Moonlight - Mar dos milagres escrita por Sojobox


Capítulo 4
Queimando o passado


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo teremos a segunda luta e um pouco da história de Suellen e Michel.

P.s. Não liguem para o humor da narradora.



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Quero dizer uma coisa importante antes que comecem a ler.

 

Parei de escrever o livro ontem, quando terminei o capítulo anterior e fui dormir.

 

Hoje, estou de mau humor. Acreditem em mim quando digo que não vão querer saber o motivo. Então, saibam que isso não irá afetar as informações transcritas nesse livro, mas pode afetar aqueles meus comentários pontuais, que sei que todos vocês adoram. Dito isso, boa leitura.

 

Nenhuma palavra foi dita, Michel estava de olhos bem abertos, olhando para cima, em choque.

 

A casa onde o jovem passara praticamente toda sua vida havia se tornado uma fogueira gigante.

 

Um grito foi ouvido, mas ele não percebeu de quem era a voz, simplesmente notou sua dor e sofrimento.

 

O jovem olhou para os lados, tentando achar alguém, qualquer um.

 

Não era possível que todos estavam dentro do orfanato, ou era?

 

O garoto tentou andar em direção a casa, mas seu avanço foi bloqueado quando tropeçou novamente. Nessa vez, em um pedaço de madeira, que feriu sua perna direita.

 

Ele fechou os olhos e abaixou a cabeça. Só conseguia sentir a dor do ferimento e o cheiro forte da fumaça.

 

Antes que possam perguntar, uma chuva fraca como aquela não poderia apagar um fogo criado por um usuário de mana.

 

Outros gritos de “Socorro!” foram escutados.

 

O tempo era curto, ele sabia disso, mas aterrorizado, não conseguia se mover.

 

As janelas brilhavam intensamente com uma tonalidade de vermelho, as chamas destruíram uma delas, por ali saiu uma fumaça escura, tornando o ar cada vez mais denso. De repente, uma explosão balançou a casa.

 

Fico imaginado a sensação de assistir a tudo que você tem ou conhece ser destruído em sua frente e você não poder fazer nada. Bom... Eu sei bem como é.

 

Lágrimas caíam sem parar dos olhos de Michel, a sensação de impotência e desespero só aumentava.

 

— Por quê? Por que não consigo me mexer?

 

Uma rápida aula de história da titia autora.

 

Obs. Só pra tirar uma dúvida que pode brotar em suas cabecinhas: não sou uma “tia”.

 

A tragédia do Gran Circo Norte-Americano foi o segundo incêndio com o maior número de mortes registrada no mundo e o primeiro no Brasil. Ele aconteceu em Niterói, no ano de mil novecentos e sessenta e um.

 

Com três mil pessoas na plateia, faltavam vinte minutos para o espetáculo acabar, quando uma trapezista notou o incêndio. Em pouco mais de cinco minutos, o circo foi completamente devorado pelas chamas. Trezentas e setenta e duas pessoas morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam, chegando a mais de quinhentas mortes, das quais setenta por cento eram crianças. Ironicamente, a fuga de um elefante da sua jaula, foi o que acabou por salvar muita gente.

 

Pode parecer meio óbvio, mas... não haviam elefantes no orfanato.

 

Com isso, todos que estavam dentro da casa, certamente tiveram uma morte terrível, ou terão, dependendo de qual ano vocês estão lendo isso.

 

Michel não conhecia a história do circo... E nem eu, para ser sincera. Procurei no Google antes de começar a escrever esse capítulo.

 

Mas, independente disso. Ele não queria que acontecesse uma tragédia dessas. Se ao menos pudesse fazer alguma coisa em relação ao fogo...

 

— É claro! — Michel se levantou com dificuldades. — Por favor, funcione.

 

A mana produzida pelo menino se concentrou em suas mãos.

 

— Tenho que conseguir! — Naquele momento, começaram a surgir alguns mililitros de água.

 

Michel fez um movimento “hadouken”, não sei se isso era necessário, ou não, mas fez.

 

Enquanto a água girava entre suas mãos, sua quantidade só aumentava. O garoto queria aguentar até que pudesse lançar com força máxima.

 

— Rajada de água! — A pressão causada pela mana a impulsionou até o orfanato.

 

— Vai dar certo!

 

Não deu.

 

O jato de água foi dividido em dois, ambos para fora do alvo.

 

No centro, onde a água deveria estar prosseguindo, havia uma espada. E uma jovem empunhando-a.

 

— Não pode ser! — O menino não podia acreditar no que seus olhos viam.

 

Era ela. A mesma que o atacou no túnel a pouco.

 

— Se você está aqui — Michel interrompeu a técnica. —, significa...

 

— Seu amigo já se foi — disse sem expressar qualquer emoção. — Agora é a sua vez.

 

A jovem de olhos puxados apontou a espada em sua direção.

 

Nesse momento ele pensou como seria horrível seu fim.

 

Mas não ficou triste por sua morte, ficou arrasado por imaginar como ninguém iria se lamentar pelas mortes da Tia Silvia, que não tinha mais nenhum parente vivo, pela sua assistente Bruna, que havia perdido os únicos parentes que conheceu na vida, seus pais, muito jovem e passou a dedicar o resto da sua vida às crianças do orfanato.

 

 

Pensou nas crianças que não tiveram a chance de realizar seus sonhos.

 

Carlos, o futuro "raio" do atletismo. Serafim, um garoto com uma voz angelical, tinha tudo para ser mais um sucesso no mundo da música gospel. Denise, tinha toda a desenvoltura de uma apresentadora de televisão, seu sonho era apresentar um programa de esportes como faz sua grande inspiração "Renata Fan" em um canal de TV aberta.

 

Pensou na doce Suellen, que era sua melhor amiga, sem dúvidas seria a pessoa que ele sentiria mais falta caso sobrevivesse. Neste momento pensou até mesmo no Cris, apesar das frequentes brigas que tinham, ele poderia até considerar o garoto como um amigo.

 

— Cris...

 

Ao dizer seu nome, Michel relembrou de um acontecimento que mudou sua relação com o outro garoto.

 

Alguns meses atrás

 

O sol aparecia no céu forte, iluminando e abençoando os moradores da cidade.

 

No orfanato, Bruna saía para tentar comprar um pouco de pão. Caso não conseguisse, os jovens teriam que se contentar com uma banana e suco de maçã, obtidas por meio da caridade de alguns moradores próximos.

 

Crianças, não deem trabalho para a tia Silvia enquanto estiver fora, ouviram?

 

Sim! — responderam.

 

A maioria brincava de pique-esconde ao lado da casa quando a assistente saiu.

 

Gustavo e Rodrigo se esconderam atrás de árvores. Andréia e Luana dentro de casa, embora todos tenham prometido que não fariam isso. Larissa, Rose e Denise já haviam sido pegas, assim como João, Miguel e Léo.

 

Os demais não estavam brincando, por motivos diferentes, Serafim foi esquecido quando começaram e decidiu ficar apenas observando, Renata e Marlene não queriam ficar suadas por correr de um lado para o outro atoa. Carlos estava participando, inclusive, era responsável por contar e procurar os demais, mas depois de tropeçar e cair, começou a chorar e o tiraram da brincadeira substituindo-o por Pedro. Suellen estava ajudando a Silvia arrumar as camas de todas as meninas. Os demais estavam dormindo.

 

E o Cris?

 

O garoto discutia com a idosa, querendo saber o motivo de não poderem sair do orfanato. A senhora respondeu educadamente que o mundo era um lugar perigoso e que fora desse território ela não poderia protegê-los.

 

— Eu não pedi proteção! — O garoto correu para fora da casa.

 

Não dar trabalho para Silvia, acho que ele não estava ouvindo.

 

Michel o observou correndo para a floresta e foi atrás.

 

Algum tempo depois

 

Vida chata! Não tem nada para fazer por aqui — reclamava Cris sentado na grama.

 

É uma boa visão — Michel se aproximou lentamente —, não acha?

 

Eles estavam no local que viria a se tornar seu local “secreto”.

 

Nunca entendi essa necessidade de garotos em ter locais secretos. Enfim, sou uma garota.

 

O que você faz aqui? — perguntou Cris.

 

Nada demais, só estava preocupado contigo.

 

E eu pedi para se preocupar? — disse ignorando o colega.

 

Não... Por isso mesmo.

 

Cris olhava atentamente para o garoto, tentando entender o que isso queria dizer.

 

Você é meu amigo, eu tenho que me preocupar.

 

Você é estranho — falou antes de se levantar. — Michel, o que acha do mundo lá fora?

 

Hum... Nunca pensei sobre isso.

 

Eu quero conhecer. Não só a cidade abaixo, o país, o mundo.

 

Interessante. — O garoto coçou a cabeça. — Vou com você.

 

Oi? Tá brincando?

 

Não. Parece divertido. E nem adianta dizer que não pediu por isso. Já me decidi.

 

Você é mesmo estranho. Mas se quisermos mesmo fazer isso, precisamos aprender a controlar a mana melhor.

 

— Você consegue usar mana também?

 

Mais ou menos, mas preciso melhorar muito ainda.

 

Então está decidido, eu vou conseguir dominar primeiro que você.

 

Não prometa o que não pode cumprir — Cris esticou e cumprimentou o amigo, sorrindo. —, idiota.

 

Meninos! — A voz vinda de longe era de Suellen. — Venham comer! Tia Bruna trouxe pão!

 

Vamos lá. Faz uma semana que eu não como um pãozinho.

 

Tudo bem, mas eu vou chegar primeiro.

 

O garoto correu e deixou Michel para trás.

 

Ei! Isso não é justo.

 

A lembrança era dolorida, pois ele sabia que jamais veria o amigo novamente. E a culpada por isso estava na sua frente.

 

— Por que fez isso? — a voz começou baixa e foi aumentando conforme falava. — O que eu fiz para você?

 

— Você nasceu — disse a moça.

 

— O quê? Como assim?

 

— Não precisa saber. O deixaria livre, mas como quis ir em frente nessa sua missãozinha inútil, tive que intervir.

 

— Missão? Do que está falando? E o que o orfanato tem a ver com isso?

 

A jovem olhou para trás por um segundo e disse:

 

— Eles? Não tive nada a ver com aquilo.

 

— Se é verdade, me deixe ajudar.

 

— Ajudar? Do que está falando? Todos já estão mortos.

 

— Mentira!

 

— Não reparou? — A mulher colocou uma das mãos ao lado da orelha. — Consegue ouvir?

 

— O quê? Não estou ouvido nada?

 

— Exatamente. Por que acha que não ouve mais os gritos? — Usou a mão para tocar de leve no seu cabelo. — Porque não tem ninguém vivo para gritar mais.

 

— Não! Não pode ser verdade!

 

— Acredite no que quiser. Vai encontrá-los em breve. — Colocou as duas mãos na espada. — Assim como aquele seu amigo.

 

Michel não queria mais ouvir a voz daquela mulher nunca mais.

 

— Saia da minha frente — ordenou o garoto. — Agora!

 

Ele pulou para frente, com um impulso de água pressionada nos pés. Sua velocidade era muito acima do normal. Ultrapassou a jovem rapidamente.

 

— Agora vai. Vou conseguir. — Michel esticou a mão.

 

Antes de poder fazer qualquer coisa, o menino foi puxado de volta por um vento que havia surgido do nada entre a casa e ele.

 

— Achei que tinha dito a você. Não tem ninguém vivo dentro daquela casa.

 

— Eu não posso ter certeza até entrar. Eles são meus amigos, minha família que eu nunca conheci, meu motivo de alegria, minha vida.

 

Pela primeira vez, a jovem misteriosa sorriu, mesmo que de leve.

 

— Tudo bem. Faremos o seguinte. Lutarei contigo. Você tem dois minutos. Se você me derrubar, mesmo que de leve, eu permitirei que viva. Pegarei leve contigo.

 

— Não tenho tempo para isso.

 

— Ou... Posso te matar aqui e agora?

 

Michel respirou fundo. Diversas sensações passaram por sua cabeça. Medo, raiva, determinação, mas acima de tudo esperança. O jovem absorveu cada uma delas e uma energia diferente de tudo o que ele sentiu antes apareceu.

 

— Isso é? — A mulher observava atentamente o fluxo de mana em torno do garoto. — Planeja terminar isso em um único golpe?

 

A mana cobria todo seu corpo com uma fina camada azul.

 

Isso mesmo que você está pensando. Igual com Cris no capitulo anterior. O golpe final.

 

— Se você errar, acaba — disse a jovem. —, sabe disso, não é?

 

Michel avançou novamente, numa velocidade superior aquela anterior, dessa vez mirando um soco no rosto de sua adversária.

 

— Inútil. — A mulher desviou para o lado facilmente. — Acabou.

 

— Quem disse que eu atacaria apenas uma vez? — Da mesma mão que errou o golpe anterior, saiu uma torrente de água.

 

— O quê? — A jovem foi arremessada alguns centímetros.

 

Apenas essa distância, pois fincou a espada no chão para frear.

 

— Não acabei! — O garoto disparou diversas esferas de água, seguidas em sua direção. — Pistola de água!

 

A técnica estava muito mais forte e rápida devido ao manto de mana que o cobria.

 

Antes que queiram me jogar do penhasco, pois disse anteriormente que ao utilizar essa técnica só poderia usar um golpe, irei esclarecer:

 

Para se fazer uso do manto, é necessário liberar toda sua mana, evidentemente, só deveria ser possível utilizar um movimento após isso.

 

Estou escrevendo esse livro enquanto tento apurar tudo o que aconteceu, para poder passar para vocês apenas a verdade.

 

Então, estou tão surpresa quanto vocês. Se eu pudesse fazer isso seria muito útil.

 

Posso tentar descobrir a razão e contar a vocês futuramente. Mas sendo super sincera, não faço ideia de como ele fez isso.

 

Apesar disso, a jovem desviou correndo tranquilamente pela borda da floresta.

 

— Então você pode fazer isso, mesmo sendo tão jovem.

 

Bom, parece que ela sabia que era possível. Mas eu não. Isso não é justo.

 

Ela parou atrás de uma árvore e respirou fundo.

 

— Não vai adiantar! — Os tiros de água ficaram mais rápidos e fortes, a ponto de romper a árvore.

 

Antes disso acontecer, ela usou seu controle sobre manas de vento para empurrá-la em direção a seu oponente.

 

Michel rolou no chão para desviar, mas ao perceber que a árvore iria acertar a casa, usou outro tiro para desviá-la.

 

O ataque fez a árvore cair pelo morro, provavelmente causando uma boa dose de destruição na cidade abaixo, mas quem se importa com o que tem lá com uma luta dessa encima? Eu não.

 

Com isso, o manto azul formado por uma fina camada de mana, desapareceu.

 

— Foi um desperdício de poder. Poderia utilizar para me acertar, mas preferiu proteger defuntos e um lugar que já está condenado.

 

— Estou protegendo... minha casa — disse antes de cair esgotado no chão.

 

Uma das sobrancelhas dela levantou levemente.

 

— Então morra defendendo-a.

 

Após dizer isso, ela olha fixamente para cima, em direção a lua e começa a se comunicar com alguém.

 

— Hanareru koto ga dekiru! (Pode deixar!)

 

— O que disse? — perguntou Michel ainda caído no chão.

 

— Ainda está consciente? — perguntou a mulher antes de parar em frente ao garoto.

 

— Eu... — Michel enxergava tudo embaçado.

 

O que é facilmente explicado pela quantidade de mana que ele liberou.

 

— Acabou ou ainda tem alguma surpresa para me mostrar? — perguntou curiosa a jovem.

 

— Eu...

 

O garoto queria poder dizer que tinha, mas a verdade era óbvia. Ele não conseguia nem levantar.

 

— Vou levar isso como um não. — Ela pegou sua espada e segurando com as duas mãos, levantou acima do corpo do menino. — Não se preocupe, vou ser misericordiosa.

 

Dizem que quando estamos prestes a morrer, vemos a nossa vida passar diante de nossos olhos como se fosse um filme.

 

Michel não sabia se tinha vivido o bastante para que visse um longa-metragem. Era mais provável que fosse um curta. E um com um final bem triste.

 

Mente de Michel

 

— Onde estou? — diz o jovem.

 

Ao redor tudo que via, era um espaço em branco, um vazio sem fim.

 

— Michel! Aqui! — Uma voz foi ouvida atrás do menino.

 

— Carlos? Você está vivo e bem? Que bom.

 

— Estou bem sim, mas, Michel? Sabe que não estou vivo, né?

 

— O quê? Não é possível. Mas você está aqui. A não ser que... Aqui é o céu!?

 

— E você também — respondeu o colega.

 

— Espera aí! Estou morto? Ah é verdade, eu não fui forte o bastante para protegê-los. Me desculpe.

 

— Do que está falando, seu bobo? — Marlene diz enquanto coloca a sua mão na cintura.

 

— Você também? — As lágrimas caem pelo rosto de Michel enquanto fala.

 

— Você não está morto ainda — revela a menina. — Por que não contou para ele?

 

— É que eu queria “zuar” um pouquinho.

 

— Ainda estou vivo!?

 

— Sim, está. — Ela olha com a cara feia para Carlos. — Escuta, temos algo para te contar.

 

— Madame Silvia nos protegia, todo esse tempo. Ela emitia um campo de força em torno do orfanato que repelia qualquer um que quisesse fazer algum mal a gente — revelou o garotinho.

 

— Mas ela estava ficando fraca e nossa proteção vulnerável. Até que por fim, ela desmaiou no meio da sala. Todos nós nos reunimos em torno dela e a tia Bruna a colocou na cama. — acrescentou a menina.

 

— Não muito tempo depois, a casa começou a pegar fogo. Não tínhamos para onde fugir... — Carlos suspirou fundo antes de continuar. — Alguém nos prendeu com mana.

 

— Ela mentiu para mim! — esbravejou Michel. — Disse que não tinha feito nada.

 

— Não foi a mulher que você está enfrentando. A mana que nos cercava criou um muro de fogo gigantesco em volta da casa. Mesmo Bruna e sua mana de água não foram o bastante. Ela foi a primeira a morrer. Ao tentar apagar as chamas, foi queimada viva a nossa frente. Depois...

 

— Não! Não quero mais ouvir! — o garoto gritou enquanto tampava os ouvidos.

 

— Michel! Você tem que voltar. — A menina apontou para os pés do garoto.

 

— Mas o que é isso? Minhas pernas estão sumindo!

 

— Nosso tempo está acabando. Isso é um adeus — disse Carlos. — Temos só um pedido a fazer... Por favor não se esqueça da gente.

 

— Cada um de nós tinha sonhos e objetivos na vida. Eu queria ser modelo — disse Marlene. — O Carlos pensava em ser um corredor, tínhamos o pequeno Serafim que sonhava todas as noites em ser cantor. Nenhum de nós teve a oportunidade de fazer nada disso. Por favor, por nós, não desista do seu sonho.

 

— Espera! Eu tenho que perguntar uma coisa! — Tentava dizer enquanto sumia. — E a Suellen? Ela está viva?

 

— Sinto muito, Michel. — respondeu Marlene. — A última vez que vimos Suellen, ela estava indo atrás de você e do Cris.

 

A técnica de proteção utilizada para o local é bem simples, porém devo dizer, estou com uma dúvida, teria sido utilizada por quanto tempo? Desde que o orfanato foi fundado? Quanto de mana seria necessário para isso? Desmaio só de pensar.

 

Já a técnica dos “Gasparzinhos” é muito rara, tanto que sempre pensei que fosse uma lenda. Permite que você se comunique após algum tempo da sua própria morte. No caso, só foram aquelas duas crianças, pois provavelmente, deve ser necessário uma quantia absurda de mana. Eu acho...

 

Voltando ao mundo real

 

A espada da garota de olhos puxados vinha em sua direção. Ele teve apenas alguns segundos para reagir. E reagiu bem.

 

Desviou rapidamente o corpo pelo chão. Aproveitando a surpresa da adversária, deu-lhe uma rasteira, derrubando-a.

 

O garoto se preparou para quando sua oponente levantasse. Colocou os dois braços na sua frente com os punhos cerrados.

 

— Muito bom, garoto. — disse a mulher, sorrindo. — Como presente por ter me derrubado, deixarei que viva. Mas pense bem, o que farás dessa vida nova.

 

Ela usou uma das mãos para fazer aquele símbolo estranho ninja. Com dois dedos levantados e três dobrados. E um tornado a cercou.

 

— Meu nome é Sakura. Da próxima vez que nos encontrarmos, tenha cuidado, não serei tão boazinha como fui agora. Se relaxar, por um segundo, morrerá.

 

— Espera! Não fuja! — Michel tentava avançar, mas a força do vento era maior e o impedia. Ao longe, sirenes soavam.

 

Parece que os bombeiros cariocas acordaram. O que estavam fazendo esse tempo todo? Brasil...

 

— Pela boa luta, te darei uma ajuda, mas não se acostume, não somos amigos. — Ela estalou os dedos e um segundo tornado cercou o garoto. — Estou ansiosa pela nossa próxima luta.

 

Um sorriso. Daqueles que só uma pessoa realmente feliz podia dar. Foi o que Michel viu antes do vento ao seu redor ficar tão espesso que não podia enxergar mais nada.

 

Nesse momento, ele apagou, querendo apenas descobrir como tudo isso acabou acontecendo.

 

— Descansem em paz. — disse a jovem em direção ao orfanato, antes de desaparecer, envolta em vento.

 

Vinte e quatro crianças que tiveram suas vidas literalmente queimadas pelo fogo que crescia cada vez mais em direção ao céu vermelho.

 

Eu iria terminar o capítulo aqui, mas lembrei que tinha prometido a vocês que contaria a história que havia entre Michel e Suellen.

 

Mesmo não estando com humor para isso. Eu sempre pago minhas dívidas. Apesar de não ser uma Lannister.

 

P.S. Desculpe pelo momento Game of Thrones. Estava pensando no último livro da série, que deveria ter saído mês passado, depois do bisneto de George ter adiado por cinco anos seu lançamento. Mas não foi ainda dessa vez. O que explica meu mau humor.

 

 

Mas não se preocupem, no próximo capitulo, vou voltar ao meu eu habitual. Vamos lá?

 

Embora Michel não pudesse enxergar nada dentro do tufão. Ele podia jurar que após ver o sorriso da mulher que o enfrentara, Suellen apareceu em sua frente e deu um leve beijo em seu rosto. Isso o fez lembrar de seu primeiro e único beijo.

 

Aconteceu pouco mais de uma semana antes de nossa história.

 

A lua preenchia o céu de uma maneira deslumbrante, como não se via há muitos anos. Parecia maior, mais imponente.

 

Há pesquisas que dizem que a fase da lua altera a mana de alguma forma, mas isso ainda não foi comprovado.

 

De fato, naquele dia em especial, os poderes de Michel estavam mais fortes, ou pelo menos mais evidentes.

 

Ao escovar os dentes, por exemplo, ele espirrou, o que fez com que a água que saía da torneira, ao invés de ir para pia, fosse em direção as meninas que aguardavam do lado de fora do banheiro.

 

Todas gritaram, algumas fugiram, outras ficaram olhando de cara feia. Os demais garotos que estavam dentro do banheiro começaram a rir descaradamente.

 

Michel tentou se desculpar, dizendo que não tinha culpa do que aconteceu. Leandro brincou falando que era melhor água do que meleca.

 

Todas as meninas ficaram enojadas, e os meninos riam ainda mais alto. Com exceção de Carlos que apenas olhava para todos, imaginando a cena e Serafim que pensava se poderia comer mais uma bala enquanto todos brincavam em vez de escovar seus dentes.

 

Suellen e Cris eram os únicos que não estavam no momento, pois tinham ido ajudar Bruna a cuidar de Silvia que havia pegado uma gripe.

 

— Bruna, escuta — disse a madame. — Precisa proteger todos enquanto eu estiver de cama. Não deixe que saiam.

 

— Sim, senhora. Pode deixar — respondeu rapidamente sua assistente.

 

Uma hora depois

 

Todos já estavam em suas camas, provavelmente no quinto sono, mas Suellen não conseguia dormir.

 

Estava preocupada demais com Silvia para qualquer coisa. Por algum motivo, ela sempre tinha essa sensação estranha quando a madame ficava doente, como se todos ficassem menos protegidos.

 

O que é algo normal para qualquer criança em relação às pessoas que cuidam dela desde quando nasce. Mas é provável que ela tenha percebido, não sei como, que a senhora protegia mesmo todos no orfanato.

 

Depois de levantar e jogar um pouco de água no rosto, a menina foi até a cozinha pegar um copo de água, mas algo a distraiu.

 

Não necessariamente algo dentro da geladeira, pois estava praticamente vazia, apenas alguns litros d’água, algumas frutas, temperos e uma mortadela pela metade.

 

O que chamou sua atenção estava do lado de fora da casa.

 

— Michel? O que faz na varanda essa hora? — disse a menina ao abrir a porta.

 

O jovem virou e puxou a garota para seu lado e fechou novamente a porta.

 

— Fica quieta e vem comigo.

 

O rosto de Suellen ficou vermelho como a Hinata quando o Naruto disse o mesmo para ela. Claro que passou isso pela cabeça dela enquanto ele segurava sua mão e arrastava a menina pela floresta.

 

Mas assim como a sua colega, pensou errado sobre aquela frase, Suellen também entendeu errado o que Michel quis dizer.

 

Ao chegar no local secreto que Michel e Cris tinham, ela perguntou o motivo de terem ido até aquele local naquela hora.

 

— Essa lua, eu tinha que ver — respondeu enquanto olhava para o céu e sentava sobre a grama.

 

— Só isso? Digo, poderia ver isso da casa. — Suellen sentou ao seu lado.

 

— Sim, mas a vista daqui é melhor. Ver o Cristo Redentor iluminado pela luz dessa superlua é incrível. É tão lindo.

 

— É... Lindo — disse Suellen enquanto olhava para seu colega, mas rapidamente corrigiu. — quero dizer, o Cristo... Lindo. Era o que queria me mostrar?

 

— Eu tinha combinado com Cris, mas quando fui o acordar para virmos, ele jogou uma almofada em mim. Resolvi esperar um pouco para ver se o idiota aparecia, mas aí você apareceu.

 

— Ahn... Então você não queria que eu estivesse aqui.

 

— Não diga isso, eu havia combinado com ele, só isso. É claro que estou feliz que esteja aqui.

 

A garota virou de costas, completamente corada, tentando recuperar sua respiração natural.

 

— Isso me lembra. Tenho algo que quero te dar.

 

— Oi?!

 

O jovem colocou uma de suas mãos no bolso e pegou um colar com uma pedra em formato de coração azul com cerca de quinze centímetros.

 

— Já é meia noite. É seu aniversário, não é?

 

— Eu não sei quando é, eu fui abandonada na porta do orfanato quando tinha alguns meses.

 

— Bom eu também não sei quando é o meu, mas acho justo comemorar no dia que me acolheram no orfanato. Além do mais, todos precisam ter um dia para festejar sua vida. Esse será seu primeiro aniversário.

 

— Tudo... bem, mas eu não consigo prender o colar.

 

— Deixa que eu ajudo.

 

Michel colocou o presente no pescoço da menina.

 

— Ficou ótimo em você, bem melhor que em mim.

 

— Nossa é lindo! Como que conseguiu?

 

— Não sei, é a única lembrança que tenho dos meus pais, acho que era deles, pelo menos. Quando a Bruna me achou disse que era a única coisa que tinha ao meu lado no cesto.

 

— Eu não posso aceitar isso. É muito importante para você.

 

— Não vou deixar fazer essa desfeita comigo, além do mais, você é importante para mim também.

 

— Deve valer muito. Se você vendesse, poderia...

 

— É possível que conseguisse uma boa grana, mas não dá. É algo muito pessoal para mim, talvez esteja sendo egoísta, poderia vender e ajudar o orfanato com o que recebesse, mas simplesmente não consigo me separar da única coisa que me une aos meus pais. Bruna escondeu o cristal com ela até o ano passado quando me contou tudo, e disse que se quisesse vender ela venderia, mas eu que decidiria isso.

 

— Quem mais sabe desse colar?

 

— Segundo a Bruna ela jamais contou para ninguém, nem mesmo para tia Silvia. Eu já mostrei para o Cris. E agora estou te dando.

 

— Então eu teria que continuar escondendo ele?

 

— Bom fica sendo nosso pequeno segredo.

 

— Mas você disse que não venderia ele, pois não queria se separar dos seus pais.

 

— Sim, mas não tem problema, não é? Eu e você não vamos nos separar nunca mesmo.

 

— O que disse? Como pode saber disso?

 

— Não sei, mas sinto que ficaremos juntos para sempre.

 

Os olhos da garota arregalam-se espantosamente e seu rosto já estava mais vermelho que uma maçã. O jovem nem percebeu isso, pois olhava para baixo, observando algumas pessoas que estavam na praia.

 

Uma energia tomou conta do corpo de Suellen, algo diferente da mana, talvez algo biológico, sempre fui ruim nessa matéria.

 

Ela inclinou de leve seu corpo, e chamou o menino. A cada segundo que passava, sua temperatura corporal aumentava. Quando estava no meio do caminho, pensou em recuar, mas desistiu da ideia. Não havia mais volta agora que já estava quase o tocando.

 

Michel virara seu rosto completamente na direção dela, e quando o fez, recebeu um selinho rápido em sua boca.

 

Embora tenha levado apenas um segundo, para Suellen demorou muito mais do que isso. Assim que o fez se arrependeu, levantou e correu em direção a casa, apenas dando um tchau para seu amigo; o deixando desnorteado tentando entender o que acabara de acontecer.

 

Enquanto se cobria com seu lençol em sua cama, a menina olhava para aquela superlua do lado de fora de sua janela, e ficou imaginando se apareceria de novo amanhã.

 

Se esse foi seu “primeiro aniversário”, com certeza, ela mal podia esperar pelo segundo.

 

Até o próximo.

 

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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: Vivendo o presente

E ai o que acharam desse capítulo? Quero saber a opinião de vocês. Merece uma recomendação? Ou pelo menos um favorito?
Não se esqueçam de comentar, eu não mordo. kkk