Uma longa viagem sem destino escrita por neko chan


Capítulo 5
Abrigo temporário




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Viajamos a noite inteira, eu estava cansada, com frio, com fome e com sede, Fran devia sentir o mesmo, mas acho que o cansaço predominava nela, pois estava quase caindo no sono encima da vassoura, mas lutava para ficar acordada.

Sefi, eu não aguento mais, temos que parar em algum lugar, já estamos bem longe da aldeia

— Eu sei, eu sei, mas não tem onde parar aqui, ainda falta um pouco para o sol nascer e não podemos para em qualquer lugar nessa floresta de noite, ficaríamos vulneráveis. - digo olhando para baixo vendo a longa floresta se estendendo, até que vejo uma clareira logo a frente, pareciam haver umas casas por lá - Fran, Fran, veja! - falo animada para ela, que logo abre um sorriso também

Descemos das vassouras quando chegamos a uns 2 metros do local, parecia uma aldeia também, mas era bem maior que a nossa, todos ainda pareciam estar dormindo, mas o sol já começara a nascer e sabia que logo acordariam se fossem agricultores, o que provavelmente eram. Senti o brilho quente do sol começando a alcançar meu rosto e foi se abaixando até encontrar o rosto de Fran, que se encolheu com um grito, mas antes que eu pudesse socorre-la, a caixa que mantínhamos nossas ultimas coisas voou para frente do rosto dela sendo envolvido por um brilho lilás.

— Fran.... - toco em seu ombro para que ela retire as mãos dos olhos

— O que houve? — pergunta desnorteada

— Acho que o gás fez um pouco mais em você do que tirar sua voz e te dar telepatia

Com a caixa ainda impedindo que o sol batesse em nossos rostos, eu me inclino um pouco para baixo para ficar cara à cara com ela, examino seus olhos, seu rosto, sua cabeça, buscando a menor diferença que pudesse haver para ter certeza se tinha algo errado, mas apenas notei que a cor de sua íris estava mais translúcida.

— Parece que alguém ganhou telecinese, parceira. - digo sorrindo

Não que realmente vá fazer muita diferença, nós já podíamos usar magia para isso

— De fato, mas agora pode fazer isso sem levantar a varinha e não pode mais ficar no sol, seus olhos ficaram muito sensíveis à luz. - suspiro - O que faremos com isso agora?

Eu poderia me esconder de baixo da sua túnica

— Até encontrarmos alguma coisa para proteger seus olhos esse vai ser o único jeito

Parei de falar e notei que os aldeões dali já estavam começando a sair de suas casa, eu não tinha certeza do que dizer para eles, será que apenas pedíamos um pouco de comida? Um pouco de agua? Um lugar para descansar? Não iriamos passar mais do que algum tempo por ali, se tudo desse certo, 3 dias no máximo, depois não sabia o que fazer. Observei por um tempo as pessoas por ali até que vi um centauro muito forte de cabelos longos presos num coque improvisado forjando uma espada, um ferreiro em uma aldeia daquele tamanho não teria muito trabalho a não ser por duas situações, ou eles estavam tendo problemas com animais selvagens ou estavam em meio de uma guerra com outra aldeia, e, seja qual das duas suposições fosse a certa, nós duas seriamos capaz de ajudar.

— Com licença... - me aproximo do centauro sentado apenas com a parte traseira em um tronco de arvore cortado e se apoiando nos cascos da frente, Fran continuava escondida do sol e agarrada na minha perna - O senhor é ferreiro, certo?

— Sou sim. - diz com voz grossa e sem tirar os olhos da espada que martelava

— Algum motivo especial para estar fazendo essas armas. - encaro as outras espadas que ele deixou empilhado em uma mesa no canto

— Os aldeões de uma aldeia próxima daqui nos causaram alguns problemas. - ele dá uma ultima batida forte na espada a finalizando - Então vamos resolver isso

"Bingo", penso enquanto refletia qual seria a probabilidade daquele cara aceitar a ajuda de duas desconhecidas, o homem se levanta e vira de costas para nós indo colocar a espada com as outras.

— Se o senhor, nos permitir, gostaríamos de ajudar o senhor. - digo tentando parecer o mais respeitosa que consegui

— Não preciso de ajuda

— Mas pode ter armas mais avançadas do que espadas se aceitar

Ele olha por cima do ombro e dá uma bufada.

— O que quer dizer com isso?

— Só um segundo. - eu tiro a varinha do cinto e levito a caixa de madeira até o meu lado

— Uma bruxa, é? - ele fala sem mudar se expressão

— I-isso, é um problema para o senhor?

— Não para mim, mas sabe como as aldeias funcionam, são todos incrivelmente primitivos, outro dia um vampiro apareceu por aqui e todos já começaram a planejar cravar estacas em seu peito, pareciam até....

— Humanos?

— .... Isso, humanos. - ele faz uma pausa - Então, vai me mostrar o que tem ai?

— Ah, sim, claro

Eu abro a caixa e ele se aproxima para examinar as armas.

— Onde conseguiu tudo isso? Roubou do exercito? - diz dando um leve riso

— Nós fizemos, só eu e ela. - levanto um pouco a túnica para mostrar Francine, não havia perigo, estávamos sob um teto agora, ela vai um pouco para fora, mas ainda fica perto de mim

— Isso parece demais para duas bruxas tão jovens... - continua olhando as armas - O que vão querer por isso? Não somos uma aldeia muito rica

— Apenas um lugar para ficar senhor, por apenas alguns dias, 3 no máximo

— Entendo.... estando indo para algum lugar em especial?

— Procuramos por um

— Espero que tenham sorte então, podem ficar na minha casa por enquanto, se possível gostaria que fizessem mais armas para nós, eu fornecerei o metal, tenho um estoque com algumas peças também, talvez achem algo útil

— Seria um prazer, senhor

— Chamem de Morfus

— Eu sou Serafina e essa é Francine, ela não pode falar agora, um.... feitiço acabou dando errado

— Acho que erros assim sempre podem acontecer, venham, vou levar vocês para dentro, lá podem tomar banho, se trocarem, comerem alguma coisa, vou pedir para um amigo preparar algo para vocês

Ele nos levou para dentro por um porta de madeira nos fundos de sua oficina de trabalho, era uma casa simples de madeira, mas me parecia aconchegante, lá dentro havia um lobisomem deitado de ponta cabeça no sofá, usava uma calça marrom e uma camisa vermelha folgada, seus pés e mãos tinham bastante pelo, o cabelo cinza com partes brancas estava arrumado num topete e ele encarava o próprio rabo que pendia entre suas pernas.

— Ah, se não é o pequeno Morfus trazendo amigos, que incomum, achei que só tinha eu

— Simon, essas são Serafina e Francine, elas vão ficar aqui por um tempo, não diga nada estranho para elas enquanto elas estiverem por aqui

— Achei que o pequeno Morfus só socializava com plantas e com cavalos, parece que saiu da concha

— Você ignorou tudo o que eu disse ou é apenas idiota?

— Não fique tão ranzinza, aqui, eu comprei uma coisa para você hoje. - ele pega uma sacola e retira um pênis de plástico dela - Eu fui até muito longe para achar isso

— O que acha que está fazendo, idiota?! - Morfus pega o objeto e o joga pela janela

— Que cruel. - ele faz beicinho - Eu paguei por isso, sabia? Poderia ao menos ter deixado eu ficar com ele

— Eu não tenho tempo para isso agora. - ele suspira e apertar os olhos com os dedos - Tenho que entregar as armas hoje, mostre a elas onde fica o estoque de ferro e peças, um banheiro, o quarto de hospedes e faça algo para que elas comam. - ele retira um molho de chaves do pequeno bolso em sua camisa xadrez e joga para Simon - E não diga nada estranho para elas. - diz saindo e batendo a porta

— Mais que cara engraçado, não acham? - Simon sorri e olha para nós - Então..... Serafina - olha para mim - E Francine - olha para Fran - Acho que a casa pode ficar mais divertida com mais gente, não?

— Acho que sim. - digo

— Bem, então, vamos ao tour

Simon nos mostrou a casa, a cozinha, a sala, os quartos, o banheiro, não era grande, mas era o suficiente para apenas os dois morarem, no fim ele dos deixa ir tomar banho e diz que vai fazer algo para comer. Fran e eu sempre tivemos costume de tomarmos banho juntas, eu a ajudava a lavar as costas e o cabelo, e depois ela, de alguma forma, tentava fazer o mesmo por mim, apesar de não alcançar bem, mas era normal para nós, já que ela não gostava de estar sozinha desde que foi lá para casa pela primeira vez. Simon fez hambúrgueres para nós três e comemos junto, ele era um cara muito animado e amigável, podia-se notar pelo jeito que nos tratou desde que chegamos, não parecia nem um pouco que éramos desconhecidos.

Ele passou muito tempo conversando com a gente durante as horas que passaram, fez costeleta de javali-gigante para almoçarmos e nos ensinou alguns jogos que ele jogava quando menor, eram jogos de tabuleiro, eram completamente diferentes de qualquer coisa que havíamos visto, nunca tinha ouvido falar em "banco imobiliário" ou "Ludo", depois ele nos explicou que eram jogos humanos.

Morfus só voltou a noite, comemos todos juntos o jantar de Simon, uma coxa de dragão tão grande que seria capaz de alimentar 10 pessoas, imagino se ele mesmo quem caçava tudo isso. Estava bem escuro lá fora, Morfus e Simon nos levaram para os fundos da casa onde havia uma escadaria que levava a um pequeno terraço da casa, nos sentamos todos no chão e Morfus ficou tocando violão enquanto olhávamos para o céu estrelado.

— Meninas. - chama Morfus ainda concentrado na musica - Vocês já viram como é o planeta dos humanos?

— Não, nunca. - respondo

— Nunca, nunca. - responde Fran apenas para mim

— É um lugar engraçado, todos vivem com muita pressa, são mais preconceituosos do que aldeões....

— Eles parecem realmente estranhos..... eles tem alguma escola? - pergunto

— Até têm

— Mesmo? Que tipo de magia aprendem por lá?

— Não aprendem magia por lá

— Deve ser por isso que humanos são tão- sou interrompida por Fran dando uma cotovelada no meu braço

Até os idiotas merecem um pouco de consideração

— Tem razão. - sussurro para ela

— Eu já fui humano uma vez. - diz Simon sorrindo - A boa e velha licantropia foi passada para mim por um lobisomem na Terra

— Serio? O que aconteceu com você?

— Eu me escondi por muito tempo e acabei conhecendo Morfus, ele estava numa expedição com outros centauros para coletar amostrar de plantas terráqueas à pedido da mestre e no fim ele à convenceu de me deixar vir morar aqui

— Eu me arrependo tremendamente desse dia. - Morfus diz rindo

— Não se faça de difícil, eu sei que você me ama! - ele o abraça

— Não me faça realmente começar a repensar minhas escolhas de 1000 anos atrás

— OK, ok, seu chato. - ele faz bico e cruza os braços

— Acho que deveríamos voltar. - Morfus coloca o violão dentro da capa de novo

Já dentro de casa, Morfus foi até o estoque e o encarou por um tempo.

— Talvez não tenha a tecnologia necessária para construir armas como aquelas, mas ficaria feliz se as usassem e levassem um pouco com vocês quando partissem. - ele diz

— Muito obrigada, prometemos fazer ótimas armas as usando

— Muito bem, eu tenho que ir dormir agora, vou acordar cedo para trabalhar, tentem não fazer muito barulho se forem dormir tarde, ok?

— OK. - digo

OK. - mais uma vez ela fala apenas para mim

— Morfinhos, venha logo para nossa cama. - Simon grita cantarolando do outro quarto

— Se continuar com isso eu vou te fazer dormir no tapete da sala como um cão, Simon. - responde indo em direção ao quarto

— Cruel. - ele choraminga

A casa ficou silenciosa quando a porta se fechou, apenas escutava as cigarras lá fora.

Podíamos trabalhar em alguma coisa agora, assim não daremos muito trabalho amanhã

— Acho que tem razão, vamos fazer alguns lança-chamas para eles

Vamos, vamos!— ela "grita" animada indo buscar as peças para trabalharmos


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