Naquela manhã, Thalia dançava dentro do seu escritório, já que tinha colocado música na empresa para sair daquele clima tenso, dando permissão para que os funcionários aproveitassem a batida, mas não deixassem de trabalhar do jeito certo.

A porta de seu escritório foi aberta e ela notou tarde demais que seu irmão estava acompanhado, quando ele pigarreou e ela olhou por cima do ombro, parando de fazer sua dancinha estranha e enrubescendo, pegando seu filho nos braços e dando um sorriso nervoso.

— Tem alguém querendo falar com você – o loiro disse, deixando escapar uma risada abafada.

— Ah sim, claro! Me desculpe por isso – a chefe se desculpou com o garoto que estava ao lado do irmão – pode se sentar, fique à vontade!

Jason se retirou, fechando a porta e a deixando a sós.

— Bom dia senhorita Grace, eu sou Charles Beckendorf – o homem se apresentou, fazendo Thalia arregalar os olhos ao notar que ele era o namorado de Silena.

— Bom, o que te traz até aqui, Charles? – a morena apoiou os cotovelos na mesa, deixando Daffy andar livremente por ali, que correu até o outro lado da mesa e sentou, encarando o homem.

— Então, eu sou o editor de beleza, cultura e comportamento da revista Diamonds e eu preciso confessar: eu não aguento mais a senhorita D’Fienne! Ela claramente tem problemas para diferenciar o trabalho da vida pessoal, e ela quer separar todo mundo, controlar tudo da sua vida...e eu queria saber se você poderia me oferecer uma saída aqui.

— O que te incentivou vir para cá?

— Eu queria já a algum tempo, mas não sabia se conseguiria algo, mas Rachel falou comigo e me incentivou a vir para cá.

Thalia sorriu e suspirou alto.

— Bom, eu não posso te dar um cargo de chefe pois todos já estão ocupados, mas...se você quiser, pode ser ajudante da Silena...

Charles mal conseguiu esconder a surpresa em seu olhar, fazendo a chefe rir.

— É só trazer a carta de demissão da Diamonds e o emprego é seu.

— Amanhã mesmo eu trago e se puder, amanhã começo! – ele se levantou, não sem antes acariciar o patinho a sua frente – muito obrigado!

— Eu espero que você goste de trabalhar aqui, nos vemos amanhã – Thalia se levantou também, caminhando até a porta e a abrindo, ficando para trás e vendo-o sumir de vista.

— Quem era? – Jason questionou se apoiando na parede ao lado da irmã, que sorriu:

— O ex-chefe editor de beleza, comportamento e cultura da Diamonds.

— Ex?

— Sim, agora ele trabalha aqui – a morena sorriu vitoriosa, fazendo o irmão bater um high five com ela.

Pelo caminho todo até voltar para a Diamonds, Charles apertava as mãos nervoso não sabendo como explicar para sua chefe que havia desistido da loucura dela, já que a garota era extremamente chata e ficava em cima deles o dia todo, nem mesmo música tinha naquela empresa como tinha na Olympus.

Passou pelas portas e foi direto para o último andar, onde ficava o escritório da chefe, batendo na porta levemente e entrando, sendo recebido de um jeito nada legal:

— Você está atrasado – Bianca reclamou, rolando os olhos.

— Eu me demito – Charles soltou de uma vez, fazendo Nico arregalar os olhos e se virar para ele totalmente incrédulo, enquanto a di Angelo arqueou as sobrancelhas perdida:

— Que?

— Exatamente o que ouviu, eu me demito! Cansei de você entrar na minha vida pessoal, Bianca – o garoto deu de ombros e cruzou os braços.

— Eu espero que você não consiga achar emprego, porque aqui é o único lugar onde você servia para alguma coisa, garoto! – Bianca comprimiu os lábios, fazendo uma careta e negando em reprovação.

— Na verdade, eu já consegui.

— Onde? – a chefe semicerrou os olhos.

— Na Olympus, é claro, ao lado da pessoa que eu amo – Charles retrucou com um sorriso de canto – estarei arrumando minhas coisas, já eu venho pegar minha carta de demissão, até.

Assim ele saiu da sala, deixando a garota xingando para trás e pensando no que fazer para manter ele ali, porém como não conseguiu pensar em nada, apenas se virou para seu irmão raivosa:

— Você assume o cargo dele, não estou nem aí, vai, anda!

Nico rolou os olhos, mas nem se mexeu enquanto suspirava baixo.

— Deixa pelo menos o garoto sair primeiro daqui, o que acha?

— Tanto faz! – ela retrucou, digitando a carta de demissão do Beckendorf.

O di Angelo saiu da sala, passando por sua secretária e apoiando-se no balcão:

— Rach, vou buscar um café, quer?

— Não quer que eu busque? – ela retrucou, levantando o olhar de seu computador, sentindo seu bumbum começar a doer de tanto ficar na mesma posição.

— Não, pode deixar, eu preciso tomar um ar! – ele sorriu e saiu dali, indo para as ruas de New York e só parando o carro quando chegou na cafeteria, estacionando e saindo.

Não sabia se era o destino querendo brincar com sua cara, mas assim que abriu as portas, lá estava Thalia apoiada no balcão enquanto conversava livremente com a moça que servia os cafés.

— Bom dia, Grace – cumprimentou assim que chegou ao lado dela, apoiando no balcão do mesmo jeito que ela estava.

— Bom dia, D’Fienne – ela respondeu, ocultando que havia sentido um arrepio passar por todo seu corpo ao ser pega de surpresa com a voz do garoto muito próxima de si e rouca; endireitou a postura e pigarreou, olhando novamente para a moça com quem conversava – então, como vai a clientela?

— O mesmo de sempre, algumas pessoas sem paciência e xingando logo pela manhã, mas algumas tão dóceis que dá vontade de apertar – a garota respondeu enquanto colocava o café em um dos copos.

— Então, Grace, jogou sujo, não? Eu tiro uma secretaria de vocês e vocês tiram um chefe nosso? – Nico voltou a falar, levando seus olhos para ela, que permaneceu mirando o balcão.

Thalia deu risada, suspirando alto e soltando um “ai, ai”.

— Eu não fiz nada D’Fienne, ele veio até mim, e se eu fosse você eu começaria a tomar conta dos seus funcionários, porque eles podem sumir um a um...até não sobrar nenhum!

— Vadiazinha – o di Angelo disse entredentes, encarando-a agora nos olhos.

— Ordinário – retrucou, segurando seu olhar.

Alguns segundos se passaram e ela sentiu o clima pesar, então pigarreou e sorriu para a moça que estava no balcão, pegando seu café e sorrindo agradecida, já que havia pago.

— Obrigada e bom trabalho! – acenou e se retirou sem nem mesmo olhar na cara do D’Fienne.

O tempo passou e logo Nico estava de volta para a Diamonds, nem um pouco afim de trabalhar depois desse encontro mágico com Thalia, no qual ele sentiu seu coração pesar dentro do seu corpo, sabendo que ainda gostava daquela filha da puta. Porém, tudo se dissipou ao ver sua irmã gritar com Rachel em busca de coisas sobre a Olympus.

Antes que ele pudesse se conter, segurou Bianca e a prendeu contra parede, fazendo-a arregalar os olhos com a brutalidade do garoto.

— Nunca mais, me ouviu? Nunca mais grite com a Rachel! – Nico alertou entredentes – ela é minha secretária, você não pode e não vai se dirigir a ela!

A di Angelo se debateu, o que o fez se afastar e cruzar os braços.

— Algo me diz que ela é mais que sua secretária – Bianca alfinetou, trincando o maxilar e pronta para dispensar a garota da sua empresa.

— É sim, eu considero ela mais como irmã do que você – Nico cortou a garota, que desmanchou seu sorriso lentamente e saiu dali marchando raivosa, o que o fez respirar fundo com os olhos fechados por alguns segundos até se virar para a Rachel e a puxar para seu escritório – me desculpa por isso.

Ele a puxou para um abraço que a fez relaxar.

— Está tudo bem, Bianca está meio nervosa porque o Charles saiu...- a ruiva murmurou – você vai ficar bravo comigo se eu disser que fui eu que disse para ele ir até a Olympus?

 - Você o que? – Nico questionou, arqueando a sobrancelha e abaixando o olhar para observa-la.

— Me desculpa, Nico, por favor! É que eu não suporto a ideia de vocês estarem em uma guerra idiota por poder sendo que isso não é tudo, e ainda vem ele que teve que se separar da Silena porque sua irmã surtou loucamente e destruiu o relacionamento deles, eu tive que fazer algo para os dois voltarem!

— Ei, ei, está tudo bem, eu entendo! – o di Angelo a parou, suspirando baixinho e beijando sua testa, a apertando um pouco mais forte – só não deixa isso sair daqui, tudo bem?

Ela assentiu, se acomodando no abraço dele e respirando fundo para se acalmar e tentar se livrar da culpa que estava sentindo repentinamente.

— Na minha sala, agora! Vamos discutir como vamos atacar de novo – Bianca adentrou a sala do nada, acenando para fora da sala e saindo sem ao menos esperar o irmão, que lançou um olhar para Rachel e a soltou, saindo atrás da chefe irritante.

***

— Eles vão atacar de volta, sabe disso, não? – Jason questionou semicerrando os olhos e cruzando as mãos embaixo do queixo para observar sua irmã, que tinha os pés em cima da mesa e acariciava Daffy enquanto ria.

— Eu sei sim, mas não estou me importando muito no momento.

— Então, me conte mais sobre esse encontro repentino de vocês dois, o que houve?

— Nada demais, eu só fui acusada de roubar o Charles deles e rebati falando que ele iria perder os funcionários um a um, que eu tenho certeza que é o que vai acabar acontecendo e nós vamos nos vangloriar, apenas isso.

— O que eles têm contra a gente? – Jason questionou, avaliando.

— Tudo – Thalia respondeu, dando de ombros e mordendo o lábio inferior de leve.

— Por que você teve que dormir logo com ele?

— Cala a boca não me lembra disso, eu apaguei essa fase da minha vida! – se ela não estivesse tão confortável naquela posição, tinha dado um tapa no irmão.

— Ah, claro! E ele ter te chamado de vadiazinha hoje não te fez lembrar de nada, né?

— Jason eu vou te matar se você continuar assim, nojentinho asqueroso – ela tampou os ouvidos de seu patinho, negando em reprovação.

— Ele não pode ouvir palavrões? – o loiro questionou se referindo ao Daffy.

— Claro que não! Ele é puro e um filhotinho ainda para saber o que os adultos falam e fazem!

— Um dia vai ser ele, acho melhor deixar ele aprender o mais cedo possível! Assim você prepara ele para o mundo.

— Não estou pronta para deixar meu bebê preparado para o mundo, para de falar isso, ele nunca vai me deixar! – Thalia levou a mão para o coração dramaticamente, apertando Daffy contra sua barriga e ouvindo um “quack” baixinho dele, sabendo que poderia estar esmagando-o.

— Você vai acabar matando essa criaturinha sem querer!

— Jason! Para de jogar praga seu infeliz!

O loiro riu, negando em reprovação e se levantando, espreguiçando-se.

— Bom, nós só temos que esperar a próxima jogadas dele e esperar que eles enlouqueçam com a nossa.

— Somos tão básicos e práticos que isso me comove, não vou negar! – a Grace tirou os pés da mesa, colocando o cabelo para trás do ombro e suspirando baixo.

— Agora se me der licença, preciso conversar seriamente com Piper.

— Lembre-se de trancar a porta para eu não acabar entrando lá e pegando vocês no flagra tendo essa conversa séria, ok? – deixou o tom poluído tomar conta de sua voz durante a frase.

— Essa é uma lição que você aprendeu bem, não? – Jason sorriu zombeteiro, rindo.

— Vai se fuder, Jason – ela rolou os olhos, mesmo que estivesse negando em reprovação com um sorriso nos lábios – mas a deixe trabalhar, façam isso em casa, na cama, sabe?

— Que mente poluída a sua, eu disse que ia falar com ela seriamente e você já está alucinando coisas! E já pode parar de tampar os ouvidos do coitadinho!

A Grace tirou as mãos do ouvido do filho, o colocando em sua caminha em cima da mesa e vendo-o fechar os olhos lentamente, enquanto se enroscava em si próprio e caia no sono.

— Igualzinho a mãe, só sabe dormir – Jason comprimiu os lábios, negando em reprovação.

— Vai, sai daqui! – ela mexeu as mãos como se estivesse espantando um bicho, fazendo-o rir e finalmente sair do escritório, a deixando só.