Disintegration escrita por Mozart


Capítulo 3
Closedown


Notas iniciais do capítulo

primeiro os agradecimentos a todas que comentaram, obrigada! ♥
pessoalmente acho que a melodia da música só combina com a primeira parte do capítulo, mas cada um sabe das próprias preferências.



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CLOSEDOWN

 

I'm running out of time
I'm out of step and closing down
And never sleep for wanting hours
The empty hours of greed

And uselessly, always the need
To feel again the real belief
Of something more than mockery
If only I could fill my heart with love



Remus Lupin sentia que o mundo se fechava ao seu redor, eventualmente, ele sufocaria, mas esse sentimento, de alguma forma, o reconfortava, pois ele já não sabia como lidar com tudo aquilo. Talvez estivesse sendo dramático demais, era uma possibilidade. Mas a ideia de ter que se esconder eternamente atrás de um véu esburacado o entristecia. Por um lado ele gostaria que alguém descobrisse tudo para que ele não tivesse mais que carregar aquele peso sozinho, por outro lado Moony estava petrificado de medo de saber a reação dos outros quando soubessem a verdade sobre ele.

— Novamente, por que é que o James não pode vir hoje? – indagou Remus sem esboçar nenhuma emoção em particular.

Sirius suspirou pesadamente.

— Ele tem alguma coisa irremarcável com a Lily.

Não é corriqueiro, ele precisava recordar a si mesmo.

— E Peter?

— Ele está doente, gripado.

Remus assentiu. A verdade é que estava petrificado de medo. Talvez fosse apenas uma eventualidade que naquele dia James e Peter não pudessem ir a Casa dos Gritos, mas talvez fosse algo mais. Talvez eles tivessem descoberto seu novo segredo – um segredo com o corte de cabelo único – e não estivessem mais dispostos a estar ao seu lado. Remus engoliu em seco.

— Certo, você não precisa vir, eu posso lidar com isso sozinho. Já fiz isso várias vezes e nunca morri.

Sirius girou os olhos visivelmente irritado.

— Não tem a menor possibilidade de você passar a noite de lua cheia sozinho – respondeu impaciente.

Remus podia argumentar, mas não tinha energia alguma para aquilo. Às vezes sentia como se essas coisas estivessem se assentando em sua alma e ele estivesse se conformando. Ou se aceitando? Ele provavelmente não iria tão longe.

— Eu vou estar lá ao anoitecer, então até mais tarde!

Até mais tarde.



[...]

 

A luz do sol infiltrava-se pela fresta da janela quebrada, Remus abriu os olhos vagarosamente e se viu deitado no chão duro da Casa dos Gritos, um braço tatuado envolvia sua cintura desnuda e ele sentia seu corpo colado a um outro.

Levantou-se vagarosamente livrando-se do abraço e viu Sirius adormecido, seus cabelos negros caiam sobre seu rosto, Remus o observou por um momento. Era a primeira vez que via Sirius tão vulnerável desde a noite do pub, uma sensação estranha percorria seu corpo, como se algo há muito perdido pudesse ser recuperado naquele momento, desde que ele quisesse.

Suspirou pesadamente, as coisas não eram tão simples como gostaria.

Sirius se remexeu indicando que estava prestes a acordar e Remus desviou o olhar tentando encontrar qualquer coisa minimamente interessante que pudesse ser observada por vários minutos de um desconfortável silêncio que estava por vir. Ainda assim, Remus podia ver de soslaio Sirius se espreguiçando e os cabelos negros caindo em frente a seus olhos enquanto fazia o reconhecimento do ambiente.

— Que horas são? – perguntou após um longo bocejo.

Remus pensou em não responder, mas já estava cansado daquele jogo estúpido. Por mais babaca que Sirius tivesse sido aquilo não poderia durar para sempre.

— Umas 8h, eu acho.

Sirius pousou os dedos em seu ombro percorrendo o local onde uma nova cicatriz se faria presente dali alguns dias.

— Foi uma transformação bem violenta dessa vez, né?

Remus assentiu com a cabeça, mas não disse nada. Não sabia o que dizer, embora sentisse tanta coisa. Se soubesse colocar seus sentimentos em palavras Sirius provavelmente teria de ouvir um discurso enorme por horas, mas para a sorte das orelhas do amigo, ele não sabia.

— Eu sei que você está com raiva de mim e eu entendo, você tem toda razão de estar assim, mas…

— Eu não estou com raiva de você – Remus se viu obrigado a interrompê-lo. Não estava chocada de vê-lo ser o primeiro a tocar no assunto, ele sempre falava demais.

Sirius não o respondeu de imediato, Remus quase podia ver a fumaça saindo de seu cérebro enquanto ele tentava compreender o que estava acontecendo.

— Eu estou triste com você, Sirius – completou finalmente, voltando-se para encará-lo. – Em um dia nós estávamos dormindo juntos e tomando café na cama e no outro você age como se nada tivesse acontecido, ou pior, como se tudo o que aconteceu não tivesse tido relevância alguma – murmurou em um volume tão baixo que requeria que Sirius estivesse bastante próximo para poder escutá-lo. Talvez aquilo fosse o que ele queria dizer, não um discurso pomposo, mas apenas o destrinchar dos fatos.

Novamente Sirius não respondeu e Remus encarou isso como um misto de arrependimento e falta de justificativas razoáveis.

— Não é que eu quisesse que a gente assumisse um relacionamento sério no dia seguinte ou algo do tipo, mas… nós somos amigos. Gostaria que tivesse agido com o mínimo de consideração, entende? – disse por fim.

Sirius esboçou um meio sorriso amargo e concordou lentamente com a cabeça.

— Entendo – ele suspirou. – Eu sei que fui um babaca e sei que você tem razão de se sentir como se sente, e eu sinto muito por isso, de verdade. Não pretendo arranjar nenhuma justificativa pro meu comportamento, eu só… estava com medo.

Medo. Pela primeira vez desde o ocorrido Remus se sentia realmente conectado a alguém novamente.

— Eu também – admitiu antes que se pudesse refletir se aquilo era mesmo o mais sábio a se fazer. – As pessoas ficam te dizendo que você deve ser de um jeito a sua vida toda e, de repente, você percebe que é o total oposto. É um sentimento assustador.

 

[...]

 

A primeira cena estranha do dia foi ver James próximo a lareira na sala comunal lendo um livro. Não que James não fosse capaz de ler um livro, mas bem… não era seu passatempo favorito. Estranhamente Lily não estava com ele, o que quebrava a tradição matinal de ver os dois cochichando sozinhos em um canto da sala.

— E então, como foi o encontro com Lily? – indagou Sirius jogando-se no sofá ao lado de James.

Prongs ajeitou seus óculos de grau acima do nariz e deu de ombros.

— Nós remarcamos, eu estava indisposto.

Aquilo foi um choque. Remus sentiu algo se remexendo em seu estômago.

— Indisposto? – disse Sirius incrédulo.

James fechou o livro e assentiu.

— Mas eu acho que Remus esteve em boa companhia, certo? – murmurou voltando-se para Remus que permanecia de pé.

Moony não conseguia falar. Aquilo só podia ser um pesadelo.

Sirius se remexeu no estofado, mordiscando o lábio inferior, inquieto. Fez um sinal para que Remus se sentasse e este assim o fez, mais porque estava com seus sentidos totalmente embaralhados.

— Certo – Sirius respirou fundo. – Tem alguma coisa que você quer perguntar, Prongs?

James sorriu, um sorriso largo que mostrava todos os seus dentes.

— Tem alguma coisa que eu deveria saber, Sirius? – devolveu com sarcasmo.

Padfoot engoliu em seco, olhou para James e depois para Remus e depois para James e depois para a sala comunal, os poucos alunos estavam a uma distância segura.

— Nós transamos na noite de natal, na sua cama. É por isso que tudo estava estranho quando você voltou.

Remus achou que iria infartar, por um momento a expressão de James se manteve neutra, o que ele achou que significava surpresa, mas quando ele se recuperasse do choque talvez sua atitude não fosse a melhor de todos.

James, no entanto, apenas riu.

— Vocês são tão ridículos. Acharam mesmo que eu não ia notar? – indagou incrédulo. – Não façam mais na minha cama, não quero acordar um dia e descobrir que estou grávido de um de vocês – completou com deboche.

Sirius riu, e agora até Remus foi capaz de acompanhá-lo na risada. Foi como um peso sendo retirado de suas costas.

— Espera, então você fez isso de propósito? Dizer que estaria ocupado para fazer eu e Moony passarmos a noite sozinhos?

James sorriu.

— Não achei que seria tão perspicaz, Padfoot. Mas sim, espero que tenha funcionado porque, francamente, a noite aqui foi um tédio, Peter não parava de espirrar e Lily estava ocupada com os deveres de casa.

Remus riu mais uma vez, não acreditando que aquilo era mesmo real.

— Se você quer saber, nós meio que fizemos as pazes – disse erguendo-se do sofá. – Mas não do jeito que você está pensando – completou rindo, e rumou para o dormitório.

Remus subiu as escadas com um novo sentimento: liberdade.


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Notas finais do capítulo

esse capítulo é menos sobre o casal e mais sobre como as pessoas tem que lidar, a nível pessoal, com as expectativas alheias e com a forma como nós sempre nos cobramos pra atingir essas expectativas muitas vezes inalcançáveis. infelizmente nem todo mundo tem um james potter na vida, né gente, mas fazer o que.
eu espero que tenham gostado, mas mesmo que não tenham sintam-se a vontade para opinar sobre o capítulo aqui embaixo. beijos!



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