Disintegration escrita por Mozart


Capítulo 6
Lullaby


Notas iniciais do capítulo

como vocês vão reparar o capítulo tem mais de um pov, essa foi a forma que eu encontrei de contar essa parte e ainda introduzir uma personagem.
foi um parto pra consegui encaixar essa música no capítulo, mas no fim fiquei feliz com o resultado. sendo que, apenas a primeira parte foi baseada na música, a segunda é meio que um complemento.



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LULLABY

For it's much too late to get away or turn on the light

 

Sirius gostava de Marlene, de verdade, mas havia algo nela que ele não conseguia aguentar: ela não era Remus. Mesmo assim, era mais parecida com Remus do que era saudável para lhe permitir seguir verdadeiramente em frente. Aquilo era um inferno!

Ele tragou o cigarro, irritado, deixando-se transportar para outra dimensão.

Mas a outra dimensão não passava de mais um amontoado de Remus Lupin.

Sirius jurava que podia sentir seu cheiro no ar e ver sua silhueta nua a sua frente. Aquilo estava alcançando níveis preocupantes, ele tinha de admitir.

O rancor alojava-se na garganta do maroto enquanto tragava o cigarro novamente lembrando-se do momento a beira do lago em que Remus mentira descaradamente.

Tudo vai ficar bem.

Sirius riu com amargor.

Desde que se graduara tudo o que não acontecera era ele ficar bem.

O primeiro mês foi ótimo e então Remus o abandonou, rumando para uma missão suicida com lobisomens sem dar notícias por MESES. Sirius nem sabia se devia continuar a alimentar esperanças, toda noite pensava que Remus podia ter sido descoberto e já estava morto há séculos enquanto ele permanecia ali, naquele apartamento quente demais, lamentando sua própria vida – ou não-vida.

Ele ainda passava dias lembrando todas as suas escapadas com Remus – que, francamente, jamais seriam o suficiente para saciar seu desejo – e quase queria se enforcar por isso. Ainda sentia tesão ao lembrar-se do corpo desnudo do outro rapaz e masturbava-se pensando nele mais vezes do que podia pensar, aquele era definitivamente o seu maior atestado de fracasso.

E na noite seguinte voltava a pensar que Remus poderia estar morto e que, portanto, ele teria que se virar na mão pelo resto da vida. Aquele mero pensamento o fazia chorar de raiva, mas também de tristeza. E então ele se lembrava de Marlene, e de como era inteligente, engraçada e a responsável por ser sua companheira por todos aqueles meses e, mesmo assim, lhe soava insuficiente.

Sirius sabia que aqueles pensamentos o tornavam uma pessoa ainda mais horrível do que ele já era usualmente e, ainda assim, não conseguia evitá-los.

Ele via as sombras de Remus por todo o seu quarto, e não conseguia mesmo identificar se aquilo era loucura ou apenas o efeito do álcool e das drogas. Dormia e sonhava que estava transando com Remus na cama, nas escadas e na rua. Acordava de pau duro e sentia-se mais infeliz do que quando adormecera, e então começava tudo de novo.



MARLENE

Uma, duas batidas na porta e Marlene apressou-se a atendê-la. Um homem pálido, de cabelos castanhos claros revelara-se a sua frente, uma estranha cicatriz cobria parte de sua face e ele parecia extremamente cansado.

— Sirius está? – a voz do homem soou fraca, porém audível.

Marlene não precisou se dar ao trabalho de chamar Sirius, pois assim que ouvira a conhecida voz ele erguera-se de um salto do sofá onde estivera deitado e correu para dar um forte abraço no amigo há tempos desaparecido. Foi só quando eles se separaram e Marlene viu o carinho com que Sirius o fitava que ela percebeu que se tratava de Remus Lupin, um garoto com o qual ambos estudaram em Hogwarts e que era também um dos melhores amigos de Sirius.

Remus estava claramente debilitado depois de tanto tempo de missão, Marlene lhe fez um chá e entregou-o em suas mãos magras, retirando-se logo em seguida enquanto Lupin narrava os detalhes dos eventos dos últimos meses ao amigo. Não queria atrapalhar, embora já soubesse dos detalhes da missão por conta de seu cargo na Ordem da Fênix, então manteve-se no escritório, arrumando alguns documentos; ainda assim, conseguia ouvir pedaços esparsos da conversa e em alguns momentos as vozes dos dois tornavam-se mais baixas, como se compartilhassem segredos de tempos imemoráveis.

Marlene achou interessante observar que eles sempre paravam de falar quando notavam sua aproximação, quase como se houvesse um assunto proibido sobre o qual ela nunca deveria ficar sabendo – e havia. Naquela noite, Sirius a auxiliou com o jantar enquanto Remus descansava no quarto de hóspedes; ela nunca vira o maroto tão empolgado e falante como naquela ocasião.

— Ele tem uma nova cicatriz, sabia? Abaixo do queixo, fico pensando em como isso ocorreu, não é mais do que arranhão, mas mesmo assim…

Sirius mal notava quando Marlene estava doente – não que não se preocupasse com ela, mas era bastante desatento para esse tipo de assunto – e, no entanto, notara uma minúscula cicatriz no queixo de Remus Lupin que mesmo ela, atenta como era, não vira.

— Pode ser qualquer coisa, está se preocupando atoa – murmurou simplesmente, observando o namorado intrigada.

Sirius sacudiu a cabeça positivamente e suspirou longamente enquanto cortava alguns legumes.

— Claro, claro. Você deve estar certa.

A hora do jantar foi interessante, para não dizer estranha. Sirius pareceu arrumar qualquer desculpa para tocar em Remus: nos cabelos, nas mãos, no pescoço, nas bochechas. Era como se houvesse uma intimidade para além do comum em amizades duradouras, mesmo comprometida com Sirius, Marlene chegava a duvidar se chegaria a ter aquela intimidade com ele algum dia. Após uma longa risada por conta de uma piada interna qualquer, Sirius voltou-se para Marlene mordendo o lábio inferior.

— Lene, acho que vou dormir no quarto com Remus hoje, tem um colchão extra por lá, vai ficar confortável. Temos tanto a conversar, você não se importa, não é?

Ela foi pega desprevenida, mas ali a faísca da dúvida foi plantada. Engoliu em seco e sorriu tentando disfarçar o constrangimento enquanto os dedos de Remus Lupin brincavam com a gola da camisa de Sirius de uma forma tão espontânea que era difícil acreditar.

— Claro que não, tenham uma boa noite – disse levantando-se e rumando para o quarto sozinha.

Por mais que tentasse, não conseguia pregar o olho. Os risos de Sirius e Remus ecoaram pelo corredor quando eles passaram por ali em direção ao quarto de hóspedes. Marlene não queria pensar naquilo, mas era inevitável. Esforçava-se para imaginar a si mesma e Dorcas fazendo as coisas que os dois marotos haviam feito no jantar e achava tudo muito deslocado. Para piorar a situação podia jurar ouvir ruídos estranhos vindos da direção do quarto, o que era mais um motivo para manter-se afastada. Por volta das quatro da madrugada o silêncio completo se instalara na casa, McKinnon finalmente tomou coragem e levantou-se da cama, caminhou a passos silenciosos até o quarto e prostou-se de frente a porta, o coração acelerado.

Disse o feitiço mentalmente e abriu a porta, a cena a seguir só serviu para confirmar suas suspeitas. Há tempos Marlene achava que gostava mais de Sirius do que ele dela, e estava certa, vê-lo nu abraçado a Remus Lupin enquanto dormia só confirmava sua teoria. Ela deixou as lágrimas rolarem, não havia sentido pará-las; fechou a porta vagarosamente e voltou para o quarto, deixou as lágrimas umedecerem o travesseiro sem se importar.

Na manhã seguinte ela levantou cedo, arrumou as malas, preparou o café e observou extasiada enquanto Remus Lupin adentrava na cozinha com os cabelos bagunçados e cara de sono. Ele lhe acenou com a cabeça e sorriu com simpatia, o que fez com que ela tivesse vontade de gritar. Marlene serviu-lhe o café, apanhou uma caneca para si mesma e sentou-se na mesa de frente para ele, em silêncio.

Remus era uma pessoa silenciosa, como ela, sendo assim ela conseguia imaginar o motivo de Sirius gostar dele, pelo menos em partes. Marlene prometera a si mesma que não diria nada, simplesmente iria embora, mas ele estava ali na sua frente e o impulso foi mais forte do que planejara.

— Eu vi vocês – disse simplesmente, e embora parecesse uma sentença vazia, Lupin compreendeu de imediato, pois remexeu-se desconfortável na cadeira e engoliu em seco.

— Desculpe – murmurou o rapaz após um momento sem ousar encará-la.

Marlene sorriu amargamente, sentia que as lágrimas queriam apossar-se de si novamente, mas esforçou-se para controlá-las.

— Eu provavelmente devia estar quebrando a casa e colocando você para fora a pontapés, mas estou lhe servindo café, isso é tão estranho – proferiu a jovem mulher bebericando sua própria bebida. – Não farei nada disso, se é que está preocupado. Na verdade, fiquei um bom tempo pensando no que eu deveria fazer e cheguei a conclusão de que nada é o melhor que eu posso pensar em fazer por mim e por todos a minha volta.

— Eu aprecio a sua generosidade, Marlene…

— Não é generosidade – ela o cortou entre dentes. – Minha irmã Marigold tem um relacionamento com uma mulher há muitos anos, mas ninguém sabe, acham que são amigas, o que ridículo porque está na cara que elas se amam e não de forma inocente. É o mesmo que acontece com vocês dois, as pessoas olham e fingem que não estão vendo, é algo necessário para manter seus mundos perfeitos intactos. Foi a mesma coisa que eu fiz, sabia? Eu vi os dois, aqui na minha frente, tão despidos quanto estavam quando abri a porta daquele quarto e, ainda assim, preferi fingir que estava tudo bem e que não havia uma coisa a mais. Eu fui uma estúpida, tenho que confessar.

— Você não foi uma estúpida – rebateu Remus massageando as têmporas e posteriormente encarando-a pela primeira vez. – Você estava feliz e quis se manter feliz, não há nada de errado com isso.

Marlene balançou a cabeça positivamente fitando o tampo da mesa.

— Eu não vou atrapalhar vocês, nem vou contar a ninguém. Sei que ele gosta de mim de alguma forma, mas ele ama você – disse finalmente, engolindo o choro. Retirou um envelope de dentro do bolso interno do casaco e o empurrou pelo tampo da mesa em direção a Lupin. – Eu não sou capaz de falar com ele agora sem gritar a falar coisas das quais eu me arrependeria depois, então, por favor, entregue a ele.

Remus apanhou o envelope sobre a mesa e sorriu infeliz.

— Estou indo para a casa dos meus pais. Boa sorte… para os dois.


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Notas finais do capítulo

ufa, aqui estamos nós.
eu fiquei dias pensando em como escreveria esse capítulo e quando finalmente sentei pra escrever saiu tudo de uma vez, ainda estou chocada com isso.
o motivo de marlene estar aqui é porque: não consigo imaginar a vida do sirius sem a marlene, mesmo que não considere que ela é o amor da vida dele. tenho tendência a imaginar que eles tem uma amizade bem forte e que passa por esse tipo de situação de estarem namorando e de repente não estar graças as forças do destino.
enfim, o que acharam??



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