Moonlight - Mar dos milagres escrita por Sojobox


Capítulo 5
Vivendo o presente


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pela demora. Tanra coisa aconteceu... Neste capitulo? Dois novos personagens e um animal de estimação com destaque para o triste passado de um deles.



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Aviso importante: Se você for do IBAMA ou da sociedade protetora dos animais... eu inventei os trechos que envolve os bichinhos. Caso contrário, é tudo verídico.

 

Nada poderia impedir o que aconteceu no Orfanato Sete Sinos.

 

Espero que todos que tenham lido até aqui, tenham entendido o que disse no início desse livro: Não se deve tentar alterar o futuro, as consequências podem ser severas.

 

Michel ainda não havia aprendido essa lição, mas iria em breve.

 

Enquanto isso não acontece, vocês devem estar se perguntando o que aconteceu com ele após sua luta contra a mulher de olhos puxados.

 

O jovem acordara como fazia em todas as manhãs ao longo de sua vida. Esfregou os olhos com uma das mãos, olhou para um lado e para outro. E, embora dessa vez, tenha sentido que havia algo diferente, voltou a se deitar.

 

Normalmente, Michel permaneceria na cama ainda por mais alguns minutos até que Bruna entrasse no quarto e o molhasse com um jato de água, com sua mana, ou simplesmente o derrubasse da cama.

 

Mas naquele dia, ele percebeu que a assistente do orfanato não viria, nem Silvia, nem ninguém. Estava só.

 

Depois, ainda percebeu que não sabia como voltara para sua cama. Em seguida, como poderia ainda ter uma cama depois do incêndio. Então abriu os olhos e percebeu claramente que não estava em casa.

 

O quarto em que ele estava era, para Michel, no mínimo, incrível; tinha diversos pôsteres de jogadores de futebol famosos da época, os mais variados tipos de brinquedos e consoles de videogame. Um verdadeiro sonho para muitos garotos.

 

— Seja de quem for esse quarto, tem bom gosto.

 

O jovem parou para pensar como seria incrível ter um quarto desses, ou simplesmente ter um quarto só para ele, já que sempre dividiu o seu; e naquele momento, nem para dividir mais tinha.

 

Um som ensurdecedor foi ouvido. Algo que ele jamais tinha escutado.

 

O barulho vinha do lado de fora do quarto, então Michel resolveu levantar e ir em direção a porta, mas outra surpresa o aguardava. Uma shōji.

 

Para quem não sabe, é um estilo de porta de correr originada da China (atual Império da luz) muito usada também no Japão.

 

Ao deslizar a porta, reparou que havia um outro shōji, um braço de distância à frente.

 

Do seu lado esquerdo uma parede, pela direita um corredor estreito com diversos quartos, ou pelo menos ele imaginou que eram, todos com esse mesmo tipo de porta. Esse shōji, a sua frente, era idêntico ao que ele acabara de abrir, mas por mais que tentasse, não conseguira fazer o mesmo com aquela.

 

O garoto, então, decidiu andar mais pela casa. Seguindo o corredor, chegou numa sala onde havia diversas almofadas espalhadas pelo chão... e mais nada.

 

De certa forma, ficara feliz pelo chão dessa parte não ranger tanto quanto o do corredor que ele andou, pois temia acordar alguém.

 

— Quem será que mora aqui afinal?

 

— Eu — respondeu um garoto atrás dele.

 

Michel levou um enorme susto ao perceber o menino, não apenas pelo seu cabelo ser mais espetado do que o do Yugi Moto, mas principalmente por não ter ouvido nem um barulho dele ao se aproximar.

 

— Finalmente acordou, dorminhoco — disse o menino misterioso, provocando.

 

— Desculpe, mas quem é você?

 

— Meu nome é Santiago Silva. Sou Equatoriano.

 

— Ahn?

 

— Você é de onde?

 

— Eu sou do Orfanato Sete Sinos.

 

Cierto... estava me referindo de qual país veio?

 

— Ah! Brasil.

 

— Brasil?! Estive uma vez por lá.

 

— Espera. Dá pra me explicar o que tá acontecendo? Onde estou? Como vim parar aqui?

 

— Calma aí, brasileiro, uma pergunta de cada vez. Eu estava tomando café, quando vi você boiando na água, primeiro pensei que tinha se afogado, mas depois percebi que ainda estava vivo.

 

— Boiando?

 

— É, do lado de fora.

 

Santiago abriu um shōji no final da sala e tudo que Michel conseguia ver era água.

 

 

— Nossa! É um tipo de mar?

 

— Tá mais pra oceano.

 

— Oce... Quê?!

 

— Essa casa está flutuando no meio de um oceano, desculpe, mas não tenho permissão para contar qual.

 

Não sei dizer o motivo, mas tenho a ligeira impressão de que ele nem sabia.

 

— Que tipo de lugar é esse?

 

— Estamos no meu quartel general.

 

— Seu quarto o quê?

 

— Tá, não é meu, mas eu moro aqui agora e você também.

 

— Calma aí, quem te disse que eu vou morar aqui?

 

— É claro que vai. É por isso que veio aqui, não é?

 

— Eu já disse que não sei o que estou fazendo aqui!

 

— Isso é sério. Seria um caso de amnésia?

 

— Silva — a voz que foi ouvida dessa vez era mais forte.

 

— Senhor — respondeu prontamente o equatoriano, curvando-se diante do homem.

 

— Quando que...

 

Michel ficou ainda mais abismado com a presença desse novo indivíduo. Pois apareceu ao seu lado sentado, em cima de algumas almofadas.

 

— Nos deixe a sós — ordenou o homem ao garoto de cabelo espetado, que saiu de imediato — Está tudo bem contigo, Michel?

 

— Sim, mas onde exatamente eu estou? Foi você que me trouxe aqui?

 

— Na verdade eu gostaria de saber isso. Sabe... Este local é um centro de treinamento.

 

— De quê?

 

— Você pode usar mana, não pode? Mana de água, eu diria — arriscou o homem que tinha apenas braço.

 

— Sim, como sabe?

 

— Bom... apareceu boiando de cabeça para baixo e vivo, foi um palpite.

 

— Então aqui as pessoas podem vir para treinar o controle de suas habilidades?

 

— Sim e não. Veja bem, esse é um local oculto, e protegido. Só eu sei trazer ou tirar alguém daqui.

 

 

— Então foi você.

 

— O problema é que não fui eu que te trouxe, por isso gostaria de saber como chegou aqui.

 

— Mas eu não faço ideia, estava lutando e aí acordei e estava aqui.

 

— Lutando, você diz. Contra quem?

 

— Não quero falar sobre isso.

 

— Tudo bem, então fique o tempo que precisar. Quando estiver disposto a falar, ouvirei.

 

— Desculpe-me, mas não posso ficar aqui. Agradeço por ter cuidado de mim, mas tenho que ir atrás dela agora!

 

Ao dizer isso, Michel se levantou e correu em direção ao oceano.

 

Santiago que estava na varanda, ainda tentou impedi-lo, mas era tarde demais.

 

— Droga! — Ele começou a tirar a camisa e se preparar para pular.

 

— Deixe-o — ordena o homem.

 

Santiago relutou por um instante, olhou novamente para Michel que nadava de forma rápida cada vez para mais longe.

 

— Coitado, foi bom te conhecer, pirralho — comentou antes de colocar novamente sua camisa.

 

Na água, Michel encontrava força, talvez porque o tipo de mana que ele podia controlar fossem as aquáticas.

 

Mas algo estava estranho dessa vez, talvez a sensação de nadar em um oceano fosse diferente do lago que tinha nos arredores do orfanato.

 

Talvez fosse o sal.

 

Não, era outra coisa. Enquanto Michel não descobria o que poderia ser, ele ouviu novamente aquele barulho insuportável, dessa vez muito mais alto.

 

— Que barulho é esse!? — gritou desesperado, quando parou de nadar.

 

— Vamos ver o que acontece — comentou o homem sentado nas almofadas, dessa vez, com uma xícara de chá.

 

— Ele vai morrer. Sabe disso, né? — perguntou Santiago.

 

— Nunca se deve dar uma barata por morta até arrancar sua cabeça — respondeu calmamente.

 

P.S. Não consegui descobrir que tipo de chá era aquele, pela sua tranquilidade, é provável que fosse de camomila.

 

P.S.S. Uma barata pode sobreviver por mais de uma semana sem cabeça. Ou seja, esse ditado não fez o menor sentido. Descobri isso da pior forma possível. Arghn!

 

Enquanto isso, uma marca aparecia na água e ficava cada vez maior.

 

— Mas o que é isso? — questionou Michel.

 

Quando uma baleia apareceu e saltou para fora d’água, o jovem ficou totalmente perdido.

 

— O que um bicho desse faz aqui!? — berrou Michel.

 

— Ei, toma cuidado aí para não machucar ele viu? — alertou Santiago.

 

— Como que eu vou machucar isso?

 

— Ele não é isso, tem um nome e é Bibi.

 

— Que tipo de pessoa da um nome desse para uma baleia? Aliás, quem tem um animal desse no quintal?

 

— Quantas pessoas tem um oceano como seu quintal? Aliás, Bibi é bem gentil.

 

A baleia avançou para o garoto, que tentou, inutilmente, nadar o mais longe possível. Bibi deu um leve toque com sua cabeça, o que fez com que Michel subisse alguns metros fora da água.

 

— Ora, quem diria, ela gostou de você! — brincou Santiago.

 

— Isso é o que ela faz quando gosta de alguém? E se ela não gostasse de mim?

 

— Provavelmente devoraria você vivo. — disse o homem enquanto terminava seu chá.

 

Não sou exatamente uma especialista em baleias, mas essa é a primeira vez que fiquei sabendo de uma baleia que comeria um ser humano, já que isso está completamente fora da dieta delas.

 

Como se fosse uma ordem, o bicho pulou novamente, dessa vez com a boca aberta a caminho ao garoto que ainda caía em sua direção.

 

— Você não disse que ela tinha gostado de mim?!

 

— Senhor! Permita-me impedir.

 

O homem ficou quieto quanto ao pedido do jovem, apenas se lamentou que o chá tinha acabado.

 

Michel por sua vez não tinha tempo a perder. Senão seria engolido.

 

— Não posso morrer aqui, não posso! — gritou. — Jato de água!

 

A baleia engoliu a água e voltou para o oceano calmamente.

 

Explicarei esse trecho dessa forma: Água criada por meio de um usuário de mana pode conter nutrientes. Vocês não fazem ideia de como ela pode ser gostosa, é possível sobreviver por anos sem comer nada, apenas bebendo dois litros por dia.

 

É claro que nem sempre podemos dizer que ela contém tais nutrientes, mas, por experiência própria, acredito que esse tenha sido o caso nesse trecho.

 

— Você sabia que isso ia acontecer? — perguntou Santiago ao homem ao lado.

 

— Claro!

 

— Mesmo?

 

— Me... ti... ra.

 

— Desconfiei.

 

Michel retornou a varanda, tentando recuperar o fôlego.

 

— Vocês são malucos. Ter uma baleia como animal de estimação é absurdo.

 

— É uma história interessante, quer ouvir como aconteceu? — perguntou Silva.

 

— Não! Quero saber como vou sair daqui.

 

— Para que quer sair? Aqui você tem um local para treinar, é protegido e pode se exercitar com um belo animal de estimação.

 

— Tenho que resolver um assunto.

 

— Quer encontrar quem o atacou? — perguntou o homem.

 

— Quero, mas não sei por onde começo a procurar — lamentou. — Mas não é só isso, tenho que ver algo com meus próprios olhos.

 

— Vingança, nunca é uma coisa boa. — alertou Santiago.

 

— Tudo bem, façamos um acordo. — disse o homem. — Eu deixarei que saia por uma hora. Então, você volta e conversaremos. Depois disso poderá escolher se quer ficar ou não.

 

— O que, mas senhor! — Santiago tentou impedir.

 

— Tudo bem, eu aceito.

 

O homem tocou na testa do garoto com um dedo e alertou:

 

— Tome cuidado, o mundo é um lugar perigoso, principalmente para quem pode controlar mana. Deve manter a calma; a raiva aumenta sua força, mas faz com que perca o controle. Deve imaginar o lugar para onde quer ir.

 

— Certo, já imaginei. E agora?

 

— Feche os olhos e não abra até que chegue no destino — ordenou.

 

— Como vou saber que cheguei, se vou estar de olhos fechados?

 

— Vai saber, confie em mim.

 

Assim que o jovem obedeceu, o mesmo dedo que estava em sua testa, o empurrou para trás com uma força sobre-humana.

 

O garoto sentiu quando suas costas bateram nas águas salgadas do oceano, e foi descendo cada vez mais fundo. Enquanto o impacto causado pelo dedo ainda era sentido, caía cada vez mais.

 

De repente, a dor parou e ele começou a sentir que subia. Algo bateu em sua cabeça.

 

Quando abriu os olhos, viu que era uma prancha de surf, com um desenho de uma baleia saltando com a boca aberta.

 

Que ironia, não?

 

Ao retornar a superfície, Michel percebeu que estava no Rio de Janeiro, pois conseguia ver o Cristo Redentor de braços abertos.

 

— Como é possível, eu estar aqui?

 

Ao sair da água, o garoto tentava chegar no orfanato, ele tinha que ver com seus próprios olhos, para poder acreditar que tudo não passou de um pesadelo.

 

Pela primeira vez, caminhando pelas ruas da Tijuca, o menino olhava com atenção para todos os lados. Desde lojas de artigos de moda ou esportivos até mesmo o senhor de idade, que vendia água de coco gelada. Tudo era novidade para ele.

 

Michel até ficou com vontade de comprar um, mas lembrou que não tinha dinheiro. Além disso, o velho o assustava com seu olhar que fazia parecer um psicopata.

 

Em seguida ouviu alguém falar sobre o orfanato em que vivera sua vida. Eram duas mulheres, de aproximadamente quarenta anos, que estavam comprando um coco com o velho.

 

Uma delas dizia que não acreditava como algo assim poderia ter acontecido com tantas crianças.

 

Já a outra, comentava que era muito melhor ter acontecido isso com essas crianças do que com os filhos delas.

 

O mundo sempre foi desigual e as pessoas, em grande parte, insensíveis. Mas a descoberta da mana, fez com que os seres humanos ficassem ainda mais distantes um dos outros.

 

Apesar da raiva que ele tinha, tentou se controlar, e continuou a andar em direção ao orfanato.

 

Por mais que nunca tenha saído daquela área, ele podia se localizar muito bem, pois estava acostumado a ter essa mesma visão de cima.

 

Depois de alguns minutos, ele finalmente chegara em sua antiga casa.

 

Diversas pessoas se aglomeravam a frente uma fita que isolava toda a área. Atrás, a casa estava irreconhecível, totalmente destruída pelas chamas.

 

Alguns detetives acompanhados de policiais conversavam sobre o que achavam que deveriam fazer.

 

Todos concordaram que não valeria a pena investigar a fundo nesse caso, pois se tratavam apenas de órfãos. Iria ter uma comoção nas redes sociais e depois de umas semanas, no máximo, ninguém mais iria se lembrar disso.

 

Além do mais, havia a grande possibilidade, segundo os investigadores, do incêndio ter relação com um usuário de mana.

 

Pode parecer covardia, mas a polícia, na época, deixava de investigar algo porque sabiam que não adiantaria nada, pois viria uma ordem para que parassem. Não estou dizendo que foi esse o caso.

 

Por mais que houvesse políticos que queriam utilizar o terreno para lucrar mais, legal e ilegalmente, nenhum deles usaria um método tão baixo para consegui-lo.

 

Eu acho que não, ou pelo menos, espero que não.

 

Ainda havia a questão de um possível envolvimento de um usuário de mana. O que complicava ainda mais a situação.

 

Vale lembrar que não havia tantas pessoas assim no mundo, excluindo crianças, poucos eram aqueles que conseguiam controlar mana, provavelmente dos investigadores, nenhum devia ter tal habilidade. Enxergar já era outra coisa, quase todos no planeta conseguiam. O que só piorava ainda mais as coisas.

 

Imaginem vocês, sendo do departamento de polícia, tendo que enfrentar uma pessoa que pudesse gerar fogo do nada. É complicado.

 

No chão, uma edição do jornal O Globo chamou sua atenção. Na primeira página, um destaque para o ocorrido, chamando de A Tragédia de Sete Sinos.

 

A matéria ilustrava como essa foi uma das maiores catástrofes da história do estado e a comoção nacional que causou. Mas a parte que mais o chocou foi aquela que confirmava seus temores. Nenhum sobrevivente.

 

Claro que ele estava vivo, mas o caso dele era a parte.

 

— Então é aqui que você morava? — disse uma voz ao seu lado.

 

— Sim — respondeu sem perceber e em seguida olhou para o lado. — O que você tá fazendo aqui?

 

— Eu fiquei preocupado contigo, pirralho.

 

Santiago tinha cerca de treze anos, mas pela sua altura e porte físico parecia mais ter uns dezesseis.

 

— Não me chame de pirralho. Volte para sua ilha no meio do nada.

 

— Que isso? Vim aqui só para te ver. Vai fazer o que agora?

 

— Não interessa, não quero fazer parte do seu clube do chá.

 

— Está julgando mal, eu não gosto de chá. Além do mais, você não tem lugar para morar, não é?

 

— Eu só quero ficar sozinho, por um tempo.

 

— Tá bem, te vejo depois. Mas é importante que você viva no presente não no passado. Eu sei como você está sentindo.

 

— Como você pode saber sobre como eu estou sentindo? Você não sabe de nada!

 

Não sei vocês, mas acho que todo mundo ou já disse ou já ouviu alguém dizer essa frase. O que é muita prepotência, achar que outra pessoa não pode saber como você se sente sobre algo, mas enfim...

 

Michel correu para o mais longe possível, sem olhar para trás.

 

— Como eu poderia saber... — repetiu Silva.

 

Alguns minutos depois

 

— Então, como ele está? — perguntou o homem de um braço.

 

— Nada bem, acho que ele não vai querer voltar — respondeu Santiago.

 

— Você não deveria presumir que o bode não consegue chegar no topo da montanha, antes dele começar a subir.

 

— Mais uma das suas analogias de animais. — comentou Santiago, cansado de ouvi-las.

 

Ahn? O quê?

 

— Significa que ele ainda nem começou a encarar de frente isso tudo, por enquanto só nega. Quando o garoto enfrentar isso e não aguentar, poderá dizer que ele não vai voltar.

 

Agora eu entendi... eu acho.

 

— Eu acho que está sendo otimista.

 

— Eu fui otimista contigo?

 

Por essa Silva não esperava. De fato algo parecido ocorreu com ele.

 

— De qualquer maneira, o garoto voltará, pois é o destino dele — falou o homem.

 

— Então... aquele pirralho é um dos escolhidos da profecia?

 

— Sim. Posso ter certeza só de olhar. Ele será vital na guerra que vai começar.

 

Rio de Janeiro

 

Enquanto Michel caminhava pela calçada na beira da praia e olhou para o seu reflexo no retrovisor de um carro, percebeu em sua testa que havia um relógio florescente gigante verde.

 

O relógio parecia registrar meia noite e cinquenta.

 

Essa é uma técnica pouco conhecida, aliás eu mesma sou uma das poucas que sabem de sua existência... Tá, eu pesquisei no Google novamente. Satisfeitos?

 

Ela permite que uma pessoa viaje grandes distâncias extremamente rápido, porém por um curto período de tempo. E um relógio marca o tempo que pode ficar nesse local. Não encontrei nada sobre ter que ser florescente.

 

— Como ninguém viu isso aqui? — questionou Michel.

 

Ah! E é invisível para todos, menos por quem “sofre” a técnica e de quem a usa.

 

Na praia ao lado, vazia pelo tempo fechado, dois garotos de cerca de doze anos importunavam outro de sete. Empurrando-o e falando coisas feias sobre o tamanho exagerado de seu nariz.

 

— Ei! Parem com isso! — ordenou Michel.

 

— Quem você pensa que é? — perguntou um dos dois bullynadores enquanto chutava o coitado.

 

— Deixem ele em paz!

 

Michel avançou em direção ao valentões, mas um deles reagiu mais rápido e deu um soco em seu rosto.

 

Com isso, ficou rolando no chão com a dor.

 

— Vai para casa, moleque — falou um dos dois.

 

— Eu mandei sair de perto dele! — Michel levantou e a energia de mana fluía por todo seu corpo.

 

— Ele é um daqueles monstros! — disse um dos valentões.

 

— Vamos jogar ele no mar! — falou o outro.

 

— Que tal se o mar viesse até aqui? — perguntou Michel.

 

Mana fluía por todo seu corpo e ondas se formavam atrás dele.

 

— Vamos sair daqui, cara — disse um dos adolescentes.

 

— Tarde demais. — Colocou as duas mãos para cima e o mar veio com ele.

 

Uma onda enorme cobriu a praia, arrastando todos menos quem fez a técnica para o fundo do mar.

 

Isso de usar o manto como bem entender, pode ser bem útil, quem dera eu pudesse fazer isso também.

 

— Você está bem? — perguntou Santiago na calçada enquanto tomava uma água de coco.

 

— Claro, por que a pergunta? Espera? Cadê o garotinho?

 

— No fundo do mar, eu acho.

 

— O quê!?

 

Ele não conseguia acreditar que havia feito. Estava tentando ajudar e acabou fazendo isso.

 

Ele correu desesperadamente para tentar resgatar o menino.

 

— Não adianta, vai acabar o seu tempo antes de conseguir encontrar o que procura.

 

— Não vou desistir! Não posso!

 

Depois de cinco minutos procurando em baixo d’água, sem encontrar nada. O relógio em sua testa sumiu.

 

Usuários de mana de água conseguem, na maioria das vezes, respirar por um tempo quando estão submersos.

 

Quando voltou a superfície notou que não estava mais no Brasil.

 

— Bem-vindo de volta. Vamos conversar? — perguntou o homem de um braço.

 

Michel tentou convencê-lo para poder retornar a seu país, inutilmente.

 

— Você não conseguiu salvar o menino, e ainda matou três crianças, terá de conviver com esse fardo para sempre — comentou Santiago.

 

— Não, não, não, não — ao dizer isso lágrimas caíam sem parar em seu rosto.

 

— Quando despertei meu poder, há muito tempo atrás, também cometi erros graves, mas agora meu controle é muito maior. Não vou mentir para você é um trabalho contínuo, terá de abdicar de muita coisa por um bom tempo, mas, pelo menos, tragédias como aquela não acontecerão novamente — falou aquele que só tinha um braço.

 

O homem ainda acrescentou dizendo que não obrigaria ele a permanecer, mas se saísse, não o deixaria mais voltar.

 

Depois de derramar uma última lágrima, ele deu sua resposta:

 

— Nunca mais vou chorar na minha vida, de agora em diante, seguirei o caminho que me guiar. — Michel se curvou. — Por favor, me ensine a controlar esse poder dentro de mim.

 

— Mas é claro, meu jovem. Está em boas mãos.

 

Antes de terminar este capítulo, devo avisá-los, que como já devem estar acostumados, essa parte eu reservo para um trecho bônus. Dessa vez, contarei uma história focada em Santiago, para que possam conhecer melhor esse novo personagem. Boa mini leitura.

 

Ilha Isabela – Ilhas Galápagos – Equador

 

Em uma das ilhas mais famosas do mundo, que foi por muitos anos o principal laboratório vivo de biologia do mundo. Isso mesmo, foi.

 

Caso vocês sejam ignorantes, como eu, e não conheçam esse lugar, dê um Google.

 

Nesse local exótico, administrado pelo Equador, que nasceu Santiago, de uma família de classe média-alta. Seu pai era biólogo e sua mãe médica. Ambos trabalhavam no grande centro de pesquisa da ilha.

 

A família Silva vivia cercada dos mais diversos tipos de animais, alguns que só se encontravam na região.

 

Segundo alguns diziam, um antepassado de Santiago que teria recebido Charles Darwin em sua viagem pelo arquipélago.

 

Sua visita foi revolucionária para o local. Que a partir daquela época se tornou referência para todo o planeta. Até aquele dia fatídico que acabou com tudo.

 

Foi quatro anos antes da Tragédia de Sete Sinos.

 

Os pais de Santiago, Sérgio e Joaquina, trabalhavam numa pesquisa que permitiria entender melhor os efeitos da mana nos animais. Enquanto o filho brincava com algumas tartarugas na costa da praia ao lado do laboratório.

 

— Querida, pode aumentar a temperatura da água em dois graus — disse o biólogo.

 

Havia outros cientistas nas dependências, mas cuidando de outras pesquisas.

 

Santiago acidentalmente tocou uma das tartarugas que estavam na margem e terminou eletrocutando todo o balneário. Assustado, correu para seus pais, que ao abraça-lo, acabaram com suas vidas.

 

O menino, aterrorizado com tudo que aconteceu, correu. Sem destino específico, ele queria apenas sair de perto de tudo aquilo.

 

No meio do caminho outros cientistas tentaram pará-lo, mas tiveram o mesmo triste fim.

 

A cada pessoa que caía morta no chão após tocá-lo, uma parte do jovem morria.

 

Sua inocência, sua infância feliz, sua alegria, foram morrendo aos poucos.

 

No fim do dia, todas as duzentos e trinta pessoas no laboratório haviam perecido. Santiago, o responsável por tudo, estava encolhido no canto de uma das salas, tremendo, querendo acordar daquele terrível pesadelo.

 

Quando uma das portas abriu, o garoto estremeceu ainda mais. Outra pessoa iria tocá-lo e ele teria que ver de novo aquelas cenas.

 

— Não! Se afaste! Não me toque!

 

O homem que entrou, olhou para a criança na sua frente.

 

— Tudo bem, não irei machucar você — disse depois de sentar no chão.

 

— Mas eu vou — alertou o menino. — Por favor, saia daqui logo.

 

— Entendo, você tem medo de seus poderes. Medo de machucar os outros. Não é de se estranhar, pelo que aconteceu aqui. Mas eu já fui como você.

 

— Sério? — Santiago começou a prestar atenção.

 

— Sim, machuquei muitas pessoas que se preocupavam comigo. E isso me mudou. Mas isso não foi por ter sido forte demais, era porque eu fui fraco. Não conseguia controlar minhas próprias habilidades, tinha medo delas. Agora busco ajudar as pessoas com o mesmo problema que eu.

 

— Mas e se...

 

— Não, não irei obrigar você a nada. Mas se eu sair por aquela porta e você não vier comigo, nunca mais me verá. Terá de suportar esse peso sozinho. Deixe-me ajudar.

 

O jovem olhou para o outro lado da sala, onde os corpos de seus pais jaziam no chão. O garoto sonhou acordado todos os momentos felizes que passara com eles, desde sua primeira e mais distante lembrança, quando ganhara uma tartaruga de estimação aos quatro anos, até quando observava a costa olhando pela janela do carro que levaria a família ao encontro de seu mais triste e último momento juntos. Então as memórias mais recentes vieram a tona e seu lindo pequeno sonho se transformara em um pesadelo. Lágrimas caíram pelo seu rosto enquanto ele despertava de suas lembranças. Naquele exato momento, apesar da pouca idade, ele decidira que jamais deixaria que cenas como essas se repetiriam.

 

Eu deixarei vocês orgulhosos!  Foi o que ele pensou antes de falar:

 

— Tudo bem. Vou com você.

 

— Ótimo. Temos muito trabalho a fazer.

 

Até o próximo.

 

Você pode fazer a diferença? Então faça.

 


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Notas finais do capítulo

No próximo capitulo:

Olhando para o futuro

E ai o que acharam do Santiago Silva? Quero saber a opinião de vocês.
E a história até aqui, merece uma recomendação? Ou pelo menos um favorito?
Não se esqueçam de comentar, eu não mordo. kkk



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