Moonlight - Mar dos milagres escrita por Sojobox
Notas iniciais do capítulo
Sejam bem-vindos ao orfanato Sete Sinos.
Como prometi, agora avançamos cem anos no tempo. Mais precisamente para o dia sete de dezembro de dois mil cento e vinte.
O que me motivou a escrever este livro foi uma série de coisas que se iniciaram nesse dia. Coisas boas e ruins.
Orfanato Sete Sinos no Rio de Janeiro/Brasil.
Esse orfanato está no meu coração para sempre e com certeza estará no de vocês quando souberem o que ocorreu nesse local.
Havia uma pequena dificuldade para chegar nele, pois encontrava-se no alto de um morro.
Eram oito horas da noite em ponto, horário brasileiro de verão. Na única sala do orfanato estavam reunidos todos os vinte e cinco órfãos, além de Madame Silvia, a dona do estabelecimento e sua assistente Bruna.
O local não era nada esplendoroso, aliás, muito pelo contrário; seus pisos de madeira rangiam a cada passo mais forte e as goteiras apareciam por toda casa quando chovia por mais de dois dias seguidos.
Sem contar que o governo ainda queria demolir e reformar a área para construir hotéis sete estrelas preparando-se para a copa do mundo de futebol de dois mil cento e vinte e dois. A terceira em território tupiniquim.
Mas nem tudo era ruim, o território que cercava o orfanato era de propriedade de Madame Silvia, o que significa que tinham um grande quintal para as crianças brincarem.
Certo... nem eu consigo achar isso suficientemente bom para compensar o lado ruim, mas eu tinha que dizer algo positivo, não é?
Naquele exato momento, Silvia lia um pouco sobre a história dos quatro heróis que salvaram a humanidade cem anos atrás.
O livro que ela detinha em seus braços cansados parecia ter mais idade do que o conteúdo de suas páginas surradas. Inclusive nem era mais possível ler o título em sua capa.
Cada uma das crianças estavam sentadas no chão, ouvindo atentamente as palavras da senhora como se fosse a primeira vez que ela contava.
Apesar que deve ter sido a centésima.
— Juntos eles destruíram cada um dos generais do exército das trevas, até que eles chegaram no responsável por tudo isso.
Um resmungo de leve foi ouvido e tia Silvia olhou imediatamente para sua direção. Vinha do Cris, é claro. Ela decidiu ignorar e continuar a história.
Cristiano, ou só Cris, era um garotinho um pouco impaciente com certas coisas, principalmente quando tratava-se de algo que ele não gostava. Um verdadeiro rebelde sem causa. Hihihi.
— Mas para enfrentar esse adversário que possuía um poder mais forte que todos eles juntos, eles precisaram utilizar poderes sobrenaturais, mesmo para eles — contava a madame para os órfãos.
— A lendária Moonlight!
O empolgado que disse isso se chamava Michel. Um jovem com coração puro, que ao contrário do Cristiano, tinha uma enorme fantasia por essa história.
É claro que de vez enquanto ele dava uma grande quantidade de trabalho às duas adultas do orfanato, mas ele tinha um bom coração, e isso estava e ainda está em falta nesses dias turbulentos.
— Isso mesmo, Michel! Moonlight. — Silvia fez um sinal de aprovação para o garoto, que retribuiu com um largo sorriso.
— Isso não passa de contos de fada. — Cris começou a dizer, sem se importar com os demais que estavam ouvindo a história. — Nunca houve uma batalha no céu, isso é impossível! Além disso, que tipo de união bizarra é essa? Quando que teríamos uma argentina, um mexicano, uma chinesa e um italiano juntos?
— Pare de dizer essas coisas! — Michel retrucou o colega.
— E que prova você tem que isso é verdade? — Cris perguntou ao garoto.
— Eu... eu não tenho prova nenhuma, mas a tia Silvia disse... então deve ser verdade, porque ela não mente nunca.
— Você não cresce nunca? Ainda acredita na mula sem cabeça também? — zombou do menino mais uma vez.
— Parem com isso vocês dois! Estão assustando os pequenos!! — Suellen levantou-se e reprimiu os dois.
Suellen era uma garota meiga que se preocupava com os outros órfãos mais do que com si mesma. E isso causou diversos problemas a ela antes.
— Eu preciso tomar um pouco de ar — falou Cristiano antes de sair batendo a porta com força.
— Cris! — Suellen ainda tentou impedir que ele saísse da casa, mas...
— Não me siga! — seu olhar demonstrava irritação, mas também cansaço.
Michel saiu da sala em direção ao seu quarto, Suellen segurou-se como se estivesse apertando o seu coração para não chorar, então antes que todas as crianças começassem a chorar, Silvia pediu à sua ajudante Bruna, que levasse cada um dos órfãos para os seus quartos.
O orfanato era bem pequeno, havia apenas uma cozinha, um banheiro e uma sala; as crianças dividiam-se em apenas dois quartos, meninos e meninas dormiam separados, já Silvia e Bruna eram as únicas que tinham seus próprios quartos. Enquanto a ajudante levava as crianças para seus quartos, a madame ficava perdida em seus pensamentos.
A casa onde ficavam os alojamentos podia ser pequena, mas o território que a cercava era vasto. Isso incluía um lago e um campo com uma rara floresta de pau-brasil bem preservada.
Por mais que não houvesse animais selvagens, as crianças não eram autorizadas a se aventurar pela floresta. O que não impediu que Cris e Michel quebrassem a regra em diversas oportunidades.
Havia uma parte em especial que era a favorita dos dois, atrás das árvores, o único local onde ficava visível o Cristo Redentor, pois havia uma inclinação anterior à floresta que impedia de ser visto da casa.
Na época o monumento ainda estava de pé, apesar de já demonstrar sinais de mal conservação. Brasil...
Nesse momento, Cristiano olhava para a estátua pensando em seu futuro.
— O que foi aquilo na sala agora pouco? — perguntou Michel ao amigo.
— O que você acha? — devolveu com uma outra pergunta ao colega com uma certa dose de ironia.
Como o garoto não sabia o que dizer, ele mesmo respondeu.
— Michel, estou cansado disso. Nunca saímos do orfanato para nada — dizia enquanto apontava para baixo. —, olha só isso, quantas pessoas passam de lá para cá.
— A tia Silvia disse que é perigoso pra...
— Ahh! Chega! Eu não quero mais saber disso... Vamos embora daqui?
— Embora? — Michel não entendeu direito o que o amigo disse.
— Isso! Vamos para algum lugar, qualquer lugar. Poderíamos usar nossos poderes — Cris diz isso estalando os dedos e criando leves faíscas elétricas entre os dedos.
Pessoas com habilidades de controlar mana eram muito requisitadas para diversos tipos de trabalho. O que motivou diversas mudanças nas leis trabalhistas.
Porém naquele século, crianças não precisavam se preocupar em trabalhar. Que sorte a delas.
— Essa é a ideia mais idiota que você já teve, nós nem sabemos controlar nossos poderes ainda.
— Pode ser, então vamos aprender a usa-los primeiro. Vamos pedir para a tia Bruna para nos ensinar.
— De novo isso... Ela não vai nos ensinar até que façamos treze anos lembra? Ainda faltam quatro.
— Assim não dá! Eu vou mofar aqui se tiver que esperar até lá.
— Tenho quase certeza que não vai acontecer nada disso. — ele colocou uma mão no ombro do Cristiano enquanto dizia isso. — Está ficando tarde, vamos voltar?
Em seguida, Michel retirou a mão e andava de volta para o orfanato quando levou um susto.
— Tudo bem então, acho que eu posso esperar um pouco mais. — ele olhou em volta e não conseguia ver o amigo em lugar nenhum. — Michel!!
— Aqui! — o grito um pouco sufocado vinha de baixo do solo.
Foi quando Cris viu um buraco de cerca de dois metros, poucos passos na sua frente.
— Estava tão bem camuflado que nem tinha percebido. Está tudo bem contigo aí?
— Acho que sim... Parece que tem um túnel aqui embaixo.
— O que tem nele?
— Não sei, está muito escuro, não consigo ver muita coisa.
Cris deu a mão para ajudar Michel a subir. Os garotos decidiram deixar para o dia seguinte a exploração do túnel, cobriram de volta o buraco e voltaram para casa ansiosos com o que encontrariam no dia seguinte.
Antes de terminar esse capítulo, gostaria de passar um conto extra a vocês. Sei que gostariam de saber o que acontece a seguir, porém, eu preciso contar algo em especial.
Trata-se de uma história de um local impreciso.
Desculpem-me a falta de informações detalhadas nessa parte, mas até a publicação desse livro não pude confirmar todos os fatos que serão mostrados a seguir.
Em algum lugar no Japão.
Numa sala quarto completamente fechado, sem janelas, sem cama, só com uma cadeira.
Havia um homem que estava sentado na cadeira enquanto outro aproximava-se dele.
Serei uma boa narradora e traduzirei as conversas pra vocês. De nada.
— Mestre — o cara se curvou perante o outro —, ele foi encontrado, está no orfanato Sete Sinos no Rio de Janeiro/Brasil — dizia o que tinha chegado.
— Quem diria não é mesmo, justamente no orfanato. Será perfeito. Mandem nosso iniciante pular para parte final do plano.
— Sim, mestre!
Após dizer isso, o sujeito saiu correndo. E não muito depois foi a vez de uma garotinha de cerca de nove anos se aproximar.
— O que houve, papai? Por que essa “balluleia” toda?
— Nada minha, querida, pode voltar a dormir.
— Tá... Papai?
— O que foi, querida?
— O que é o mar dos milagres?
O pai ficou assustado ao ouvir essas palavras da filha.
— Como... Onde você ouviu falar sobre isso?
— Eu tive um sonho estranho, um garoto estava a procura dele e que quando o encontrasse, poderia reviver uma pessoa.
A menina olhou para ele com seus olhinhos azuis atentos.
Gente, eu me derretia toda com esses olhos.
— Isso é possível, papai? Trazer alguém de volta dos mortos?
— Claro que não, minha querida, foi só um sonho.
— Mas foi tão real.
— Claro que foi, claro que foi, agora volte a dormir, tá?
— Tá bem, boa noite, papai.
Logo que a filha saiu, o pai pôs-se a refletir sobre o que acabara de ocorrer.
— Quem diria que você, minha filha, herdaria o dom “dela”. Isso só pode ser destino.
Como em toda história, esse foi um dia calmo que anteveem a tempestade. No próximo capítulo vocês saberão o que aguarda os meninos no túnel recém-descoberto e conhecerão um pouco mais sobre os habitantes do orfanato Sete Sinos, embora sejam apenas coadjuvantes nessa história tenho certeza que deixarão uma marca nos corações de vocês.
Até o próximo.
Não se esqueça... A porta se abrirá para aqueles que acreditam...
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Próximo capitulo: Onde nasce a esperança.