Disintegration escrita por Mozart


Capítulo 8
Prayers for Rain


Notas iniciais do capítulo

a primeira parte do capítulo pode ter sido ligeiramente influenciada pela relação de catherine e heathcliff d'o morro dos ventos uivantes.



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PRAYERS FOR RAIN

You shatter me

your grip on me

hold on me

 

Viver com Remus era simultaneamente o paraíso e o inferno.

Sirius gostava de afagar seus cabelos, de beijar suas cicatrizes e de abraçá-lo forte antes de dormir, mas odiava as crises de raiva, de choro, de culpa. A verdade é que Remus fora atingido por feridas letais muito cedo em sua vida e a qualquer lugar que fosse essas feridas caminhavam grudadas ao seu corpo – em alguns casos, em sentido literal.

As vezes, Sirius pensava em ir embora, ou em mandá-lo ir, mas então percebia, através do mais egoísta dos impulsos, que não poderia viver sem ele. E desistia da ideia, não porque fosse altruísta ou generoso, mas porque era egoísta o suficiente para saber que precisava dele e deixá-lo só lhe traria ainda mais sofrimento.

Era estranho conviver com Remus e perceber que ele não era um poço de paciência vinte e quatro horas por dia, e era estranho sentir que não precisava estar ao lado dele o tempo todo – e que, as vezes, achava até necessário que os dois ficassem longe por um tempo, com a oportunidade de agir como indivíduos e não como uma extensão um do corpo do outro.

Todos esses sentimentos confundiam Sirius, as vezes ele estava deitado na cama afagando os cabelos castanhos com gentileza e sentindo a culpa dentro de si por ter sequer cogitado em algum momento que aquela não era a pessoa certa para si, sentia-se a pior pessoa do mundo por em momentos de estresse ter pensado em deixar Remus para trás. Como poderia deixar Remus para trás? Seria ele capaz de viver depois daquilo?

Novamente, o egoísmo consumia seu peito e ele segurava o rapaz contra seu corpo.

— Desculpe por ter gritado com você mais cedo – Remus acabava sussurrando, em algum momento, com os lábios quase encostando no peito desnudo de Sirius fazendo com que o sopro de suas palavras fosse diretamente de encontro com seu coração.

— Desculpe ter te irritado daquele jeito – Sirius retribuía, foi algo que demorou a nascer em sua garganta, mas que ele percebeu que era necessário.

Se havia algo que Remus havia lhe ensinado era isso: as vezes nós temos que ceder. No começo ceder era como morrer, Sirius preferia mil vezes ser atingido por uma maldição da morte bem no meio do peito do que insinuar, por um segundo sequer, que cometera um erro e precisava se redimir. Depois de quase um ano, no entanto, ficou fácil de perceber que desculpar-se era um privilégio das melhores pessoas. Sirius buscava ser uma pessoa melhor ao lado de Remus, e por isso desculpar-se era um efeito colateral.

Desculpar-se foi algo que ele teve que fazer com Marlene McKinnon, e foi como tirar o peso de uma bigorna de suas costas; desculpar-se com Remus, no entanto, era sempre diferente. Desculpar-se com Remus era sempre egoísta e sem pensar no sofrimento alheio, era sempre “eu não posso suportar vê-lo desse jeito” ou “ele está me rejeitando? Por que ele está fazendo isso?”

Sirius tentava evitar, mas era quase improvável. Aprendeu que o amor era egoísta por natureza, que quanto mais amava alguém, mais queria ter aquela pessoa apenas para si e dessa vez o egoísmo extrapolava o limite do aceitável. Era difícil segurar os rancores no estômago assistindo a amabilidade de Remus com, literalmente, todas as pessoas do mundo, mas ele era assim. Remus era um cuidador, ele gostava de ser útil as pessoas e gostava de fazê-las sentirem-se bem e gostava de deixar claro, para elas, que mesmo que o mundo lhes virasse as costas ele não faria o mesmo, pois ele via dentro de seu próprio ser.

Aquilo, por vezes, fazia Sirius sentir que não era especial e que era apenas mais um a quem Remus queria bem dentre tantas milhares de pessoas a quem Remus queria bem. E nesses momentos era como se Remus o sufocasse com suas próprias mãos, o que era ridículo porque não estava nem próximo da realidade dos fatos.

— Você está quieto, aconteceu alguma coisa? – era uma pergunta frequente, Remus preocupava-se com ele, demonstrava isso frequentemente. O cuidado, por vezes, quase fazia com que Sirius esquecesse de suas inseguranças infinitas.

— Não é nada, eu só quero sentir você – e as mãos percorriam as costas de Remus sentindo sua pele quente por baixo dos cobertores, e seu nariz estava enfiado nos cabelos castanhos sentindo o cheiro de chocolate emanando dos cachos.

 

[...]

 

Remus gostava de cozinhar como os trouxas e não gostava de cozinhar sozinho. As vezes a mera presença de Sirius na cozinha já era o suficiente, outras ele obrigava Sirius a mexer alguma coisa na panela – como desta vez, específica.

— Se eu tiver que mexer isso por mais um minuto tenho certeza que meu braço vai cair – começou Sirius fazendo drama, e Remus apenas riu, concentrado demais em temperar a carne.

Nesse momento Sirius o fitou longamente, sentindo a dor no braço acumulando-se cada vez mais, observava suas feições e sentia como se fossem suas, e via sua própria boca espelhando o sorriso que brincava nos lábios de Remus Lupin.

— Por que você faz isso?

Sirius foi obrigado a acordar de seu torpor.

— O que?

— Fica me olhando assim, com a mente longe…

Sirius viu-se na obrigação de sorrir mais uma vez, dessa vez um sorriso próprio que vinha do fundo de seu ser – embora ainda causado pela presença do rapaz a sua frente.

— Eu não sei – disse displicente – talvez eu goste muito de você.

— Quanto?

Ele sabia onde Remus queria chegar e não podia deixar de sentir-se ligeiramente excitado. Concentrou-se em mexer a colher na panela por algum tempo, então soltou um suspiro como se levantasse uma bandeira branca para o reino inimigo.

— Eu amo você – proferiu, o coração aos pulos.

O silêncio se instalou na cozinha por alguns instantes, as ágeis mãos de Remus pararam o trabalho ao qual vinha se dedicando já há alguns minutos. Um sorriso singelo formou-se no rosto de Remus, que voltou-se para Sirius rapidamente.

— Sempre achei que eu diria primeiro – confessou rindo, os cabelos castanhos caíam em frente aos olhos com insistência.

Sirius aguardou, sentia seus miolos fritando, a falta de resposta quase o fazia sufocar.

Remus o encarou bem nos olhos, a expressão séria finalmente se fazendo presente.

— Eu também te amo.

E voltaram aos afazeres, o sorriso decorando ambas as feições.


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Notas finais do capítulo

eu tava lendo berserk e quase esqueci de escrever, sorry.
bom, esse é o último capítulo pré-harry, aeeeeee! eu quis focar um pouco na parte ruim da relação pois fico bem cansada de ver as pessoas sempre retratando relacionamentos como se fossem um mar de rosas. enfim, espero que tenham gostado, se não gostarem também não faz mal. bjs!



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