Os flashes de câmera eram o único barulho no recinto, o que levou a morena a bocejar entediada enquanto a modelo se posicionava no pano branco, tirando as fotos prometidas a revista.

Até que Thalia resolveu se locomover, e a única vez que ela decidiu fazer isso, acabou por tropeçar na iluminação e derrubar a luz em cima de Perséfone, ocasionando em um Connor se jogando em cima da modelo para que a iluminação não a atingisse. 

— Thalia! — Silena exclamou, mordendo os lábios ao notar que Nico seria mais rápido do que ela para tirar a garota dali.

O di Angelo estava vermelho de raiva quando puxou a menina brutamente pelo braço, levando-a para fora da sala sem olha-la. Assim que saiu, a jogou contra a parede do corredor e a prendeu ali com seus braços segurando seus ombros firmemente.

— Qual o seu problema? — ele gritou, não medindo o tom de voz.

— Não foi intencional! Eu juro! — a Grace tentou se debater contra o aperto dele, que chegava a machucar. Porém só o fez apertar mais.

— Você usa seu cérebro para alguma coisa que não seja fofoca? Trate de começar a prestar mais atenção nas coisas! O que você fez lá dentro é inaceitável! Mais um erro do tipo, e você não precisa voltar mais para cá! Entendeu?

Thalia se limitou a assentir, engolindo em seco e torcendo para que o moreno a largasse, o que aconteceu.

Nico voltou a abrir a porta da sala e entrou como se não tivesse acontecido nada, com a garota logo atrás com os ombros encolhidos e mirando o chão com atenção.

— Vem — Annabeth segurou na mão da menina, a conduzindo para o fundo da sala, já que todos presentes ouviram bem alto e claro o que o chefe havia gritado no meio do corredor.

A Grace se encostou na parede ao lado de Percy, que observava Perséfone já em pé e prosseguindo com as poses que orientavam. Porém, depois de um tempo no tédio observando a modelo, e se incomodando com o silêncio continuo, a menina teve a brilhante ideia de desafiar a morte e começar a imitar as poses feitas para a sessão de fotos de um jeito desengonçado.

Perséfone levou uma das mãos ao cabelo, enquanto a outra repousava em sua cintura, fazendo a melhor pose despojada que poderia naquela situação. Mas assim que seus olhos verdes encontraram Thalia lá atrás tentando a imitar, não conseguiu controlar a risada e soltou um barulho esquisito, escondendo o rosto com as mãos enquanto ria.

— Ah..., tudo bem? — Nico questionou, vendo a modelo suspirar e tentar recuperar a pose profissional.

Percy olhou de soslaio para a Grace, voltando seu olhar para frente normalmente, mas notou o que ela fazia logo em seguida, voltou a encara-la incrédulo com a ousadia da menina.

A modelo deu um sorriso e colocou as mãos estrategicamente no rosto, vendo a estagiária se atrapalhar ao tentar fazer igual e acabar por apenas sorrir e colocar as mãos em “v” sobre o queixo, separando as pernas como uma criança.

O chefe semicerrou os olhos e xingou mentalmente, se virando com cautela e torcendo para que a menina estivesse grudada na parede, não imitando os movimentos que Perséfone fazia ali na frente. E quando viu que era exatamente o que ela fazia, não conseguiu não cerrar os punhos e a observar sério.

Thalia, notando o olhar severo do chefe, levou as mãos para as bochechas e abriu a boca em um perfeito “o”, assim como os emoticons que existiam em seu celular, praticamente imitando a cara de surpresa exagerada do gatinho amarelo.

Perséfone começou a rir e não se segurou, saindo de onde estava e indo de encontro a Grace, que arregalou os olhos e mirou a modelo com medo do que ela faria depois, já que a moça era conhecida por ser nariz em pé.

— Vem, eu preciso tirar algumas fotos com você! – chamou, segurando a pelas mãos e a levando até a área pronta para a sessão.

Porém, antes que as duas cruzassem o pano, Nico agarrou o braço da estagiária com força, mantendo-a perto de si enquanto quase levava a modelo para o chão com o tranco.

— Eu não vejo necessidade para que isso aconteça — o di Angelo resmungou, alternando o olhar entre a de olhos azuis e Perséfone.

— Eu não vejo necessidade de muitas coisas, querido, mas a gente pode colocar todas elas aqui se quiser — a modelo retrucou, encarando os olhos negros do menino. — Claro, se você não se importar.

Nico bufou alto e largou o braço da Grace, que suspirou baixo de alivio e foi arrastada até o pano branco.

— O que acha de soltar o cabelo? — A modelo questionou, vendo a estagiária olhar vacilante para o chefe, que se mantinha de braços cruzados a frente dela, quase a fuzilando.

Ela levou as mãos para o amarradinho, desfazendo seu rabo de cavalo e libertando seus longos cabelos negros.

Perséfone sorriu e fez a primeira pose, que fora imitada de um modo divertido, o que a fez rir e esperou que a foto fosse tirada. Nas primeiras, Thalia estava um tanto dura, graças ao olhar do di Angelo queimando em seu corpo, porém, depois de algumas, ela já não ligava para o que estava acontecendo a sua volta, então se soltou por completo e rolou até foto abraçada.

— Você é hilária, menina! — a modelo comentou ao fim da sessão, tendo um sorriso. Pegou uma caneta na mesa ao seu lado e puxou a mão da Grace para perto, anotando seu número ali. — Me liga para nós marcamos alguma coisa, o que acha?

Thalia assentiu, dando uma risada nervosa.

— Aliás, se o Nico voltar a te irritar... — Perséfone mirou o referido, que retribuiu o olhar. — Pode me dizer, que eu vou acabar com ele!

— Pode deixar, vou dizer sim! — Thalia sorriu tímida, recebendo um beijo de cada lado em sua bochecha e vendo a modelo se despedir, se retirando do local.

— Grace, na minha sala. Agora! — Nico ordenou assim que Perséfone sumiu de vista, se retirando da sala também.

— Boa sorte, patinha! — Leo passou ao lado dela, lançando um sorriso acolhedor.

— Eu estou sentindo que vou precisar... — Murmurou de volta, cruzando os braços e indo para o local devagar, sabendo que ali iria seu emprego.

Assim que fechou a porta atrás de si, seu estômago embrulhou e ela se encolheu perante o olhar duro do chefe.

— Grace, eu te avisei, não avisei? — Questionou, cruzando as mãos sob o queixo. — Eu avisei que mais uma brincadeirinha do tipo eu iria colocar você para fora dessa empresa, porque aqui é um local de trabalho e eu não quero saber de pessoas infantis agitando as pessoas, não quero saber de desastres, e pelo que eu vi nesse primeiro péssimo dia, pude ver que você é uma combinação de tudo que aqui não pode ter. Então, recolha suas coisas e não precisa mais voltar para cá.

Thalia assentiu sem nada dizer, pegando sua bolsa que havia deixado na sala após o incidente com o pato, e saiu, fechando a porta com um pouco mais de força do que deveria, chamando atenção para si.

— Thalia, o que houve? — Rachel questionou, vendo a menina cabisbaixa passar pelo corredor sem vida alguma.

— Eu fui demitida — murmurou baixinho, fungando e dando indícios que começaria a chorar.

— Não chora porque eu não sei lidar com pessoas chorando perto de mim! — a ruiva arregalou os olhos e saiu de trás do balcão, caminhando até ela.

— Tarde demais!

A Dare arregalou os olhos e olhou de um lado para o outro, procurando alguém que a ajudasse com a situação, mas por fim abraçou a menina, que chorava. Até nisso ela conseguia ser fofa!

— Coitada da menina, ela só estava tentando tirar a galera da depressão que é isso aqui! — Piper murmurou sentida, vendo Rachel caminhar com Thalia para fora da agência.

— É que o Nico é bem rígido, Pips. Você sabe disso — Leo retrucou, também sem saber o que sentir.

— O pior é que ela é desastrada, mas engraçada e parece ser muito gente boa! – Silena se apoiou na mesa, mirando sua irmã, que assentiu em concordância.

— Fazer o que, não é mesmo? – Connor comprimiu os lábios, deixando os amigos para trás enquanto se dirigia para seu setor.

Enquanto isso, na sala de Nico, ele massageava suas têmporas pensando em como aquela menina havia dado tanto trabalho em apenas um dia, pensando também se fez o certo ao despedir a garota.

Seus devaneios foram cortados pelo toque estridente e irritante de seu celular, pegando o eletrônico sem verificar quem ligava.

— COMO ASSIM VOCÊ ROUBOU PERSÉFONE DE NÓS?

Teve um sobressalto com a voz firme e bruta de sua irmã do outro lado da linha, ficando até mesmo atordoado.

— Bianca, que isso garota? Para que gritar? – retrucou.

— Por quê? Você ainda tem a ousadia de me perguntar o porquê?

— Foi só uma sessão de fotos, isso não significa que Diamond vai falir por justa causa!

— Eu vou te matar! – ameaçou a di Angelo.

— Você sempre fala isso, então já estou até acostumado, maninha – Nico retrucou, suspirando.

— Nico D’Fienne di Angelo! – Bianca usou todo o nome do irmão, para que ele soubesse o grau de raiva que ela estava sentindo no momento. – Se não quiser morrer envenenado, é melhor jantar fora de casa!

— Tem noção do quão perigoso pode ter sido você me chamar pelo nome da nossa família pelo telefone? Já parou para pensar que o número pode estar grampeado e alguém descobrir toda a nossa trama por sua culpa?

— Eu começo a desconfiar que você já desistiu dela a muito tempo, então não me surpreenderia se você mesmo não o fizesse – ela retrucou, querendo socar alguém, mais precisamente, Nico.

— Só cala a boca – resmungou, dando a ligação por encerrada e desligando o aparelho, garantindo que não seria incomodado por sua irmã até chegar em casa.

A porta fora aberta, e pela primeira vez, Nico ficou surpreso com o fato de ser Rachel.

— Por que você teve que ser tão cruel? – questionou a ruiva, se direcionando a cadeira a frente do chefe.

— Quem sabe porque é meu trabalho? – retrucou, ácido.

— Não, seu trabalho é ensinar, não fazer uma garota sair chorando do escritório! E segura essa língua porque comigo não é assim não, se controla, homem!

— Rach, desculpa! É que tudo isso está me irritando demais. Aquela menina parecia um furacão!

— É, eu percebi isso quando ela tropeçou ao passar pelas portas de vidro e quase bateu o rosto em uma delas, mas mesmo assim eu relevei e perguntei o que ela queria — a Dare cruzou as pernas, pegando a ficha da estagiária que estava em cima da mesa. — Você vai ligar para ela e se desculpar por ter sido grosso, ok? Não estou mandando você readmitir ela, estou pedindo para que seja educado.

Nico semicerrou os olhos, não gostando nada do que sua amiga estava dizendo, mas, por fim, assentiu e ficou encarando-a em silêncio.

— Não vou fazer isso com você aqui.

— E não vai fazer comigo fora daqui, que eu te conheço! – retrucou, erguendo as sobrancelhas em desafio.

— Você sabe que eu não sou de pedir desculpas, né?

— É lógico que sei, por isso que eu não vou sair daqui até você ligar para ela! – Rachel sorriu, se recostando na cadeira e assumindo uma pose confortável.

O di Angelo bufou, pegando o eletrônico e o ligando, esperando para que pudesse digitar os números o mais lerdo possível, sendo analisado pelo olhar curioso da secretária.

— Vamos, eu não tenho muito tempo – incentivou, vendo-o rolar os olhos e ligar.

— Alô?

A voz estava tão calma e serena que Nico até mesmo estranhou, olhando o número para ver se batia mesmo com o do papel.

— Thalia?

— Oi! – ela respondeu rápido, porém o moreno reparou que havia alguma voz grossa no fundo da ligação, o que o fez franzir o cenho confuso. — Espera um pouco, por favor.

Ele notou que o telefone havia ficado mudo, olhando para Rachel.

— Ela mutou — disse meio sem entender – deve estar com o namorado, ela tem um, né?

— Não sei, não perguntei, mas acho que sim!

— Desculpa, pode continuar – a voz dela voltou a soar do outro lado da linha.

— Então, Grace, você deve estar estranhando o motivo de eu estar te ligando a essa hora, não é mesmo? – começou a enrolar.

— Hum...não! São cinco e meia! – Thalia retrucou, franzindo o cenho.

— É, eu sei, mas então...d...dia lindo hoje, né? — ele gaguejou, falhando miseravelmente em se desculpar, vendo a ruiva a sua frente começar a sibilar as silabas da palavra, ajudando-o.

— Não sei não, parece que vai chover... — ela respondeu pensativa.

— D...discoteca! Você gosta de dançar? — Nico questionou, vendo a secretária começar a rir sem esboçar som algum.

— Por quê? Está tentando me chamar para sair? – Thalia franziu o cenho, confusa.

O di Angelo ouviu algo semelhante a “volta aqui” ou “açaí”, não entendo muito bem, e logo em seguida a ligação ficou muda novamente, para logo depois ouvir o vento bem agitado do outro lado, e a voz da garota ofegante.

— Ah..., está tudo bem aí? – questionou.

— Está sim, desculpa novamente! — retrucou —, mas então, o que quer me falar?

Nico suspirou e abaixou a cabeça, não querendo olhar para a ruiva enquanto pronunciava o que ela queria.

— Me desculpa por ter te tratado tão mal.

— Está tudo bem, di Angelo – Thalia respondeu, dando um pequeno sorriso, mesmo sabendo que ele não estava vendo-a. – Eu sei que eu tiro as pessoas do sério.

— Não vou negar, você conseguiu me tirar do sério mais rápido do que eu planejava – ele soltou uma risada fraca, e a ruiva levantou uma sobrancelha.

— Você planejava isso? – a garota questionou.

— Não! – Respondeu rápido – Quer dizer...bom, Thalia, tenha uma boa tarde e boa sorte, você vai achar alguma coisa!

Ele pode ouvir a risada dela do outro lado, antes que respondesse com um “tchau, e obrigada!”, dando a ligação por encerrada.

— Feliz? – Nico rolou os olhos, vendo a secretária aplaudir.

— Muito! – confessou – Eu me vi rindo enquanto você disfarçava seus pedidos de desculpa com coisas aleatórias.

— E eu me vi em um encontro com ela sem querer.

— Não querendo falar nada, mas já falando... — Rachel murmurou, se levantando – você deveria ter aproveitado para chamar ela para sair mesmo!

— O que? – quase gritou incrédulo, mas a secretária se mandou o mais rápido possível, sumindo da vista dele. – Boa saída!

— Obrigada! – ela gritou do lado de fora, fazendo-o rir.