mostrar digna de herdar o conhecimento que meus antepassados juraram proteger. Você é o futuro, deve usar essa espada com sabedoria, proteger ela com sua vida, e proteger os outros dela.

Ela vai estender a vampira espada embainhada, mas algo dentro de si a impedia, pensamentos egoístas começaram a se proliferar em sua mente. “Ela não vai dar conta”, “não está pronta e nem mesmo é digna”, “vai arruinar tudo o que minha família sacrificou para proteger”.

— Mestra, está tudo bem? — questiona Renata preocupada. Essa pergunta, somado ao aspecto, que a garota se encontrava, ajudaram Asami, a rebater os demônios que a cercavam. Ela é uma boa pessoa, se esforça e se compromete, deu sangue, suor e lágrimas por aqueles que ama, ela é tão digna quanto um Takeda.

Com dificuldades ela lhe estende a espada, olha em seus olhos e profere as seguintes palavras:

— Você me dá muito orgulho, menina.

Em vez de aceitar a catana, desta vez Renata, não resiste, foi mais forte que ela, abraça sua mestra, ainda que evitando o contato com sua pele. Asami, até pensou que teria alguma reação, mas memórias antigas de uma outra pessoa, souberam se conectar ao presente momento, e a idosa acaba ficando completamente sem ação.

Para Renata, aquele era um momento único, não só pela satisfação pessoal, mas em muito tempo, ela se sentia verdadeiramente querida. Para Asami, era como ver um fantasma, ou melhor sentir. Para a sensei, quem a abraçava não era Renata, mas sim sua filha, que tinha perdido num acidente de carro, a verdadeira herdeira da espada amaldiçoada.

A vampira, então se dá conta do que tinha feito e se afasta.

— Perdão mestra, eu não consegui me conter.

Asami, logo recupera a compostura e lhe estende a espada com pesar.

— Está tudo bem, querida, agora por favor, aceite.

Renata, fita a espada embainhada, era bem detalhada e caprichada, o principal ponto era o fantástico entalhe no cabo negro da espada. Duas raposas em um formato circular, uma vermelha e outra azulada, correndo eternamente atrás da outra.

Renata coloca a mão sobre a espada, juntamente com Asami, aquele ritual era necessário. Asami, e ela se encararam mutuamente, a idosa olha para a espada. Uma parte de si não queria deixá-la, mas sabia que não iria aguentar mais tempo com ela. Então se liberta:

Eu, Asami Takeda, passo a Katana-Kitsune para Renata Cardoso, use a com sabedoria.

Renata podia não saber japonês, mas entende o que sua mestra queria dizer, pois Asami já tinha explicado como era o ritual.

Watashi wa ukeireru (Eu aceito).


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